terça-feira, 2 de setembro de 2014

Carlos Digger, muitas vezes me calo pra não falar o que realmente penso


Carlos Digger e sua banda Makinária Rock! Uma verdadeira explosão de verdades, sentimentos e de amor pela música pesada nacional. Neste bate papo Digger rasgou o verbo e disse tudo que pensa do cenário, da sua experiência e da música em geral. Confiram!

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Carlos Digger: Em primeiro lugar, agradeço pelo espaço cedido JP, bom me chamo Carlos, mais conhecido na cena como DIGGER afinal Grave Digger é minha banda de cabeceira, o apelido acabou pegando pois tudo para mim era Grave Digger, Digger pra lá, Digger pra cá, enfim (risos) e se você falar Carlos quase ninguém conhece (risos).
Sou apaixonado por esse estilo chamado Rock n' Roll desde os meus 11 de idade, porém comecei a tocar bateria já tarde com 15 anos, antes da Makinária Rock tive uma banda cover do Saxon, que graças a deus não foi pra frente e em 2008, Jow, Renato e eu nos reunimos e montamos a Makinária Rock onde estou até hoje, desta formação inicial permaneceram apenas eu e o Renato que saiu por um tempo e retornou a uns dois anos, o Jow tomou outros rumos fora da música.
Sou pai de dois filhos lindos, Christofer e Catharina que já estão no caminho da música pesada, o que me orgulha muito.

HMB: E por você migrou da bateria para o vocal?
Digger: É uma história engraçada, bom na verdade nunca fui vocalista, sempre toquei bateria, porém na Makinária Rock, quando a montamos não tínhamos um vocal de oficio, então por necessidade comecei a tentar cantar e tocar, o que acabou dando certo e assim ficou por mais de cinco anos, porém sempre notamos que em relação a show, ficava um vazio, por mais que você se comunique com a galera, não é a mesma coisa, fica um espaço no palco, foi quando chamei um amigo Erick Wild da banda Guerrilha e também da banda Portas Negras pra assumir a voz, curtimos prá caramba o lance em quarteto, deu uma outra cara pra banda, ficou mais banda sabe? Porém o Erick tem uma porrada de projeto em que ele participa e estava ficando difícil de conciliar as agendas, então sentamos trocamos umas ideias e achamos melhor voltarmos a ser um trio, pois não temos outras bandas, para mim, o Renato e o Takeo o foco é só na Makinária Rock.
Porém sentimos a falta do frontman, ai decidi ir atrás de um vocal, mais cara, vou te contar como é difícil achar vocal (risos), e por incrível que pareça eu olhava nos meus contatos do facebook só via batera, então pensei, poh, os dois CD's que temos gravado é comigo no vocal, porque não arrumar um batera é eu pulo pra frente, foi ai que pintou essa alteração de postos.


HMB: E como vocês chegaram ao Marcelo "Korujão" Ladwig?
Digger: Já conhecia o trabalho dele com a King Bird, uma banda que eu particularmente acho fantástica e eu o tinha nos meus contatos do facebook, e em época de jogo do timão, pois ambos somos corintianos (risos), sempre trocávamos uma ideia, enfim, quando comecei a procurar batera eu cheguei até ele, não para chama-lo, mais sim para ver se ele tinha indicações, porém ele meio que deu uma brecha falando que se não tivesse muito compromissado toparia encarar, ai foi minha deixa (risos), nossa agenda é tranquila, não tocamos todo santo dia ou todo final de semana, dava para conciliar tranquilamente, e então marcamos um encontro para depois do carnaval, rolou o primeiro ensaio, foi animal e hoje estamos ai, ele é um cara super gente fina, nos damos super bem, tranquilão para caralho, nos entrosamos muito rápido, e estamos satisfeitos e creio que ele também, a Makinária Rock ganhou muito com a entrada do Marcelo, é um cara que tem uma puta experiência musical e isso só tem a agregar pra gente, é um irmão com certeza.


HMB: E você acha que essa ótima relação entre todos na banda, faz com que o trabalho seja mais dinâmico?
Digger: Com certeza, com a gente não tem frescura, eu geralmente componho todas as músicas e meio que já faço o arranjo na mente, como não sei tocar porra nenhuma de cordas eu demostro com efeitos sonoros na boca (risos), faço a guitarra na boca, ai os caras vão criando em cima, o Takeo é um gênio cara, ele pega muito rápido o que eu quero dizer, e ele faz exatamente aquilo que imaginei, o Takeo tirando a linha de guitarra é muito mais fácil para os outros, outro detalhe também é a nossa linha musical, é simples não tem segredo, este bom relacionamento é importante pelo simples fato de além de sermos uma banda, somos amigos, frequentamos as casas uns dos outros, trocamos ideias de outros assuntos e isso facilita muito o processo para um crescimento de uma banda, não é porque sou eu quem componho e imagino algo que os caras não podem ter outras ideias e colocar em prática, ficando melhor até do que a ideia inicial que eu tive.
Enfim, não somos que nem o Ramones que ninguém se olhava, apesar da semelhança musical em matéria de simplicidade ser um fato, nós nos damos bem, somos amigos antes de tudo e isso pra mim é muito importante.

HMB: Você acha que a simplicidade da música, torna o trabalho mais fácil de assimilar por pessoas que não tem o dom de tocar algum instrumento ou iniciação musical?
Digger: Sim, acho que sim, eu particularmente curto muito bandas simples, como já falei Ramones, AC/DC, acho que para ter um bom som não precisa colocar quinhentas mil notas, para uma pessoa que quer aprender um instrumento musical seja ele qual for, com uma música fácil e simples você consegue arranhar alguma coisa, mesmo não tendo a noção exata da coisa, qual é a primeira coisa que um batera arrisca fazer de cara já é o começo da Painkiller? Não, com certeza é a batida da We Will Rock You do Queen (risos) pois ela é mais fácil e a partir daí começa caso você tenha interesse, a progredir musicalmente falando.

HMB: Além da simplicidade, vocês cantam na língua pátria, porque optaram por cantar em português?
Digger: Primeiro, porque não falo porra nenhuma em inglês (risos), brincadeira, sou um grande fã de bandas que cantam em português, Harppia, Golpe de Estado, Patrulha do Espaço, Baranga, Carro Bomba, Casa Das Maquinas e por ai vai.
Acho legal isso, estamos no Brasil porra, temos que fazer algo que 100% dos fãs entendam, muita gente escuta uma música em inglês e está pouco se fodendo para o que a letra diz, quer saber de bater a cabeça e pronto, mais muitas vezes a letra pode estar mandando você "tomar caju" e você nem ai, e outro detalhe é a pronuncia, para você fazer uma letra em inglês é mais fácil, porém você tem que ter um inglês fluente, não da pra cantar robotizado, o brasileiro quando canta em inglês canta como se estivesse lendo sei lá é estranho, são poucos que conseguem cantar em inglês com naturalidade.
Tiro o chapéu para o Pompeu do Korzus e o Tom Cremon da King Bird, que são exemplos de como cantar em inglês.


HMB: E ainda tem a malandragem da língua, aquele diferencial da gíria, das colocações com sarcasmo que só um nativo entende. Como é a sua visão do cenário da musica pesada no Brasil?
Digger: Cara, o Brasil é muito forte em termos de Rock, só não vê quem não quer, tem para todos os gostos, quer uma coisa mais pesada, Korzus, Krisiun, Sepultura e várias outras, quer uma coisa mais Heavy Metal? Hibria, Carro Bomba, Dragonhearth entre outras, quer algo mais Rock n' Roll , vixi... Baranga, Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Motorocker e porque não dizer a Makinária Rock (risos).
O Brasil é rico JP, só falta a galera em geral abrir mais a mente, largar a mão de pagar 300, 400 pau pra ver banda gringa e achar caro dez conto pra ver banda nacional, ou então tem a cara de pau de pedir pra colocar o nome da lista. Porra! Paga 300 para ver gringo e pede pra colocar nome na lista em um show de dez conto! Tá tirando né? Isso me revolta cara.


HMB: Você acha que o brasileiro precisa do aval dos gringos para valorizar o que nasce dentro do seu próprio quintal?
Digger: Vou te dar um exemplo, o Korzus lançou o ultimo CD, Dicipline of Hate que na minha opinião é uma obra prima do Metal nacional, porém note que a gravadora faz questão de colocar na revista que o Schirmer vocalista do Destruction não tira mais do carro. Caralho o CD é foda, não precisa o Schirmer falar entende (deixando claro que eu adoro Destruction)? A importância que é dada para a gringaiada é algo absurdo, você concede uma entrevista para algum veículo do Brasil como o HMB, a galera não dá a importância devida, mais ai você fala a mesma coisa para uma Revista Hard Rock e meu Deus, você ganhou o Oscar, sei lá cara, tenho uma opinião meio fechada sobre isso, muitas vezes me calo pra não falar o que realmente penso e arrumar atrito por ai, pois muita gente pode interpretar mal.

HMB: Opa! Divirta-se, o HMB é feito para que as pessoas se expressem de forma verdadeira, sem filtro e sem edição, Se quiser colocar alguns cachorros em alguns calcanhares, o espaço é seu...
Digger: Bom, o que quero dizer é, porque uma revista renomada aqui do Brasil não faz mais capas com bandas nacionais? Tem? Tem, mais não a quantidade que deveria ter, tipo de doze edições no ano, uma ou duas são com bandas brasileiras na capa e mesmo assim sempre as mesmas, Sepultura e Angra (não quero dizer que não mereçam), mais caralho, olha a porrada de banda competente que tem por ai, não estou falando que quero a Makinária Rock na capa, mais acharia interessante ver um Velhas Virgens com quase 30 anos de vida de capa, um Made in Brazil que tem quase 50 anos de estrada e tantas outras, sei lá a importância da gringa muitas vezes se dá pela própria mídia, enfim essa é minha visão e opinião.

HMB: Mas não seria o que o público que ver? Desde sempre o brasileiro é condicionado a acreditar que tudo que vem de fora é melhor, de tecnologia a roupas íntimas. Então, não seria de começar a mudar esses pré-conceitos e investir na visualização do seu próprio produto?
Digger: Também, mais o efeito disso é a divulgação que se dá em cima de algo importado, as vezes é a mesma coisa, mesma qualidade, mais...  É do Brasil, "fabricado em Manaus? Vixi, não presta", uma coisa puxa a outra, enfim eu curto bandas gringas, claro adoro sem sombra de dúvida, mais o mesmo carinho e interesse que tenho por banda alemã, inglesa, italiana, tenho pelas brasileiras, pra mim não muda absolutamente nada.

HMB: Afinal o que interessa é a música, e sendo ela universal, não importa de onde vem. Você acha que o brasileiro tem uma forma diferente de fazer e tocar música pesada?
Digger: Não, vejo os músicos brasileiros com a mesma qualidade dos gringos, temos bons músicos, bons estúdios, bom engenheiros de sons, bom designers para elaboração de capas , sites, como disse, o Brasil não perde nada para ninguém em matéria de música, agora no futebol, xi! 7x1 eterno (risos).

HMB: Ainda insistindo no assunto, em nosso país, as bandas crescem assustadoramente quando resolvem mostrar suas raízes, chegando mesmo a ter reconhecimento mundial, no caso de Sepultura e Angra, e em menor escala Claustrofobia, Cangaço e mais recentemente, Hate Embrace. Qual a sua visão disso?
Digger: Isso é ótimo, pegue o exemplo da Claustrofobia que lançou um disco todo em português o Peste, é animal, e não deixou de ser bom só porque é em português, é sempre legal a banda mostrar suas origens, o Sepultura levantar a bandeira do Brasil nos shows seja ele onde for, isso é magnifico, pois é assim que as bandas da gringa fazem quando chegam no Brasil para um show.
A Makinária Rock não enxerga a possibilidade de tocar na gringa, justamente pelo fato de cantarmos em português, isso fecha o mercado, não que eu vejo algum problema, acho normal uma banda brazuca cantar em português na Europa, qual o problema? O Rammstein não vem aqui e canta em alemão? Então, é a mesma coisa, mais os caras podem e é animal, agora se a gente quiser ir pra gringa, não rola porque é em português e blá, blá blá... Enfim.


HMB: A Makinária Rock tem um demo, dois CD´s e participou de algumas copilações, como é a relação da banda com os veículos da mídia especializada?
Digger: Bem tranquilo JP, temos uma assessoria que nos da um suporte muito grande que é a Metal Media, estamos com eles a uns cinco anos e o trabalho deles é animal, em relação a revistas, sites especializados nunca tivemos problemas, pois a galera abre espaço pra gente, já participamos de diversos programas de rádio e TV web, concedemos entrevistas para revistas e blogs, ou seja a turma apoia a cena nacional, mais talvez a importância deveria ser um pouco maior, é aquilo que falei lá atrás, espaço tem, mais se você colocar em porcentagem , espaço para banda gringa 70%, banda nacional 30%, mais em particular com a Makinária Rock conseguimos figurar nesses 30%, muito deve-se ao trabalho dos mais que parceiros Rodrigo Balan e Débora Brandão da Metal Media.

HMB: E a resposta do público aos shows da banda?
Digger: Vai indo muito bem, já temos uma galera que nos acompanha nos shows, sempre marcam presença, com a internet, ou melhor, com o facebook pra ajudar na divulgação temos conseguido expandir o nome da Makinária Rock, vendemos muito merchan pelo facebook, tanto é que, em nossa fanpage e perfil, fizemos um álbum só para poder homenagear essa turma que compra CD, camiseta, temos uma porrada de fotos lá de todos os cantos do Brasil , isso é bem legal, recentemente pintou algo muito especial pra gente que foi uma fã que sempre nos acompanha nos shows, ela fez a tattoo do logo da banda no braço, cara , fiquei de boca aberta, isso é mais gratificante que qualquer pagamento em dinheiro, de verdade.

HMB: Em tempos de download ilegais e gratuitos pela rede, você acha que as bandas deveriam investir mais pesado no seu mechan, procurando agregar mais qualidade e preços justos dentro da nossa realidade econômica?
Digger: Sim, com certeza. Eu sou contra qualquer tipo de download, eu posso até escutar na internet e tudo mais, porém quero ter o material original, tenho mais de oitocentos CD's todos originais, o grande problema é o custo que você tem quando grava o material, automaticamente se o seu custo foi alto, a venda deste produto terá que ser alta, se for baixo o custo de produção, claro que vende mais barato, esse tipo de coisa é bem complicado, mais eu prefiro ganhar pouco, e vender bastante do que ganhar muito e saírem poucas peças do estoque, mais ai é cada um, cada um.

HMB: Um CD na mão das bandas em shows e até mesmo pelo site da mesma, não sai por mais do que 15 ou 20 Reais, um preço relativamente baixo em relação a tudo que é comercializado por ai, você acredita que mesmo com esse custo mais baixo, é possível diminuir esse preço para o consumidor final?
Digger: Como eu já disse, cada um cada um, eu tenho noção do que a Makinária Rock gastou para gravar seus discos, então sei até quanto posso vender, hoje em dia existem vários tipos de embalagens, formatos, tudo isso interfere no custo, por exemplo, o nosso ultimo CD o Cidade Rock não fizemos em caixa acrílica e tudo mais, foi simplesmente no envelope, com isso consigo repassar a um preço muito baixo, agora se eu tivesse gastado mais, caixa, digipack, encarte com cinquenta folhas, já não conseguiria vender com o preço que vendo hoje, vai muito do que você gastou para produzir, e você começa a contar desde a sua gravação, depois mixagem, masterização, confecção de capa, arte. Quanto custou X, OK, divide pela quantidade de peça e manda bala, é mais ou menos assim.


HMB: Como é a sua relação com produtores e casas de shows. E com que frequência a banda se apresenta?
Digger: Não tenho muitos problemas, de vez em quando aparece algum pilantra querendo que a banda venda ingressos para tocar e coisas parecidas, uma coisa que nunca fiz e não apoio ninguém a fazer é esse lance de vender ingresso pra tocar, muitas vezes em cada pulgueiro que pelo amor de deus, sem uma aparelhagem descente, nem água os caras dão as bandas e ainda exigem como se a banda estivesse pisando no palco do Wacken Open Air, mais eu particularmente nunca tive problemas mais graves, ate porque sempre cortei do inicio, deixo bem claro como a Makinária Rock trabalha, quer OK, não quer foda-se.
Nossa agenda é tranquila, um ou dois shows no mês, até mesmo por isso o Marcelo consegue administrar com as demais bandas que ele toca, não dá para tocar diretão, temos nossas atividades, trabalho, faculdade, família, é bem complicado, mais na medida do possível procuramos sempre estar mandando bala ao vivo.

HMB: Apoiado, agora para finalizar, planos para o futuro?
Digger: Continuar na estrada fazendo o bom e velho Rock N' Roll, acredito que até o final do ano já entraremos em estúdio para gravar material novo, temos algumas canções novas, vamos começar a trabalha-las e claro nosso DVD que não foi esquecido, apenas tivemos que adiar devido as trocas na formação.

HMB: Resuma Carlos Digger em uma frase ou palavra.
Digger: Batalhador

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixa aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Digger: Obrigado a você JP e a todos que acompanham o HMB, muito legal este espaço que foge um pouco das entrevistas rotineiras que é muito blá,blá,blá e pouco conteúdo, vocês estão de parabéns.

E a todos que apoiam a cena nacional espero que continuem firmes, pois nós aqui acreditamos que coisas boas estão por vir, a nossa cena é rica só precisa ter mais união e menos rockstars "estrelinhas". Grande abraço a todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário