sábado, 31 de maio de 2014

Sandro Silva, perseverança


Sandro Silva, um cara concentrado, tranquilo, nascido em Maceió (AL) e criado em Caruaru (PE), formou o Alkymenia com seus dois irmãos, arriscou tudo e partiu para conquistar o mundo. Lançou CDs, encarrou a velha e boa estrada, vindo para São Paulo em busca da tecnologia para sua música e também, desbravou terras internacionais, sempre carregando a bandeira do Heavy Metal brasileiro com seu Thrash Metal brutal, rápido e muito original.  Confira um pouco da história deste verdadeiro batalhador do cenário nacional.

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Sandro Silva: Primeiramente quero agradecer ao Heavy Metal Breakdown pelo apoio ao Metal Nacional! Sou Sandro Silva guitarrista da banda Pernambucana, Alkymenia e também desenvolvo atividades de produção musical no estúdio Datribo.

HMB: Fale como é a cena pernambucana da música pesada?
Sandro: Existem várias dificuldades como em qualquer lugar do Brasil. Mas é bem forte também! Tem ótimas bandas e o publico realmente coopera e vai aos shows.

HMB: Vocês vieram para São Paulo para gravar o CD, "Dark and Nebulous. Como foi o período da gravação e o tempo que passaram aqui?
Sandro: Foi bem bacana! Viemos em dois períodos, final de 2010 e começo de 2011. Já tínhamos ouvido falar do estúdio e da sonoridade singular que o Ciero é capaz de reproduzir nos álbuns. Queríamos justamente soar como uma banda de verdade, ter um som mais orgânico, soco na cara mesmo! Quem ouve o "Dark and Nebulous" entende o que estou falando. A melhor coisa que fizemos foi ter gravado esse álbum aqui em São Paulo a banda evoluiu bastante depois dele.

HMB: Qual foi a  repercussão do CD?
Sandro: Foi muito boa! Depois que lançamos o CD tocamos em vários eventos e festivais importantes do Brasil. Pena que não tivemos uma boa distribuição e também fomos bastante prejudicados pela empresa que ficou responsável pela prensagem do mesmo que praticamente, cagou na arte gráfica e em outros aspectos do CD.

HMB: Como foi participar do Wacken Open Air Metal Battle como representantes do seu Estado?
Sandro: Fomos pegos de surpresa! (risos) a primeira seletiva foi em Recife. Nós e mais quatro bandas de Recife e cidades vizinhas íamos disputar uma  vaga na final que  aconteceria uma semana depois no Rio de Janeiro. Foi nosso primeiro show na capital estávamos bastante tensos! (risos) No final das contas tudo deu certo vencemos essa  seletiva regional e uma semana depois estávamos no Rio de Janeiro disputando a seletiva nacional com mais onze bandas do Brasil inteiro. Foi uma ótima experiência! Fizemos vários contatos e amigos e percebemos o quanto o país é rico em termos de Heavy Metal.


HMB: Vocês já tem uma turnê pela Europa na bagagem, qual foi a aceitação da banda por lá e que lembranças você tem dessa viagem?
Sandro: A galera tem uma admiração e um carinho todo especial as bandas Brasileiras! Tivemos uma ótima resposta do publico europeu a turnê percorreu vários países e conhecemos pessoas fantásticas. Já recebemos propostas de retorno, talvez em 2015 iremos para lá novamente.

HMB: Mas você acredita que uma banda precisa estar no eixo Rio/São Paulo para ter mais chances de divulgar o seu trabalho?
Sandro: Acredito que sim! Na realidade o melhor a fazer é sair da zona de conforto e almejar novos voos.  O eixo Rio/São Paulo é bastante rico em termos de informação você está bem perto de tudo que acontece.

HMB: Como você lida com a internet e mais precisamente, com as redes sociais? Acha que é uma ferramenta fundamental para a divulgação do seu trabalho?
Sandro: Com toda certeza! É muito importante! As redes sociais tem um papel fundamental na divulgação do seu trabalho. Tudo que acontece com a banda, fazemos questão de postar. Esse lance de interagir com a galera que curte seu som, é muito bacana.

HMB: Mas temos o outro lado da moeda também, já que muitos usam do anonimato da rede para desmerecer o trabalho das pessoas, você já passou por isso?
Sandro: Sim, diversas vezes. Esse tipo de gente é o que mais rola. Se esconder por traz da "telinha" é fácil, difícil mesmo é fazer um trabalho bacana e sincero com você mesmo porque isso tem que ter batalha, dedicação e essas pessoas gastam o tempo delas escrevendo essas besteiras. A maioria delas tem medo de falar suas opiniões pessoalmente. Cara a cara. O que devo falar? Ridículo! (risos).

HMB: Como anda a estada do Alkymenia em São Paulo? Estão desenvolvendo algum trabalho específico por aqui, ou pretendem se fixar em São Paulo?
Sandro: Está tudo correndo bem! Estamos em processo de pré-gravação do novo CD da banda! Nossa intenção é ficar aqui em São Paulo mesmo.

HMB: Como está sendo essa mudança para um grande centro? Já se adaptou a correria do dia a dia?
Sandro: Já estamos bem adaptados! A cidade é frenética. Muita coisa acontecendo o tempo todo. Tentamos nos manter atualizados em acompanhar toda essa movimentação típica daqui. Buscávamos justamente essa "correia" de cidade grande. Esse turbilhão de coisas acontecendo, barulho dos carros, cidade que nunca dorme. Isso nos inspira!

HMB: Como é conviver com mais dois irmãos no dia a dia, e mais, como descreverias as facilidade e dificuldades em se ter uma banda “familiar”?
Sandro: Legal que estamos sempre bem entrosados musicalmente falando. É ótimo tocar com meus irmãos eles aceitaram encarar a vida na estrada e abrir mão de tudo por um único propósito! Sinto-me privilegiado. Porém também temos nossas diferenças e desavenças.. Mas se colocarmos tudo isso numa balança o lado positivo fala bem mais alto.

HMB: E como sua família vê isso?
Sandro: A nossa mãe sempre nos apoiou! Apesar da saudade que ela sente quando estamos viajando. Ela fala que é como se faltasse um pedaço dela quando estamos longe. Lembro-me do meu primeiro violão que ela me deu aos 14 anos de idade quando eu ainda não trabalhava e tomava conta dos meus irmãos mais novos pra ela trabalhar. Aprendemos com ela, saber esperar as coisas, batalhar e sempre correr atrás dos nossos sonhos. 


HMB: Você acha que o apoio familiar é fundamental para quem quer seguir uma carreira como músico?
Sandro: É bacana esse apoio se for verdadeiro como no nosso caso. Mas creio que mesmo se não tivéssemos, lutaríamos para conseguir nossos objetivos do mesmo jeito. Isso já faz parte da gente! Quando sonhamos com algo temos o combustível pra percorrer o caminho não importa quantos obstáculos tenham, manter o foco isso sim é fundamental!

HMB: E os shows? No seu modo de ver falta público, banda ou organização?
Sandro: Creio que estamos passando por uma transição. O impacto das redes sociais, gravadoras quebrando, pirataria e etc. O público está consumindo música de outra maneira agora. Cabem às bandas independentes desenvolverem mecanismos para se destacar nesse meio. Ótimas bandas e publico é o que mais temos. Acho uma tremenda merda o sujeito reclamar da "cena". Que tal melhorar a banda? Porque não lançar um bom material? O que é que eu como músico/banda preciso fazer pra ganhar atenção do publico e da mídia? Produtor picareta tem em tudo quanto é lugar. Se você não tem publico, se os shows estão ruins, a culpa é inteiramente sua! Esqueceu que damos a cara pra bater quando subimos num palco ou quando decidimos encaram os percalços dessa profissão?

HMB: Planos para o futuro?
Sandro: Lançar material novo e cair na estrada passando por lugares que ainda não tivemos a oportunidade de passarmos.

HMB: Resuma Sandro Silva em uma palavra ou frase.
Sandro: Perseverança.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Sandro: Obrigado pela entrevista. Fiquei lisonjeado com o convite! Sempre acompanho o blog. Abração aos leitores e aos que compõe o Heavy Metal Breakdown!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Julie Sousa, seriedade e talento são as receitas


Julie Sousa, historiadora, baterista da banda de Doom Metal, Mortarium e editora-chefe e organizadora da revista online Hi Hat Girls Magazine (a primeira publicação brasileira voltada para mulheres bateristas). A carioca Julie Sousa começou a tocar em 2008, e gradativamente vem conquistando seu espaço enquanto baterista de Heavy Metal. Empreendedora de fibra e com muita lenha para queimar, tivemos um bate papo agradável e interessante, que você confere agora:

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Julie Sousa: Eu é que agradeço pela oportunidade! Bom, falar sobre si mesmo é bem difícil, pelo menos para mim é (risos), mas vamos lá: Eu sou baterista da Mortarium, banda feminina de Doom Metal oriunda do Rio de Janeiro. Idealizei o projeto e juntamente com outras bateristas criamos a Hi Hat Girls Magazine, uma revista online sobre mulheres bateristas, na verdade é a primeira publicação sobre mulheres bateristas do Brasil. Fora isso, sou formada em História pela UERJ.

HMB: Dê-nos a sua visão da cena Heavy Metal nacional. Acredita que estamos de igual para igual com outros países?
Julie: Sem dúvida nenhuma, não devemos nada para os outros países nesse quesito. Temos excelentes bandas, excelentes músicos! O que precisamos melhorar, em minha opinião, é com relação à valorização do que é nosso.


HMB: Essa é uma questão muito discutida, porém, cada um tem uma visão diferente do todo. Uns acreditam que a causa é o público que não vai aos shows, outros que a bandas precisam se unir e por assim vai. Qual a sua visão disso?
Julie: Acho que em relação ao público, as coisas poderiam sim melhorar bastante, mas não acho positivo e nem acho que vá melhorar alguma coisa se, ficarmos gastando energia reclamando ou criticando, prefiro falar dos muitos pontos positivos que temos para valorizar, como as excelentes bandas que temos no país, com excelentes trabalhos e grandes músicos, muitas vezes desvalorizados ou desprestigiados pela dita "mídia especializada".

HMB: Mas mesmo assim existem blogs, Programas de TV online e os mais diversos grupos no facebook que apoiam e só existem em prol do metal nacional. Essa seria uma ferramenta válida para a divulgação de uma banda ou de um trabalho voltado ao cenário?
Julie: Sim, e são esses blogs, geralmente de pequeno porte, um dos principais responsáveis pela informação que temos sobre a cena em outros estados, sobre novas bandas, etc. São extremamente importantes. E geralmente são iniciativas de fãs do Metal, no legítimo espírito do "faça você mesmo", e isso é muito bacana! Posso citar inclusive o programa Arte Extrema, a página "Metal Brasil: Público e bandas merecem respeito" e o blog e page "Doom Metal BR", todos estes têm feito um excelente trabalho, apoiando as bandas brasileiras de Metal. Recomendo!

HMB: Sim, são excelentes! Podemos dizer que sobrevivemos no underground do underground?
Julie: Basicamente sim, penso eu.

HMB: Sendo assim, o Heavy Metal sobrevive graças ao trabalho árduo, muitas vezes, de empreendedores que movidos por uma paixão fazem a cena acontecer e se manter? Você se encaixa nessa realidade?
Julie: Completamente!


HMB: Como andam os trabalhos com a Mortarium? Podemos esperar novidades para breve?
Julie: Este ano fizemos alguns shows muito bacanas aqui no Rio e voltamos a São Paulo para tocar, foi maravilhoso estar novamente ao lado de pessoas queridas e rever amigos que fizemos aí.
No momento demos uma pequena pausa para resolvermos assuntos pertinentes ao lançamento do nosso primeiro CD, previsto para este ano.

HMB: Você pode nos adiantar alguma coisa sobre este lançamento?
Julie: Nós gravamos no estúdio Mendhl, do nosso amigo Isaac Mendhl e posso dizer que estamos ficando satisfeitas com os resultados. Todas nós temos multitarefas, temos nosso lado profissional, acadêmico, doméstico, enfim, não temos muito tempo disponível para nos dedicar exclusivamente às gravações, por este motivo a demora na conclusão do CD, mas sem dúvidas será uma boa surpresa para quem nos acompanha.

HMB: E a revista Hi Hat Girls Magazine. Fale sobre este projeto.
Julie: A Hi Hat Girls Magazine é uma revista online sobre mulheres bateristas, inclusive é a primeira publicação do Brasil sobre este tema. Surgiu em 2012 quando eu postei sobre a ideia no grupo "Mulheres Bateristas do Brasil", e em seguida a Fernanda Terra, A Simone Del Ponte e outras meninas se uniram em prol deste objetivo e nos preparamos para lançar a primeira edição, alguns meses depois.
Pela HHG passaram nomes como Jully Lee, Paula Padovani, e mais recentemente a Vera Figueiredo.
Estamos produzindo a quarta edição, e a revista sempre foi e será gratuita, justamente para promover o acesso a todos e todas. Nosso principal objetivo é a divulgação do trabalho das bateristas brasileiras e incentivar meninas ao estudo do instrumento.

HMB: Vocês contam com o apoio de anunciantes?
Julie: Até o momento, a Hi Hat Girls ainda não conta com anunciantes, mas o espaço está aberto para empresas interessadas. Inclusive, estamos prestes de lançar a próxima edição, ainda há tempo (risos)!

HMB: E quanto ao apoio à Julie baterista? Você já conta com endorser e patrocínio?
Julie: Recentemente fechei com a In-Pacto baquetas, uma empresa do Sul do país, e estou feliz por isso. Estou planejando gravar alguns vídeos e publicar, alguns covers de bandas que admiro, mas ainda é surpresa (risos). Busco aprender a cada vez mais, acredito que ainda é necessário evoluir bastante, mas o importante é ter a consciência disso e sempre buscar progredir.


HMB: Você vê uma abertura das empresas ao músico brasileiro? Qual conselho você daria para quem busca esse tipo de apoio?
Julie: Acredito que sim, embora eu não tenha muito tempo de música para afirmar com precisão.
O conselho que tenho é o mesmo para mim e todos que pretendem seguir o caminho da música: estudar, estudar e estudar!
Buscar sempre evoluir, aprender e pôr em prática o que aprendeu. Não é uma receita de bolo. Acredito que garra, determinação, estudos, seriedade e talento são as receitas.

HMB: Planos para o futuro?
Julie: Para o futuro, os planos são de terminar e lançar o CD da Mortarium, e estou muito ansiosa por isso (risos) e continuar a fazer shows com as meninas.
Outro plano é começar a oficina gratuita para meninas bateristas se iniciarem na bateria, mas isso está perto de acontecer, e conseguir alguma parceria para a Hi Hat Girls Magazine, para que um dia não muito distante possamos lança-la fisicamente. Esses são os meus principais planos para o futuro, e espero alcança-los em breve.

HMB: Resuma Julie Sousa em uma frase.
Julie: Resumir-me, em uma frase... Poxa, que difícil! (risos) Acho que seria: "Quem disse que não podemos?”

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Julie: Obrigada! Achei bem legal essa entrevista, bem dinâmica. Obrigada pelo convite! Queria parabenizar pelo seu trabalho, muito bacana mesmo quando surgem veículos como o seu.
Gostaria de dizer a cada um que lê essa entrevista para levantar da cadeira e ir atrás do que realmente acredita. O caminho pode não ser fácil, mas o final dele é sempre recompensador.
Ainda este ano a Mortarium terá novidades e quem nos acompanha poderá conferir algumas delas já em breve.
Agradeço a cada um que tem nos acompanhado até aqui, de coração.
Abração!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Clinger Carlos Teixeira: ...trate sua banda como um negócio e trate os fãs como seus clientes...


Clinger Carlos Teixeira, empresário, pai de família e um cara com os olhos voltados diretos para o futuro. Mesmo com a correria do dia a dia, achou um tempo para falar conosco e entre uma pergunta e outra, manteve o foco na sua vida e nas suas atividades e responsabilidades. E mais, dedica seu tempo produzindo documentários, promovendo bandas e shows na sua região e ainda edita o Heavy Metal On Line, um programa Web Televisivo que vem crescendo e caindo no gosto dos Headbangers do Brasil inteiro, e tudo isso para manter acessa uma paixão que nutre desde 1991, o Heavy Metal. Confira!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Clinger Carlos: Olá, sou o Clinger Carlos, e conheci o heavy metal paralelamente ao movimento underground no ano de 1991, quando ganhei um disco do Iron Maiden (The Number of the Beast) e logo depois fui a um show de bandas do Underground do leste de Minas, que aconteceu em minha cidade, Caratinga, em Minas Gerais. Depois de seis meses lá estava eu organizando o que seria o II Thrash in Caratinga, somente com bandas autorais, de metal extremo, entre elas uma banda conhecida da época, chamada In Memorian, que executava um Black Metal extremo.
O tempo passou e após varias promoções de eventos, excursões, várias edições do meu antigo fanzine, Skeletons of Society, montei meu projeto atual, dedicado ao metal nacional e principalmente as bandas do underground, chamado Heavy Metal On Line, que se encontra em sua edição 45, programa este focado em um formato web-televisivo, possui entrevistas com bandas, divulgações de shows e lançamentos de CDs da cena Metal brasileira. Várias bandas já passaram por nosso programa, dentre elas as gringas, Autopsy, Master, Orphaned Land, Blaze Bayley, além de importantes bandas brasileiras, como o Krisiun, Chakal, Attomica, Malefactor, Yekun, Nervosa, Ratos de Porão e outras.

HMB: Você é movido por uma paixão muito grande, podemos afirmar isso, por que vemos que você viaja pelo país todos e em algumas oportunidades, chegou mesmo a ir para o exterior, com que tipo de apoio você conta nessas empreitadas?
Clinger: Na verdade o projeto Heavy Metal On Line é todo movido por uma grande paixão, pois faço todo o programa e me sinto bem fazendo, não quero envolver meu projeto com vínculos extremamente comerciais, senão perde o sentido.
Sou de uma cidade do interior, tenho uma empresa, que montei a oito anos e planejo sempre minhas viagens, dentro das minhas possibilidades, por morar no interior tenho um custo de vida mais baixo e também abro mão de muitas coisas por aqui pra fazer as coberturas dos eventos que vou. Outra coisa, são os shows internacionais, gosto de muito de ir, vou sempre que posso, mas não para cobrir ou entrevistar as bandas, meu projeto é focado no Metal nacional, apoiar as bandas que não tem espaço e eu não vou ficar tietando bandas gringas nem mesmo produtores de shows que viram e falam que minha pagina do face tem poucos views, que meu programa não é de São Paulo e por ai vai.
O apoio que tenho são das bandas, dos meus amigos que me ajudam a divulgar e de uma equipe que tenho no programa, como meus irmãos da banda Venereal Sickness, meu outro irmão Clinton e sua esposa, além dos meus parceiros, Alex Chagas da Black Legion Productions, Anderson Sabazinho e Gisela Cardoso, que sempre me apoiam e colaboram com o programa.


HMB: Morando em Caratinga, como você faz para se manter atualizado com o que acontece nos grandes centros, ou seja, Rio de Janeiro e São Paulo? E como é a cena da música pesada em sua região?
Clinger: Se eu te falar que fico sabendo das notícias sobre o metal nacional através das redes sociais seria óbvio, mas nos anos 90 eu também sabia de tudo que acontecia no metal nacional através das famosas cartas sociais de um centavo. Inclusive tenho vários amigos hoje nas redes sociais que correspondiam comigo na época, como o Maicon Leite, Marlon Combate, M Mictian do Unearthly e por ai vai. Mas claro que a internet fez com que os contatos se tornassem mais fáceis e rápidos, isto contribuiu bastante, inclusive o Heavy Metal On Line, da forma que divulgo hoje seria inviável se não fosse o Facebook
por exemplo. Sobre o cenário aqui da minha região, Leste de Minas, sempre foi uma região onde bandas importantes surgiram para o cenário nacional, talvez a mais significativa delas seja o Silent Cry, mas outros nomes se destacaram como o In Memorian, Misbeliever, Intelectual Moment, além da banda que eu tocava no início do ano 2000, o Scarps. As coisas por aqui andaram bem paradas, mas alguns eventos estão voltando ativa, e algumas turnês estão passando por aqui novamente, isto me deixa muito satisfeito.

HMB: E como está a produção do seu documentário “O homem e a Obra” e como está sendo a captação de recursos para a realização deste trabalho?
Clinger: Captação de Recursos? (risos) Todos os meus projetos são feitos sem recursos, na verdade nunca procurei apoio de ninguém, nem mesmo entrei em projetos culturais, pois não tenho tempo para isto. Logicamente que meus trabalhos muitas vezes pecam pela falta de qualidade, como luz, áudio, etc. Mas sempre irei fazer os programas e os documentários que estiverem em minha mente, conheço muitas pessoas que são cheias de ideias e não colocam nada em prática, colocando sempre a culpa na falta de estrutura, comigo não tem isto, faço do jeito que dá e coloco no ar. E não adianta falar que poderia ter melhorado aqui ou ali, ou que nosso inglês é fraco, não dou ideia para estas coisas, o mais importante é apoiar as bandas, está é minha visão. Estou produzindo o documentário neste mês de abril pra colocar no ar em maio, nele abordei um tema que me chama a atenção desde os primeiros dias que conheci o Heavy Metal, que é a temática das músicas aliada à obrigação do artista de ser na vida real o que ele prega em suas letras. Aproveitei as entrevistas que faço e coloquei esta pergunta, a partir daí juntei todos os depoimentos e irei citar casos clássicos dentro do metal mundial sobre o assunto, como é o caso de Tom Araya do Slayer.

HMB: Mas, não seria o caso de buscar patrocínio ou apoio cultural para fazer este trabalho chegar e mais pessoas?
Clinger: Olha meu amigo, vou ser bem sincero com você, seria ótimo se meu documentário chegasse a mais pessoas, se o Heavy Metal On Line tivesse 10.000 acessos mensais, mas tenho dois detalhes que posso lhe dizer:
1º - Eu cansei em minhas jornadas pelo Underground, de buscar recursos para meus projetos e ter que ficar explicando pra quem não entende, e no final o cara não entender nada, não apoiar e eu perder meu tempo. Projetos culturais ligados à política não acredito nisto, temos exemplos que dão certo, como o Roça´n Roll, por exemplo, mas os caras vivem disto, mas em sua imensa maioria, são apenas promessas e não perco tempo com isto.
2º - Eu tenho uma empresa que fundei há dez anos, trabalho com urbanismo e georreferenciamento. Viajo para caralho a semana toda e não tenho tempo de buscar os recursos e para a coisa não ficar sem ir para o ar eu mando ver do jeito que dá. Além de tudo sou um cara meio acelerado, não consigo esperar por promessas ou por pessoas de raciocínio lento. Então é isto, tá gravado, tá na rede.


HMB: Mas podemos perceber que o programa tem crescido cada vez mais, isso mostra que o cenário Heavy Metal brasileiro é carente de programas assim, que mostrem o lado underground de cada cena?
Clinger: Sim, tem crescido, muito lentamente, mas tem, este é o tipo de programa que não bomba, pois como não tenho uma assessoria de imprensa para usar as ferramentas certas na hora certa, a audiência varia muito de programa para programa. Meu programa só cresce por causa dos amigos e interessados no cenário metal, que me ajudam a divulgar, como é o caso do Alex Chagas, da Black Legion Productions que me dá uma força na divulgação todo mês. Mas o principal mesmo, da coisa não acontecer é devido o fato da dificuldade de se prender uma pessoa na frente de um computador pra  ver o programa todo, sinto isto, vejo que muitos não conseguem chegar até o fim do programa, somente os que fazem parte do metal no dia a dia mesmo é que consegue, no mais, curiosos clicam e não conseguem ver, não é um lance popular, é underground mesmo, só pra quem gosta, por isto não me importo em não dar muitos views, sempre irei continuar fazendo da minha forma. Outro detalhe é que irei fazer o programa de acordo com os meus conceitos, exemplo, não irei fazer um programa com 3 bandas de death metal, irei sempre misturar os estilos, divulgar CDs, shows, de vertentes diferentes dentro do metal. Sobre a carência ela sempre existiu porque vários que iniciaram ficaram pelo caminho, porque não se pode montar um programa deste achando que vai ganhar grana, que vai ter patrocínio e que amanhã vai estar na Globo, tem que fazer por amor ao movimento, senão se frustra na 2ª edição, quando o programa der apenas 200 views e acaba logo em seguida.

HMB: Conversei com Vitor Hugo Fraceschini e Chirstiano K.O.D.A. do Arte Extrema e eles disseram o mesmo que você, que o programa cresce, mas de forma lenta e que o retorno financeiro é zero. Será que o cenário Heavy Metal mundial só gira em torno das pessoas que tem paixão pelo estilo e o ideal de realizar alguma coisa?
Clinger: Sim, com certeza a paixão que move nosso meio, lógico que não estou falando das bandas mainstream, nem das grandes produtoras de eventos, mas tudo é percentual de mercado, o cenário Underground ainda é muito pequeno dentro do nosso país e também, para ser sincero não desejo que ele se popularize e vejamos bandas de Black Metal irem para o Faustão no domingo a tarde.
Ter um programa como o meu e até mesmo o Arte Extrema é pra apoiar mesmo, porque patrocínio, eu acho praticamente impossível conseguir. Em São Paulo mesmo tem muitos programas antigos e muito bem produzidos que acabaram por falta de apoio financeiro, agora, imagine eu, que moro no interior de Minas, não tenho uma produtora, nem estúdio para gravar, aí que complica mais ainda. Mas nem por isto vou parar de fazer, mas também não vou ficar sonhando em bater um cara na minha porta e me oferecer grana pra fazer aquilo que mais gosto.

HMB: Por suas palavras podemos afirmar que os verdadeiros guerreiros do cenário da música pesada mundial são heróis, desbravadores que metem a cara e lutam por seus ideais. Que conselho você daria para quem está começando?
Clinger: Para quem esta começando, eu sempre falo para irem com calma, muitos novatos quando chegam dentro do movimento querem logo mostrar que são "das antigas" ou até mesmo querem decorar a discografia de uma banda para falar no meio do povo. Eu por exemplo, se me perguntar qual a discografia do Hypocrisy, King Diamond, etc eu nem sei, não tenho este lance de decorar as coisas pra sair falando por ai, sou bem sincero com relação a isto e acho que se o cara esta iniciando agora no mundo do Metal, meu conselho seria este. O Headbanger não é melhor nem pior que ninguém por saber a história completa do Slayer. Pelo menos esta é minha opinião.

HMB: Com certeza. Você sente que o seu trabalho, frente ao Heavy Metal On Line, é um captador de seguidores para o Heavy Metal nacional?
Clinger: Acho que não, captador não, acho que meu programa serve para fortalecer e dar evidência ao metal nacional e também dar um tom mais jornalístico aos já seguidores. O lance de captar é que acho difícil um novato ver meu programa e se interessar pelo metal, talvez outras ferramentas sejam mais atraentes para quem é novo, como ir a um show, ver algum ensaio de alguma banda ou até mesmo alguma divulgação mais direta via internet, mas acho que um moleque novo quando clicar no link do meu programa não vai conseguir ver muitos minutos do programa porque não tem nada que prenda a atenção da nova geração. Faço sempre o trabalho de doar alguns materiais, demos, camisas que tenho para os novatos que vejo nos shows e na cena, eu sempre faço isto, nunca deixo materiais parados em minha casa pra dizer que tenho milhões de CDs, sempre faço a coisa girar e de algum modo vejo que sempre surte alguns efeitos positivos.


HMB: Isso é perfeito! Eu também costumo doar para as pessoas o materal que as assessorias me mandam, para fazer girar o material. Você viaja pelo Brasil todo, Você vê muitas diferenças na reação do público nos shows? Ou o brasileiro é “sangue no zóio” em todo lugar?
Clinger: Olha, não vejo diferença no público, quando se fala de underground no Brasil a coisa é bem alinhada, em todos os lugares que passei vejo uma energia única, e olha, falam muito da Argentina, mas não é mais animal que o Brasil. Estive em vários shows lá e pude conferir, o que rola, é que eles tem alguns hinos que são cantados em shows e outras coisas, mas não é mais, nem menos animal que o Brasil. Lógico, estou falando de underground, agora quando se trata de outros shows, até aqui mesmo a coisa pode ser bem fria, depende da cena, e quando se trata de shows de bandas cover por exemplo, a coisa é bem patética, porque envolve um público que não tem nada haver com o Metal, vai um monte de playboy pra pegar umas minas aí é outra coisa, mas eu também nem vou nestes lugares pra falar o que realmente rola.

HMB: Como você interage com os outros veículos de comunicação que são direcionados ao Heavy Metal?
Clinger: Eu sou um cara bem sincero com meu trabalho, sempre falo com todos os veículos a minha forma de divulgação, então o que você vê de divulgação de bandas e materiais que recebo é aquilo ali, não tenho condição de fazer nada a mais, nem resenhar e colocar no meu blog nem nada, por que não tenho tempo pra isto. Mas o que quero deixar bem claro pra todos da imprensa Metal do Brasil é que eu não faço parte da imprensa Heavy Metal do Brasil, eu não sou jornalista, não trabalho com isto, não ganho dinheiro com meus projetos, nem quero ganhar. O que quero é fazer meu programa, meus documentários, dar espaço pra quem precisa de espaço e pronto. Eu sou um Headbanger, como qualquer outro que apoia o Metal nacional, e só! Não adianta falar que nosso inglês é ruim ou que a iluminação do nosso cenário é precária, para mim não importa, importa a mensagem que o Heavy Metal On Line leva a quem interessa em assisti-lo.

HMB: Planos para o futuro?
Clinger: Meus planos são claros e bem definidos, não só no metal, mas em todas as minhas atividades profissionais, não fico sonhando com coisas impossíveis, inclusive acho que muitos programas de metal acabam, porque vivem sonhando com altos patrocínios, isto eu não sonho, principalmente com um programa calcado na cena Underground como é o caso do meu. Mas, se fosse falar dos meus planos, eles seriam: Lançar um novo episódio do meu programa, cobrir eventos pelo Brasil este ano, finalizar um documentário sobre a Cogumelo Records que está em andamento,  ir ao Zombie Ritual em dezembro, lançar mais e mais edições do programa, gravar mais um documentário, etc.etc.etc... (risos)

HMB: Resuma Clinger Carlos em uma palavra ou frase.
Clinger: Acelerado! (risos)
Cara, eu sou muito ansioso com estes meus projetos, meus irmãos do Venereal Sickness piram comigo muitas vezes,  quando eles acham que estou editando um documentário o mesmo já está no ar, e muitas vezes passam com alguns erros que poderiam ser resolvidos se eu tivesse mais calma. Mas eu sou assim mesmo, não me prendo a detalhes, se gravei, já edito e mando para o ar e deixa o pau quebrar.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Clinger: Valeu demais pelo bate papo, sempre gostei de responder entrevistas, desde que pertencia a banda eu sempre respondia todas. Minha mensagem é a seguinte: no Metal nacional hoje todo mundo é Underground, não  existe mainstream, vejo pelo público que as bandas levam aos seus shows. Na cidade de Belo Horizonte, por exemplo, Max Cavalera, o maior nome do Metal nacional, depois de quatorze anos levou mil pessoas a uma casa de shows na cidade. O Angra com Fábio Lione, 1.200 pessoas, Sepultura já teve muitos shows cancelados pelo Brasil ultimamente, e também vejo shows do underground com 300, 400, 500 pessoas, então a coisa está nivelada por baixo, tirar a molecada de casa não é fácil para ninguém. Então, acho que todos que fazem parte do Metal nacional e principalmente os que vivem dele, tem que rever seus conceitos, porque, continuando assim, até as grandes bandas terão dificuldades de sobreviver de sua música. Então trate sua banda como um negócio e trate os fãs como seus clientes. É isso!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Augusto Miranda, ...na medida em que aprendemos a aturar isso, nos tornamos cúmplices...


Augusto Miranda é um cara que tem muito para falar, e fala. Com propriedade, com conhecimento de causa. Foi vocalista de uma das mais extremas bandas que já surgiram neste país, e quando falo “das mais extremas”, não estou me referindo apenas à música tocada em alta velocidade, mas ao extremismo das letras, das colocações sempre muito bem sacadas e inteligentes. Hoje, frente a sua nova banda, chamada “O Mito da Caverna” (já diz alguma coisa, né?), Augusto continua dando vazão a sua criatividade, desta vez, num andamento mais lento e com peso opressor e também com suas ilustrações, mas ele continua ácido, nas suas letras e nas suas declarações, confiram:

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Augusto Miranda: JP! Bom, vou ter que começar aqui com o clichê maior de todos os clichês (risos)! Claro que o privilégio é acima de tudo meu!
Sem mencionar o bem que me faz abrir uma janela (e que "janela" essa sua página!) nesses últimos oito meses que tenho me retirado para ilustrar num ritmo que sempre sonhei a vida toda mais nunca nem pensei que chegaria a entrar nele - nem imaginei também que, entrando nele, iria simplesmente olhar para o quanto tenho produzido e o tempo que tenho empregado nisso e achar tão escasso, tão pouco esmerado.
Acho que é importante mencionar também que além desses dias que chego a dedicar quase vinte horas de trabalho, ainda ajudo a manter a casa das máquinas operante, ruidosa, abafada e claustrofóbica (do jeitinho que á a vida nessas periferias em que vivemos) n'O Mito da Caverna - banda de sludge/grind que faço parte por esses dias.

HMB: Anteriormente você atuava como vocalista da banda Praia de Vômito, que fez um barulho considerável na cena underground? Porque esta banda encerrou suas atividades?
Augusto: Cara, sabe que por vezes me espanto de descobrir que tem até um número considerável de gente que conheceu o trabalho do Praia? Tipo, era algo que a gente fazia na certeza de que ninguém estava atento, acho que por conta de não sermos "do centro" - e ainda existe um muito dessa certeza falha - arriscada, até -  de que "se não está acontecendo no centro da metrópole, não está acontecendo".
Daí acontecem: alguém manda um arquivo de áudio - uma banda tocando uma música nossa!; Um grupo de adolescentes me procura perguntando se eu "autorizaria" eles a serem um "Novo Praia de Vômito" (risos), o que embora eu sinta que não tenha poder pra autorizar ou não, eu preferi vetar e aconselhar a montar algo novo, próprio, vindo deles mesmo, saca? Em alguma manhã de segunda minha linda companheira me manda um link e "bum", estamos numa lista de bandas que mais marcaram a fantástica lúdica passagem do Espaço Impróprio, em São Paulo; gente que fez estampas pras suas camisetas e patches com gravuras que fiz pro PDV... Coisas assim, saca?
Não sei, não entendo bem a razão disso analisando daqui tão de dentro, mas nunca houve um lance desses que não me tenha feito arrepiar, dá até medo por conta da responsabilidade implicada nisso, entende? Seguramente, Tudo dos meus 25 anos pra frente está debaixo da sombra do Praia de Vômito.
Por qual razão acabou? Acho que pela mesma razão que toda banda acaba, cara... Porque toda banda precisa acabar. Mais cedo ou mais tarde, precisa acabar, terá dito tudo o que tinha pra dizer e dar lugar pra coisas novas, mais profundas. No nosso caso, estamos aí com O Mito da Caverna.


HMB: Fale então, sobre o Mito da Caverna, qual é a abordagem lírica da banda?
Augusto: Tai um lance interessante, papeava sobre isso com o Igor (guitarrista n'OMdC), nas bandas mais "sonoramente Grindcore", em geral impera a abordagem social, política, com muitas paradas de  niilismo até, já nas bandas mais "Doom" ou Sludge, sobram assuntos mais existenciais, de espírito, solidão, saca? Particularmente acho muito demais quando as bandas de Grind se dão postura mais "poética" e as bandas de sonoridade tipo Sludge partem pras cabeças quanto às questões sociais, políticas.
Vou te dar exemplos fodões disso:
A outra banda do Igor, "Narayama" (nela ele é baterista e o guitarrista deles é o baixista na OMdC, Nicolau) tá entre as coisas mais violentas que o Grindcore produziu por aqui nesses tempos últimos, pra mim. Se você conferir as letras, sobretudo do lançamento mais recente, "Terra Suja, Vista Imunda", tem sim, claro, aquela pegada a respeito de muitos dos níveis de nossas relações sociais, mas um gancho de escrita que te pega pelos pés, te bate na parede...
E como exemplo de Doom, Stoner com enfoque mais social tem,os ferrados e pouquíssimo reconhecidos da Qerbero, que embora arregace na poética e tudo o mais, tem como pano de fundo mesmo as mazelas sociais, e o melhor de tudo, focado no cenário nacional, do que eles fazem parte mesmo. (Bem, são duas impressões que tenho, espero que as pessoas nessas duas bandas não se enraiveçam caso eu tenha falado merda...)
Bom, n'O Mito, vou ser sincero, por conta da parte lírica e estética a gente se considera uma banda de Grindcore embora os andamentos sejam tão lentos como na coisa toda do Sludge e até de Drone - e cada vez que menciono que nos entendemos como Grind, sinto cada vez mais que basicamente e a bateria que determina pra muita gente se uma banda é ou não Grindcore (risos).


HMB: Você um cara muito ligado ao pensamento, quais são as suas influências influencias  na hora de escrever?
Augusto: Olha... Sabe que não tenho nenhum método pra isso?
Não tem uma hora reservada pra sentar e escrever, o que rola é de estar na lida diária, e vem o pensamento e te assalta. Gosto da cachoeira de ideias quando estou pedalando ou fazendo corridas, cara (risos)! São muitas, cheguei a projetar um play inteiro pro Praia de Vômito, com letras, número de faixas, capa, encarte... Em coisa de 40 minutos (risos). Óbvio que pôr tudo na prática não é tão ligeiro assim.
Vou te dizer que a maior influência mesmo nessa coisa de escrita, me bateu quando li o 1984 ("dele...") pela primeira vez. É até um pouco "difícil de me livrar", seguir adiante com mais influências, saca? E ainda nesse ponto de "estética da escrita", tenho dado uma atenção bem forte aos lances que o Igor escreve. É tudo muito pesado, sufocante em cada pequeno detalhe.
E quanto à temática, bom, segue a mesma orientação com que acabo visualizando e fazendo tudo, seja em "Música", seja em Ilustração, sejam em aulas, aqueles mesmos preceitos, "crenças".
Expôr essas nossas relações de dominação (o mais forte sobre o mais fraco), a divisão sócio-econômica desigual, violenta, cada policial um desgraçado, cada igreja como ópio e, acho importantíssimo, tudo isso do ponto de vista de gente periférica, sabe? (até pelo fato de boa parte do que o povo daqui consome de cultura ainda não ser datado e pontuado daqui, ser muito mais algo mais de grandes centros, metrópoles e merdas desse tipo).

HMB; E sendo assim, como você lida com as intempéries do dia a dia, acaba sendo sufocante o dia que a inspiração não vem, ou você simplesmente deixa rolar, já que amanhã é outro dia?
Augusto: Cara, sempre vem, viu... O negócio é filtrar o que for mais proveitoso, entende? Já que vai ter um custo de tempo e grana pra pôr isso em prática, é bom filtrar legal, ponderar mesmo (risos). É bem nessas que uma pancada de banda e produção em geral de galera playboyzada fala tanta, mas tanta merda. Tipo, assim que vem a ideia na mente, seja lá qual for, têm tempo e verba pra gravar, distribuir isso de imediato...

HMB: Como você vê o cenário da música pesada no Brasil?
Augusto: Cara, falando do que menos deveria importar, a produção nunca foi tão ferradona, sabe? Coisa massa mesmo.
A parte lírica me parece seguir com algumas divisões e subdivisões, por que tem a galera que prefere não lidar especificamente com contextos sociais e a galera que adentra nesses contextos, mas uma parcela enorme dessa galera aqui parece ter por esse momento, uma série de "guerras internas" deflagradas, coisa entre eles mesmos... Ao invés de levar adiante com total enfase uma guerra pras cabeças de Estado e corporações. Acaba ficando coisa com cara de "birra de cena", sabe? Não vou generalizar mais do que já generalizei aqui e só quem levou um pisão no calo que sabe a hora certa de agir, mas fico com essa impressão muito forte, só tô sendo transparente...
E isso preocupa demais. Pois vejamos que se tantas lutas tão importantes, tão vitais a todas as pessoas de dentro e de fora desses circuitos ficam em posse de quem faz esse uso esquisito aí, logo acontece um esvaziamento do conceito.
Esvaziado o conceito, temos uma brecha enorme nesses muros que com tanto sacrifício temos construído...
Mas essa é mais uma impressão que guardo da coisa toda aqui em $ão paulo, cara, mais específico do material produzido ao centro. Falemos do que é produzido nas quebradas, para as quebradas e a figura muda.
Algumas poucas vezes a produção é fraquinha até, mas o conceito/contexto  vem que vem atropelando! E é muito material, cara!, Muito! Muito além do "rock pesado" ou do "rock" mesmo, com grupos incríveis de Rap e uns lances de música étnica, produção até de quadrinhos profissionais, cara! Teatro, sarau... Tudo muito forte, estruturado, vivo.


HMB: A periferia sempre foi o centro nervoso da música de protesto? Você acompanha essas expressões culturais mais, digamos mais afastadas do centro?
Augusto: Eu poderia estar bem mais a par, viu... Vou ser sincero. Acho que nós todos, aliás. Um lance bem legal é que nada canto desses, cada uma dessas periferias cria seu próprio "mote cultural"... Então em cada uma que você estiver, vai ter um material bem específico daquele lugar ali! Isso é demais!
Agora, sobre ser o "centro nervoso" da música de protesto... Cara, sabe que acho que não sei bem? Acho que enquanto houve produção Genuína de protesto, ela foi a respeito de situações de desigualdade, de exigência por reparações (óbvio). Essa condição periférica é algo que se molda a base de marretada na alma, que se carrega no tipo de coloração que o sol imprime na nossa pele - tudo isso é muito fixo e visível, não importa em qual centro você esteja... e dependendo de onde estiver, essa condição salta à frente em luta! Então acho que consigo entender - mas não sei se consigo expressar - que sim, a periferia é esse "centro nervoso", fratura exposta do protesto, mesmo que quem protesta não esteja exatamente dentro da periferia - que só com muita dificuldade será tirada de dentro da pessoa.


HMB: Em outras palavras, o preconceito é um mal enraizado na cabeça das pessoas, mesmo com elas dizendo e pregando o contrário?
Augusto: Putz, eu acho que não é só um mal na cabeça das pessoas, não.
É um monstro construído histórica, econômica, socialmente, mas sim, acho que rola preconceito demais por mais que se pregue o contrário.
Vamos dar exemplos práticos? Essa polêmica recente e asquerosa da banana no campo de futebol e a igualmente asquerosa campanha publicitária de "somos todos macacos"...
Cara, rindo pra não chorar, mas com vergonha alheia absoluta, só vamos reparando na galera que se diz "macaco igual a todos os outros", mas quem não conhece a insegurança de ser negro em periferia.
Sem contar na ideia de que nesse caso, tínhamos um bosta totalmente desconhecido agredindo uma figura pública - o jogador de futebol. Certo, o cara foi encontrado, foi punido, execrado publicamente e tudo o mais. (risos, a Veja lançou uma edição, mencionando na capa algo assim, que com isso aí pode ser que o racismo esteja com os dias contados (risos)...
Só que quando paramos pra verificar casos ainda mais sofríveis, feito os de Danilo Gentili e toda sua leva "bem humorada" de racismo, a situação é outra...! É uma figura pública totalmente bosta agredindo milhares de desconhecidos e conhecidos, e com palavras e imagens a agressão que ele promove é idêntica a do outro palerma torcedor de futebol, lá... Mas aqui uma porrada de jornalistas é figura de influencia na opinião pública deu risada junto ou na melhor das hipóteses, se omitiu...
Na medida em que aprendemos a aturar isso, nos tornamos cúmplices, saca?
Sei lá, conforme nunca conseguimos nos juntar e declarar uma guerra DIRETA a figuras icônicas assim, ficamos naquele discursinho de paz e de não-violência (que tem um efeito antididático enorme) e nunca capotamos o carro dele, nem coisa do tipo, acho que aprendemos a tolerar. "Ele é 'famoso ".

HMB: E como é de costume, logo a poeira abaixa e o fato é esquecido. Além disso, você acha que a memória do brasileiro é curta, e com isso erros monumentais se repetem ao longo da história? Algo como memória de peixinho dourado?
Augusto: Essa eu vou te devolver com outra pergunta, você acha que é um lance específico do Brasil, essa parada da memória curta?
É que eu acho que seja um tipo de problema  de cantos "subdesenvolvidos", sabe? Claro que cada lugar, sobretudo se for no "terceiro mundo" (termo tá em desuso, mas exprime bem), vai ter suas problemáticas bem específicas, mas é que se dizemos ser "um problema do povo brasileiro", de pronto inferimos que esse povo foi feito assim, moral e intelectualmente deficiente pela natureza ou por algum deus sádico. Um que goste de cruzes e sacrifícios (risos).
Josué de Castro fez aquela "divisão" do mundo, os que "não comem" e os que "não dormem com medo dos que não comem"
Então vamos tratar "os iguais desigualmente e os desiguais, igualmente" aqui:
Se, estamos diante de casos feitos esses aí, qualquer um de racismo que seja, e estamos falando de uma parcela da população bem atendida de educação e cultura, de conhecimento, de saúde física e mental, bem nutrida e de poder econômico seguro e ainda assim são omissos e/ou ainda riem que só a porra dessas "gentilices", eu vou te falar que não é memória de peixe não. Que é algo extremamente objetivo! Com o qual se mancomunam, pela ausência de diálogo e convivência com as vítimas e também pelo modo como isso ajuda a reforçar o domínio antigo que eles sempre tiveram sobre essas vítimas aí.
Agora podemos até aceitar a ideia da memória de peixe sim, se formos falar da parcela da população que está de fora desses direitos mais fundamentais que mencionei antes (educação, cultura, informação, saúde, alimento, segurança...). Mas é necessário mencionar essas situações sempre conjuntamente pra não abordarmos essa parada de modo "moral", sabe? Com respostinha babaca de classe média que só sabe falar de fulana e fulano "sem vergonha na cara", pra tentar encerar logo a questão.
E claro, não podemos deixar de mencionar, a pior de todas as armas, destruição em massa total, a televisão. A televisão e seus derivados e similares, aliás.
Por que esse Povo que não come é totalmente amortizado e roubado em sua memória do próximo e de si pelo que é veiculado na televisão e pelo tempo de exposição a ela.
E quem produz o conteúdo da mídia pras massas? O povo que não dorme!
Claro que aqui temos um leque gigantesco aberto, pra destrincharmos, entendermos... Mas que mantenhamos o foco nos dizeres dos bahianos fodaços do Lumpen, "ouça os gritos, a luta de classes não acabou".
Na verdade, a nossa não é bem uma luta. Vai ser ainda. Por ora, é mais um massacre de classes, totalmente desproporcional de recursos...


HMB: Eu acho sim! Mas, entendo bem a sua visão! Além disso, existe o gado passivo, que aceita tudo da forma como se apresenta. Não seria essa a visão da classe dominante e que prefere que assim seja, amém?
Augusto: Putz, e como é, viu. E como é!  Nesse contexto aí, de manter essa situação "vertical", de domínio de um sobre o outro, a televisão entra dando voadora nas costas. O gado passivo está passivo por uma série de fatores e um deles tem a ver com a coisa toda da mídia de massas. Tô insistindo nesse ponto pra poder relacionar com o que acabamos de falar lá em cima, sobre as produções periféricas, saca?
Cara, você deve ter estado e está frequentemente em eventos que não só não se alinham com a mídia mainstream, mas que contesta, bate de frente com ela... Tem uma sensação libertadora demais nisso!
É algo com que tento o tempo todo nortear meus trampos com ilustrações, por exemplo.
(Ah, essa entrevista aqui mesmo é outro belo exemplo de produção independente! Essa página não fecha com o padrão e com o nível de publicações de mídia de massas! Inclusive, contestar o mainstream faz parte da estrutura dela! Muito louco isso!)
Mas olha só, sobre a menção do "gado passivo", o incomodo que me pega é que, sei lá, eu acho que você, eu, a pessoa lendo isso aqui... Somos todos! Em maior ou menor grau, sabe? Somos todos, gado passivo!
De algum jeito, cada um em suas possibilidades e momentos, sempre podia ter feito mais, entende? Então, acho que autocrítica é fundamental.
Sem ela, nem adianta fazer muita coisa. Que se não - sem ela - o que acaba acontecendo é mais e mais casos na medida desses dessa onda triste de linchamentos que vem ocorrendo...


HMB: Certa vez, em um show do Praia de Vômito você disse algo assim: “Deus é uma coisa tão não sem sentido, que se ele existisse de verdade, teríamos que mata-lo!” Qual a sua posição em relação as religiões dominadoras, antigas e novas?
Augusto: (risos) Bastante saudade desses dias aí... Essa energia mais volátil, explosiva, comumente associada à adolescência, muito bom! (que bom que nunca foi embora!) - eu fazia uns set lists pras apresentações super cheias de fotos, de ilustrações pras músicas, saca? Até começou a rolar de algumas pessoas pedirem o set pra elas (risos) todo afrescalhado, curtia demais fazer isso.
N'O Mito, é totalmente irrelevante fazer isso, em geral é uma música por evento, então...
Na real, a frase é uma parada do Bakunin, sendo superácido em cima do Voltaire, né...
Voltaire disse algo do tipo "se deus não existisse, seria preciso inventá-lo..." e daí Bakunin martela bem nos dedos "se deus existisse, seria preciso matá-lo!"
Cara, "religião dominadora" é quase um pleonasmo, né?
Costumo trabalhar bem a divisão entre Religiosidade e Religião. A primeira é aquele senso mais interno do indivíduo, coisa dele pra enfrentar a vida e contra isso. Confesso, não tenho nada.
Agora quando se fala de "religião", aí tá tudo fodido, né. É um sistema político pra dominação de toda forma que se possa conceber e faz uso, sobretudo, da religiosidade das pessoas, numa espécie de chantagem mesmo...
Olha, e não me sinto nem um pouco temeroso de que termos esse pé em eras tão funestas nos leva de volta pra elas com muita frequência...
Esse caso horrível de linchamento de Fabiana Maria de Jesus, por exemplo, interliga todos os assuntos que tratamos até aqui nessa conversa... Praticamente a mesma coisa que era conduzida em caça a bruxas na Europa medieval... Bastou o boato totalmente infundado do sequestro de crianças para a Prática de rituais de Magia Negra (como se fosse uma acusação de bruxaria), que a turva - igual àqueles dias medievais, completamente composta, por gente paupérrima, desinformada, pouquíssimo educada - destruiu a mulher...
Não importou o fato de ela estar voltando da igreja, de bíblia em mãos... Deram o veredicto e pronto. Como se o que foi feito a ela fosse justo e correto perto do que lhe acusaram de fazer.
Sinceridade, eu não vejo ponto algum em que caibam organizações religiosas numa sociedade bem suprida de direitos fundamentais, saca?
Vejamos bem como se dá o cristianismo em países miseráveis e em países bem desenvolvidos.
A Universal foi barradaça na França, mas na África, o porra do Edir Macedo pinta e borda... Até conceitos de evangelismo no primeiro e no segundo tipo de lugar são totalmente diferentes...
Não sinto diferença nenhuma entre uma religião antiga ou nova. É triste optar entre um chicote com material antigo ou outro com material altamente tecnológico, se o fim dos dois é a mutilação das costas de tantas Fabianas Marias de Jesus.
E ela tinha o nome do seu senhor em seu próprio nome, e morreu com a mesma idade dele, 33...

HMB: Você crê que a educação é o caminho para o pensamento livre? Ou só a bagagem biológica nos basta?
Augusto: Cara, eu só consigo entender que qualquer tipo de revolução, de reviravolta passa pela educação. Seja social ou individual, não há qualquer forma de evolução que não passe antes e durante pela educação. Não me refiro necessariamente à educação estatal, enlatada, sabe? Refiro-me, antes à educação que desenvolvemos como comunidade, com o que rodeia a gente, sobre o que rodeia a gente, e é bem nisso que a coisa toda do pensamento livre entra.
Eu sou da área da educação, cara - na real, preciso acertar uns últimos pontos pra retomar como professor - justamente por que ser tão visível o potencial enorme desse tipo de estrutura.
Não consigo mais visualizar como efetivo hoje  tudo que o Ivan Illich pôs no "Sociedade Sem Escolas", mas guardo com respeito a observação de que cada pequeno ponto, cada esquina de nossa sociedade deveria se prestar a educar e que para a escola sobra essa árdua tarefa de ser a "única responsável" pela educação. É uma tarefa árdua, é torturante, é frustrante, maldosa...
 Inclusive, esses nossos circuitos alternativos, acho que conseguimos concluir que eles poderiam e deveriam ser bem mais pedagógicos e didáticos em vez de tão desesperadamente boêmios. Não vou dizer que todo mundo devesse ser algum tipo de professora, de professor, mas eu acho isso, sim (risos). E me coloco nesse meio, apontando um erro de foco, de falha, sei lá. Então, quando pego alguma letra de abordagem ampla e direta, de algo ainda não resolvido,  por exemplo com o tema "Moleque de Rua" , isso me encanta muito. Tem potencial de alcançar qualquer pessoa e discutir um problema que até já foi mencionado, abordado, mas ainda está aí, ainda é um baita problema.



HMB: Planos para o futuro?
Augusto: Acho que... Acho que os mais urgentes desses planos, são os que, estou pondo em prática agora, esse lance da tentativa de conduzir a vida com as ilustrações. Na verdade, gostaria de arrojar bem isso, mas mantendo acessível, mantendo à mão, pra que não seja um serviço prestado somente pra quem tenha mais grana, mas que também me dê algum bom suporte, pra poder ter alguma "tranquilidade" (risos) pra produzir cada vez mais
Como vou fazer isso (e se vou conseguir fazer isso), não sei, não sei mesmo, mas é a tentativa e risco que valem uma vida, sim, e tenho tido um suporte incrível (difícil de acreditar mesmo) de minha companheira - Alguém tem que pôr fé em gente doida, feia e vagabunda! E a propulsão e o apoio que a Kai tem me dado nessa empreita são fundamentais. Vitais, aliás.

HMB: Resuma Augusto Miranda em uma palavra ou frase.
Augusto: Hummmm... Acho que melhor do que alguma palavra ou frase, teve uma ilustração minha (falando nelas mesmo, né) que define bem, é uma que mistura a coisa toda de Ramones, com bicicleta e Akira (risos).
Olha só, confere essas ilustrações lá no blog que uso como portfólio!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Augusto: Rapaz.... Que negócio arriscado esse de deixar uma mensagem, hein?
Vou fazer assim, prefiro! Tenho feito um movimento lento pra entender bem a obra do Belchior (fiquei dois anos parado sem sair do disco "alucinação", tenho estado há um no "autoretrato"!) 
Vou deixar a passagem de uma em que estou me detendo bastante, "descobri" por esses dias, a "Arte Final" - não por que eu me sinta confortável em dizer isso pra geral, mas por que me sinto entre os da geral, tocado por ela...
Antes, Beijão pra todo mundo que teve paciência e interesse em ler esse bate-papo até aqui - entrem em contato!Vamos bater papo também!
Beijão pra você JP, tanto pela iniciativa fodida quanto pela oportunidade que me concedeu nela
"E então, my friends? Bastou vender a minha alma ao diabo, E lá vem vocês seguindo o mau exemplo. Entrando numas de vender a própria mãe. Alguém se atreve a ir comigo além do shopping-center?  Ah! Donde están los estudiantes?  Os rapazes latino-americanos? Os aventureiros? Os anarquistas? Os artistas?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Count Imperium, ...o povo brasileiro além de ser acomodado, também é covarde e omisso


Count Imperium, da banda Ocultan, além de um lutador no cenário Black Metal nacional, é afiado em suas declarações e dono de uma qualidade invejável, a sinceridade. Ele nos concedeu essa entrevista muito esclarecedora sobre sua banda e sua forma de ver e encarar o Underground e mundo. Confira agora nas palavras deste verdadeiro batalhador do cenário nacional.

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
C.Imperium: Eu que devo agradecer ao Heavy Metal Breakdown pela conversa! Antes de fundar o Ocultan, já tive passagem por duas bandas paulista o Ossuary de 1990 a 1991, LuciferI de 1992 a 1993. Em 1994 no início das atividades da banda eu exercia as funções de baixista e vocalista. Com o lançamento de nosso segundo demo-tape, o então guitarrista Cerberus deixou a banda alegando problemas particulares. Foi então que assumi as funções de guitarrista e vocalista. Em 2001, após o lançamento do debut álbum Bellicus Profanus, nosso baterista Lord Fausto deixou a banda também por motivos particulares. Passou-se algum tempo e tivemos muita dificuldade para encontrar um baterista que atendesse as nossas necessidades. E como não tivemos alternativa, recrutamos um novo vocalista, e passei a exercer a função de baterista. Em 2009 após a saída do vocalista Legacy resolvi assumir as funções de baterista e vocalista. No final de 2013 conseguimos encontrar um baterista que atendesse nossas necessidades, foi então que passei a me dedicar apenas aos vocais.

HMB: Com tantas mudanças de formação, como foi à luta para manter as características da banda e não permitir que o som mudasse radicalmente?
C.imperium: É claro que quando ocorre à substituição de um determinado músico, de certa forma acabam ocorrendo mudanças. Enfim cada músico possui sua própria característica. Sempre que ocorreram mudanças em nossa formação procuramos escolher uma pessoa que se encaixe-se dentro do contesto ideológico e musical da banda.
Com o passar dos anos nossas músicas sofreram mudanças, que a meu ver foi de suma importância para a evolução da banda. Essas mudanças ocorreram de forma natural conforme as nossas necessidades. Sabemos até que ponto podemos chegar, e se algum integrante não esta mais satisfeito e quer tocar algo diferente, é melhor que o mesmo de lugar para outra pessoa, que esteja disposta a tocar dentro de nossos padrões musicais.


HMB: Qual é o processo de criação da banda? E como são desenvolvidas as letras?
C.Imperium: Lady of Blood (guitarrista) é responsável pela criação das músicas. Eu sou responsável pela parte lírica e pelos vocais. Os demais integrantes possuem a liberdade para trabalhar na criação e evolução de seus instrumentos.
A criação de nossas letras provém do conhecimento que possuímos através de estudos e práticas ritualísticas.

HMB: Como você vê o cenário da música pesada nacional?
C.Imperium: Temos grandes bandas por aqui, que não perdem em nada para as bandas internacionais. Infelizmente a maioria dos produtores de shows e gravadoras do Brasil tem preferencia por trabalhar com artistas internacionais para obter maior retorno financeiro. E o público por sua vez prefere pagar R$ 300 para ver shows de bandas de fora e não paga R$15 ou R$20 para ver as bandas nacionais. Sempre que tem algum show com bandas nacionais, vejo que a maioria das pessoas reclamar que gostaria de ir, mas não vão porque estão sem dinheiro. Na semana ou mês seguinte tem show com banda internacional, lá estão todos eles! Reclamam que o preço do ingresso esta caro e mesmo assim não deixam de marca presença. Sem contar que na maioria das vezes pagam para assistir shows de bandas que estão tocando ali, e não estão dando a mínima para o público presente, só estão preocupados em encher seus bolsos de dinheiro.

HMB: Não seria cultural do brasileiro, enaltecer produtos de outra cultura e desmerecer a própria?
C.Imperium: Sim! Já está mais do que comprovado, que a maioria dos brasileiros pensa dessa forma. Infelizmente o povo só tem orgulho do próprio pais, ou daqueles onze brasileiros que nos representam durante os  jogos da copa do mundo de futebol. Nessa época praticamente param o pais, é comum ver bandeiras do Brasil hasteadas pelas ruas e casas. Gostaria de ver o brasileiro agir dessa forma durante o ano todo. Fora isso ninguém é valorizado por aqui! A verdade é que a maioria do povo brasileiro além de ser acomodado, também é covarde e omisso. As pessoas preferem parar o país e sair nas ruas para comemorar uma vitória da seleção, do que saírem para protestar contra essa merda de governo corrupto que a cada dia que passa, afunda  cada vez mais o Brasil.


HMB: Você vê alguma coisa de bom que a copa do mundo possa trazer para o país, durante ou após baixarem as lonas do circo?
C.Imperium: Estamos carecas de saber que o Brasil não tem porte para realizar um evento desse nível. Antes de começar as obras para essa porcaria o pais já estava uma lastima. Quando começaram as construções e reformas dos estádios a coisa piorou de vez. Quem acompanha os noticiários sabe do que estou falando.


HMB: Ainda insistindo na política, você acha que esses planos de investimento cultural do governo são realmente feitos para a minoria?
C.Imperium: Sim! O governo por sua vez tem que fazer uma coisa aqui outra ali  para dizer que esta dando apoio cultural. A verdade é que se o governo faz algumas coisas é com o intuito de desviar o dinheiro publico.


HMB: Você e Lady of Blood são casados, isso interfere na hora da composição ou se torna muito mais fácil pela convivência diária?
C.Imperium: Esse é o tipo coisa que não se pode misturar. Quando temos que resolver qualquer coisa relacionada às atividades da banda, procuramos deixar de lado esse fator.

HMB: Como você descreveria o cenário Black Metal brasileiro?
C.Imperium: Temos grandes bandas que não perder em nada para bandas gringas. Mesmo com a falta de apoio da mídia e público, que sempre dão preferência aos artistas internacionais, o cenário esta cada vez mais forte. Sempre que posso compareço em shows e também procuro adquirir materiais de bandas nacionais. De certa forma fico muito chateado com a grande quantidade de bandas que estão à procura de selos para lançarem seus materiais. Infelizmente as portas parecem estar se fechando a cada dia que passa para as bandas mais desconhecidas. Não tenho dúvidas em afirmar que, o maior culpado nessa historia é o próprio publico que em sua maioria acha que os gringos são melhores que nós brasileiros, (risos)
Infelizmente ainda temos aqueles que passaram no tempo. Acham que o metal se resume somente a década de 80 e 90, por esse motivo desprezam as bandas atuais.
Para finalizar não podia deixar de citar esse bando de pau no cu, colecionadores de mp3, que conhecer e ouvem de tudo. Mas se recusam a comprar materiais originais de bandas que eles mesmos dizem gostar e apoiar.

HMB: Hoje uma banda vive muito mais do seu merchandising do que do lançamento do seu produto principal, que é a música? Como é essa realidade dentro do Ocultan?
C.Imperium: Particularmente acho muito difícil, uma banda underground aqui do Brasil, conseguir viver somente das vendas de seu merchandising. Estamos passando por um momento complicado dentro do Underground. A grande maioria das pessoas não faz a mínima questão de ter materiais originais das bandas. Lembro-me bem quem há quinze anos as coisas eram bem diferentes que nos dias atuais. O publico fazia questão de comprar o material direto com das bandas. Lembro que as bandas vendiam em media 25 a 30 CDs e 5 a 7 camisetas em cada um dos shows. Infelizmente hoje em dia as coisas mudaram, além dos gastos com as gravações de seus respectivos CDs. A maioria das bandas, principalmente aquelas que não são conhecidas acabam tendo que pagar de seu próprio bolso todos os gastos referentes a viagens, hospedagem e alimentação para poder tocar ao vivo. Por esse motivo acredito que é impossível retornar esses gastos com as vendas de seus materiais.
No caso do Ocultan, optamos por quase não tocar ao vivo para evitar que tenhamos esse tipo de gasto. Preferirmos tocar uma ou duas vezes durante o ano em shows que o produtores arquem com todos os gastos referentes a locomoção e estadia da banda. Acreditamos que agindo dessa forma conseguiremos economizar um dinheiro que jamais terá retorno.

HMB: Está é uma reclamação que quase todas as bandas tem. Você acredita em uma mudança dessa mentalidade em um futuro próximo?
C.Imperium: Acho muito difícil as coisas mudarem, essa nova geração já se acostumou com essa onda de baixar mp3. A cada dia que passa vejo que os preços de CDs estão baixando. Ao acessar os sites de algumas gravadoras encontraremos vários CDs de bandas excelentes sendo vendidos por R$10,00 ou R$15,00. As gravadoras já começaram a se mover abaixando seus preços na tentativa de estimular as vendas. Agora só falta o publico se conscientizar é fazer sua parte.


HMB: Planos para o futuro?
C. Imperium: No momento estamos focados nas composições que farão parte do nosso próximo álbum. Que tem previsão para ser lançado no primeiro trimestre de 2015.

HMB: Resuma C.Imperium em uma palavra ou frase.
C.Imperium: Guerreiro!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo,  deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
C.Imperium: Eu que agradeço pela conversa que tivemos! Gostaria de agradecer a todos aqueles que verdadeiramente apoiam o Metal Extremo nacional! Hail!