Muitas vezes você encontra pessoas no seu caminho e algumas
delas passam a fazer parte do seleto grupo daqueles a quem você admira por
serem exatamente quem são. E neste caso específico, este bate-papo só serviu para
engrandecer minha admiração por este batalhador do cenário da musica pesada, seja
através do site Brasil METAL História ou pelas páginas da Roadie Crew (que
dispensa maiores apresentações) onde é colaborador. Tive um excelente bate-papo
com este ser humano incrível e o resultado vocês conferem a seguir, e claro,
vejam por vocês mesmos se eu não tenho razão.
HMBreakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo
e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas
atividades.
Leandro Nogueira Coppi: Muito obrigado pelo convite. É um
prazer figurar no HMBreakdown, que faz um trabalho muito importante para a
cena. Bem, na área musical deixei de tocar bateria em bandas há cinco anos, mas
me mantenho atuante, só que agora do outro lado, já que desde então montei o
site Brasil METAL História, que sempre se dedicou única e exclusivamente na
divulgação apenas de bandas nacionais. Penso que sempre faltou um espaço que
priorizasse o que é feito em nosso país, que ao meu ver sempre concebeu muitas
bandas de qualidade em termos musicais e de produção - isso se estende aos
produtores, artistas gráficos e demais profissionais que atuam na área e que
também vêm realizando trabalhos de destaque. Nesse tempo todo, também venho
atuando como colaborador ativo da revista Roadie Crew, que tem sido guerreira
em conseguir estar ativa e mantendo a mesma frequência de lançamentos das
edições. Com o advento da Internet, é muito difícil manter vivo um veículo
desse porte.
HMB: Concordo com você no que diz respeito à Roadie Crew
em se manter, diante da atual realidade. Como tem sido a aceitação do Brasil
METAL História? E quais são as dificuldades que você encontra no dia a dia para
manter o site não apenas ativo, mas relevante pra o cenário?
Leandro: Felizmente, o Brasil METAL História conquistou o
respeito de público, bandas e profissionais do meio musical, porque fazemos um
trabalho honesto, que não se prende apenas às divulgações vindas por
assessorias, ou seja, o espaço é aberto pra todos. Outra coisa que agrada muita
gente é o fato de não nos restringirmos a um gênero ou outro, ou seja, do mais
simples Rock and Roll ao mais brutal Black Metal, todo mundo tem portas abertas
conosco, sem radicalismo e sem discriminação. Quanto às dificuldades, elas são
muitas, ainda mais que nossa equipe é pequena e a nossa estrutura é limitada. Mas
somos dedicados e sempre reservamos um tempo do nosso dia para manter o site e
a página ativos. A relevância do Brasil METAL História se dá com resenhas,
matérias, coberturas de shows e entrevistas de bandas de diversos gêneros do
Rock/Metal e também com a criação de seções inéditas, como é o caso do
"Raio X do Disco", que criamos para que os autores das letras de um
disco específico possam falar sobre cada uma delas. Muita gente que se
interessa pelas letras de um disco, ficava restrita a interpretá-las, já que
não existia um espaço em que elas pudessem ser explicadas pelas bandas.
Pensamos sempre no que o público se interessaria em ler, ainda mais porque a
pratica da leitura é mísera no Brasil e você tem que tentar ganhar o interesse
das pessoas por essa prática. Esse é um dos motivos pelo qual não damos nota em
resenhas de álbuns ou DVDs, o que é outro diferencial nosso.
HMB: Vejo que você busca a qualidade máxima nos seus
afazeres, seja com o Brasil METAL História ou com a Roadie Crew, sendo assim, como
você enxerga, hoje, o cenário
brasileiro, como um todo, seja em bandas, publicações, sites, blogs e etc?
Leandro: Obrigado pelo comentário. Felizmente, vejo que o
número de espaços para divulgações de bandas e afins tem crescido nos últimos
tempos. Muita gente, aos trancos e barrancos, tem se dedicado a fazer algo
positivo pela música, seja ela qual for. Quanto as bandas, assim como
produtores, artistas gráficos e outros profissionais, como mencionei
anteriormente, muitos deles têm apresentado trabalhos de muita qualidade. Por
outro lado, vejo que tem tido muita repetição, muitas fórmulas parecidas,
principalmente entre algumas bandas de Thrash Metal e de Metalcore. Outra coisa
negativa é o fato de que num país como o nosso, que tem milhares de músicos, o
Hard Rock ainda não decolou. É rala a quantidade de bandas representantes desse
gênero. Algo que também enxergo como preocupante, é o fato de que algumas casas
de shows têm anunciando o fim de suas atividades, só em São Paulo perdemos o
Blackmore Rock Bar, o Hangar 110 e o Inferno Club. Em suma, muita coisa tem
melhorado no cenário nacional, mas outras tantas precisam melhorar. Uma delas é
a questão dos preços altamente abusivos de ingressos de shows internacionais,
com suas taxas de conveniências acopladas com valores tão abusivos quanto.
Porém, onde há demanda... O brasileiro reclama, mas shows de grande porte estão
sempre lotados.
HMB: Engraçado que agora que você falou eu percebi,
sempre achei o Hard Rock a vertente mais popular entre as pessoas, mas as
bandas brasileiras não decolam mesmo. Sobre o fato de muitas casas de shows
estarem fechando as suas portas, qual você acredita ser o motivo disso, já que
boa parcela diz que a culpa é da situação econômica do país e a outra de que é
da falta de público?
Leandro: Acredito que ambas as coisas são fatores
principais para essa situação. As pessoas não estão mais tendo dinheiro para
sair e se divertir. Muitas estão desempregadas por culpa desse momento
catastrófico que o país vive. O governo rouba e as patifarias são
"arrumadas" com o dinheiro do trabalhador, que hoje está perdendo
emprego, benefícios, aposentadoria... A maior parte da população brasileira não
vive, sobrevive! Mas em grande parte, a culpa do afastamento do público é das
próprias casas. Eu conheço muita gente que diz que não vai mais a casa
"x" ou "y", porque algumas delas, em dias de calor, por
exemplo, mantém o ar condicionado desligado para forçar a pessoa a comprar
bebida no bar interno. Pô, na maioria das vezes, além do ingresso, a consumação
é cara, tem estacionamento, combustível, transporte. Os donos de algumas casas
ignoram isso. Só que é ação e reação. Além de tudo, uma das que citei que
fechou, pegou a fama de tratar muito mal os clientes, tirando-lhes inclusive, a
liberdade de expressão para reclamar do que não estava achando legal na casa.
HMB: Eu acho que o brasileiro é incapaz de valorizar o
seu próprio cenário, como ele merece? Qual a sua visão sobre isso?
Leandro: Não sei se ele é incapaz, eu diria que muitos
são desinteressados, preguiçosos mesmo. É cultural esse pensamento pobre de
espírito que o brasileiro tem de, seja no que for, valorizar sempre (ou em
grande parte) o que vem de fora. Na minha infância, na época de escola, haviam
alunos que caçoavam daqueles que não tinham condições de ter um tênis
importado. Se você aparecesse com um bamba "cabeção" ou um kichute,
logo virava motivo de piada daqueles que iam de Nike, New Balance etc. Veja o
caso do Sepultura, como todos sabem, eles tiveram que ser reconhecidos no
exterior para depois serem respeitados por aqui. Tem gente que nem sai de casa
pra ver uma banda brasileira e fica reclamando que o motivo é que elas não têm
qualidade. Balela! Como você julga a qualidade de uma banda sem sair de casa
para saber? E em um celeiro tão repleto de bandas dos mais diferentes estilos,
ninguém me convencerá de que não há qualidade. Toda generalização, pra mim é
burra! Mas cá entre nós? Até mesmo algumas bandas são culpadas, a partir do
momento em que elas não fazem questão de
elogiar ou divulgar o trabalho de outras, e nem de ficar dentro da casa
prestigiando os shows daquelas que estão tocando no mesmo evento. Quer queira
ou não, isso cria uma rivalidade, uma dor de cotovelo, uma competição
desnecessária e até mesmo infantil.
HMB: Penso igual você nessa questão, como pode ter
competição num nicho que muitas vezes a oportunidade de se apresentar é
comprada, onde os estúdios tanto pra gravação ou ensaio são caros, o público é
escasso? Não seria o caso de mostrar maciçamente ao público que em nosso
quintal existe qualidade? Já que os grandes trabalhos estão sendo lançados, os
grandes shows são feitos, em resumo, na sua visão, qual seria o trabalho a ser
feito, visando a mudança dessa mentalidade provinciana do público?
Leandro: Sinceramente? Acho difícil mudar algo quando ele
é cultural. Mas a divulgação é sempre a alma do negócio. Num mundo virtual em
que tudo hoje em dia é lançado como um trator sem freio numa ladeira, seja uma
notícia, um disco, um videoclipe, um site, ou algo assim, você tem que martelar
a divulgação do seu trabalho, mas sem se tornar chato. Mais vale divulgar duas
novidades por semana, do que dez em um dia só. A quantidade deve ser constante,
porém, a qualidade deve acompanhar o processo. No caso das bandas, por mais que
seja difícil, principalmente em termos financeiros, lançar álbuns
constantemente, ao menos um single por ano, ou, de preferência, a cada seis
meses, é legal apresentar ao público para que você não caia no limbo do
esquecimento. E quando eu falo em qualidade, estou incluindo até a divulgação
extra-musical: ter uma foto decente da banda, em alta definição, com um visual
condizente com seu lado artístico, um release bem elaborado, sem encheção de
linguiça e bem escrito, uma página ou um site que contenham informações básicas
e indispensáveis e por aí vai.
HMB: Já me deparei com situações bem complicadas, de ter
uma matéria ótima em mãos de determinada banda, e não conseguir fotos,
logotipo, capas de CDs e outros materiais indispensáveis para que se faça uma
boa publicação, acho que neste quesito as assessorias de imprensa ajudam muito,
mas ainda é bem complicado ter em mãos alguns desses materiais. Como você lida
com este tipo de situação?
Leandro: Mas olha, tem casos em que nem as assessorias se
preocupam com isso, de ter nem que seja no site dela, o 'presskit' da banda
disponível. Acho que cada banda tem que analisar que ela é seu próprio cartão
de visitas. Eu nunca deixei de, por exemplo, resenhar uma banda por falta de
material, mas ter que ficar caçando foto, release, links e capa, além de ser
chato, gera um trabalho desnecessário. Quando não encontro, tenho que ficar
pedindo pras bandas ou pras assessorias, mas enquanto aguardo retorno das
mesmas, faço a fila andar e acabo resenhando na frente o material de quem
enviou depois, mas que pelo menos mandou com tudo completo. São essas pequenas
coisas que muitas vezes mostram a forma com que cada banda valoriza o próprio
trabalho.
HMB: E por falar em bandas, você tem sentido uma melhora
significativa na qualidade do material apresentado? Pergunto isso, porque eu
acredito que de tempos em tempos as bandas brasileiras galgam um ou mais
degraus, vide o último trabalho da Nervosa, Agony, que para mim atingiu um
patamar acima de todas as produções de bandas brasileiras.
Leandro: Costumo receber muito material de bandas
brasileiras e posso afirmar que em termos de produção muita gente tem
caprichado. Com as ferramentas que todo músico tem à disposição, que
possibilitam produzir boas gravações, até mesmo através de programas instalados
em seus próprios computadores, não há mais desculpa de que não atingiu um
resultado satisfatório por falta de grana, já que atualmente não
necessariamente você fica refém de um estúdio de gravação. Por outro lado, tem
aqueles que exageram na utilização dessas ferramentas e acabam deixando o som
perder a organicidade. Muitos produtores se aperfeiçoaram de tal forma, que há
anos não se faz necessário recorrer a um estrangeiro para comandar os botões.
Mas como nem tudo são flores, há quem ainda não dispõe do mesmo capricho.
Quando isso acontece, tanto eu, quanto vários outros redatores procuramos dar
toques em nossas resenhas. Muita gente absorve nossas opiniões numa boa e até
nos agradecem, outras (bem poucas, por sinal), infelizmente pensam que estamos
sendo chatos, ou que estamos pegando no pé etc...
HMB: Eu acho que a função do crítico é justamente apontar
qualidades e defeitos de determinada obra, visando justamente apontar o que
pode ser melhorado, claro, cada um dentro da sua realidade e do seu
conhecimento. Você acha que os músicos brasileiros se sentem ofendidos com uma
crítica negativa?
Leandro: Alguns sim, pois quem gosta de ser criticado
negativamente? Mas há aqueles que entendem o nosso trabalho e que até preferem
as críticas, já que uma visão de fora pode ser bem vinda para quem está dentro
e não consegue perceber algo que pode ser mudado para melhor. Claro, há de se
ter coerência para que sua crítica de fato tenha a ver com o que está sendo
analisado. Mas também não somos os donos da razão e com o passar do tempo
aprendemos a gostar de algumas coisas que em um primeiro momento não nos
cativou. O ser humano é suscetível às mudanças, havendo respeito e honestidade
de ambas as partes, músicos e imprensa convivem muito bem.
HMB: Um ponto que eu sempre aborto, será que com algum
tipo de incentivo público, o cenário da música pesada nacional poderia vir a
crescer e atingir um público maior com a realização de mais festivais e
lançamentos?
Leandro: Com toda certeza! Pego como exemplo o caso do
"Rock Na Praça", que levou muita gente a prestigiar as bandas que
tocaram em cada uma de suas edições. Isso deveria acontecer com mais
frequência, já que o dinheiro que o poder público cobra da população através de
taxas e impostos, nem sempre é revertido em benefício da mesma. Todo o tipo de
incentivo e de divulgação será sempre bem vindo, ainda mais para um gênero como
o Rock/Metal que nunca foi bem quisto pela grande mídia.
HMB: Resuma Leandro Nogueira Coppi em uma frase ou
palavra.
Leandro: Nossa! Essa é a pergunta mais difícil que eu já
respondi. Mas, bem, sou um cara sempre disposto a somar para a cena e também
sempre presente nos eventos, não apenas para cobrir shows, mas também para
manter vivo aquele espírito de sair de casa para curtir bandas e,
principalmente, para rever amigos e fazer novas amizades, ao invés de ficar
pela Internet disseminando ódio, como muitas pessoas fazem, principalmente
nesse período em que a política serviu de argumento para que muitas relações
fossem cortadas. O ser humano está precisando aprender a viver com mais paz e
harmonia e não com tanto rancor, respeitar a natureza e os animais, que são
seres indefesos perante a nossa crueldade. Enfim, sou do bem.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Leandro: Realmente foi muito bacana trocar essa ideia JP.
Obrigado pelo espaço e pela disposição em conhecer um pouco mais sobre os meus
pontos de vista. Continue sempre somando para a cena, pois isso é importante
para que o todo se fortaleça. A você leitor deixo meu agradecimento por ter
dedicado um tempo para ler essa entrevista e um recado: reflita sobre o que
comentei na pergunta anterior e respeite o seu semelhante, a natureza e os
animais. Somos só um monte de carcaças pensantes, que habita este planeta de
forma temporária, então vamos cuidar dele da forma que procuramos cuidar de
nossa própria casa. Paz, saúde e música boa à todos!
Ótima entrevista.Sou fã de Coppi!!!
ResponderExcluirQue bacana ler uma entrevista sua, Leandro!
ResponderExcluirMerecido!!