segunda-feira, 21 de abril de 2014

Fernanda Czarnobai, distorção plena!!!



Fernanda Czarnobai, baixista das bandas Forbidden Ideas e Calibre 12, atualmente residente em Berlim (ALE), antes, percorreu o cenário da música pesada do Brasil tocando nas mais diversas bandas, conquistou seu espaço, o respeito de alguns e o ódio de outros, mas nunca deixou a peteca cair. Nessa entrevista ela deixou bem claras suas opiniões e mostra que mesmo distante ainda vive o cenário da música que faz o seu coração pulsar! Confiram!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Fernanda Czarnobai: Eu agradeço seu convite!  Há 6 meses eu larguei tudo e vim morar em Berlim mas sigo sendo membro "remoto" do Calibre 12 e do Forbidden Ideas. Por enquanto aqui estou estudando e fazendo o corre. (risos)

HMB: E estando tão longe e num dos maiores centros pro Heavy Metal Mundial, qual era, e se mudou, qual é a sua visão do cenário Heavy Metal do Brasil?
Fernanda: O Brasil tem MUITA banda boa, cara, mas nos últimos anos tem sido difícil fazer a galera ir aos shows, pagar entrada, ficar dentro do pico vendo as bandas e curtindo as gigs. Todo mundo virou o dono da verdade do metal na internet, mas ninguém sai de casa as bandas tocam pros amigos e pras outras bandas o espírito do faça você mesmo continua forte pra caralho entre as bandas, porra, a maioria das bandas paga a própria gravação, prensagem e produção do material, mas se não tem publico, é foda. Tem cada vez menos lugar pra tocar e alguns desses lugares não respeitam as bandas, não pagam direito (sem contar os que oferecem cota de ingresso pra venda antecipada), às vezes nem conseguimos tirar um som razoável. E ainda tem o lance de que os estilos não se misturam, então se é um show com 4 bandas, todas elas são mais ou menos do mesmo estilo, aqui tem show todos os dias em tudo que é lugar com todas as faixas de preço e até de graça, e todo mundo vai, paga o preço que for, fica pra ver todas as bandas, agita, compra merchan, fica até o final, o som é bom (na maioria das vezes) e os estilos se misturam bastante, por exemplo semana passada fui ver uma banda de stoner mas uma das bandas de abertura era crust-punk e a outra de sludge e claro, o rolê estava bem cheio, e o valor da entrada era o valor que cada um podia pagar. Com a quantidade de banda boa que leva o corre a sério que tem ai, com mais incentivo e organização, dava facilmente pra fazer uns festivais foda com o mesmo nível musical.  Mas se a própria galera não apoia as bandas locais...

HMB: Então você, assim como eu, é a favor da segmentação dentro do evento e não do evento, buscando com isso trazer diversos públicos a um mesmo evento?
Fernanda: Eu sou a favor de juntar as pessoas pra fazer crescer o rolê e não de segregar ainda mais ou ainda, virar banda de internet e fazer dois shows por ano, som extremo tinha que juntar todo mundo que gosta de som extremo e não ficar se separando, fora de São Paulo isso acontece quase sempre... E eu sempre achei do caralho isso

HMB: Então, no seu ponto de vista, como fazer para a cena se manter viva?
Fernanda: Queria muito descobrir também (risos)! Eu não tenho a menor ideia e nem quero ser a dona da verdade de nada, mas o que está bem óbvio nessa matemática é: SOBRA banda boa ralando e se fodendo e fazendo divida e indo atrás pra fazer o som e FALTA: lugar pra tocar, festivais nacionais que não tenham apenas bandas internacionais, estrutura e apoio, gente querendo sair de casa para ouvir o som ao vivo e apoiar as bandas. Parece que vamos ficar no negativo até sei lá quando, tenho medo de num futuro bizarro no Brasil ter um monte de banda foda tendo que viver de crowdfunding pra fazer tour D.I.Y. nos EUA ou na Europa.


HMB: Entrevistei o Christopher Correa, que é português e mora em Lisboa, e ele declarou abertamente que a cena de Portugal é exatamente igual a nossa, com todas dificuldades para bandas tocarem, pessoas que vivem a cena somente on-line! Você percebe essa similaridade ai em Berlim também?
Fernanda: Do que eu vi até agora, a galera aqui meio que não gosta de internet nem de rede social, a maioria é bem contra tudo isso! Aliás, por um bom motivo: a internet aqui é controlada. tudo o que você faz aqui o governo sabe que foi você que fez. Qualquer download aqui chega multa na sua casa com seu nome (risos). Em todos os squats é proibido filmar e fotografar os shows e principalmente as pessoas, por exemplo. Eu até agora não fui em nenhum show "miado" sem ninguém, acho que eu que eu fui com menos gente, ainda sim tava bem OK, pra uma 4ª feira. Até mesmo com 15 graus negativos a galera vai pro show... Mas, pode ser que eu tenha tido sorte até agora (risos)...

HMB: Com que frequência os shows acontecem em Berlim?
Fernanda: Putz! Todo dia, em algum lugar tem alguma banda tocando, cara e conforme o tempo vai melhorando a agenda vai piorando (risos), de banda desconhecida a Black Sabbath (vai ter show deles aqui em junho com o Soundgarden) fora os festivais que acontecem na cidade (acabou de rolar o Punk & Disorderly e semana que vem rola o Desert Fest), andando na rua e vendo os lambe-lambes ou se você olhar o Bands in Town ou o Songkick e ainda o site com a programação dos squats dá um pouco de agonia! Te juro!!! Às vezes é difícil decidir, mas, nesses casos o preço decide por mim (risos).

HMB: Assim como aqui, os valores pagos em apresentações são altos em relação ao salário médio das pessoas?
Fernanda: Com certeza não! A media de preço aqui varia de 12 a 35 euros, depende da quantidade de bandas ou o quanto a banda é famosa o Sabbath com Soundgarden, por exemplo, vai custar uns 75/80 Euros, surreal de caro até para os padrões daqui, eu só vou em show que custa menos de 20 Euros (risos).

HMB: E como você partiu para o som extremo? Qual formam suas experiências tocando este estilo?
Fernanda: Meus pais ouviam muito Sabbath, Led Zeppelin e todas as outras bandas que pais que gostam de rock escutavam (risos), mas som extremo eu acho que quando eu tinha uns 10 anos o Sepultura já tinha ficado conhecido com o Beneath the Remains e estava estourando fudidamente com o Arise e naquela época as rádios de rock tocavam metal na grade normal de programação e a MTV Brasil estava começando e tinha muito clipe de metal. Fora que eu praticamente, comia todas as revistas de metal que tinha na banca para conhecer outras bandas e ver o que estava acontecendo.
Daí, descobri o Slayer, foi quando eu resolvi tocar baixo.  E logo em seguida descobri o Napalm Death e foi um caminho sem volta!
A primeira banda de metal que toquei, eu achei num anúncio da Rock Brigade lá por 94/95. Eram eu, a Marina Takahashi (que tocou no Tiger Cult) e mais outros 2 caras que responderam o anuncio. Não era nada extremo, mas era divertido!
Em seguida eu toquei por pouco tempo numa banda de grind de SP que chamava Oxiurus com uns amigos da escola de música e daí fiquei mais ou menos uns 2 anos procurando banda de extremo em anuncio, galeria, etc. Mas, nenhuma aceitava mulher! Foda né?
Acho que em 97/98 fui chamada pra tocar no Opera, uma banda de metal melódico de SP. Toquei com eles por muitos anos, com um gap no meio com outro baixista, mas foi bem legal conseguir vencer o preconceito e poder tocar por tudo que era lugar! Fizemos muitos shows grandes! Depois disso fui tocar no Morsek (extinta banda do ABC paulista que tinha o Ronaldo atual vocal do Forka) e aí consegui entrar de vez no extremo: eles tinham a afinação bem baixa, vocal gutural, triple pick e blast beat. E desde 2000 e alguma coisa, quando meu irmão resolveu criar o Forbidden Ideas. Eu nunca mais saí e tempos depois, passei também a tocar no Calibre 12.

HMB: Estranho pensar que em pleno ano de 2014 as pessoas ainda tenham preconceito por mulheres tocarem som brutal ou Heavy Metal em geral? Como você lida com isso?
Fernanda: Cara, vou te falar que agora tá bem melhor nos anos 90 era quase impossível ver uma mina numa banda de extremo! Eu ligava nos anúncios ou mandava carta e os caras falavam: "você é mina? Não não..."
As bandas que tinham eram mais metal tradicional, metal melódico ou hard rock e só e ainda as minas, e eu inclusive, tinham que lidar com o publico gritando um monte de idiotice machista. Era um saco, mas acho que de lá pra cá as coisas mudaram bastante e também a gente aprende a se impor com competência, dedicação e seriedade e passa a ser respeitado por quem também leva a parada a sério, mas claro que ainda tem muito comédia machista que se acha o dono do metal.


HMB: Já assisti alguns shows do Forbidden Ideas e realmente,  a pegada é forte! Você ainda tem tempo para estudar seu instrumento?
Fernanda: Quando comecei a aprender a tocar eu estudava muito todos os dias mas depois de tantos anos, minha cota de estudar sozinha meio que já deu (risos), praticar em casa só pra tirar música pra levar pro ensaio e outra, nos últimos anos eu trabalhava demais e não tinha tempo pra nada, as vezes nem conseguia ir nos ensaios. Depois de estudar tantos anos, eu descobri que prefiro estudar no estúdio fazendo jams e ensaiando repertório exaustivamente com todos juntos. Desde que mudei pra Berlim,  eu eventualmente, pego o baixo e toco sozinha. Mas não é a mesma coisa.

HMB: Planos para o futuro?
Fernanda: Nenhum! Cansei de planejar as coisas e viver pra trabalhar e não ter tempo pra ser eu mesma, por isso, abandonei tudo e vim pra cá. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer. Talvez a única meta que eu tenha agora seja tocar em bandas aqui em Berlim e viver o underground daqui até voltar pra terrinha. O que também não sei quando vai acontecer!

HMB: Resuma Fernanda Czarnobai em uma frase.
Fernanda: Afff!!!!  Que dificil!! Posso pular essa? (risos)

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Fernanda: Valeuzásso pelo convite! A entrevista foi muito legal!! Uma mensagem...huuuumm... Caras não deixem o underground morrer!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário