sábado, 28 de junho de 2014

Nilton “Cachorrão” Zanelli, eu nem imaginava mais voltar aos palcos...


Nilton “Cachorrão” Zanelli, vocalista da banda Centúrias, mas com uma extensa história no Heavy Metal brasileiro, tendo passado pro bandas como Aerometal e Santuário. Neste bate papo, Cachorrão fala da sua trajetória, suas conquistas e dos planos para o futuro. Confira!

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Nilton “Cachorrão” Zanelli: Opa, eu que agradeço o interesse da Heavy Metal Breakdown! Bem, minha primeira banda foi o Aerometal em 1984, depois disso passei pelo Santuário e Centúrias entre 1986 e 1988, quando gravamos o LP 'Ninja'. Depois disso virei 'público' até começar a rolar alguns shows do Centúrias entre 2004 e 2008, mas eram apenas 'revivals' e não se falava sobre uma volta definitiva. Atualmente presto suporte em informática, faço locução publicitária e desde 2012 canto no Centúrias novamente.

HMB: O Aerometal foi uma banda que mesmo não tendo vingado, cravou seu nome no underground. Por que abanda não seguiu em frente?
Cachorrão: Então, o Aerometal 'cravou' seu nome no underground por ter participado em 1985 da coletânea “São Power”, produzida pelo Celso Bariberi e lançada pela Devil Discos. Foram gravações feitas ao vivo em apresentações que aconteceram no saudoso teatro Lira Paulistana (SP). Muitas bandas boas daquela época acabaram esquecidas por não terem gravado nada, nem ao vivo, nem demo, etc. A falta de algum tipo de registro sonoro fez com que elas caíssem no esquecimento ou se tornassem uma lembrança longínqua. Felizmente tivemos a sorte de ter participado desse projeto. Sobre o Aerometal, não sei bem explicar o fim, eu acabei saindo e não sei por que não continuaram, mas não fui o causador desse fim, ok? (risos) Foi um período muito legal de aprendizado e descobertas.


HMB: E como foi sua passagem pelo Santuário e depois entrada para o Centúrias?
Cachorrão: Minha passagem pelo Santuário foi mais ou menos com 'prazo de validade'. Eu os conheci em uma série de shows que fizeram em 1986 no Teatro João Caetano em São Paulo com o Jaguar. O vocalista Julio Michaelis, irmão do guitarrista Ricardo Michaelis (Micka), estava com problemas de saúde e não podia cantar. O Micka fez guitarra e voz nesses shows e em algum momento o ouvi dizendo que não curtia muito cantar e tocar ao mesmo tempo. Comentei que estava 'disponível no mercado' e fui lá para São Vicente (SP) fazer um teste para ver no que dava. Depois de alguns ensaios fiz minha estreia no Santuário e saímos tocando por aí. Meses depois, aconteceu uma excursão para Medellín (Colômbia), era pra ficarmos um mês por lá, mas acabamos ficando dois por conta de alguns 'contratempos' – $$$ (risos). Mesmo assim, foi uma experiência incrível e, se não me engano, o Santuário foi a primeira banda do underground a tocar fora do país. Como sempre digo, faria tudo de novo se tivesse 20 anos novamente. (risos) Em paralelo a isso, a formação do Centúrias que gravou o EP 'Última Noite' também em 1986 se desfez e o baterista Paulão (Thomaz) queria reativar o Centúrias o mais rápido possível. Para isso conversou comigo, com o Marcos Patriota (guitarra) e com o Ricardo Ravache (baixo), que haviam deixado o Harppia há pouco tempo. Respondi que topava e que na volta da Colômbia, dali a um mês, estaria disponível para começar a ensaiar. Só que como ficamos dois meses por lá quase não entro para o Centúrias (risos). Naquela época não existia internet e eu nem tinha telefone em casa, tinha que mandar avisar alguém que estava vivo e que me esperassem mais um pouco, mas no fim deu tudo certo! Cheguei a São Paulo numa terça-feira e no fim da mesma semana já estava ensaiando com o Centúrias. (risos) O fato da minha participação no Santuário ter sido com 'prazo de validade'” era porque o grupo esperava uma recuperação do Júlio, fato que infelizmente acabou não acontecendo. Ele faleceu no final de 2010.

HMB: Quando da sua entrada no Centúrias, na época vocês mudaram o título do álbum de "Cidade Perdida" para "Ninja". Por que isso aconteceu?
Cachorrão: Sobre a mudança do nome do álbum não aconteceu nada de extraordinário, porque tínhamos essas duas opções e estávamos trabalhando com as possibilidades para cada título. Se fosse 'Cidade Perdida', pensávamos em fazer uma foto de um ponto alto da cidade mostrando a cidade ao fundo, tínhamos até pensado no mirante de Santana, mas isso envolveria custo com fotógrafo, etc. Um dia, saindo da Baratos Afins, passei por uma banca de jornal e vi a foto de um ninja na capa de uma revista e folheando-a encontrei a foto que era perfeita para a capa. Mostrei para a banda, todos gostaram e a foto acabou virando a ilustração da capa feita pelo nosso amigo Arnaldo Colón. Assim nasceu a capa do 'Ninja' e o resultado foi muito bom. Já li resenhas e comentários sobre o álbum 'Ninja' na internet onde “afirmam” que a capa é baseada no videogame Shinobi que eu nem conheço, mas a verdade 'nua e crua' é essa que contei. (risos) Ah, a capa do nosso novo single, 'Rompendo o Silêncio' também foi feita pelo Arnaldo Colón.

HMB: Fale mais sobre este novo lançamento?
Cachorrão: Na verdade o single 'Rompendo o Silêncio' foi um 'exercício' para saber como seria o processo criativo dessa nova formação, como nos sairíamos no estúdio – enfim, o próprio nome diz tudo, rompemos o silêncio após 25 anos. (risos) E também é uma forma de dizer que estamos de volta e com trabalho novo, não voltamos para viver do passado e sim para dar sequência ao legado do Centúrias. Bom, sobre o single, eu particularmente gostei muito das duas canções. 'Ruptura Necessária', composição do Ricardo Ravache, e 'Sobreviver', composta por Julio Principe, tem a pegada do Metal oitentista, porém fazendo uso dos recursos atuais. Nos shows a recepção do público tem sido muito boa quando as tocamos.

HMB: Então, como vem sendo a atuação dessa nova formação e como se dá o processo de composição da banda?
Cachorrão: Acredito que já estamos no 'piloto automático' com essa formação. A convivência, os ensaios e os shows deram essa estabilidade que no começo da volta ainda não tínhamos, o que é natural. Realmente progredimos muito como banda. Na verdade, o processo criativo é simples, o Ricardo e o Julio são os que compõem mais. Eles trazem as músicas praticamente prontas e vamos dando nossa cara e estilo pra elas. Um backing aqui, um riff de guitarra diferente ali. O Julio e o Ricardo têm se mostrado ótimos compositores.


HMB: Que cuidados você tem com a sua voz?
Cachorrão: Posso pular essa pergunta? (risos) Então, na verdade não tenho grandes cuidados. Uma coisa boa é que não fumo, isso ajuda no fôlego pelo menos – acho. (risos) Tomo alguns cuidados básicos quando tem show por perto, evito gelado, como maçã, faço um aquecimentozinho e por aí vai. Uma coisa é você ter vinte anos e meter as caras e pronto e outra é ter 47. Por enquanto está indo bem, mas me preocupo com isso sim porque, além da música, também uso a voz em locuções.

HMB: O que faz o seu coração bater mais forte quando está em cima do palco?
Cachorrão: Cara, só de saber que voltei a ativa já faz o coração bater mais forte (risos). Eu nem imaginava mais voltar aos palcos e ainda por cima com a banda que mais gostei de trabalhar. Outra adrenalina boa é que estamos tocando para uma nova geração, para a molecada de vinte e poucos anos – molecada no bom sentido, claro (risos). Eles vão aos shows, cantam as músicas que foram gravadas antes deles nascerem, alguns até dizem que seus pais iam aos nossos shows nos anos oitenta! Isso mostra que fizemos bem a lição de casa lá atrás e esse é o meu combustível. Fazemos os shows pra essa nova geração e, claro, para aquela que nos acompanhou antigamente e que também comparece atualmente.

HMB: Por que Paulão Thomaz não participou do renascimento da banda?
Cachorrão: Em 2004, 2005 e 2008 fizemos alguns shows em caráter de revival. Quem idealizou isso foi o Tadeu Dias, ótimo guitarrista que hoje toca no Oitão, mas como disse, eram shows em caráter de revival, sem compromisso com uma volta definitiva. O Paulão está focado no Baranga e no Kamboja e não teria tempo para conciliar as datas de shows das três bandas. Em outubro de 2011, num evento no Blackmore Rock Bar onde estávamos eu, o Ravache, o Tadeu e o Paulão, o Ricardo Batalha praticamente intimou o Paulão para que voltássemos (risos). Entretanto, devido a esse inevitável conflito de agendas, ele acabou não aceitando mas, como costumo dizer, ele deu a “benção” para que retornássemos com a banda, uma vez que ele foi um dos fundadores, senão o fundador do Centúrias. Em 2013 dividimos o palco com o Kamboja e o Paulão sempre que pode comparece aos nossos shows. Está tudo em casa!


HMB: Planos para o futuro?
Cachorrão: Esse ano tocamos bastante nesse primeiro semestre, mas demos uma parada nesse período de Copa e férias. Estamos aproveitando esse tempo para trabalhar nas músicas novas. A ideia é gravar um CD assim que tivermos material suficiente e de qualidade para isso. Em paralelo, queremos agendar mais shows para o segundo semestre e continuar tocando por aí. Isso é o que me move e é o que move a banda, também. Ensaiar é legal, subir num palco é melhor ainda!

HMB: Resuma Nilton “Cachorrão” Zanelli em uma palavra ou frase.
Cachorrão: O dia que eu conseguir me resumir ou me definir, serei o primeiro a saber... (risos)

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Cachorrão: Eu que agradeço o interesse e pela oportunidade. Deixo aqui grande abraço para você e para os leitores do Heavy Metal Breakdown. Continuem apoiando a cena e as bandas. Fazemos isso porque gostamos, mas fazemos principalmente pra vocês! “A máquina não vai parar!!!” Valeu!

Shows e merchandising:

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nina Stillo, o cenário existe, e é forte...


Nina Stillo, vive e respira Heavy Metal.  Administradora da página do grupo Metal Friends no Facebook e uma das coordenadoras dos eventos do grupo, que se realizam em diversas localidades. Além de estar presente em quase todos os shows seja em São Paulo, seja no inteior. Confira agora como foi o nosso bate papo.

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Nina Stillo: Comecei ouvindo Queen aos 14 anos e foi amor a primeira “ouvida”! Depois, Led Zeppelin, Janis Joplin, Doors e senti que gostava mais das guitarras quando eram mais pesadas e assim, vieram Judas e Motorhead, que ai sim, me identifiquei 100%. Desde os 14 anos e nunca deixei de ouvir heavy metal, você faz uma pausa nos shows quando tem filhos, mas em 2006 retomei tudo e de cara com dois shows consecutivos do Slayer! Há três anos mais ou menos, estou em grupo do Facebook, o Metal Friends, e a coisa flui com tanta naturalidade, que quando eu vi, estava envolvida de uma forma que eu nunca tinha estado. Revendo amigos de bandas dos anos 80, conhecendo músicos da nova geração do metal, atuando e organizando Fests para o Metal Friends. Comecei a receber material de bandas por e-mail e inbox, ai você vê que tem muita banda boa e sem espaço para divulgar o trabalho, acho que é nisso que eu me apeguei, brigar por um espaço legal para as bandas autorais mostrarem seu trabalho!

HMB: Em 1981, o show do Queen foi importante para diversas pessoas que hoje, vivem ou trabalham pelo rock e especificamente pelo Heavy Metal brasileiro, como você vê a importância da banda para o Rock em geral?
Nina: Era o período da ditadura lembra? Tudo que cheirasse a oposição era bem-vindo! O Rock era transgressor, era contestação. E o Queen, foi influência para muita gente que hoje toca ou trabalha no meio musical! É influência para uma galera de vinte anos, porque os pais ouviam, ou porque eles mesmos descobriram a banda! Na época eu achava o som despretensioso, mas hoje vejo o quanto eram importantes, as letras e a sonoridade! Lembrando que vivíamos o pós-punk europeu! Queen era novidade, renovação, a saída das músicas violentas do punk para uma coisa mais amena que era o Rock do Fred Mercury! Portanto, diria que foram tão importantes nos anos 80, como Beatles nos anos 60!

HMB: E essa falta de espaço para bandas autorais, você consegue ver uma mudança desse comportamento em um curto espaço de tempo?
Nina: Infelizmente não! Nunca tivemos tantas bandas de fora tocando no Brasil como nos últimos três anos! Já aconteceu de ter três shows internacionais num mesmo dia! Os ingressos são caros, e ai, existe a opção em ver a banda gringa e economizar R$ 20,00 de ingresso para ver uma banda nacional. Existe também a falta de espaço, as casas em São Paulo não abrem espaço para banda de som autoral, e sim para bandas cover. Banda cover tem público certeiro. Ás vezes sobra o domingo, eu mesma, fui há vários eventos de domingo e o público é pequeno mesmo com três bandas de qualidade. Isso não acontece só aqui. Tenho um contato grande com o metal italiano e lá é a mesma coisa, muita banda e poucas casas interessadas! Saca, a grama do vizinho é sempre mais verde. Precisamos valorizar o músico brasileiro, o Metal Nacional, porque os gringos gostam, e aqui? Quando o público vai conhecer? Porque curtir post no Facebook é muito fácil, né? Vá ao show, fale com a banda, compre material, isso é apoiar e prestigiar a cena!


HMB: Em muitas vertentes da música pesada, o que sobra para as bandas autorais é exatamente o domingo, geralmente do fim da tarde para a noite. Não será ai que se encontra boa parte do problema da falta de público?
Nina: Vamos lá, o público tem idade de 20 a 50 anos. Os de 20 saem no sábado e voltam para casa domingo. Os de 50 tem família, e o domingo é dia de família, descanso e recarregar a bateria para semana. Eu vou, mas chego, em minha casa tarde e cansada, ok, valeu a pena, mas acordar às 6 da manhã na segunda-feira é complicado! O Ricardo Batalha fez alguns Super Pesos Brasil, domingo e sempre com chuva (risos),  eu fui em todos! Fez o último em dezembro de 2013, sábado a tarde, começava às 17 horas, casa cheia, público com idade de 16 a 50 anos, e todas as bandas dos anos 80! Eu acho isso sensacional! As casas recebem material das bandas, deem uma chance, as bandas dependem das casas, as casas dependem do público, e o público vai atrás de coisa boa! É apenas uma questão de oportunidade!

HMB: Resumindo, domingo é um dia morto?
Nina: Domingo é dia morto para quem quer! Vou citar bandas que eu vi em um domingo: Iced Earth , Midnight com Sodomizer, Whipstriker e Poison Beer, Genocídio, Krow abrindo p/  Obituary , Deicide e Children of Bodom. Esses os que eu fui! E na segunda-feira, acordei às 6 da manhã!

HMB: Você acredita que a música tenha formado a sua forma de encarar a vida?
Nina: Totalmente! Música é um estilo de vida e você acaba passando isso para o seu modo de se vestir e grupo de amigos. Já notei que em momentos de stress, a única coisa que faz a adrenalina voltar ao normal, é ouvir Thrash Metal, cara, eu amo isso! Eu encaro a vida assim, semana ruim todos nós temos, show no sábado, encontrar os amigos, cantar e bater cabeça, estou pronta para mais uma semana! É só saber dividir sua vida profissional, familiar e a vida metal (risos).

HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada no Brasil?
Nina: Que o cenário é este! Grande, pequeno, não importa! Somos nós que fazemos o cenário! Eu sempre digo que público de banda, é banda! Não adianta o cara ir lá tocar e sair fora se tem mais bandas! É a minha visão, mas se eu quero mudar o cenário para melhor, tenho que dar exemplo, certo? O cenário existe, e é forte, senão não teriam tantos shows internacionais e nem tantas bandas querendo espaço!


HMB: Você é administradora da página no Facebook do Metal Friends, como é ver tantas pessoas ligadas a um objetivo e sendo tão unidas?
Nina: É muito bom e dá muita satisfação! Cada um foi criando um vinculo com alguns membros do grupo. Falo por mim, eu hoje não sei o que é ver um show sem alguns deles, nos reunimos sempre antes e depois do show! Virou um vício bom! O simples fato de relembrarmos com carinho de bandas e fatos ocorridos nos anos 80, já é divertido, mas sem saudosismo, é lembrança boa mesmo!

HMB: Você também organiza os encontros do grupo, que geralmente são em casas de shows e com bandas autorais tocando ao vivo, como tem sido a resposta do público a estes eventos?
Nina: Devo confessar que este ano tá começando agora. Ano passado nos reuníamos mesmo sem show, pelo simples fato de beber e trocar idéias! Neste caso se o show começa às 19 horas, chegamos bem mais cedo para fazer o esquenta do show! Domingo passado, por exemplo, veio Metal Friends de Porto Alegre, Florianópolis e Teixeira de Freitas ( BA), mais dois membros que nem iriam entrar para o show, mas foram nos encontrar mesmo com chuva e frio ! PS: Você está convidado para o próximo esquenta do MF!

HMB: E esses encontros do Metal Friends, não seriam uma ótima oportunidade para juntar bandas autorais tradicionais com as mais novas e fazer isso uma grande festa? E também, valorizar um cenário pobre nesse sentido?
Nina: Como eu disse, não temos casas disponíveis! Quando o MF completou um ano, o Alessandro e o Henrique organizaram o I Metal Fest, para comemorarmos com bandas nacionais. E foi sensacional, todos os convites vendidos, open bar, todo mundo se conhecendo e óbvio muito Metal dos anos 80. Ano passado fizemos dois fests. Este ano ainda estamos estudando uma data para o segundo semestre. Anthares, Castellica, Desaster, Divine Uncertainty, Evildead, Fire Strike, Leather Faces, Minotauro, Nervosa, Sacrificed, Sakrah, Skinlepsy e Tormento. Já tocaram no fest, inclusive com uma edição em BH com Skinlepsy.  

HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Nina: Tudo que se refere a bandas é saudável. O que não rola é colocar bandas de estilos muito diferentes para subir no palco na mesma noite. Ha conflito de públicos!

HMB: Mas essa não é uma visão totalmente brasileira? Visto que nos festivais, salvo algumas exceções, tocam bandas de várias vertentes do Heavy Metal, sendo que eles segmentam dentro do próprio festival e não o festival em si.
Nina: Grandes festivais! Aqui falamos de três bandas e um público de 200 pessoas. Infelizmente o que aconteceria é uma dispersão de público. Não agregaria mais público para banda. Fui em dois fests, com bandas de estilos diferentes e não virou. Os fãs iam para ver a banda que queriam e depois iam embora! Em Rio Negrinho no Zoombie Ritual, que é um grande fest, ai sim, rolaram todos os estilos! Tinha público e banda p/ todos os gostos!


HMB: Aliás, o Zoombie Ritual é o que vem salvando o Headbanger. Eu acho que nosso país é grande e tem fás suficientes para encher quatro ou cinco festivais simultâneos. O que você pensa disso?
Nina: Acho que você tem toda razão! Foi minha primeira vez e tinha gente de todos os lugares do Brasil. Mais uma vez encontrei MF's de Belém, SP, SC, PR, BA e GO! Foi tudo muito tranquilo, shows, preço de ingresso justo, acesso ao local, nenhuma briga. Correu tudo super bem, e o som foi simplesmente fantástico. O Juliano Ramalho realmente fez e faz um grande fest!

HMB: Existe algum plano de tornar o Metal Friends maior do que já é, ou a ideia é ser exatamente como ele é hoje?
Nina: O grupo cresce naturalmente, basta que, gostem das várias vertentes do metal. Quanto aos shows ou eventos maiores, tudo depende de público. Não adianta fazer um Fest se não tem a reciprocidade do público. Somos seis administradores, corremos atrás de casa, equipamento, divulgação e bandas. Nenhuma banda toca sem cachê, com ou sem retorno financeiro, visto que fazemos os fests por paixão, não visando lucro, ou seja, são os próprios administradores que bancam os gastos e todo valor após o pagamento das despesas é dividido entre as bandas. Este ano temos sim a intenção de fazer um fest, mas ainda depende da agenda de shows internacionais, e no momento são muitos. Ai você tem três shows internacionais num mesmo mês e concorrer fica difícil. A pessoa tem que optar entre ver uma banda ou outra e ainda um fest com bandas nacionais e autorais. Por isso sempre divulgamos shows no MF, porque banda precisa de público e o público hoje, esta muito exigente. No interior de Sã Paulo, por exemplo, a receptividade é muito maior, é raro ver casa vazia, e ainda tem um custo/benefício muito melhor.

HMB: A iniciativa é louvável e com certeza muito bem vista pelo público e pelas bandas que participam desses eventos. Você falou sobre verificar a agenda dos shows internacionais para evitar concorrer diretamente com isso, você acha que o público brasileiro tende, sempre a conferir as bandas internacionais indiferentemente de quem esteja no palco?
Nina: Isso depende muito, estão vindo para o Brasil bandas oitentistas, que eu pelo menos nunca imaginei ver por aqui, por exemplo: Manilla Road e Coroner, para citar apenas duas. Tem público e público, a questão do status existe, é muito mais bacana falar que gastou R$ 300,00 p/ ver o show da banda X, do que dizer que gastou R$ 30,00 p/ ver três bandas desconhecidas. Por isso citei o interior de São Paulo, os fests ou shows com bandas nacionais da região e da Capital, chamam o público. Basta que a banda seja boa, e o público estará lá!

HMB: Pelo que andei ouvindo aqui pelo HMB, o cenário para o Heavy Metal está muito mais localizado e forte no interior de São Paulo e em outras cidades fora daqui. Deixando São Paulo e Rio de Janeiro, que sempre foram visto como o centro nervoso da música pesada em segundo plano. Visto que até bandas internacionais estão partindo para essas cidades, qual a sua opinião sobre isso?
Nina: Vc tem razão! Tirando a receptividade do público, voltamos à questão do custo benefício. Preços de ingressos altos em São Paulo contra preços compatíveis com nossa realidade no interior. Recentemente fui até Limeira assistir ao Picture e Grim Reaper, onde o ingresso custava R$ 50,00 numa casa de show perfeita. No dia seguinte fui assistir ao mesmo show em São Paulo com ingresso a R$ 140,00 na porta.  Se você tem carro ou está de van com amigos, é muito mais barato e prazeroso ir pra o interior. O Edson Moraes, por exemplo, já levou o Rotting Christ, as bandas citadas acima, e ainda tem muita banda boa até o final do ano, tudo isso custando à metade do preço daqui de São Paulo. 

HMB: E ainda existe a possibilidade das bandas se juntarem e irem atrás dessas casas e desse público. O que você pensa sobre essas associações entre as bandas, que vulgarmente são chamadas de “panelas”. Já que iniciativas como esta geralmente são mal vistas pelas outras bandas?
Nina: Isso sempre existiu desde os anos 80, e eu não creio que seja uma panela, é sobrevivência. Creio que seja o único modo de tocarem e não desistirem. Pessoalmente acho saudável p/ todos, bandas, casa de shows, produtoras e público. Sozinho hoje é praticamente inviável, tem que haver união de forças e se existe a afinidade e a amizade, por que não?


HMB: Eu penso como você também. Afinal nós nos unimos pela afinidade, pela força e por um bem maior, que neste caso é o Heavy Metal. Você como organizadora dos eventos, do MF, acha que os preços praticados em São Paulo são um tanto abusivos?
Nina: Abusivos? São altíssimos para nossa realidade, mesmo levando em consideração, tudo o que envolve trazer uma banda para Brasil, acho totalmente fora da nossa realidade. Infelizmente ainda tem o olhar capitalista se sobressaindo, não que não deva existir lucro, mas está exagerado a ponto de eu ter visto o show do Avenger, banda tradicional de HM inglesa, tocar para cerca de quarenta pessoas! Muitos shows + preços altos é igual à falta de público.

HMB: Planos para o futuro?
Nina: Futuro é hoje! Continuar a ser assim, quem sou, não gosto do termo apoiar o metal, prefiro dizer que vou aos shows porque é meu antidepressivo, eu simplesmente amo isso e não imagino minha vida sem metal!

HMB: Resuma Nina Stillo em uma frase.
Nina: Uma frase: O metal faz parte do meu cotidiano há trinta anos!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Nina: Esta sou eu.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Henrique Scraper Head, Headbanger!


Henrique Scraper Head é um cara que vive o Heavy Metal desde a década de 1980, vocalista da banda Scraper Head e um assíduo frequentador do cenário. Atualmente morando em Caxias do Sul, onde a banda renasceu, Henrique conversou conosco por e-mail e o resultado deste bate papo, você confere a seguir.

HM Breakdown: Olá Henrique, antes de começarmos quero agradecer pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Henrique Scraper Head: Hail! Eu que agradeço a oportunidade! Bom, Eu tenho 41 anos, paulistano, morei por muitos anos em Salvador atualmente moro em Caxias do Sul e ganho a vida trabalhando com cervejas especiais, sou um típico vocalista de Death Metal e já cantei nas bandas Chemical Death (Salvador-88/91), Black Death (São Paulo 92/95), Scraper Head (São Paulo 2008 até agora), gosto de Artes Marciais e música pesada.

HMB: O que te levou a ser um vocalista de Death Metal?
Henrique: Boa pergunta (risos). Em meados de 1988 em Salvador, (sou amante do Heavy Metal desde meus 10 anos e gostava de tentar cantar o que eu ouvia), um grande amigo (Marcos Russo) foi chamado para ser o vocalista do Chemical Death, porém o mesmo disse aos caras da banda que tinha um amigo que seria melhor do que ele para o posto e num belo domingo ele me leva me apresenta os caras que de imediato me jogaram as letras nas mãos e foram passando as músicas. Cara, eu não tinha a menor noção do que fazer (risos), mas aos poucos fui entendendo. Com relação ao vocal que deveria ser feito, segui a linha de bandas como Napalm Death que era a proposta da banda na época, gosto tanto que ainda estou nessa.

HMB: E depois de ser colocado nessa roubada, qual foi a sua iniciativa para melhorar o desempenho?
Henrique: Eu fui tentando fazer o melhor possível (risos), mas só começou a ficar bom mesmo quando eu comecei a participar da construção da coisa. Mas não foi muito difícil, nós tocávamos Deathgrind, e eu adorei essa roubada (risos) e logo depois que eu entrei no Chemical Death o meu amigo, o Marcos Russo se tornou o vocalista da banda The Side War, e como todos nós éramos vizinhos um foi ajudando o outro. Juntamo-nos com o Head Hunter DC e logo nasceu o Mystifier na sequência veio também a Necrolust. Ensaiávamos praticamente no mesmo lugar, sempre muito unidos. Nós carregávamos o Underground Soteropolitano nas costas, com muitos shows e festivais organizados por nós mesmos, saca? Carregando equipo nas costas, dentro de ônibus urbano e tudo mais, em suma melhorei mesmo a minha performance,  na base da garra, da gana, da vontade interminável de fazer a coisa certa e seguir com sangue no olho mesmo. E não havia muita preocupação se estava realmente correto. A parada foi superada pela garra e a vontade de fazer a coisa acontecer. Até que no começo de 89 gravamos a primeira Demo-tape com treze músicas tudo diretão, no ao vivo mesmo.


HMB: E como foi na época, a repercussão desse trabalho?
Henrique: Foi ótima, foi muito boa mesmo, até porque antes de qualquer coisa somos Headbangers e a coisa era feita de bangers para bangers. Andávamos todos juntos, nas ruas, nos bares, fazendo festas e tudo mais era muito comum chegar a minha hora de tocar em algum show e os caras terem que me arrancar de algum boteco da quebrada (risos). Mas infelizmente por motivos pessoais em 1991 tive que deixar a banda, os caras até tentaram continuar e se não me engano gravaram mais uma demo, a primeira comigo no vocal é Agony Screams (acho que o meu amigo Val da banda Rattle vai me xingar), eu não tenho mais essa demo-tape, acho que o Zulbert do Headhunter deve ter e o Cavalo do Amazarak deve ter a segunda demo, Satanic Legion, de vez em quando me deparo com alguém falando sobre como era o Chemical Death na época, isso é muito gratificante. Veja bem, algo que foi gravado sem recursos adequados e no início de 1989, é lembrado e comentado até hoje! Isso é maravilhoso! Poder ver que bandas como Head Hunter DC e Mystifier estarem ai até hoje, firmes e fortes mantendo a honra e suas origens intactas, isso é muito foda! A coisa só enfraquece ou acaba para quem é modista, embalista, poser e afins, paga-pau de sonzinho moderno que ficam pulando de galho em galho, esses só merecem o nosso desprezo.

HMB: E como você vê o cenário da música pesada no Brasil hoje?
Henrique: Muito mais fácil que antes sem dúvida. Existem inúmeras ferramentas para trabalhar seu material. Ainda assim, existe uma parcela de bunda mole por aí que só reclama. Porra mano, antes tínhamos que ralar para conseguir espaço para tocar, muitas vezes mentir para os proprietários e dizer que era um show de rock. Por que se você falasse que era show de Heavy Metal era só a porta na cara, não tinha internet, informações e troca de material de divulgação eram feitas por cartas e no boca a boca. Hoje temos tudo aí, nas mãos, ótimas bandas, diversos estúdios de ótima qualidade tanto para ensaio quanto para gravação. Quando deixei o Chemical Death em Salvador e voltei para minha cidade natal (São Paulo), fui convidado para fazer o vocal no Black Death (eram meus vizinhos). Não tínhamos porra nenhuma, mas estávamos lá ensaiando e lutando para a porra acontecer. Infelizmente a coisa se acabou, me afastei um pouco de ter banda, mas sempre estive presente na cena. Hoje o Metal no Brasil está mais forte que nunca, grandes bandas, ótimos músicos, bons produtores, estúdios bem preparados com o melhor para ensaio e gravação. O lance é acreditar no seu som, correr, ir pra cima do seu objetivo, mostrar o que você faz, e ficar sentado e só reclamando disso ou daquilo não vai fazer sua banda sair garagem. Sou muito adepto do lance faça você mesmo! Aí, não terá que reclamar da atitude de ninguém. Espaço existe, ótimas bandas também e o público meu amigo só depende de você e o que você tem para mostrar. Se for bom será recompensado, se não for... Procure melhorar! Abrir a boca e falar que o público não apoia a cena nacional é fácil, mas quando aparece um show de banda gringa, esse é o primeiro a comprar o ingresso e postar nas redes sociais. Vai se foder! Não me entenda mal! Eu gosto e vou aos shows de banda gringa, mas a minha prioridade são as bandas locais e nacionais. Um exemplo: conheço o Claustrofobia desde que eles vieram de Leme para São Paulo, acho que compareci em todos os shows que me foi possível estar (os caras do claustro não me deixam mentir). Pude ver show deles para meia dúzia de neguinho de cara feia ainda, mas os caras estavam lá, mandando ver, acreditando, ralando, batalhando seu espaço. Hoje você vai a um show dos caras é fácil ver muito mais de 500 pessoas e tocando fora do país com saldo positivo, com um suporte adequado, mas isso existe porque acreditam no que fazem. O Metal nacional e a cena existem e estão em sua melhor fase!

HMB: A cena Metal no Brasil é enorme, mas escassa de apoio dentro da sua própria casa, você enxerga alguma mudança e quais seriam as atitudes, em sua opinião, que deveríamos ter para que essa realidade mudasse?
Henrique: Concordo que o Metal no Brasil é gigante e que o apoio é mínimo. Mas veja bem, se houvesse uma união maior entre as bandas acho que teríamos um panorama diferente, vejo que existe muita disputa entre as bandas, que meu som é foda, que aquela banda é um lixo, que fulano é falso e por aí vai. São Paulo, no meu ver, é o berço do Metal nacional e não existe uma data no calendário da prefeitura para um evento específico uma vez por ano que seja. Só cobra engolindo cobra, ao passo que existem festivais consagrados e sagrados todo ano no Norte e Nordeste com data no calendário da prefeitura. Existe sim muita panelinha entre algumas bandas, vejo inúmeros shows de bandas no underground, quase toda semana, então a coisa está acontecendo e em minha opinião se houver uma união maior e todos trabalharem para o mesmo ideal seria mais fácil ser notado à importância da coisa. Da mesma forma que uma banda batalha para mostrar seu som, todas as bandas unidas devem batalhar por um apoio digno essa é a minha maneira de ver. Como cinco bandas é igual há vinte pessoas, então cinquenta bandas, deveria ser igual há duzentos malucos correndo atrás do mesmo objetivo, acho que é mais viável.

HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Henrique: Acredito sim! Não importa o estilo de som, a união é importante para conquistar apoio digno, claro que também acho que talvez não seja tão saudável misturar Metal Melódico, Pop Rock e Death Metal em um mesmo show (risos), falo da união para conquistar apoio e podemos ter todos esses estilos num mesmo festival e ter um grande evento cada um na sua praia e todos na mesma luta para a conquista do devido apoio. Porra! Existem grandes festivais na gringa com centenas bandas dos mais variados estilos todos em uma grande união, seja publico ou banda, todos ganham com isso. Meu som preferido é Thrash e Death Metal, mais gostaria de ver uma banda boa de Stoner Rock detonando, saca?


HMB: Entendo! Você acha que um coletivo de bandas autorais, com o propósito de fazer shows com qualidade melhor, poderia fazer com que as pessoas voltassem a ter interessa maior nas bandas autorais?
Henrique: Acredito muito nisso, é como eu disse antes, se o seu som é bom e você acredita no que faz , será recompensado com certeza!
Você até pode ter uma banda cover, desde que seja igual ou melhor que a original para você fazer disso um trabalho onde toque em bares que acomodam esse tipo de banda, trabalhar como uma banda operária e paralelamente manter sua banda autoral trabalhando forte para conquistar o devido apoio, pois existem muitos músicos que escolheram viver da música e só com sua banda autoral e sem o devido apoio fica difícil sobreviver e muitos desistem. Nós no Scraper Head ganhamos a vida com trabalhos normais apenas um dos guitarristas vive da música, sendo professor de música, dois são professores (inglês e biologia), eu e o batera trabalhamos com cervejas especiais, quando começamos tínhamos a pretensão de viver da banda (um sonho da maioria), mas a vida nos aplica grandes surpresas, depois uns casam ganham seus filhos e aí a coisa entorta. Mas acredito sim, numa união de bandas trabalhando duro e apresentando seus trabalhos com sua devida qualidade, não tem porque o publico não comparecer, a massa quer curtir música boa e bem feita unindo isso à qualidade fica perfeito. Sei que é foda, mas temos que continuar lutando e trabalhando a sonoridade da banda, as dificuldades do passado foram sanadas pelo o avanço da tecnologia que temos em mãos hoje, agora temos novas e outras dificuldades e que também serão vencidas. Só depende do entendimento e da união e força de todos para que isso aconteça.

HMB: Como andam os trabalhos para a gravação do próximo CD do Scraper Head?
Henrique: Então, como estávamos parados por quase cinco anos, estamos tirando a ferrugem das juntas (risos). Na verdade fomos motivados a voltar por culpa de um amigo, o Junior Terror Cult, o cara curti muito o som da gente desde o principio, ano passado ele estava de férias e veio passear aqui em Caxias do Sul e praticamente nos obrigou a fazer um ensaio. Ele toca todas as músicas e ainda nos ensinou como toca-las (risos). Foi um ótimo ensaio e gostamos muito do resultado. No momento estamos finalizando os últimos detalhes nas músicas, formação nova e reformulando todas as músicas, mexemos na afinação, no vocal em tudo mesmo. Vamos participar de um festival com bandas antigas daqui e virá também o Leviaethan de Porto Alegre. Com relação ao CD pretendemos usar o projeto Financiarte da prefeitura de Caxias do Sul (a coisa funciona por aqui), muitos lançam seus trabalhos dessa forma. O CD conterá quatro músicas da primeira fase da banda (regravações, são músicas ótimas e que merecem um trato melhor), três da fase intermediária da formação que teve em São Paulo e três inéditas. A ideia é lançar até o fim do ano, esperamos conseguir.

HMB: Qual é o seu pensamento sobre o ensino musical nas escolas?
Henrique: Fundamental! Imagine criar uma geração com essa cultura! A criança crescer estudando música quando chegar aos seus 16 anos será um grande músico, às vezes vejo pessoas impressionadas com a qualidade musical de um jovem do velho mundo que aos seus 16 anos tocam com grandes nomes da música no mundo, porra o garoto estuda música com alta qualidade de ensino em sua escola desde bem pequeno, com 16 anos ele já estuda a coisa por 10 anos. Quantos jovens entram em um projeto de uma ONG qualquer em sua cidade e com grandes dificuldades de chegar até a escola e com instrumentos que em sua maioria foi recuperado, comprado usado com muito suor e até mesmo construído por ele mesmo e ao ver esses garotos tocarem arrancam lágrimas. Imagine esses garotos com ensino musical nas escolas desde pequeno!


HMB: Como você se relaciona com a Internet, tanto no seu trabalho como na sua vida pessoal?
Henrique: A Internet é um mal necessário (risos), faz parte da minha vida. Uso no trabalho o dia todo, como agora por exemplo. Conecta mundos diferentes em tempo real, na minha vida pessoal posso falar com meu filho ou meus amigos distantes a qualquer hora, sempre tem um maluco conectado!

HMB: Mas você concorda que esta ferramenta pode ser usada para o bem ou para o mal.
Henrique: Sim concordo plenamente! Já presencie casais separando-se por conta das redes sociais, como também sou testemunha de união matrimonial onde tudo começou pela internet. Falsas notícias que levaram a morte pessoas que nada fizeram, e por aí vai.

HMB: O que você acha da opção dos comentários anônimos, geralmente depreciando o trabalho ou a arte de alguém?
Henrique: Cara, eu pessoalmente apenas digo se gosto ou não desse ou daquele trabalho. Para mim toda forma de arte é válida, odeio esses otários que acham que podem ou tentam intelectualizar a arte. A arte é livre e está aí para qualquer um, todos nascem com a arte, esses intelectualóides de merda, é a raiz de boa parte da falta de união entre as bandas e pessoas. Merecem nossa urina em suas covas!

HMB: E sobre os crescentes shows de bandas tributo e a diminuição de shows de bandas autorais, o que você pensa disso?
Henrique: Como já disse antes, respeito toda forma de arte! Se os caras escolheram serem reconhecidos por viver a vida ou a música de outros, espero que seja igual ou melhor que o original. Eu não gosto de banda cover! Sei dar o devido valor, mas prefiro bandas autorais, já me impressionei com bandas autorais que resolveram tocar ou gravar um cover e que às vezes ficam até melhor que a versão original, mas o original não tem que ser explicado, está lá, está escrito e é assim que tem que ficar. Apenas digo: quer ter uma banda? Estude seu instrumento, pratique, faça seu caminho e acredite em você e no seu caminho, faça a sua música. Gosta de ser aplaudido tocando música dos outros? Pense em ser aplaudido tocando a sua música, te garanto que a satisfação será muito maior. Existe um grande número de bandas tributo que na sua maioria, é formada por músicos que escolheram fazer da arte um produto de comercio, sair tocando de bar em bar como banda operária e fazer salário e essas bandas tem todo o apoio de proprietário de bares que só estão nessa pelo dinheiro querem ver a casa cheia, conheço isso de perto. Quem acredita na arte como ela deve ser, e acima de tudo acredita em si, no seu som e na sua capacidade de levar sua arte adiante, carrega o bagulho nas costas com sangue, suor e às vezes lágrimas e não se importa com bandas tributo que não acrescentam em nada na cena. Apenas encaram a batalha do dia a dia para levar seu som a quem realmente gosta da coisa. Prefiro mil vezes dar dez CDs nosso para quem realmente corre junto, do que vender um para modista, embalista, porra louca, poser ou qualquer um desse tipo. Não quero fazer trezentos shows por ano tocando música dos outros, prefiro fazer trinta shows por ano tocando a minha música para quem realmente aprecia e sabe dar o devido valor!


HMB: Planos para o futuro?
Henrique: Encontrar amigos com a mesma desordem mental que eu e meus irmãos de banda, seguir forte com a atual formação do Scraper Head que nesse ano completa 21 anos, lançar um CD novo ainda esse ano, fazer alguns bons shows aqui no Sul e quem sabe em São Paulo dividindo o palco com o Yekun (risos) e continuar propagando a cultura cervejeira. Beba Menos - Beba Melhor!

HMB: Resuma Henrique Scraper Head em uma palavra ou frase.
Henrique: Eu em uma palavra... Headbanger!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Henrique: Eu que agradeço JP! É muito massa o trabalho que você realiza com o HM Breakdown, continue assim irmão, esse cara gentil e humilde! Atenção irmãos do Metal! Continuem carregando a bandeira do Heavy Meta, pois ele está mais vivo que nunca! Valorizem as bandas autorais de sua cidade e deixem a energia do Metal alimentar vossas almas. Faça muito sexo, bebam cerveja boa e se afastem das drogas! Grande Abraço a todos, nos vemos por aí. Stay Metal!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Antônio Carlos Dias Fernandes, fé, determinação e sabedoria


Antônio Carlos Dias Fernandes, vocalista das bandas Sistema Sangria e Crakolândia, figurinha carimbada no cenário da música pesada de São Paulo e um sujeito muito tranquilo e educado, apesar de não parecer! E foi neste clima que Tonhão nos concedeu essa entrevista, onde fala dos seus trabalhos e da sua visão do cenário Underground. Confira!

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Antônio Carlos Dias Fernandes: Boa tarde a todos, meu nome é Antônio Carlos, sou vocalista e guitarrista do Crakolândia e também do Sistema Sangria Tenho 33 anos e atualmente trabalho no ramo de vendas, das quais sai minha fonte de renda, para sustentar o som que não pode parar e desde já agradeço a oportunidade dessa entrevista!
Bom, estou nessa parada há mais de quinze anos, comecei em meados de 98 com o Hate que depois foi batizado de Downhatta, tocamos em muitos lugares de São Paulo e do interior, toquei guitarra em duas ocasiões no Sistema Sangria e hoje toco guitarra e canto no Crakolândia, junto com o Fábio do Sistema Sangria e o Batata do Imminent Chaos.

HMB: E nesses quinze anos, você percebeu alguma mudança no cenário da música pesada aqui de São Paulo?
Tonhão: Aumentou a quantidade de bandas, hoje em dia e mais fácil para se lançar um CD para se gravar, os meios de comunicação estão muito avançados hoje em dia, na minha época lembro-me de receber cartas e fazem contato via correio, hoje tem ferramentas como facebook, myspace entre outros para você divulgar sua banda, você lembra como era difícil para lançar um CD há dez anos, lembro-me de gravar fita e mandar para os lugares, tudo hoje ficou melhor, temos mais opções de show mais infelizmente faltam casas de show que deem um valor para as bandas underground e infelizmente ainda e muito difícil sobreviver só de banda até hoje, mesmo assim prefiro fazer o que gosto, a tocar um som só por dinheiro, por isso hoje, sou vendedor.

HMB: E você acha que com todas essas facilidades houve uma banalização do trabalho autoral o que fez com que as pessoas migrassem para os shows de bandas tributo?
Tonhão: Eu particularmente dou muito valor para quem faz um som próprio mais o pior e que pagam mais p quem faz um cover de algum grupo pop rock entre outros do que para um som de autoria própria feito de verdade, que graça tem você querer ser o guitarrista da banda y ou x?
Só para reforçar está questão não tenho nada contra quem toca cover e é feliz assim mais desde já você que toca cover está tirando um espaço que poderia ser para divulgar sua composição ou algo do tipo, bandas famosas não precisam de divulgação vamos divulgar o som próprio.

HMB: Você é inserido predominantemente no cenário Hardcore, mas migra por entre as vertentes com facilidade, já que sua banda agrada todos os públicos. Quais são as grandes diferenças em relação ao público entre o cenário Heavy Metal e o cenário Hardcore?
Tonhão: Que pergunta difícil essa, viu JP, vou tomar cuidado para não falar besteira. Em primeiro lugar fico feliz por agradar a todas vertentes se assim for à todos que escutam nosso som, não vou falar dos outros mais eu particularmente escuto muito tipo de som diferente desde o metal ao Hardcore, não sei se estou certo mais estou mais envolvido no cenário Hardcore mais vejo que a galera do heavy metal tem uma organização muito forte, existem muitos festivais de metal que a galera da uma força a todos os tipos de som e no Hardcore tem alguns estilos que se dividem sendo que poderíamos se misturar sem frescura de rótulos, não gosto de ficar inventando estilos ou rótulos e particularmente gosto tanto do metal como Hardcore, Thrash entre outros nunca vou ficar falando que sou só um estilo sendo que posso ter influência de tudo e agregar a um conhecimento maior de estilos musicais diferentes.


HMB: Sendo assim, o que toca no seu player?
Tonhão: Ultimamente estou escutando todos os trabalhos do mestre Ronnie James Dio desde o Sabbath, Heaven and Hell, em carreira solo e no Rainbow.  O Soundgarden é uma das minhas maiores influências no dia a dia, é a banda que escuto desde criança e a cada dia gosto mais, estou tentando colecionar todos em LP e estou quase conseguindo, recentemente ouvi o novo LP do Carcass e achei fudido, fora as bandas de cabeceira como Pantera, Slayer, entre outros, que escuto desde sempre.
E não posso me esquecer de Anthrax, Testament, Suicidal e se continuar vai longe..

HMB: Esse leque de influências acaba servindo de referencia na hora em que você compõe as suas linhas de voz?
Tonhão: Digamos que sim, o poder que o Dio tem na voz não existe, ele é único, mais para a linha de vocal berrado tenho outros tipos de influência, você pega uma gravação de vocal do Phil Anselmo e é uma produção surreal que nem ele consegue fazer ao vivo, Chuck Billy do Testament, acho um vocal monstro que serve de influência para um som pesado pelo menos para minhas ideias de timbre, gosto do vocal do Carcass, pois só ele consegue fazer aquela voz bestial e por ai vai. São muitas bandas e influências diferentes, por isso, não tenho como falar que sou do Grind, do Hardcore, do Thrash ou outro estilo, eu prefiro poder escutar um timbre de voz berrado, limpo agudo grave e de todos os estilos que caiam bem aos meus ouvidos e gosto e igual bunda cada um tem o seu, de repente posso estar falando merda mais é o que gosto, é muito peculiar essa referência, pois são timbres e encaixes diferentes que fazem a gente tentar melhorar cada vez mais sendo que nem em sonhos penso em chegar perto de alguns desses monstros.

HMB: Fale-nos da sua outra banda, o Kracolândia.
Tonhão: O Crackolândia é uma banda que deve ter já quase seus 10 anos também, é um projeto tranquilo no qual o objetivo é se divertir no ensaio sem stress ou cobrança, funciona assim uma hora de ensaio e a outra hora é descanso para as brejas, não consigo mais ficar num estúdio só tocando, tem que haver diálogo entre todos e o essencial, A CERVEJA,  no som podemos ou tentamos ao menos fazer um som mais arrastado com algumas músicas instrumentais e outras com vocal, é bem experimental mesmo.

HMB: E essa banda é um descanso da velocidade do Sistema Sangria?
Tonhão: Descanso de velocidade, descanso no berro e descanso em tudo...


HMB: Fale sobre o Sistema Sangria.
Tonhão: O sistema sangria começou comigo encontrando um amigo de infância, e que estudou comigo, depois de anos ele apareceu em casa dizendo que estava tocando guitarra e eu já tocava com o Hate que depois virou o Downhatta, chamei o rapaz que se chama Jesher para fazer vocal para eu tocar guitarra, pois no Downhatta eu já cantava e tinha acabado de comprar uma guita, conhecia o Nader e ele estava sem banda e o chamei para fazer o baixo mais ele tentou a bateria e em uma semana chamamos o Dinho para tocar a bateria, se eu não me engano a banda começou com o nome Insideout ou Insidecore não me lembro corretamente, tocamos em alguns lugares de Sp e na praia com essa formação, depois de um ano sai da banda e entrou meu irmão Bolivar assumindo a guitarra no qual ficou pouco tempo comigo voltando e saindo também vindo o André Hirota para assumir as guitarras da banda e o mesmo já tocava comigo no Downhatta sendo um dos fundadores juntamente com o Hatiro primeiro baterista do Downhatta e uma das pessoas que mais me ajudaram no meio da música, sempre vou agradecer os dois Hirotas e sua família, nesse meio tempo o André foi trabalhar no Japão e eu voltei com mais um guitarrista chamado Leandro. Passando se um tempo o Nader, me despediu e ao Leandro sem pagar fundo de garantia ou algo do tipo assim entrando o Fábio para assumir de vez as guitarras e dar uma mudada na vida do antigo Insidecore que virou Sistema sangria ajudando muito também nos corres do Downhatta e tocando comigo até hoje no Crackolândia sendo decisivo na correria e na mudança no estilo do som, com o Fábio ficamos com o som mais pesado com uma afinação diferente eu mesmo peguei muita influência de guitarra com o mestre Fábio, um mito do Sistema Sangria e logo depois, juntando-se ao time que se tornou a melhor formação da banda, o Dinho saiu, foi então que Igor (mãos de polvo), que assumiu a bateria e a banda ficou com a melhor formação desde então e lançando o CD “Brasileiro de verdade não tem medo não”.
Depois de anos voltei no lugar do Jesher, assumindo os vocais e gravando o LP Sistema Sangria que foi a realização de um sonho, poder lançar em vinil, com 20 faixas pelo selo independente Hardcaos.

HMB: Então o Sistema Sangria é muito mais uma família do que uma banda?
Tonhão: Todos que passaram pela banda são amigos, irmãos e por ai vai, até meu irmão de sangue fez parte disso e todos nós somos amigos à mais de 15 anos e todos que não estão tocando eu encontro sempre, acho que independente de quem for tocar, quem sair da banda temos que deixar a banda no estúdio e a amizade nas ruas tem que ser a mesma, não podemos misturar a banda com o cotidiano do nosso dia a dia. Penso que a banda serve como uma válvula de escape e um lazer não um compromisso, quando isso virar obsessão perde a razão e o prazer de tocar, não toco por dinheiro mais por que gosto do que faço e quando você toca com seus amigos e não pode ter um diálogo, uma conversa sobre tudo que está acontecendo já não está mais rolando como deve ser, para 4 integrantes de uma banda se encontrar não é todo dia então o estúdio não serve só para ensaiar mais também para conversar sobre os assuntos da banda e não na mesa do bar quando estaremos fazendo outras coisas,

HMB: A música funciona como uma terapia para você?
Tonhão: Com certeza a música tem um significado único, a felicidade de poder fazer composições novas e gravá-las e depois disso ouvir e ver o resultado, não tem dinheiro que pague, tem pessoas que gostam de sair e fazer seus roles e eu gosto muito de ficar trancado em casa ouvindo meus discos durante horas e para mim serve como terapia ou algo do tipo sim. Nesse momento estou ouvindo um LP e falando com você e é difícil um momento que eu não esteja com meu toca discos ligado, lembro ano passado depois de quinze anos, o Soundgarden lançou um CD, e fazia oito anos que não comprava um CD e esse tive que buscar só para ouvir o trabalho novo dos caras e isso me traz muita satisfação. As pessoas gostam de ir ao shopping e gastar dinheiro com o Mac Lixo e outras coisas, meu passatempo se baseia em estar em casa ouvindo algum disco ou fazendo alguma composição fora isso não tenho outras ocupações que me interessam nesse momento fora estar do lado de quem me faz bem e que tenha algo em comum comigo.


HMB: Como é o processo de composição das suas bandas?
Tonhão: Não temos um modo correto de composição, no Crackolândia no começo eu já tinha algumas músicas prontas e quando o Fábio entrou ele acrescentou fazendo vocal e trazendo seus riffs também, dependendo da música venho com um riff e o Fábio com outro e juntamos tudo misturando ao mesmo tempo com o mestre Batata dos tambores encaixando sua parte dando suas marretadas e dai vai, o processo do vocal no Crack fica por último quase sempre depois que ficou pronta a parte instrumental começamos a trabalhar em cima do vocal.
No Sistema Sangria é completamente, pois só faço parte das composições no vocal e no riff o Fábio e o Nader já vem com as ideias de casa, algumas músicas já vem com letra e depois vou moldando conforme acho melhor, mudando uma frase ou a forma como foi feito o e encaixe, normalmente mudo todos para ficar com o meu estilo, de resto acho que é por ai que vai o processo de composição. Acho que a única parte que tem em comum entre as duas bandas é que tanto o Batata, quanto o Igor fazem suas linhas de bateria com total liberdade.

HMB: O que você acha do cenário nacional e do apoio de selos, grupos que organizam shows e do público em geral?
Tonhão: Temos muitas bandas no cenário e é até injusto falar de uma ou outra banda. Mas vejo o cenário nacional cada vez mais forte, pois podemos ver que a galera do Metal, Hardcore, Punk, Crust, Grind entre outros estilos, estão juntos e misturados e isso é legal, ver o respeito que todos tem, sem discriminar ninguém, tem espaço para todos os estilos sem frescura e a galera está dando apoio, infelizmente é muito pouco por que aqui no Brasil ninguém consegue viver de música tendo que trabalhar para poder se sustentar, por isso quem sabe daqui alguns anos possamos dar mais valor as bandas do Underground para não  ter que tirar dinheiro para se lançar, ter apoio nos shows entre outras coisas, pois é muito difícil se manter no cenário sem ajuda ou apoio de algum selo, casas de shows e outros meios para fortalecer. Mesmo assim temos ajuda de alguns selos que estão atuantes na cena.
Marcelo do Rot e da loja Extreme Noise Discos é um dos que fortalece o movimento, e nós do Sistema Sangria agradecemos muito a ajuda e o espaço na loja, vendendo nosso vinil e divulgando nosso trabalho, o Pudoul, que é do selo Bucho Discos também sempre está na correria com a gente e se me esqueci de alguém, me desculpem, mais agradeço à todos que estão sempre ajudando o Sistema Sangria e também as bandas, selos, casas de shows que sempre estão apoiando a cena e as bandas aqui no Brasil. Sem ajuda, sem conquista!


HMB: Planos para o futuro?
Tonhão: Lançar um LP com o Crackolândia e fazer alguns shows sem desespero, continuar conhecendo bandas novas e quem sabe, um projeto novo para o  ano de 2015, tenho músicas enterradas, que dão para lançar um play inteiro e tem horas que penso muito em desenterrar e entrar em estúdio para lançar algo novo, espero também por prosperidade nesse país de políticos sem vergonh, que roubam a gente na cara larga, essa não vai ser a Copa do Mundo e sim a Copa do Roubo e da Exploração. Cambada de políticos filhos da puta, sem vergonha que só servem para roubar mais, espero que no futuro  tenham manifestações, pois cansamos disso tudo e parece que o povo está acordando, assim espero! Morte, Tristeza, Sangue,  Em vão, isso é a Copa do Mundo no Brasil

HMB: Resuma Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra ou frase.
Tonhão: Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra não dá, vou me descrever em três palavras: Fé, Determinação e Sabedoria.  Nunca desistir dos meus sonhos e objetivos, se tomei um rodo, eu me levanto e é sempre assim, sempre em frente.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Tonhão: Obrigado desde já pela oportunidade em ceder esse espaço muito legal e interessante que é a HeavyMetalBreakdown e a você grande JP, amigo de batalha de vários shows e roubadas por ai a fora, à todos leitores, amigos, bandas, casas de show que estão de uma forma ou outra fazendo tudo isso sair do sonho e virar realidade, espero também poder ter ajudado de alguma forma fortalecer a cena underground aqui nesse país. Valeu!

Charlie Curcio, guerreiro, honesto e perseverante


Charlie Curcio, batalhador assíduo do Underground brasileiro, promotor de shows, dono de loja de artigos musicais. Mas a sua atuação maior foi como StomachalCorrosion, banda Grind Core com diversos lançamentos e respeitadíssima no cenário da música pesada. Charlie, que já foi baterista, guitarrista e vocalista da banda, neste bate papo, mostra que sua vida é o Metal e Hard Core. Confira.

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Charlie Curcio: Tive o primeiro contato com a música pesada em 1983, quando o Kiss veio ao Brasil pela primeira vez, de lá pra cá venho colecionando coisas e me mantendo em atividade através de correspondências. Com o passar do tempo comecei a editar meus primeiros fanzines, Revista Merda, Crazy Invasion, La Kudrilo Zino.
Em 1989 comecei a tocar em bandas Punx, Insania, Diarrhea. Depois passando para algo mais para o Metal também, com a Interitus e Óstia Podre (sem H mesmo). Em 1991 iniciei a Stomachal Corrosion, com membros que eram da SC, mas que ajudaram a reformular a nova Óstia Podre. Em 2000 também toquei Baixo/Vocal na banda Crust de Santa Bárbara D'Oeste, Disarm. Na cidade de Cambuí, onde a história da SC foi mais intensa até então, também tive uma loja de artigos musicais, com predominância para Rock num geral, também montei um quarto de ensaios para minha banda e todas as demais da cidade e região. Lá também fiz várias excursões para tudo que era festival da região e que o pessoal se interessava em comparecer. Lá organizei alguns eventos, sendo um chamado Cambuí Hard Core Festival, onde ocorreram sete edições e movimentando a cena local.
Com minha mudança pra Itajubá, abri um Rock Bar, Barzim e organizei dois eventos de aniversário do mesmo, tenho uma loja virtual de artigos no âmbito do Rock no geral. E estou novamente na atividade com a Stomachal Corrosion.

HMB: A discografia da Stomachal Corrosion é bem extensa, qual a forma que vocês usam em suas composições?
Charlie: Na realidade não lançamos tanto material oficial durante nossa vida de banda. Mas procurei sempre colocar a Stomachal Corrosion em lançamentos como coletâneas em fitas cassete, VHS, CD, CDr, DVD e tudo que é formato que aparecesse. Isso manteve o nome da banda vivo nas memórias das pessoas, mesmo nos períodos de indefinições na formação.
Nossa maneira de compor sempre foi á mais simples possível. Sempre tenho algumas letras arquivadas só esperando serem encaixadas em alguma nova música da banda. Então, quando usamos o tempo de ensaio para compor, criamos um esqueleto com os instrumentos, para com o trabalho de encaixe da letra com o vocal, ir  moldando o som de acordo e chegar ao final.



HMB: Qual é a sua visão do cenário Heavy Metal hoje?
Charlie: E vejo as coisas muito confusas e numa fase transitória. Pois ao mesmo tempo em que as pessoas acreditam que tudo está perdido porque muitas mídias não vendem, como os CDs, também vemos muitos colecionadores retornando a comprá-los. O que é o mesmo para vinis e até ficas cassete. Ou seja, tudo é um ciclo. Até programas de rádio estão tomando força novamente.
Musicalmente falando a cada dia mais bandas com produto de qualidade, seja no lado musical em si, como de material promocional.
Conversando outro dia com o Airton Dinis, na sede da revista Roadie Crew, eu o perguntei se a internet afetou as vendas da publicação. Ele me disse que muito pelo contrário, pois o público Underground é colecionador e a internet apenas tem ajudado na divulgação da revista. Muito bom isso.
O que acho que ainda atrapalha é o pensamento de algumas pessoas que a música pesada, seja ela o estilo e ramificação que for não é um estilo musical, mas um bem próprio e que está sujeito aos seus achismos e cuidados. Tem muita gente que trata o Metal não como música mais como um bichinho de estimação, que não pode isso, nem aquilo.
Não acredito no pensamento de que tudo no underground deve ser feito só por amor, no sangue e na raça. Deve haver condições naturais para que os músicos por aqui permaneçam e não se sintam obrigados a migrar para outros estilos musicais para poder sobreviver. Tem gente radical demais que esquece que o mercado de trabalho limita idades, e pessoas que passaram muitos anos dedicados a tocar em alguma banda chegou a um momento da vida em que não se encaixa mais no mercado de trabalho, e tem que sobreviver.
Concordo com o que o grande Thiago Barata respondeu em sua entrevista. As bandas devem ter condições melhores para tocar e viajar.
Tenho defendido estas ideias há uns vinte ou trinta anos, e acho bom que os extremamente radicais tem perdido terreno, e as coisas tem se profissionalizado, uma vez que amamos e vivemos neste meio, devemos ter condições de nos mantermos aqui.

HMB: Como você vê a falta de espaço para as bandas autorais nas casas de show?
Charlie: Isso é um reflexo que amargamos pelas escolhas de bandas e público. Penso se um dia as pessoas desistirem de compor e vivermos de bandas covers, tocando as mesmas músicas o tempo todo. Não tivemos novos lançamentos, novos estilos, novas caras. Penso se um dia tudo se repetir o tempo todo. Será que as pessoas que tem optado pelas bandas covers se sentirão no paraíso ou também começarão a enxergar a realidade triste?
Mas, vejo que muita gente ainda acredita em si e em seu trabalho. Acho louvável falar sempre sobre isso e que as bandas autorais de mostrem, divulguem seus trabalhos e procurem por shows e tudo mais. Se acomodar e aceitar, ou até se render aos covers não vai levar a nada e lugar algum.
Você vê bandas covers tendo espaço em revistas, sites, e até respondendo entrevistas como essa? Não, né? Então há de se parar e refletir.


HMB: Você acha que o cenário musical pesado do Brasil, está destinado a pequenos shows e pouco espaço, vendendo seus CDs e merchandizing de mão em mão, até que por um acaso do destino, venha um gringo e diga: Own! Essa banda é legal, e bom! Muda tudo? Será que o brasileiro é xenofilista demais para dar valor ao que ele mesmo produz?
Charlie: Acredito que a música pesada não deva ser mais subdividida do que já é, com todos os gêneros, subgêneros, misturas e criação de novos rótulos a cada dia. Música é arte e como tal, deve ser universal. Como venho de uma grande experiência no Punk e Hard Core, defendo a não utilização de bandeiras. Sei que as bandas no Brasil penam para existirem. Sei que organizadores sérios de eventos decentes também são raros. Mas existem e devem receber todo apoio. Há uns fatores que eu sempre comento e tento colocar nas cabeças das pessoas aqui no Brasil. Há radicais ultrapassados que acham que as bandas de Metal ou qualquer estilo da música pesada, não devem tocar em eventos beneficentes e os shows receberem apoio de suas prefeituras locais. Isso é um entrave no andamento do meio. Uma que pagamos muitos impostos e essa galera precisa encarar o Metal e outros estilos como música, e não como seu cachorrinho de estimação, que não pode comer tal ração, não pode ter contato com o cachorrinho do vizinho que torce pelo time rival que ele, enfim... Essas bobeiras. Nada mais natural que a prefeitura injetar alguma grana nos eventos de música pesada sim. Apoiar com cartazes, alvarás, etc. E qual o problema em se fazer algum tipo de doação para alguma obra filantrópica da cidade? Fala-se tanto das igrejas que não apoiam como deveriam e coisa e tal, e esses radicais, que muitas das vezes são os que menos fazem, ficam nesse policiamento torpe. Esse pessoal não sabe que se um determinado organizador declara e divulga que o show é beneficente, rola muitos benefícios que um evento não beneficente não recebe com tanta facilidade. Simples assim. E sobre o cenário como um todo. Vejo que está num momento de transição. Antes a galera "dazantigas", eu me enquadro nesse povo (risos), chorava pelos quatro cantos do Brasil porque os shows internacionais eram escassos e raros por aqui. Depois da vinda do Kiss em 1983, as portas se abriram, organizadores com visão macro surgiram, veio o Rock in Rio, Hollywood Rock, Monsters of Rock, Live in Louder, etc. Até o Wacken Open Air criou interesse em vir pro Brasil. Mas, temos os shows menores, que são de suma importância e nunca acabarão. O que deve existir aí é seriedade dos organizadores. Ter lucros nos eventos, eu vejo como algo normal, afinal tudo que se precisa para um show é pago, nada é trocado por uma mão fechada e um grito de "Hail Metaaaalll, Porraaaa!" (risos). Mas, há como sobrevivermos cada dia melhor, desde que o público volte a apoiar os eventos sérios, as bandas autorais e que os covers voltem a ser apenas um "enchimento de linguiça" nos repertórios das bandas.



HMB: concordo com você quanto aos eventos beneficentes. Não seria este um caminho para mostrar a sociedade como um todo que existe boa intenção por traz da arte extrema?
Charlie: Sem querer ser pedante, mas eu tenho trinta e um anos no meio underground, já vi de tudo um tanto de vezes, então posso dizer, sem medo, que muitos radicais que se fecham em um mundo cada dia mais fechado, estão é com medo de encarar responsabilidades cada vez maiores. São pessoas que com o tempo se frustraram com suas próprias escolhas e atitudes fracas e derrotistas e vivem de confrontar o trabalho intenso de quem quer fazer as cosias cada vez melhor e de maneira profissional, em base de sua vida de frustrações e castrações, muitas vezes causadas por namoradas, esposas, filhos, empregos, etc. Mas, saiba que, todos desejariam ganhar a vida tocando em suas bandas, e pagando suas contas com o dinheiro dos cachês.
Eu sempre faço eventos e sempre arrecado algum dinheiro inicial com patrocinadores. Isso ajuda muito. Há pessoas que querem ajudar, são amigos de lojas, escolas, e outras entidades que frequento e que desejam apoiar com ao menos um pouco. Isso dá credibilidade ao evento, a mim, ao estilo do som, e tudo mais.
Vejo organizadores de shows com mais de 10, 15 anos de tempo nas organizações e ainda estão ralando com eventos pequenos, com bandas que se contentam em tocar de graça, com equipamento simples, para um público reduzidíssimo, etc. Dizer que estão satisfeitos com a situação, é mentir para si próprio, porque quando é anunciado um show de artista internacional essa galera fica putaça da vida.
É como eu sempre digo: eu não sou nenhum gênio, eu não tenho capacidades a mais que ninguém, eu não inventei nada e nem faço nada que ninguém consiga. Basta ter coragem e ir à luta, mostrar o trabalho e buscar por credibilidade. Afinal, o underground não é composto por um monte de ogro imbecil, né? Se bem que ainda tem gente que pensa isso de mim (risos).

HMB: e o que você acha da associação de bandas que buscam, juntas, melhorar e expandir seus shows?
Charlie: Isso é um assunto muito peculiar de cada cidade e pessoa. Já fui convocado a participar de uma associação assim, mas teria que dividir equipamento e contas com uma banda de Hare Krishna Hard Core. Meu, sou do meio HC há anos, não admito idolatrias, como essa galera vive. O tal do Krishna Core foi uma abominação musical surgida apenas para angariar a galera HC para as fazendas e os seus ensinamentos e vida devota.
Bem, resultado: arrumei uma puta confusão e quase apanhei dos Hares que lá estavam... (risos).
Mas, acho de suma importância sim, desde que haja realmente o pensamento em comum. Em Fortaleza rola uma associação há anos, e eles conseguiram muitas coisas legais em prol do meio musical e da música pesada em especial. O foda é que já vi alguns radicais inertes falando mal do trabalho deles lá no Ceará.

HMB: Os detratores chamam erroneamente essas associações de panelas. No alto da sua vasta experiência, como você vê os meios de comunicação voltados ao som pesado? Sejam eles revistas, blogs, sites, fan pages.
Charlie: Vejo o termo "panela" como algo bem diferente. Vivi algo assim no passado, e quando notei que para a Stomachal Corrosion ter apoio de certas pessoas de um determinado meio, eu tinha que andar com essa galera, falar que nem eles, ouvir o que eles dizem gostar, tocar como eles conseguem tocar em suas bandas e viver falando bobagens panfletárias que estas pessoas vivem até hoje... Bem, caí fora. Isso é ser panela, é estar em uma e viver assim fingindo estar satisfeito.
Quando resolvi sair desta panelinha de vida cíclica como um looping infinito e de falsos protestos, que são calcados apenas em cenas de países estrangeiros e nenhum comprometimento com a política, economia e toda essa vidinha sem vergonha da corja política brazuca, eu vi a minha banda deslanchar e tocar em eventos verdadeiramente de responsa.
Sobre os meios de comunicação utilizados no underground... Cara, o que posso falar? Hoje temos muito mais recursos e a agilidade da internet nos proporciona responder a uma entrevista em tempo real, sem a necessidade de utilizar taquigrafia, transcrições de gravações, etc.
Não sou do tipo que vive dizendo que os anos 80 eram os melhores. O melhor é hoje, se não tá legal, não reclame, tira a bunda da cadeira, largue a porra do celular e vá à luta. O ser humano é o único ser vivo que consegue mudar completamente o seu ao redor para o seu bom convívio, se há consequências à natureza e coisa e tal, aí já é outra história!


HMB: Você ainda organiza shows?
Charlie: Estou promovendo um em junho, 13. Será o aniversário do meu antigo bar, o Barzim. Mas, deve ser meu último evento que organizarei. Aqui em Itajubá é fraco de lugares pra shows.


HMB: Como está o Stomachal Corrosion hoje?
Charlie: Hoje estou reformulando a banda. Apareceu uma galera querendo reviver a SC e estamos ensaiando para em breve voltarmos a viajar e tocar por aí afora.
Também estou batalhando para lançar um CD de bandas tocando covers da SC. O chamado CD Tributo. Já recebi algumas gravações muito, mas muito legais, que tem me dado muito orgulho de todo trabalho que tive e tenho com a banda Stomachal Corrosion. São amigos e amigas que dedicam um tempinho das suas vidas para tirar e tocar um som nosso. São pessoas que sabem da importância que dou para esse lançamento. Mas, sempre há aqueles que fingem estar muito ocupados com suas vidas e suas bandas e dizem não ter interesse ou tempo. Mesmo que eu saiba que isso não é verdade, pois eles não fazem tantos shows e nem tem tantos compromissos assim com suas bandas. Mas estes eu prefiro até que fiquem longe, pois esse CD vai sair com uma junção de bandas e pessoas que me darão muito orgulho por terem feito suas versões de maneira espontânea e não com o pensamento de estarem me ajudando. Por isso que digo que ultimamente eu tenho estado sem tempo para quem não tem tempo pra mim!

HMB: Planos para o futuro?
Charlie: Cara, eu nunca tive esta de ter metas e planos futuros, porque vou fazendo as coisas conforme o meu tempo e as condições que me chegam. Mas, estamos voltando com o nome da banda, e estipulamos 2014 para ensaiarmos e se aparecer algum evento pequeno, nós pegamos mais para sairmos do estúdio, tocarmos em outros equipamentos e fazermos um laboratório na banda, sacar as deficiências e corrigi-las. Sempre gostei de agir assim.
Se chegarmos a gravar algo, ainda vamos conversar se lançaremos em CD ou simplesmente jogaremos na internet e já era. Mas, se tivermos grana, lançaremos nós mesmos. E distribuiremos e tudo mais. Estou muito cansado já de viver mendigando que as pessoas lancem os materiais da Stomachal Corrosion. Estou farto de ler ou ouvir que "já estou com alguns lançamentos engatilhados, cara. Fica pra próxima". Como sempre tem bandas melhores do que a minha pra as pessoas lançarem de depositarem seus trocados, os deixarei em paz e nos uniremos aqui no nosso grupo e faremos tudo por nós mesmos.

HMB: Resuma Charlie Curcio em uma frase ou palavra.
Charlie: Guerreiro honesto e perseverante.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Charlie: JP, eu que tenho que te agradecer pelo interesse em me entrevistar. Fazia uma data que eu não respondia a uma entrevista. Acho que desde quando acabei a SC em 2009.
E para os leitores do grande blog... Vai o que sempre digo a minha vida inteira, e quem me conhece há tempos sabe que não estou mentindo. Acredite sempre em você mesmo. Não espere alguém fazer por ou para você. A vida passa! Os dias não voltam, assim como as oportunidades. Passar por esta vida e ser apenas uma lembrança para algumas poucas pessoas não é o suficiente. Seja ativo, movimente-se. Faça realmente algo por aquilo que você acredita e gosta. E não se preocupe com as críticas, porque sempre haverá os letárgicos de vontade, mas hiperativos das línguas.
Grande abraço a todos. E saibam... A Corrosão está viva!