Camila Porto, vocalista da banda Swett Storm, além de
designer da Three Gates ArtSign, com muita dedicação, ela faz dos seus
trabalhos um estilo de vida e uma forma de se expressar. Conversamos com Camila,
e nesse bate papo esclarecedor, pudemos conhecer um pouco mais dessa
batalhadora do Underground. Confira a seguir.
HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e
por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas
atividades.
Camila Porto: Bem, eu gostaria de agradecer pela oportunidade
da conversa, é sempre bom este bate papo.
Eu sou Camilla Porto, vocalista da banda Sweet Storm e
também desenhista na empresa Three Gates ArtSign. Trabalho com divulgação de
bandas, mas minha principal atividade é a arte. Comecei fazendo arte apenas
para mim e para a minha banda, e depois comecei a fazer assinaturas para fóruns
de jogo e também de música, onde eu frequentava muito. Com o passar do tempo,
notei que as ideias amadureceram muito, e eu percebi que a banda precisava de
algo mais profissional, então comecei a estudar e ainda estudo técnicas de montagens
e desenhos no photoshop. Percebi que, assim como minha banda, a maioria das
bandas sofriam com a falta de artes bem elaboradas. Juntei-me ao Peterson e mais
alguns amigos e formamos a ThreeGates ArtSign, cujo intuito foi oferecer
gravações Demo com baixo custo e o foco principal foi a elaboração de trabalho
artístico mais em conta para as bandas também. E vem dando certo, o negócio
ainda não deslanchou, mas fico muito grata em trabalhar com a maioria dos
músicos que já me deram a oportunidade de colocar minha arte em seus trabalhos.
Este trabalho de divulgação eu faço desde os 16 anos, quando
o Myspace era febre e as comunidades no Orkut bombavam. No início, minha ideia
era simplesmente conhecer mais sobre mais bandas, foi uma época em que eu
baixava e compravas discos, e quanto mais eu ouvia, mais bandas eu queria conhecer,
sem me importar com o estilo, bastava eu gostar. Era surpreendente poder
conversar com bandas que eu escutava. E isso foi evoluindo, passei a ter um
zine, mas infelizmente hoje eu não tenho tempo para continuar, mas garanto que
foram ótimos cinco anos. Hoje eu só comando algumas páginas que compartilham
informações totalmente underground e brasileiras. Não que eu tenha algo contra
o mainstream, mas o underground precisa de mais força e gente trabalhando nele.
Há três anos meu principal foco vem sendo dentro da banda
Sweet Storm. Embora pareça clichê, é o meu sonho. Tudo que eu puder fazer por
essa banda, farei. Tocar ao lado do Peterson e do Tanaka é vitalizante e esplêndido,
é incrível nossa sintonia. Somos crianças e adultos ao mesmo tempo, eu amo a
música que fazemos e sei que não se parece com nada que eu já escutei, isso é o
que me faz amar ainda mais nosso trabalho, pois ele flui com a nossa cara, é
algo nosso.
Estou terminando meus estudos e pretendo em breve ingressar
em uma faculdade de música, pois sei que quanto mais eu puder somar na minha
música, mais posso contribuir para a cena musical brasileira.
HM Breakdown: E como foi, na época, a aceitação do seu fanzine?
Você acredita que o cenário Underground é movido pela paixão das pessoas?
Camila: Eu sempre fui uma pessoa sem papas na língua, quando
eu via algo que, na minha concepção, era errado, eu falava. Na época o pessoal
adorava, tinha muito pouco canal via internet que oferecia uma divulgação gratuita,
nem todos tinham internet em casa, e era o máximo, eu chegava a fazer matéria
com cerca de cinco ou seis bandas por semana. Havia pessoas do contra, cheias
de frescura. Eu sou de uma cidade que sempre teve muita “panelinha”, conheço
gente de banda que se mudou de Uberaba para ter oportunidade, pois aqui não há
oportunidades, eram boas pessoas, que faziam um excelente som, mas precisavam
ser ouvidas. Ao mesmo tempo em que a maioria adorava o underground, havia os do
contra, os que não querem conhecer material novo, que entortam o nariz para som
autoral, mas eu não estava nem ai, queria mesmo que aquelas bandas fossem
ouvidas. Mais recentemente o zine ganhou um blog, que hoje está fechado. Ele cresceu
muito, ganhou colunas, falávamos até do meio ambiente, mas tudo de uma forma underground,
gostei muito de falar de tudo, desde o ambiente, a música e o visual do
underground, pois afinal isso não é apenas um estilo ou uma música, é um habitat.
Sim, eu acredito e tenho certeza que o underground é movido
pela paixão e pela força de vontade. É difícil mexer com isso, como tudo que
você faz na sua vida, é complicado de ser feito, pois a partir do momento que
algo não depende apenas de você, e sim de vários indivíduos e questões, torna-se
complicado. Mas o underground é muito forte, e o melhor de tudo, ele é livre e maior
do que pensamos.
HM Breakdown: E como você vê o fato de hoje em dia as
pessoas estarem se tornando Web-Bangers e só levantarem a bandeira para
deteriorar o que está sendo feito?
Camila: Eu acho errado certas atitudes de egoísmo nesse meio
que a gente vive. Hoje, com o avanço da tecnologia, não é apenas o nosso meio
musical que anda vivendo online, todos estão assim, o que torna um maior do que
o outro é a quantidade de fãs. Eu gosto de pensar e acho certo que cada um tem
que contribuir de uma forma ou de outra. Se você não pode ir a eventos, então
compre material, ajude uma banda, divulgue outra banda, indique a amigos,
compre uma camiseta, um CD, invista, seja em imagem, seja em presença. Se você
não faz nem um nem outro, não tem o direito de reclamar de nada. Eu juro para
você, prefiro ver um bar com dez pessoas que realmente são bangers do que um
bar lotado com pessoas que estão ali só pra fazer cena e dizer: "olha eu estou
aqui, eu vivo em evento, sou radical", e não sabem merda nenhuma. A galera
tem que se movimentar, tem que levantar a bunda da cadeira, tem que fazer as
coisas. Esses falsos bangers que só sabem criticar, falar mal, não fazem nada realmente
útil da vida deles, eles só apodrecem, e em algum momento, somem da cena. Gente
assim não dura, eles cansam da brincadeira, porque sempre têm seus quinze
minutos de fama, os que permanecem são somente os verdadeiros. E a ideia do
Web-Bangers, pode ou não ser ruim, é preciso analisar muitas questões para
poder criticar e saber o real motivo. Tem cidade por ai que não tem nada, nem
um botequim, nem cover, nem mesmo autoral, se o cara não tem grana, o que ele
vai fazer? Ficar em casa olhando pela net, às vezes comprar material, quando
achar. Mas se você está num lugar que tem pouca ou muita movimentação e, além
disso, tem como viajar e acrescentar, você tem que fazer isso mesmo.
HM Breakdown: Perfeito! Você administra o grupo Força e
Honra Underground no Facebook, você percebe uma interação das pessoas, e também
um interesse das bandas em divulgar seu material por lá?
Camila: Recebemos muito material, todos os dias, muitas
bandas têm interesse em divulgar, e isso é muito bacana. A interação das
pessoas é mediana, creio que por não ser uma página grande como muitas por ai,
com vinte, cinquenta mil curtidas, mas sempre tem gente curtindo, galera que
manda mensagem pedindo algum som.
Eu sempre colaborei, postando sempre que podia, assim como em
outras páginas. Quando eu entrei no Força e Honra Underground, foi muito
engraçado ver a quantidade de gente que pedia o som da minha banda, fiquei surpresa.
Eu ficava imaginado se eles sabiam que eu era da banda e se eles realmente
estavam curtindo? É o máximo isso.
Tem uma galera mais madura, participativa, gente que
realmente sabe o que é o Underground, que curte aquelas bandas. Buscamos mentes
mais maduras.
HM Breakdown: E sobre os seus trabalhos gráficos? Falei com
o André Luiz esses dias e ele rasgou elogios a você. E mais, fora a capa de Sky
and Moon do André Luiz, que outras artes levam a sua assinatura?
Camila: É um trabalho muito importante, pois é a imagem da
banda que eu tenho que modelar, trabalhar e criar. Eu gosto bastante, embora algumas
vezes seja muito cansativo, mas é muito gratificante poder fazer isso por
outras bandas. Sim, recentemente fiz junto com o André Luiz o trabalho completo
de encarte para seu novo CD, Sky and Moon, foi muito atrativo trabalhar com
ele, pois ele gosta de elementos muito semelhantes aos que eu gosto, em questão
de arte, e isso ajudou bastante no momento da criação e foi muito interessante
conseguir um resultado simples, que passasse toda a mensagem de seu novo CD.
Fora o Sky and Moon, já fiz artes para Catástrofe, Gore Autopsy, Necrohunter,
Hate for Revenge, Carnage Hell, entre outros. Recentemente, também fiz um
trabalho magnífico com a banda Godslayer, foram duas capas, eles estão usando
apenas uma, mas ficou animal, algo bem viking, um campo de guerra com guerreiros
representando a banda. E também fiz a atual capa do CD Collector of Souls, da
minha banda, ficou genial. Também tive a oportunidade de criar a logo
(assinatura) de muitas outras bandas, que para mim é ainda mais gratificante,
pois muitas levam aquilo ali por toda a carreira da banda, isso me deixa muito
feliz.
HM Breakdown: E quais são os aperfeiçoamentos que você busca
para desenvolver este trabalho?
Camila: Assisto videoaulas, algumas matérias a respeito do
assunto, muitos trabalhos de outras empresas, em questão de coloração, efeitos
de luz. Mas o que eu mais faço é acompanhar canais que nos mostram como
utilizar e criar certos efeitos. Sempre tento reproduzir na minha cabeça a arte
pronta e transpor na tela do programa.
Sou formada em desenho técnico e artes plásticas, e isso me
dá um certo conforto na hora de desenhar, pois já tenho conhecimento de formas
e tamanhos, e sempre estou buscando ver aulas e videoaulas de desenhos
relacionados a isso.
Mas tem um ponto complicado, não ter muito material voltado
para o desenho mais obscuro, dark ou gore, resultando em um ponto escuro na
hora da criação. Sempre tento melhorar.
HM Breakdown: Existem muitos sites e blogs com artes
relacionadas às que você citou, porém não existe mesmo nenhum que te dê as
dicas do trabalho. Você não acha que esta seria uma ferramenta amplamente
divulgada, caso alguém resolvesse investir em algo assim?
Camila: Sim, seria interessante uma empresa de maior porte
pegar vários artistas e desenhistas por aí espalhados e criar uma forma ou um
local de poder centralizar isso e ampliar a divulgação. Também creio que eles
não façam isso, pois as gráficas oferecem este tipo de trabalho, não especializado
em um estilo musical, mas oferecem o trabalho.
Eu já pensei em criar um blog onde eu filmasse a criação das
artes. Mas, ao mesmo tempo, eu me deparo com o fato de eu não ser a pessoa mais
especializada na questão de artes gráficas, ainda sou um peixe pequeno diante
dos grandiosos que tem por aí. Fico com receio de fazer e quebrar a cara, procuro
evoluir para me tornar uma expert.
Mas o blog seria ótimo, podia haver pessoas fazendo vídeos,
mostrando a estruturação de desenhos para o metal.
HMB: Sendo assim, você acredita que o Heavy Metal, por si só,
é capaz de movimentar um mercado e gerar receita?
Camila: Sim, eu acredito. Creio que tudo deve ser totalmente
remodelado, e quando digo remodelado, quero dizer a forma como é vendido,
divulgado, deve haver uma maneira eficiente de divulgar esses trabalhos para
chegar ao público que irá compra-lo.
HMB: Sua banda, a Sweet Storm, tem uma pegada bem oitentista, mas com uma cara moderna, sempre foi essa a intenção?
Camila: A intenção sempre foi fazer algo com a nossa cara, afastar-se de tudo que nos influencia, pois não queremos que nossa música seja um “Frankenstein”, com pedaços de várias outras bandas. Mas no momento que você se propõe a compor dentro de um determinado estilo, você deve respeitar as raízes deste estilo e utilizar características dele. Hoje, se eu pudesse não escolher estilo nenhum e simplesmente poder fazer a música do jeito que quero, faria isso. E acho o máximo poder soar como algo moderno e oitentista ao mesmo tempo, gosto da liberdade que temos para criar, seja uma música mais pesada, mais simples ou extravagante.
HMB: Porque a banda é um trio?
Camila: Já fomos quatro, no início tínhamos dois guitarristas, mas por questão de tempo, um deles saiu da banda. A ideia é ter no máximo quatro integrantes na banda, caso o baterista entre para a banda, não gostamos de tumulto em termos de produção, o número três tem muitas influencias em cima da gente, por incrível que pareça. Um amigo me falou recentemente que somos um mega power trio, como os pilares que dão sustentação, somos três cabeças pensantes fortes dentro da banda. O porquê mesmo, nem eu sei , mas por incrível que pareça, sinto que tem que ser assim.
HMB: Como está sendo a parceria com a Black Legion Productions?
Camila: Bem, eu já acompanhava há um tempo o trabalho deles, e graças a um parceiro de divulgação, pudemos ter mais contato com este tipo de serviço. Estamos há pouco tempo com a produtora, mas o Alex, que é o responsável, é um cara muito atencioso, que conversa com a gente não apenas sobre o trabalho, mas como um amigo, e isso é muito bom, ele tem algo que eu gosto, ele não tem medo de falar se está ou não ruim, a sinceridade dele é uma virtude que prezo muito, pois mesmo que seja um lazer, também é um trabalho, e isso mostra a seriedade dele. Até o momento está indo bem, mas estamos com grandes expectativas para os próximos meses
HMB: Planos para o futuro?
Camila: Atualmente, estamos colocando muitas coisas em
ordem, e recentemente tivemos uma reunião, queremos mudar de Uberaba, não
apenas por conta de banda, mas também por questões de emprego e oportunidades, também
pretendemos completar o time da banda, pois por mais que a gente toque com
bateria programada, não é o certo, a gente precisa de mais alguém, pois sinto
que é o que falta para o nosso trabalho deslanchar. Atualmente, também estamos
encerrando o Collector of Souls, que vai ser lançado agora em setembro, caso
não tenha mais nenhum problema. Queremos que fique com a aparência Underground
e bem independente, tanto que estamos fazendo tudo, desde a gravação até a
colação dos encartes. Mas não vai deixar de ser um CD bem produzido. E para 2015,
já vamos estar embarcando em uma mega produção do nosso segundo CD, Through the
Submission, que já estamos fechando com a Black Legion Produções, e também já
separando estúdio e produtores. Vamos fazer um book com as setenta e sete fotos
e filmes do nosso querido amigo Fábio Fernandes. Quem precisar de um trabalho
fotográfico profissional, só falar com esse cara. O restante, creio que vá
fluindo.
HMB: Resuma Camila Porto em uma frase ou palavra.
Camila: Uma frase ou uma palavra que me resuma (risos)? Eu
diria que sou uma percepção.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Camila: Eu agradeço pela oportunidade de falar sobre mim e
meus projetos, espero que a HMB continue com este trabalho magnífico e que cada
vez mais pessoas possam ser acrescentadas em todo esse trabalho que vocês e
todas as pessoas vem fazendo pela música, não apenas no Brasil, mas no mundo
todo.