quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vanessa Joda, diferente do óbvio!


Mulher de fibra, de talento, que faz com que as coisas aconteçam a sua volta. Num breve bate papo, Vanessa Joda, nos contou sobre seus planos e nos mostrou um lado empreendedor tão determinado que se torna quase selvagem. Confira você mesmo tudo que esta batalhadora do underground nos contou!


HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Vanessa Joda: começando pelo nome né... Vanessa, muito prazer! Ainda bem que foi Vanessa, porque era pra ter sido Waleska, mas meu irmão me salvou na ultima hora. Única filha mulher entre cinco irmãos, caçula por 5 minutos (sim, tenho um irmão gémeo) e pra ajudar única loira de olhos azuis da família toda, e ate hoje. Neta de espanhóis  italianos e portugueses, primeira filha a se formar, primeira a ir morar sozinha, primeira a fazer tatuagem, primeira a se jogar pra fora do pais, a única que curte pancadaria musical. Deu pra ter ideia que eu vim pra ser diferente do óbvio né.
Trabalho com o que não gosto, mas o faço muito bem feito, afinal é o que paga minhas contas e sustenta a minha liberdade e escolha de morar e viver sozinha ha 16 anos. Pra compensar isso, faço o que amo: Yoga, estudo bateria e sou luto pelo sonho da união do underground através do Projeto Subterrâneo.

HMB: E como tem sido a aceitação do Projeto Subterrâneo?
Vanessa: A aceitação esta sendo melhor do que eu esperava, quando lancei o projeto. Muitas bandas me procuram todos os dias pra poder tocar, sinal que esta dando certo. Mas ainda há muito que ser feito e te digo que tem que ter muita paciência pra chegar ao objetivo almejado do projeto. Dependo da união de uma cena, que infelizmente não é tão fácil de unir.

HMB: Mas, com certeza, você tem trabalhado duro para mudar esse cenário, qual é a estratégia que você usa na divulgação?
Vanessa: A divulgação do projeto começou com o famoso e infalível boca a boca e quando nasceu, foi pro também infalível Facebook. Ainda tenho que fazer muita coisa para terminar de estruturar o Projeto e melhorar a divulgação, como por exemplo, ter uma pagina e perfil exclusivo do Projeto.

HMB: Como tem sido o comparecimento e a satisfação do público aos eventos realizados pelo Projeto Subterrâneo?
Vanessa: Bom, muito bom. Posso dizer que mais de 90% dos shows do projeto teve casa cheia e até agora não ouvi nada de ruim quanto à satisfação do publico, muito pelo contrario, tem sido sempre positiva. Claro que, como o Projeto tem como objetivo dar espaço as bandas underground para mostrar e tocar seu som, muitas bandas são novas e desconhecidas, o que torna o comparecimento às vezes menor. Por este motivo, sempre que posso, tento misturar os estilos e bandas, e ai entra em outro objetivo do Projeto que é o conhecimento de novos trabalhos undergorund e também, da ajuda que uma banda mais conhecida pode dar a uma que esta começando. Tai de novo eu tentando fazer a tal união do underground novamente.

HMB: E você tem algum apoio financeiro para isso, ou faz as correrias na cara e na coragem?
Vanessa: Faço na raça, cara, coragem, como quiser chamar. Quando teve show em que as bandas escolheram bilheteria, o correto seria uma parte ir para o Projeto, mas ate agora não peguei nenhuma parte, pois a grana era curta e o objetivo do Projeto é beneficiar as bandas. Além do gasto inicial que tive, sei que vai vir mais com o lançamento do documentário que estamos fazendo sobre o Projeto. Ha muito ainda o que ser feito, mas conto com apoio dos amigos e companheiros de Projeto, que aderiram e apoiam, seja fotografando, filmando, fazendo as artes dos flyers, camiseta, enfim, rola a união de quem acredita no Projeto. Quer apoio melhor que esse?

HMB: Você tentou algum tipo de patrocínio ou apoio financeiro da iniciativa privada para o seu projeto?
Vanessa: Não, ainda não. O Projeto é muito recente, estreou ha apenas 6 meses e ainda não esta todo estruturado para poder ir a este próximo passo.

HMB: Mas você tem planos para esta questão, ou é apenas uma esperança?
Vanessa: Sim, tenho planos de conseguir apoio ate porque isso beneficiaria as bandas. Outro ponto é o documentário que provavelmente sairá no próximo ano este também precisarei de fundos para o lançamento.


HMB: Já pensou em levar o projeto para outras cidades?
Vanessa: Sim, isso faz parte dos planos do projeto. Alias, vamos além, planos de levar a outros países e também de fazer intercambio entre cidades, estados e países. Estamos em negociação para o primeiro Projeto Subterrâneo fora de São Paulo, em Santos e em Goiânia.

HMB: Você vê um certo preconceito contra a mulher no cenário?
Vanessa: Infelizmente, em pleno ano de 2014, ainda vivemos em um mundo machista. Mas o Underground, por ser o Underground, apresenta muito pouco desses traços. Eu nunca passei por nenhum fato ou acontecimento que tivesse tido algum tipo de machismo. Muito pelo contrario. Eu e as mulheres que conheço, sempre fomos muito bem tratadas. Mas sempre tem uma minoria podre e ignorante que pratica do machismo sim.

HMB: Com isso você quer dizer que o pessoal que gosta de rock tem mais “entendimento” da vida em geral?
Vanessa: Eu quero dizer que o pessoal que gosta de rock tem a cabeça mais aberta.

HMB: Fale sobre seus gostos musicais.
Vanessa: Rock (risos)!  Desde Beattles a Eyehategod. Sou muito eclética no mundo do rock.
Quando era pequena, fui influenciada pelo o que meus irmãos ouviam: Black Sabbath, Led Zeppelin, The Clash, Kiss, Pink Floyd, U2. Lembro-me de todos esses vinis. Quando comecei a "andar sozinha", estava no auge do grunge. Meu primeiro vinil foi Mothers Milk do Red Hot, seguido pelo Booldy Sugar Sex Magic. Logo tinha Guns, Soundgarden, Nirvana, Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Alice in Chains, Iron Maiden, Metallica, Sepultura, etc e claro, a paixão da minha vida, Mike Patton. Faith No More era meu amor de adolescente e é até hoje. Sou addicted do Mike Patton, amo tudo em que ele se envolve.
Hoje em dia ando escutando muito Doom, Sludge, Stoner, mas nunca abandono os clássicos, punk, hc.

HMB: Uma mosquinha que disse que você está tendo aulas de bateria com a Fernanda Terra, é verdade?
Vanessa: Verdade (risos)! A Fe é demais e é uma honra poder ter aulas com ela e receber o que ela sabe, e ela sabe muito né?



HMB: Verdade! Qual vai ser a empreitada depois que você tiver domínio do instrumento? E o que te levou a tocar bateria?
Vanessa: Montar a banda, que na real, já esta formada. Mas tem ainda o objetivo de ter uma banda com duas bateras, nada tira isso da minha cabeça. Todo mundo me chama de louca, e eu sou mesmo (risos). Lembro-me do show de estreia do projeto, que o Hommelless tocou, e tivemos metade do show com o Pedro na bateria e a outra metade o Spaguetti. Foi animal, mas eu queria mesmo era ter colocado os dois pra tocarem juntos. Eles quase me mataram (risos)!
O que me levou a tocar batera foi um show do Faith No More em Phoenix, 1997 se não me engano. Ja viu esse show? Cara, o Mike Bordin toca muito, ele bate tanto naquela batera, que tem um cara com uma toalha o limpando o tempo todo, é surreal. Como o que eu queria mesmo era ser vocalista, mas, eu não tenho voz pra isso, olhei o Bordin e pensei: vou quebrar baqueta que nem esse cara. Antes de começar com a bateria eu tentei guitarra, e realmente não tenho a maior aptidão pra isso. Já com a bateria me dei bem e acaba sendo uma terapia também. Diz a Fê que eu mando bem, e se ela tá dizendo eu acredito!

HMB: Planos para o futuro?
Vanessa: Além do lançamento do documentário do projeto, ver este projeto ter crescimento em proporções internacionais de modo que possamos fazer intercâmbios não só entre estados, mas entre países, e claro, chegar ao objetivo almejado do projeto em relação a união do underground e espaço mais propagado desta cultura.
Conseguir concretizar o sonho de ter um espaço voltado todo para a cultura underground, abrangendo musica, arte, literatura, tattoo, esportes, enfim, tudo ligado a esta cultura.
Pretendo estar tocando bem e estar fazendo shows com os camaradas por ai.

HMB: Resuma Vanessa Joda em uma frase.
Vanessa: Ah va!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Vanessa: Obrigada ao HMB pela oportunidade, puta prazer ter esse papo! Bora lá galera, fortalecer a cena e fazer a união para o beneficio de todos da cena Underground. Parar com mimimi e rolar a atitude. Pediram tanto por um espaço, tai, Projeto Subterrâneo ao seu dispor!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Evandro Júnior, fôlego para continuar... Sempre!


As pessoas me perguntam: Você só entrevista bateristas??? Não! Claro que não. Entrevisto pessoas, entrevisto opiniões e acima de tudo, entrevisto quem tem algo para dizer. Agora, não tenho culpa se eles, lá de trás do seu praticável,  tem sempre muitas coisas, relevantes, diga-se, para falar.. E para não fugir da regra segue mais um baterista que tem muita experiência e melhor, muitas histórias para contar. Desta vez Evandro Júnior, confiram:

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Evandro Júnior: Antes de tudo, obrigado pelo convite e boas energias para o HMB! Vou me apresentar e fazer um apanhado geral dessas três décadas que estou envolvido com a cena nacional.
Meu nome é Evandro Júnior e toco bateria desde os 17 anos. A vontade de tocar bateria e ter uma banda começou na verdade mais cedo, por volta dos 13/14 anos, mas esse desejo só se concretizou no dia em que meu pai percebendo minha paixão pelos tambores, chegou em casa um dia com uma bateria usada que ele comprou e me deu de presente. Jamais vou esquecer esse momento! A partir daí, nunca mais parei, e a paixão por esse instrumento me levou inclusive a trabalhar por uns doze anos no comércio de instrumentos musicais, especificamente a bateria. Voltando a 1984, eu e meus vizinhos de rua decidimos ter uma banda de Heavy Metal. Era uma época em que já éramos moleques cabeludos fãs de Maiden, Judas, Sabbath. Conseguimos alguns instrumentos precários, amplificadores e começamos a ensaiar no porão da casa do Henrique "Poço" que a principio queria tocar baixo, mas acabou optando por cantar. A banda passou a se chamar "Fúria", começamos a tocar covers e algum tempo depois passamos a compor as primeiras musicas, e realizamos nossa primeira apresentação ainda em 84. Já no ano seguinte ocorreram algumas mudanças na formação e resolvemos mudar o nome da banda para "Anthares", e foi aí que fomos infectados pelo vírus que vinha da Bay Area em San Francisco e se alastrou pelo mundo. Passamos a tocar Thrash Metal e começamos a fazer muitos shows, até assinarmos um contrato com o extinto selo Devil Discos para o lançamento do álbum "No Limite da Força" em 1987, que acabou se tornando um dos clássico do metal nacional. Foram anos grandiosos, de muitos shows históricos e muita loucura. O Anthares acabou passando por profundas mudanças já em 90, que quase levaram a banda ao fim, mas resistimos até 96 com outras formações. A partir daí a banda parou e eu fui tocar no Siegrid Ingrid, uma banda que estava bastante em evidencia na época. Fiz parte da formação do Siegrid Ingrid até o fim das atividades em 2003 e gravei o álbum "The Corpse Falls" em 99, lançado pelo selo Cogumelo Records. Após o fim do Siegrid, iniciamos um novo projeto chamado "Skinlepsy" e gravamos um demo tape que teve ótima repercussão na época, mas acabamos congelando o projeto por tempo indeterminado devido a mudanças repentinas logo no inicio e o desgaste que vivemos nos tempos loucos do Siegrid Ingrid. Eu acabei voltando para o Anthares em 2004 e a partir daí a banda nunca mais parou. Apenas algumas pausas curtas ocorreram, mas estamos na ativa a 10 anos e fazendo muitos shows pelo país desde então. Em 2011 finalmente retomei o Skinlepsy com o André Gubber (guitarrista), passamos a compor e em 2013 lançamos o álbum "Condemning the Empty Souls" pela Shinigami Records. E também faço parte da formação do Desaster, banda ícone do Thrash Metal nos anos 80, que também voltou a ativa em 2011, e em breve estará lançando seu EP de estreia intitulado "Face of Desaster".

HMB: Nos anos 80, em algum momento você imaginou a importância que o Anthrares teria e, principalmente, a importância que “No Limite da Força” teria no Heavy Metal Mundial?
Evandro: Realmente não, e hoje não sei dimensionar o grau de importância que o álbum tem tanto no Brasil quanto lá fora. Evidente que o Anthares continua fazendo muitos shows pelo país e isso se deve ao sucesso e reconhecimento que o álbum tem. Naquela época a banda já estava em evidencia pois, dividíamos os palcos com grandes nomes como o Sepultura, Korzus, Dorsal, Ratos de Porão, MX, Attomica. E devido a isso recebemos o convite de pelo menos três selos interessados em lançar o álbum de estreia da banda. Optamos pela Devil Discos, que bancou toda a produção. Já havia uma grande expectativa do publico pelo lançamento, mas a importância que o álbum ganhou ao longo dos anos definitivamente não era algo que a gente pudesse vislumbrar de uma forma realista.

HMB: Interessante notar que a banda se manteve ativa e relevante para a cena nacional, muito disso graças ao seu esforço em manter o nome da banda em evidência. O que o Anthares significa para você?
Evandro: Eu sempre achei que o Anthares merecia mais, que deveria ter gravado outros álbuns, aliás isto está para acontecer agora com o lançamento do novo álbum "O Caos da Razão" que está sendo gravado, 27 anos após o "No Limite da Força". Mas afinal, manter uma banda na ativa produzindo material, gravando álbuns, depende de todos os envolvidos, e eu nunca fui o "dono" da banda, nunca reivindiquei o poder de escolher quem deveria fazer parte ou não da formação, mas mesmo assim eu sempre batalhei para que a banda se mantivesse na ativa. Foram varias mudanças na formação e em todas elas a iniciativa de abandonar o barco partiu sempre dos outros. Após termos gravado um novo demo tape em 95 e eu ter feito um trabalho intenso de divulgação, percebia a falta de comprometimento dos outros, o desinteresse, e isso atingiu um ponto em que fui chegando a conclusão de que já não valia a pena. Então, da mesma forma que os outros saíram em momentos anteriores, eu decidi sair também, mas logo em seguida a banda encerrou suas atividades. Quando voltamos novamente em 2004, o astral era outro, era mais de confraternização, de voltar a fazer shows e curtir, mas na minha cabeça, a responsabilidade de se manter o Anthares na ativa sempre foi por buscar o lado mais profissional, a atitude que o publico espera de uma banda veterana na cena, fazer algo que as pessoas possam elogiar, respeitar, dar valor, e é isso o que temos buscado nos últimos anos.


HMB: Como é o trabalho com o Skinlepsy?
Evandro: É um aprendizado constante. No Skinlepsy nós temos maior liberdade de composição, e conseguimos criar usufruindo das nossas influências que são muitas, dentro das vertentes mais pesadas do metal. Na musica do Skinlepsy você consegue identificar elementos do Thrash, Death e Hardcore, desde suas raízes até as sonoridades atuais. A banda foi formada logo após o fim do Siegrid Ingrid em 2003 e seguimos o curso natural das composições. Não se tratava de um novo projeto musical com novas temáticas ou sonoridades diferentes, mas sim a continuidade do que era o Siegrid Ingrid. Se você escutar o álbum "The Corpse Falls" de 99, perceberá isso claramente. Nós estamos no momento em processo de novas composições que farão parte provavelmente de um EP que pretendemos lançar ainda em 2014. Também estamos começando a criar ideias para nosso primeiro clipe oficial, e muito provavelmente o Skinlepsy passará a ser um quarteto em breve. Isso trará uma dose extra de peso nos nossos shows e dará maior liberdade para o André Gubber, que além de ser o único guitarrista, ainda é o vocalista.

HMB: Tocando em três bandas, como você administra o seu tempo, e melhor, como administra cada particularidade dessas bandas na hora de compor?
Evandro: Eu passei a tocar com três bandas a partir de 2011, e de lá para cá, as coisas tem caminhado com alguma normalidade. Porém, percebo que agora em 2014 com o lançamento do álbum do Anthares e também o EP do Face of Desaster as coisas tendem a ficar bastante corridas, mas dá para administrar sem tanta interferência na vida pessoal. A questão é que cada vez mais meus finais de semana estão sendo reservados para shows. O Anthares tem cinco datas confirmadas até Agosto, e o Skinlepsy também. Evidente que as datas não podem coincidir, então tudo é planejado de acordo com a minha agenda. As bandas bandas tem suas próprias agendas e nelas anotamos todos os shows que vão sendo confirmados para que não haja problemas. Já o Face of Desaster ainda não voltou aos ensaios, pois a banda vem se dedicando única e exclusivamente a finalização e lançamento do EP, o que deve acontecer em breve, e eu ainda não sei exatamente o que esperar desta banda. Se as coisas tomarem a mesma intensidade que está ocorrendo com o Anthares e o Skinlepsy, minha vida vai virar uma loucura e eu teria que dedicar meu tempo a musica. O problema é que o retorno financeiro, como todo mundo sabe, é extremamente pequeno, então pode até acontecer de eu ter que abrir mão de uma dessas bandas para dar conta do recado. Sobre a questão da composição, não vejo tanta dificuldade, porque no fundo, as três bandas tem diretrizes em comum que é o Thrash Metal. A exceção do Skinlepsy que tem maior diversidade musical e faz com que eu tenha de utilizar elementos do Death e do Hardcore e outras levadas mais complexas que exigem mais de mim, mas como eu escuto bandas dos mais variados estilos, então, nada chega a ser tão estranho para mim na hora de compor. O Anthares e o Face of Desaster são bandas de Thrash Metal, e isso eu toco desde moleque, acho que já estou familiarizado com o estilo.

HMB: E sendo bandas que tocam com velocidade, como você lida com o desgaste e cansaço do corpo? Faz algum tipo de preparo físico ou até mesmo alguma alimentação especial?
Evandro: Olha, eu acho que condicionamento físico para um baterista de metal tem sua importância sim, e te digo isso por experiência própria. Eu levava uma vida sedentária até os 30 anos, e tinha algumas dificuldades para tocar nos shows, o corpo todo sentia. Lembro que alguns shows eu fazia um esforço supremo para terminar, e quando acabava eu precisava deitar para respirar direito. Comecei a fazer musculação a partir daí, não só por causa da bateria, evidente, mas porque eu me sentia cansado mesmo, fora de forma e fumava quase dois maços de cigarros por dia. Passei a me dedicar nos treinamentos como se fosse minha única chance de vida (risos), mas algum tempo depois, percebi que estava com uma pegada melhor na batera, pernas e braços respondiam bem e o folego havia melhorado bastante. Mas é bom que se diga: o segredo do baterista está nos dedos, nos punhos, nos calcanhares, na técnica! Condicionamento ajuda, mas é a técnica quem manda. Portanto, se você quer ser um bom baterista, estude, e bastante, tenha paciência e perseverança, senão você vai ser só um tocador de bateria como eu (risos). Já a alimentação eu confesso que desde que me conheço por gente como porcaria e continuo comendo. Mas isso tem se tornado cada vez mais uma, preocupação para mim, preciso urgentemente de uma reeducação alimentar, e certamente isso também vai me ajudar bastante a tocar com mais qualidade, força e resistência.

HMB: Você se preocupa também com o condicionamento psicológico, afinal, uma mente cansada reage de forma mais lenta?
Evandro: Cara, como isso é importante! É uma coisa que me preocupa demais, preocupa a todos nós. Mas manter a mente concentrada, focada num objetivo que a gente almeja alcançar, num desejo profundo de corpo e alma, acredito que seja o grande segredo da felicidade, e todos nós podemos alcançar nossos objetivos, não importa qual seja o tamanho dos obstáculos, das dificuldades. Em 2011, quando resolvi encarar o trabalho árduo de tocar com três bandas, eu estava vivendo o pior momento da minha vida, devido a um relacionamento muito infeliz e que havia chegado ao fim. Eu perdi o rumo da vida, quis abandonar tudo e estava enlouquecendo, mas em meio ao caos mental, eu senti o milagre da música, o quanto tocar e tocar ia curando aos poucos minhas feridas e então decidi não parar mais. Coloquei um objetivo na cabeça: eu tinha que gravar três álbuns, um com cada banda, e não importava mais nada. Estou muito próximo de atingir esse objetivo agora em 2014. E já estou criando mentalmente planos para dar sequência, criar novas metas. Na sua pergunta você se refere ao condicionamento psicológico, e acho que tudo se resume AO FOCO. Sua mente pode estar cansada, seu corpo pode te deixar exausto, mas mantenha o foco e seja feliz. Como diz o ditado: mente vazia, oficina do diabo!

HMB: Qual a sua concepção para a gravação das suas partes de bateria? Existe algum “segredo” que você poderia compartilhar conosco?
Evandro: Gravar para mim sempre foi algo extremamente prazeroso e ao mesmo tempo estressante! São duas sensações completamente opostas que você vivencia dentro de um estúdio de gravação. Eu faço tudo o que é possível para me manter relaxado na hora de gravar, tomo uma cerveja sempre, pois ela reduz a adrenalina, e faço os aquecimentos normais que qualquer baterista faz, alongamentos e variações de stick control na borracha. Mas mesmo assim, na hora do "1, 2, 3 gravando" é difícil controlar a tensão. Eu também costumo improvisar algum groove durante alguns minutos, usando todas as peças da batera, pelo menos uns 10 minutos e aí vou para a gravação. Tenho extrema dificuldade em ouvir o metrônomo, então apesar disso atrapalhar o andamento, eu nunca gravei com metrônomo. Como eu pratiquei rudimentos com metrônomo durante anos, consigo manter um beat com alguma consistência. Também não gosto de "emendar" a bateria nas gravações, então tento gravar as musicas de cabo a rabo, sem parar. Acho isso muito difícil, exige muito da mente e corpo, mas até hoje ainda não encontrei a fórmula ideal para ter uma grande performance na hora da gravação. Como eu não sou nenhum músico profissional que vive e respira dentro de estúdios de gravação e faz o seu trabalho com relativa tranquilidade, eu procuro encontrar mais tempo para praticar e tocar quando uma das bandas resolve ir para um estúdio gravar material novo.


HMB: Planos para o futuro?
Evandro: Vamos falar de planos futuros especificamente pelo lado musical que é o que interessa nesta conversa, e nos dias atuais é o que mais me interessa também, mesmo porque pelo lado pessoal eu ainda estou em fase de reformas estruturais. Como te falei anteriormente, eu tinha um projeto em mente, o de gravar três álbuns com as bandas que eu faço parte e isso está muito próximo de se concretizar.
O Skinlepsy, que lançou seu álbum de estreia em 2013, e felizmente recebeu somente críticas positivas e que nos motivou, possivelmente terá mais um guitarrista na formação, ideia que partiu do próprio André Gubber (guitarrista/vocalista), para que a banda ganhe uma consistência maior e mais peso nos shows. Acredito que em breve anunciaremos o novo membro da banda, e a partir daí nós gravaremos nosso primeiro clipe oficial, terminaremos algumas musicas que estão em fase inicial neste momento - apesar de já termos três musicas prontas - e entraremos em estúdio antes do fim do ano para gravarmos possivelmente um EP. Estamos buscando parcerias no exterior para futuras distribuições dos nossos trabalhos por todo o mundo e estamos começando a agendar muitos shows.
O Anthares deve continuar realizando muitos shows nos próximos anos, como sempre aconteceu ao longo desses quase trinta anos de banda. Acredito que com o lançamento do novo álbum "O Caos da Razão" que acontecerá neste ano, a quantidade de shows deve dobrar. Também está nos planos da banda a gravação de um clipe oficial, a ser lançado simultaneamente ao álbum.
E o Desaster, ou Face of Desaster se você preferir, acabou de terminar a mixagem do seu EP de estreia. Neste momento, as sete musicas que compõem o EP estão sendo masterizadas e em breve teremos novidades. A arte gráfica deverá ser apresentada nas próximas semanas e há planos para um clipe oficial também. O Desaster foi uma banda importante da cena nacional nos anos 80, mas que nunca gravou um registro oficial. Quando voltaram a ativa em 2011 eu me ofereci para ser o baterista, e após alguns shows em 2012 e algumas mudanças na formação, a banda entrou em estúdio e desde então se dedicou única e exclusivamente as gravações. A expectativa é de que a banda volte aos ensaios e passe a realizar shows em 2014.

HMB: Resuma Evandro Júnior em uma frase.
Evandro: Persistente naquilo que acredita, um perfeito idiota naquilo que não acredita, um apaixonado pela bateria e pelo heavy metal, um perturbado diante da incompreensão da vida, e da própria raça humana.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Evandro: Quem agradece sou eu pelo espaço e pelo convite, a você meu camarada, que segue uma trilha muito similar a minha e certamente compreendeu muito bem tudo o que falei nesta conversa, e estendo meu agradecimento a todos que porventura tenham lido estas linhas, afinal se tiveram o trabalho de lê-las é porque compartilham de ideias e ideais similares, ou seja, somos todos amantes da música pesada! Um viva ao metal nacional, a nossa cena que se mantem ativa desde os anos 80, revitalizada por bandas extremamente competentes, e gente como você e tantos outros que dedicam muito do seu tempo a divulgação da cena, que organizam eventos, que editam revistas, que montam fans pages, que mantem programas de radio, de tv, selos independentes, meu mais profundo respeito e admiração a todos vocês!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Haaley Aves, determinação!


Haaley Alves é o tipo de pessoa que não se desamina, traça suas metas, seus sonhos e corre atrás. Carregando na bagagem anos de trabalho em prol do Heavy Metal, se arriscou e decidiu-se por se lançar em carreira solo. Uma empreitada que vem lhe rendendo ótimo frutos e esperanças, confira a seguir:

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Haaley Alves: Bom, é o seguinte, começo em 2000 com uma carreira bem iniciante tocando guitarra e depois aos poucos vou montando um projeto para uma banda de Heavy Metal melódico. Com o passar dos anos o projeto vai amadurecendo e vão entrando integrantes.
Em meados de 2004 alguns músicos entram em contato para que pudéssemos montar uma banda de metal sinfônico e começa a Seventh Symphony que vai por longos quatro anos de muita história e apresentações em varias cidades do estado de São Paulo. Por problemas pessoais acabo saindo da para me cuidar, em 2010 começo um projeto chamado Adhorah que teve um single lançado em varias rádios do Brasil e também em Portugal, USA e Alemanha. Mas como era um projeto, os músicos da banda tinham seus projetos pessoais e acabamos decidindo finalizar as atividades. Foi quando comecei em carreira solo.
No ano de 2013, mais precisamente em setembro, lancei o single Real Dream Acoustic, que marcou o inicio da Haaley Alves solo e a principio era só um trabalho virtual, mas começou a tomar proporções maiores e recebeu grandes elogios de músicos e artistas de grande importância no Brasil e fora do Brasil, então decidi colocar em prática o trabalho. Fizemos o lançamento do EP com 4 musicas e os convites para shows começaram a vir. E com isso surgiu o convite de show juntamente com Almah e Skin Culture e decidi fazer o lançamento oficial.
Graças a Deus estamos recebendo ótimas notas e avaliações pelo Brasil todo por onde o EP está chegando. Com isso a Haaley Alves solo está se consolidando por todo o país e chegando  em vários continentes. Agradeço muito a oportunidade e o carinho de todos e nos vemos e breve em qualquer lugar desse nosso país lindo e cheio de headbangers.

HMB: Qual é a sua visão do cenário Heavy Metal Nacional?
Haaley: O cenário nacional é muito bom e cada dia vem crescendo, o problema é que as bandas estão acordando agora para se unir fazer seus eventos com qualidade e ótimas apresentações para o público. O maior problema parte dos organizadores e não do público, por que se tivermos eventos bons e com bandas de qualidade o cenário sempre crescerá
É isso que estamos presenciando nesse momento com as apresentações que a banda Haaley Alves solo vem fazendo. Eu acredito que temos muito ainda para viver mais pelo que já vivemos se fizermos a nossa parte (bandas brasileiras) o cenário nunca morrerá e muito pelo contrário, aumentaremos sempre esse número de expectadores.

HMB: Mas não haveríamos primeiro de conquistar e mostrar ao público que existem sim, bandas de qualidade fazendo apresentações pelo país a fora?
Haaley: Claro que sim, mas como eu havia dito anteriomente, para mostrar o trabalho para o público precisamos de união e organização para que tenhamos lugares para que o público conheça cada banda . O principal motivo sempre será o fã e com isso vamos unindo forças pelo país e fazendo os shows para que todos conheçam nosso trabalho e cresçamos mais ainda.

HMB: Quem sabe fazendo uma associação entre as bandas, buscando melhorar a qualidade das apresentações e dos equipamentos, concorda?
Haaley: Em certo ponto concordo, mais por outro lado algumas bandas vão se encostar em outras para aproveitarem o acontecido para se promoverem, isso tem que partir da parceria mesmo e da amizade e paixão pelo metal. E acordar para a cena de prostituição que fazem com o cenário nacional. Se fizermos com atenção, qualidade, seriedade, e empenho com certeza nossa cena nacional sempre será a melhor possível. As bandas se unirem e realizarem eventos nas praças, festivais, intercâmbios pode ter certeza que será o que precisamos para mudar isso.


HMB: Nos anos 80 havia uma organização de bandas de rock em geral na zona leste de São Paulo, que me foge o nome agora. Não seria interessante algo desse tipo, trabalhando com seriedade e buscando realizar eventos de qualidade e por preços acessíveis? Será que aqui no Brasil isso poderia se tornar uma realidade?
Haaley: Isso seria fundamental, por que tendo uma organização para fazer os eventos e bandas de qualidade para completar o evento o pessoal iria com certeza e o valor dos ingressos é um fator primordial para que tenhamos mais expectadores e headbangers nos fests.
Mais volto a falar, isso tem que partir primeiro da união das bandas. Ouço muito falar que precisamos disso e daquilo mais não vejo nenhuma banda se unir para fazer com que isso se torne realidade. "Se uma banda vai tocar, os amigos de outras bandas podem ir também e vice versa, a união faz a força e não açúcar (risos)".

HMB: Sei que existem uniões bem estáveis na cena de São Paulo, mas infelizmente, encontram barreiras na hora de fechar os eventos, até porque os donos das casas não são muito chegados a facilitar a vida das bandas. O fator lucro fácil é uma barreira?
Haaley: Concordo, se a casa não sente segurança na banda para trazer publico,  a banda não vai tem espaço mesmo, depende da banda fazer um bom trabalho e o dono da casa não cobrar valores altíssimos para que o bar tenha público e que os dois saiam ganhando na mesma forma.

HMB: Como você vê a atuação da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil)? Acredita que esta seja uma instituição séria?
Haaley: Nunca nos ajudou, nunca vi e nunca pude contar. Infelizmente também não ouço falar que eles dão qualquer tipo de incentivo aos músicos e banda quando precisamos. Espero um dia ter e ver isso.

HMB: Como anda o seu trabalho solo?
Haaley: Estão muito bem por sinal, além do esperado. Tivemos o lançamento nesse dia 12 e 13 de abril em Bauru e Itapetininga juntamente com o Almah e foi um sucesso total. O público nos recebeu com muito carinho e foi fantástico o show nas duas cidades. Em Bauru tocamos no Jack Music Pube em Itapetininga no Espaço do Som Rock Bar com o Almah, Perception, e Angels Holocaust.
Estamos até agora comentando entre nós da banda que foram noites incríveis . Em Bauru tivemos um publico muito grande e em Itapetininga o publico pequeno fez com que tudo fosse gigante. Agora estarei dando continuidade na agenda e em breve anunciaremos novas datas que estarão disponíveis em nossos canais na internet.

HMB: Como foi entrar de cabeça em um trabalho solo??? Quais são os benefícios de compor um trabalho assim?
Haaley: Foi uma experiência muito boa e está sendo perfeito, a receptividade do público, o som sendo executado em várias rádios e pela internet e o retorno que está tendo. Confesso que não esperava isso, mas está sendo muito bom mesmo.
Sobre benefícios eu não vejo quase nada, pois tenho liberdade e dou liberdade para a banda fazer o trabalho que sabem fazer, até por que trabalhamos como banda. Estamos em um clima muito gostoso na banda e isso ajuda muito no grupo

HMB: Interessante, até porque quando ouvimos que determinada banda é um trabalho solo de alguém, pensamos logo na pessoa chegando ao ensaio, cheio de pessoas que ele nunca viu na vida e dizendo: Isso é assim, assim, assim... Toca ai e cala a boca! Pelo visto o seu trabalho solo as coisas não funciona assim?
Haaley: Não! O EP Já estava gravado quando formei o grupo que me acompanharia e isso com certeza adiantou sobre todo o inicio da carreira mais gosto de trabalhar com o grupo interagindo e isso meu grupo tem total liberdade para o trabalho. Acaba se tornando realmente aquela família. O Diego Pezenatto, o Pedro Segundo e o Alberto Destro me deixam bem tranquilos com relação a confiar e deixar que eles executarem o material, são competentíssimos.
Por isso estamos em uma vibe muito boa e tudo fluindo com perfeita clareza, Como eu digo "amizade e amor no que se faz é tudo para que seja bem feito..."


HMB: Perfeito!!! Que tipo de temática você aborda nas suas letras?
Haaley: Nesse EP estou meio livre de temas, abordo mais algumas coisas que não me conformo e vejo acontecendo como a procura de uma felicidade, realização de um sonho e por ai vai. Quando componho eu vejo algo que me trás indignação ou felicidade me vem logo na mente um tema e uma letra e começo a escrever. Sou melhor compondo coisas livres, mais já tenho coisas escritas que são meio temas e histórias para um suposto CD. Muita coisa pode vir ai pela frente.

HMB: Então podemos aguardar surpresas ainda para este ano?
Haaley: Com certeza, estamos planejando nosso clipe e em breve lançaremos e também algum material novo,  este é apenas o começo de uma longa história com o Metal Nacional e por que não internacional. Esperamos estar visitando e conhecendo todas as partes desse Brasil que tanto amamos e tanto enriquece o Heavy Metal.

HMB: Planos para o futuro?
Haaley: Agora os planos são de divulgação máxima no EP THE CALL por todo o Brasil e fazer o máximo de show possíveis, pois ainda temos muito para divulgar e muitas pessoas ainda para conhecer nosso trabalho

HMB: Resuma Haaley Alves em uma frase.
Haaley: Resumir em uma frase... "Nunca se sentir conformado com o que vê e tenta ao máximo ajudar e mudar para melhor aquilo que pode ser melhor"

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Haaley: Eu que agradeço imensamente por ter me dado essa oportunidade dos leitores conhecer mais sobre meu trabalho e sobre mim, espero vê-los em muito breve por esse lindo e metálico Brasil! Até breve meus amigos e irmãos e Long Live Rock N Roll!!!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Jurandir Roque Lima, um batalhador vivo e ativo


Jurandir é um cara multitarefas, sindicalista, professor e Headbanger! O porta voz do Heavy Metal na cidade de Paulo Afonso (BA) e frontman de uma das mais batalhadoras bandas daquela cena, o Hatend! Um cara que luta com unhas e dentes pelo seu espaço, confira tudo o que tem a dizer este verdadeiro representante do underground!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Jurandir Roque Lima: Nossa, eu que agradeço, a mais um veículo formidável de divulgação de nossa cena que é tão rica, Obrigado ao Heavy Metal Breakdown.
Bem vamos lá sou Jurandir Roque Lima, tenho 37 anos e sou vocalista da banda Hatend há 10 anos, também sou diretor num sindicato aqui de minha cidade, Sindicato dos Comerciários de Paulo Afonso e Região (Sincopa), professor também com habilitação em português e inglês graduado em Letras, então como não é novidade, nenhuma pra nós que fazemos metal no Brasil temos que acumular várias atividades, se quisermos dar ao luxo de viver o nosso grande amor que é heavy metal e comigo não é diferente dos leitores e bangers espalhados pelo país, mas tenho orgulho de toda esta trajetória, pois já canto em bandas desde 95 e já tenho uma vida ligada ao metal/rock de mais 24 anos, e cada dia amo mais isso. Mesmo com toda a dificuldade.

HMB: Podemos dizer que em todas as suas atividades, você é movido pela paixão, já que atua em áreas tão diferentes?
Jurandir: Acredito que está é chave pra tudo na vida, a paixão e o sentimento que você coloca quando faz as coisas, tudo é um misto de iniciativa (fazer), sonho (metas), paixão (dedicação) e persistência (continuar), muita gente quando percorre qualquer caminho se apega muito ao destino e ao seu final, já comigo eu prefiro o percurso, as viradas, as curvas, por que quando se chega ao final tudo acaba, o prazer pra mim está na jornada e minha está muito longe de acabar, ainda bem. Tudo parte daquela premissa onde eu prefiro as escadas em vez do elevador, e isso aplico em tudo que faço.

HMB: Uma colocação que se aplica muito bem ao mundo da música pesada: preferir as escadas em vez do elevador. Você acredita que não existe música pesada sem trabalho duro?
Jurandir: Acredito! Que mesmo soando clichê, mas as nossas vidas são regidas por clichês gerais, que tem peso individual pra cada um, e pra mim, o trabalho só ficara perfeito com muita dedicação e doação e cruzando um degrau de cada, vez, e vamos voltar ao velho ditado mais infalível quanto mais alto fica, mais rápida é a queda, e se você sobe devagar e a queda acontecer, você terá uma base solida pra lutar, começar e se reinventar, eu nunca tive medo do recomeço e no mundo da música principalmente, ter coragem e ir em frente é a chave, e mesmo aqui em Paulo Afonso (BA) vivendo em uma região com uma cultura tão forte para o popular, forro, axé, pagode, fazer metal contra tudo e todos, só com muito trabalho e amor mesmo, acho que isso que outro estilo não tem e nunca vai saber que que música é sentimento. E estamos aqui pra provar isso.

HMB: E que tipo de obstáculos você encontra? Como você descreveria a cena da música pesada na Bahia?
Jurandir: Fora os obstáculos que colocamos sobre nós mesmos, encontramos às vezes nas pessoas e nas expectativas, que nem sempre aquele sucesso ou reconhecimento que é meta de cada banda, virá! E que esbarra também no gastar e não ver o retorno disso, mais particularmente pra mim. Que não enxergo a Hatend como fonte de renda (mas nunca dizendo que eu não queira que isso aconteça, mas se não acontecer estamos bem assim, persistindo e continuando e levando nosso nome ao máximo de pessoas que pudermos). E não vivemos da banda, temos empregos deixando que o amor pelo metal e liberdade com nosso destino musical e que a banda viva por tanto tempo, em uma cidade onde só tem a Hatend como representante da musica pesada, em uma cidade que tem 109 mil habitantes, no extremo norte do estado, estado este que tem 413 municípios e fica a 484 quilômetros da capital Salvador, ainda esbarramos nos preconceitos e visões sobre o metal e rock, que é de marginalidade e não ser cultura, sendo desprestigiado  de qualquer tipo de invectivos das políticas publicas e privadas, é isso que fundo nos dá combustível pra continuar sempre e tendo que praticamente, inventar nossos espaço,  em um lugar onde só tem espaço pra cultura de massa.
Mas temos grandes bandas aqui neste estado e nossa cena é muito forte em toda a Bahia. Temos o Palco do Rock em Salvador, que é feito em pleno carnaval e fora do grande centro temos o Boqueirão Festival em Cícero Dantas, organizado pelo Adauto Dantas,temos o Bahia Rock Machine, site do Guilherme Neto, que divulga nossa cena, e no sul do Estado tem  a Retch Records do Julio Neto , Wilker Carvalho organizador do Alta Voltagem aqui de Paulo Afonso.
E pra não correr risco de esquecer nenhuma banda cito aqui as duas grandes representantes  que são o Headhunter D.C. e o Mystifer. Que são o espelho para continuarmos, mas como eu  disse nosso Estado é imenso e tem grandes bandas que não devem nada a ninguém, só esperando serem reconhecidas e descobertas por headbangers curiosos. Que queiram sair da zona de conforto e descobrir o metal aqui na Bahia..

HMB: Eu vi um show do Headhunter D.C. há poucas semanas com o Nervo Chaos aqui em São Paulo, e vou te falar! É impressionante essa banda no palco! Você acha que uma banda estando no eixo Rio-São Paulo tem mais chance de exposição? Ou enxerga isso como mito?
Jurandir: Deve realmente ter sido uma experiência única, tanto Headhunter D.C. como Nervo Chaos são duas grandes bandas de nosso Brasil.
Sim Acredito que a exposição é bem maior por que aí, mesmo aos trancos e barrancos, pois sei que aí também é difícil, mas no eixo ainda existe um circuito de casas e de alguns interessados que abrem espaço pra música pesada e autoral, estúdios  e mídias especializadas, Sampa é um lugar para expor bem uma banda,  mas diferente de alguns e de uma minoria que ainda faz uma zoada boa sobre isso.
Não Metal do Brasil não se resume só ao eixo Rio e São Paulo, e ainda faltam alguns enxergarem e aceitarem mais isso, claro que isto mudou muito, hoje em dia, com Internet e as redes sociais, mas ao mesmo tempo também cresceu um tipo de bairrismo que impõe esta barreira, mas para nossa alegria,em paralelo a isso tem gente boa na mídia e até na cena que abre espaço para que bandas fora do eixo Rio –São Paulo se apresentarem ao público, como o caso, agora do Heavy Metal Breakdown!
Mas acredito que entenderão o que eu quis dizer, que ainda existe em nossa região uma grande vitrine, mesmo que longe daí, que também tem uma vida e bandas que merecem tanto respeito e olhares como todas, mais sim não é mito não, lutamos pra um dia também chegarmos até vocês e mostrar o nosso metal, feito no meio de sertão com muito sangue no olho.


HMB: Como é a sua relação com a internet, mais precisamente com as redes sociais?
Jurandir: Minha relação é melhor possível, fizemos grandes amigos e conquistamos muito suporte nas redes sociais, acredito que muito de nosso alcance e contato devemos as tais redes, como tudo na vida se você usa com seriedade e compromisso, ela retorna para você da melhor forma, por lá, temos contato direto com quem acompanha nossa música, é um grande contato, sem limites tanto para bem ou para mal, não tem mais como viver sem isso, mas precisamos saber usar acredito que se colhemos tantas coisas boas é por que usamos direito, e quero aqui agradecer a cada um aqui que nos acompanha pelo nossa page e que partir de agora também vai nos conhecer um pouco mais e podem fica a vontade pra acompanhar, criticar, falar e propagar o nome da Hatend, nós só temos que agradecer e dizer que independente de tudo que acontecer, estaremos aqui firmes  e fortes.

HMB: E a cena da música pesada nacional, como você é o seu relacionamento com outras bandas?
Jurandir: Da minha parte é de respeito e cooperação e não competição, temos boa relação com bandas de rock de varias vertentes, então para mim, acredito que se não houver união  não haverá realmente uma cena, acredito que nossa fraqueza está na barreira e nas separações, que muitas vezes veem de dentro do rock e do próprio metal. Quando eu comecei, você é aquele moleque que quer ser o fodão, o true, de minha parte nunca compactuei com uma linha, só de música, e sou assim até hoje, posso escutar o Ten do Pearl Jam, com mesma paixão que escuto o The Great Execution do Krisun , desculpem-me os xiitas mas sempre fui assim! E como eu gostaria que anossa cena tivesse esta compreensão e que as bandas também estivessem se respeitando. Aacho que respeito define tudo.

HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Jurandir: Sempre acreditei nisso! Mas como em qualquer repartição ou grupo de pessoas alguns pensamentos de individualidade, de superioridade, e até mesmo de descrença, não acredita que esta união seja benéfica a todos, epõem tudo a perder, e acho que tudo que se faz sozinho torna-se mais difícil, acho tão contraditório, até mesmo pro movimento rock e metal e todos seus subgêneros,  que tem como ideia básica, mesmo que de forma indireta a liberdade e o respeito como filosofia,  mesmo que ate de maneira quase imperceptível, seja em letras de musica ou atitude, acumule tanta desunião, mas acredito sempre na evolução natural do ser humano e com um trabalho de conscientização das bandas e do público poderemos andar juntos de verdade, sem hipocrisia, seja qualquer estilo dentro do rock e do metal, acredito mesmo nisso! Levantaria qualquer cena, todos unidos trabalhando junto e cooperando não teria pra ninguém. Vou continuar a lutar, mesmo que muitos já digam que isso é bem utópico, acho que meu  lado educador nunca desacredita na capacidade de superação de qualquer pessoas em relação a qualquer coisa ou situação.


HMB: O que você acha da segmentação dos shows, onde só tocam bandas de Thrash Metal, em outros, bandas de Death Metal, alguns bandas de Heavy Metal, não seria mais interessante terem bandas de vários estilos dentro de um mesmo evento?
Jurandir: Vou te falar o que acontece por aqui, muitos acham que este tipo de ideia (de separar estilos) devia continuar, mas no interior eu falo a todos isso e vamos ver se concordam em se fazer um festival assim aqui e já fizeram muitos é bem ruim por que o público é muito pouco,  mesmo pra todo mundo, vamos falar que aquela parte do público consciente, para cada estilo, é mais ou menos umas vinte pessoas, que realmente querem pagar o ingresso e querem fortalecer a cena e muitos gostam, mas preferem ficar do lado de fora, bebendo, não entram e tal, não valorizam e todo mundo perde, divulgação, material é tudo, não sei se em  grandes centros funcionaria. Pode ser, por ter mais gente e tals... Mais no interior não, a única solução pra isso, é realmente o público se educar e respeitar uns aos outros e fazer a festa juntos, afinal todos concordam em uma coisa: temos gosto diferenciado da grande massa, somos todos fã de guitarra pesada ou de guitarras, porque também falo isso do Rock, Blues e Jazz. Então acredito que esse tipo de coisa funciona, aqui no Nordeste tem Festival chamado Abril Pro Rock, na cidade de Recife (PE) , que já pratica isso há mais de 20 anos com muito sucesso que na noite do peso ou dos camisas pretas como popularmente é chamado, figuram bandas Metal e HC, Rock e é um sucesso, temos  provas que pode funcionar, e que já funciona não sei por que não aplicar! Pois pelo menos nós, da Hatend temos muito boas relações com bandas de várias vertentes e até já tocamos em festivais Punks e HC e sempre foi maravilhoso e proveitoso. Não vejo por que não.

HMB: Planos para o futuro?
Jurandir: Continuar com a Hatend, levar a banda maior numero de pessoas possível e divulgar nosso trabalho.

HMB: Resuma Jurandir Roque Lima em uma frase
Jurandir: Esta frase é de um adesivo que via em muitos vinis a Eldorado, e pra min é tudo: “Rock Sempre, Violência Nunca” isto sou eu.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Jurandir: Queria dizer que eu que agradeço em meu nome e da Hatend, pelo espaço dado no Heavy Metal Breakdown , este grande veículo de divulgação de cena, feito por uma cara amigo e generoso,  o grande JP Carvalho, que me deu o prazer de figurar aqui do lado de grandes pessoas, que movimentam a cena de alguma forma, e que também são influência pra mim. Digo que li todas as entrevistas feitas aqui, que são um grande espelho e incentivo pra continuarmos na luta. Obrigado aos leitores e aqueles que a partir desta entrevista vão conhecer um pouco de mim e do meu trabalho. Valeu pelo espaço e nos veremos logo em algum palco perto de vocês, Metal sempre!


Links:



segunda-feira, 21 de abril de 2014

Fernanda Czarnobai, distorção plena!!!



Fernanda Czarnobai, baixista das bandas Forbidden Ideas e Calibre 12, atualmente residente em Berlim (ALE), antes, percorreu o cenário da música pesada do Brasil tocando nas mais diversas bandas, conquistou seu espaço, o respeito de alguns e o ódio de outros, mas nunca deixou a peteca cair. Nessa entrevista ela deixou bem claras suas opiniões e mostra que mesmo distante ainda vive o cenário da música que faz o seu coração pulsar! Confiram!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Fernanda Czarnobai: Eu agradeço seu convite!  Há 6 meses eu larguei tudo e vim morar em Berlim mas sigo sendo membro "remoto" do Calibre 12 e do Forbidden Ideas. Por enquanto aqui estou estudando e fazendo o corre. (risos)

HMB: E estando tão longe e num dos maiores centros pro Heavy Metal Mundial, qual era, e se mudou, qual é a sua visão do cenário Heavy Metal do Brasil?
Fernanda: O Brasil tem MUITA banda boa, cara, mas nos últimos anos tem sido difícil fazer a galera ir aos shows, pagar entrada, ficar dentro do pico vendo as bandas e curtindo as gigs. Todo mundo virou o dono da verdade do metal na internet, mas ninguém sai de casa as bandas tocam pros amigos e pras outras bandas o espírito do faça você mesmo continua forte pra caralho entre as bandas, porra, a maioria das bandas paga a própria gravação, prensagem e produção do material, mas se não tem publico, é foda. Tem cada vez menos lugar pra tocar e alguns desses lugares não respeitam as bandas, não pagam direito (sem contar os que oferecem cota de ingresso pra venda antecipada), às vezes nem conseguimos tirar um som razoável. E ainda tem o lance de que os estilos não se misturam, então se é um show com 4 bandas, todas elas são mais ou menos do mesmo estilo, aqui tem show todos os dias em tudo que é lugar com todas as faixas de preço e até de graça, e todo mundo vai, paga o preço que for, fica pra ver todas as bandas, agita, compra merchan, fica até o final, o som é bom (na maioria das vezes) e os estilos se misturam bastante, por exemplo semana passada fui ver uma banda de stoner mas uma das bandas de abertura era crust-punk e a outra de sludge e claro, o rolê estava bem cheio, e o valor da entrada era o valor que cada um podia pagar. Com a quantidade de banda boa que leva o corre a sério que tem ai, com mais incentivo e organização, dava facilmente pra fazer uns festivais foda com o mesmo nível musical.  Mas se a própria galera não apoia as bandas locais...

HMB: Então você, assim como eu, é a favor da segmentação dentro do evento e não do evento, buscando com isso trazer diversos públicos a um mesmo evento?
Fernanda: Eu sou a favor de juntar as pessoas pra fazer crescer o rolê e não de segregar ainda mais ou ainda, virar banda de internet e fazer dois shows por ano, som extremo tinha que juntar todo mundo que gosta de som extremo e não ficar se separando, fora de São Paulo isso acontece quase sempre... E eu sempre achei do caralho isso

HMB: Então, no seu ponto de vista, como fazer para a cena se manter viva?
Fernanda: Queria muito descobrir também (risos)! Eu não tenho a menor ideia e nem quero ser a dona da verdade de nada, mas o que está bem óbvio nessa matemática é: SOBRA banda boa ralando e se fodendo e fazendo divida e indo atrás pra fazer o som e FALTA: lugar pra tocar, festivais nacionais que não tenham apenas bandas internacionais, estrutura e apoio, gente querendo sair de casa para ouvir o som ao vivo e apoiar as bandas. Parece que vamos ficar no negativo até sei lá quando, tenho medo de num futuro bizarro no Brasil ter um monte de banda foda tendo que viver de crowdfunding pra fazer tour D.I.Y. nos EUA ou na Europa.


HMB: Entrevistei o Christopher Correa, que é português e mora em Lisboa, e ele declarou abertamente que a cena de Portugal é exatamente igual a nossa, com todas dificuldades para bandas tocarem, pessoas que vivem a cena somente on-line! Você percebe essa similaridade ai em Berlim também?
Fernanda: Do que eu vi até agora, a galera aqui meio que não gosta de internet nem de rede social, a maioria é bem contra tudo isso! Aliás, por um bom motivo: a internet aqui é controlada. tudo o que você faz aqui o governo sabe que foi você que fez. Qualquer download aqui chega multa na sua casa com seu nome (risos). Em todos os squats é proibido filmar e fotografar os shows e principalmente as pessoas, por exemplo. Eu até agora não fui em nenhum show "miado" sem ninguém, acho que eu que eu fui com menos gente, ainda sim tava bem OK, pra uma 4ª feira. Até mesmo com 15 graus negativos a galera vai pro show... Mas, pode ser que eu tenha tido sorte até agora (risos)...

HMB: Com que frequência os shows acontecem em Berlim?
Fernanda: Putz! Todo dia, em algum lugar tem alguma banda tocando, cara e conforme o tempo vai melhorando a agenda vai piorando (risos), de banda desconhecida a Black Sabbath (vai ter show deles aqui em junho com o Soundgarden) fora os festivais que acontecem na cidade (acabou de rolar o Punk & Disorderly e semana que vem rola o Desert Fest), andando na rua e vendo os lambe-lambes ou se você olhar o Bands in Town ou o Songkick e ainda o site com a programação dos squats dá um pouco de agonia! Te juro!!! Às vezes é difícil decidir, mas, nesses casos o preço decide por mim (risos).

HMB: Assim como aqui, os valores pagos em apresentações são altos em relação ao salário médio das pessoas?
Fernanda: Com certeza não! A media de preço aqui varia de 12 a 35 euros, depende da quantidade de bandas ou o quanto a banda é famosa o Sabbath com Soundgarden, por exemplo, vai custar uns 75/80 Euros, surreal de caro até para os padrões daqui, eu só vou em show que custa menos de 20 Euros (risos).

HMB: E como você partiu para o som extremo? Qual formam suas experiências tocando este estilo?
Fernanda: Meus pais ouviam muito Sabbath, Led Zeppelin e todas as outras bandas que pais que gostam de rock escutavam (risos), mas som extremo eu acho que quando eu tinha uns 10 anos o Sepultura já tinha ficado conhecido com o Beneath the Remains e estava estourando fudidamente com o Arise e naquela época as rádios de rock tocavam metal na grade normal de programação e a MTV Brasil estava começando e tinha muito clipe de metal. Fora que eu praticamente, comia todas as revistas de metal que tinha na banca para conhecer outras bandas e ver o que estava acontecendo.
Daí, descobri o Slayer, foi quando eu resolvi tocar baixo.  E logo em seguida descobri o Napalm Death e foi um caminho sem volta!
A primeira banda de metal que toquei, eu achei num anúncio da Rock Brigade lá por 94/95. Eram eu, a Marina Takahashi (que tocou no Tiger Cult) e mais outros 2 caras que responderam o anuncio. Não era nada extremo, mas era divertido!
Em seguida eu toquei por pouco tempo numa banda de grind de SP que chamava Oxiurus com uns amigos da escola de música e daí fiquei mais ou menos uns 2 anos procurando banda de extremo em anuncio, galeria, etc. Mas, nenhuma aceitava mulher! Foda né?
Acho que em 97/98 fui chamada pra tocar no Opera, uma banda de metal melódico de SP. Toquei com eles por muitos anos, com um gap no meio com outro baixista, mas foi bem legal conseguir vencer o preconceito e poder tocar por tudo que era lugar! Fizemos muitos shows grandes! Depois disso fui tocar no Morsek (extinta banda do ABC paulista que tinha o Ronaldo atual vocal do Forka) e aí consegui entrar de vez no extremo: eles tinham a afinação bem baixa, vocal gutural, triple pick e blast beat. E desde 2000 e alguma coisa, quando meu irmão resolveu criar o Forbidden Ideas. Eu nunca mais saí e tempos depois, passei também a tocar no Calibre 12.

HMB: Estranho pensar que em pleno ano de 2014 as pessoas ainda tenham preconceito por mulheres tocarem som brutal ou Heavy Metal em geral? Como você lida com isso?
Fernanda: Cara, vou te falar que agora tá bem melhor nos anos 90 era quase impossível ver uma mina numa banda de extremo! Eu ligava nos anúncios ou mandava carta e os caras falavam: "você é mina? Não não..."
As bandas que tinham eram mais metal tradicional, metal melódico ou hard rock e só e ainda as minas, e eu inclusive, tinham que lidar com o publico gritando um monte de idiotice machista. Era um saco, mas acho que de lá pra cá as coisas mudaram bastante e também a gente aprende a se impor com competência, dedicação e seriedade e passa a ser respeitado por quem também leva a parada a sério, mas claro que ainda tem muito comédia machista que se acha o dono do metal.


HMB: Já assisti alguns shows do Forbidden Ideas e realmente,  a pegada é forte! Você ainda tem tempo para estudar seu instrumento?
Fernanda: Quando comecei a aprender a tocar eu estudava muito todos os dias mas depois de tantos anos, minha cota de estudar sozinha meio que já deu (risos), praticar em casa só pra tirar música pra levar pro ensaio e outra, nos últimos anos eu trabalhava demais e não tinha tempo pra nada, as vezes nem conseguia ir nos ensaios. Depois de estudar tantos anos, eu descobri que prefiro estudar no estúdio fazendo jams e ensaiando repertório exaustivamente com todos juntos. Desde que mudei pra Berlim,  eu eventualmente, pego o baixo e toco sozinha. Mas não é a mesma coisa.

HMB: Planos para o futuro?
Fernanda: Nenhum! Cansei de planejar as coisas e viver pra trabalhar e não ter tempo pra ser eu mesma, por isso, abandonei tudo e vim pra cá. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer. Talvez a única meta que eu tenha agora seja tocar em bandas aqui em Berlim e viver o underground daqui até voltar pra terrinha. O que também não sei quando vai acontecer!

HMB: Resuma Fernanda Czarnobai em uma frase.
Fernanda: Afff!!!!  Que dificil!! Posso pular essa? (risos)

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Fernanda: Valeuzásso pelo convite! A entrevista foi muito legal!! Uma mensagem...huuuumm... Caras não deixem o underground morrer!!!!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Roger Lombardi: "No fim, o importante é sermos felizes"


Roger Lombardi, jornalista, bem humorado e o frontman de uma das mais promissoras e despojadas bandas que este país já pariu, o Goatlove. Confiram a seguir!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Roger Lombardi: Eu que agradeço o espaço! Bem, sou jornalista e trabalho há 14 anos na profissão. Também sou vocalista do Goatlove, mas isso eu costumo esconder das pessoas (risos). Meu interesse por música e artes em geral começou cedo, por volta dos 12 anos, e desde então tem ocupado um bom tempo da minha vida, principalmente música e literatura.

HMB: Qual é a sua opinião sobre a cena musical brasileira em geral?
Roger: Podia ser bem melhor (como no resto do mundo também), mas, ao mesmo tempo, acho que nunca tivemos tantas bandas bacanas como agora. Sei que parece um contrassenso, mas eu vejo assim. Temos um número excepcionalmente grande de bandas no cenário, o que contribui para que a quantidade de bons grupos. Ao mesmo tempo, há muita, muita coisa ruim. Claro que digo isso baseado exclusivamente em meu gosto pessoal e qualquer opinião nesse sentido é totalmente subjetiva.

HMB: E o que pensa sobre os shows por aqui?
Roger: Por incrível que pareça, hoje há menos espaços para shows em São Paulo do que nos anos 1990, por exemplo. E boa parte deles ficam na mesma rua. Há um pessoal que está fazendo festas e festivais e colocando a roda para girar. Ao mesmo tempo, é difícil conseguir agendar uma data. Nem todos enfrentam esse problema, e a maioria pode te confirmar isso. O público de São Paulo também não é dos mais empolgados com bandas novas. Em cidades do interior e em outros estados a galera permite se divertir mais. Há também toda uma questão sobre bandas autorais e bandas cover, mas me parece ser mais uma decisão do próprio público do que das casas de shows, portanto não há muito que reclamar nesse sentido.


HMB: Você acha que as bandas deveriam se unir mais e promover melhores shows, com melhores equipamentos, ou seja, tomar as rédeas da coisa, visando crescer a cena?
Roger: Acho que todos deveriam se unir: bandas, promotores, casas de shows. Mas o principal mesmo é o público ter interesse em ver os shows dessas bandas. Não adianta forçar uma situação. Se hoje as bandas autorais perdem espaço para bandas cover, é preciso analisar quais fatores levaram a isso. Casas de show querem público. Se as pessoas comparecem mais a shows cover é preciso analisar as razões disso e tentar mudar essa ideia, fazer com que o interesse seja equilibrado também para as bandas autorais. E isso tem que partir de nós que fazemos som próprio. Não acredito, entretanto, que exista uma solução simples. O que podemos fazer é tentar tornar nossos shows cada vez mais atrativos e é exatamente nessa parte que a união de bandas pode fazer a diferença. Talvez alguém não se anime a sair e assistir um show nosso. Talvez ela ache atrativa a ideia de um show nosso com mais duas bandas que ela goste. Entende?

HMB: Sim, perfeitamente! Você acredita que a música tenha formado a sua forma de ver a vida?
Roger: Com certeza ajudou. Como eu já disse anteriormente, meu interesse por artes em geral começou cedo e tudo que absorvi, me ajudou, de certa forma, a buscar informações que representam um pouco quem eu sou e minha visão de mundo.

HMB: E sendo assim qual é o seu pensamento sobre o ensino musical nas escolas?
Roger: A lei que garante o ensino nas escolas é recente, portanto é cedo para dizer se está sendo feita da forma correta. Entretanto, considero um avanço sensacional sua reinclusão na grade curricular. Na minha visão, as aulas de música servem para fomentar o interesse das crianças pelas artes, além de achar fundamental que sejam feitas de forma lúdica. Não consigo pensar em nenhum ponto negativo.

HMB: Como você se relaciona com a Internet, tanto no seu trabalho como na sua vida pessoal?
Roger: Bom, acho que se tornou inevitável usar a rede, principalmente na parte profissional. A internet possibilitou que tivéssemos acesso a todo tipo de informação e isso se tornou uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. Boa porque você não precisa mais ficar refém de um ou poucos veículos de informação. Ruim porque as pessoas estão cada vez mais preguiçosas em checar se o que chega até elas é, de fato, verdade ou não. De toda forma, vejo a rede com bons olhos. Se ela ajudou a decretar o fim de alguns formatos de mídia ou mesmo indústrias específicas, bem, não será a primeira vez que isso acontece. A internet está aí para que façamos bom proveito dela.

HMB: Com certeza a rede diminuiu a distancia entre as pessoas, Como você usa essa ferramenta para divulgar os trabalhos do Goatlove?
Roger: Nós divulgamos nossas notícias, damos entrevistas para mídias online, mostramos nossas músicas, fazemos promoções. Enfim, acho que todas as ações que faríamos de forma "tradicional" e que migramos para as mídias online. Praticamente tudo que fazemos como divulgação acaba sendo online. E, claro, isso é usado para atingir pessoas em localidades distantes com a mesma facilidade de alguém que mora na mesma rua.

HMB: Mesmo com o cenário do Heavy Metal no Brasil sendo enorme, muitas bandas sofrem de carência de público e de shows de qualidade, como você vê essa situação?
Roger: Bom, sobre essa pergunta, acho que é meio em cima do que falei anteriormente. A falta de público e shows se deve a diversos fatores. Há menos lugares hoje para se tocar, o público está preferindo assistir shows de bandas cover, há uma quantidade muito grande de bandas no cenário, etc. Tudo acaba sendo responsável direto para termos essa escassez de shows e, principalmente, de público.
Vejo muita gente reclamando do público - e, de fato, em São Paulo, é galera é meio blasé mesmo. Mas não é culpa só do público. As pessoas querem se divertir e vão atrás disso. Eu não tenho como pautar o que ela deve assistir para se divertir ou não, entende? Cada um vai ao show que quiser. Mas que há muita banda ruim e muita casa de show ruim, isso há também. Portanto, acho que é uma mescla de culpa de todas as partes. Como falei antes, é preciso analisar a situação e ver quais as maneiras que as bandas autorais podem conquistar mais espaço. Se mais bandas resolverem fazer mais shows em conjunto, mais espaço elas terão e o público achará o evento mais atrativo. Esse pode ser um dos caminhos, mas poucos fazem isso.

HMB: Você acha que o som feito aqui é diferente dos feitos pelo mundo, acha que o brasileiro tem uma característica própria na hora de fazer música?
Roger: Quando queremos, sim, temos uma característica própria. Qualquer país tem, na verdade. Música é algo que reflete não apenas a cultura a qual você está inserido, mas também a época, etc. Hoje, porém, sinto que muitas bandas, daqui e de fora, adotam um padrão praticamente idêntico não só de gravação - o que faz com que todos os discos pareçam gravados no mesmo estúdio, com os mesmos equipamentos e até os mesmos músicos - mas também na composição. Isso contribui para que essa percepção das características de cada músico e mesmo do país de cada banda esteja cada vez menos nítida.

HMB: A busca do som da sua banda! Talvez uma convivência com música de qualidade faça com que cada um busque uma sonoridade, o desenvolvimento de uma forma de fazer música?
Roger: Música de qualidade é um conceito subjetivo. O que você pode fazer na sua banda é um conjunto de tudo o que você ouviu e que lhe agrada, mas não há uma regra para quem monta uma banda. Nós fizemos o Goatlove para tocar músicas que gostamos. Há quem monte banda apenas para tentar recriar com exatidão outra banda ou estilo que gosta muito. Há quem monte banda para tentar fazer algo completamente diferente, seja porque ele sente falta desse tipo de música ou porque ela acha que isso se tornará um diferencial no mercado. No fim das contas, a única coisa que importa é que a música que você faça lhe agrade tanto (ou até mais) do que a música que você ouve.


HMB: Planos para o futuro?
Roger: Bem, na parte musical, estamos no meio das gravações do segundo álbum do Goatlove, "Guadalajara". Deve sair no segundo semestre desse ano ainda.

HMB: Resuma Rogério Lombardi em uma frase
Roger: Cara, eu não consigo (risos). Desculpe, mas essa não saberia responder. Posso deixar uma frase que acredito piamente: "No fim, o importante é sermos felizes".

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Roger: Obrigado ao HMB pelo espaço. Quem quiser conhecer mais sobre o Goatlove pode dar uma checada nos links:

Quem não quiser, bem, eu entendo (risos)