quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Douglas Iglesias, sem papas na língua!


Douglas Iglesias, guitarrista da banda D.I.E. e produtor na empresa Botucatu MetalStock, além disso, um cara antenado no cenário de sua região e mais, antenado com tudo a sua volta. De música a política, nesse bate papo Douglas mostrou que está constantemente com as garras afiadas. Confira.

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Douglas Iglesias: Aeeee! Grande JP! Eu que agradeço pelo interesse em fazer a entrevista irmão! O privilégio é todo meu!
Bom, vamos lá! Douglas Bressiani Iglesias, bacharel em turismo e pós-graduado em administração e organização de eventos pelo Senac de SP. Guitarrista e produtor do DIE nos últimos quatro anos, organizador e produtor de eventos há quinze anos, mesmo tempo a frente da produção do MetalStock com base em Botucatu/SP.

HMB: Porque você resolver ser um produtor de eventos?
Douglas: Cara, realmente é uma série de fatores, acho que se for levar ao pé da letra, a culpa é do play que fez a minha cabeça. Eu já curtia um nirvaninha e um The Beatles por causa de influência de primos e tals. Mas um primo me presenteou com uma fitinha k7 do Nativity in Black, tributo ao Black Sabbath, desde então minha vida mudou totalmente.
A produção dos eventos veio após já estar inserido na cena, eu já fazia excursões para alguns shows e quando observamos um crescente numero de bandas pela região, ajudei um amigo a realizar o primeiro fest em uma escola de Botucatu, sem apoio, nem nada, apenas pelo amor a cena e a vontade de vê-la crescer!!

HMB: E isso se mantem até hoje? Fale sobre o MetalStock.
Douglas: E como! Quando comecei a organizar os eventos, não tínhamos as facilidades dos sites de relacionamento, o que possibilitou a globalização total dessas bandas e suas informações, pode ter certeza que se no final dos anos 90 tínhamos um numero x de bandas, hoje esse numero é x vezes cinco, ou pelo menos o vezes cinco é o conhecimento que nos chega a respeito dos trabalhos das bandas.
Eu fico puto quando vejo esse papo que a cena tá vindo agora, que estava morto, que não tinha nada e todo esse papinho de Headbanger de facebook, como está bem conhecido hoje em dia, nego não vê o tamanho da cena porque está ocupado demais postando bosta em facebook, e que não tem a capacidade de sair de casa para ver a banda do brother tocar do lado da casa dele, então chega a ser uma faca de dois gumes, digo a inclusão/exclusão virtual, pois acomodou um pouco essa galera, pelo menos os perfis de acomodados cresceram (risos), digo pois, o cara pensa que de tão inserido digitalmente, que por ter a capacidade de abrir o Google, Youtube, Soundcloud, Myspace, até mesmo o ultrapassado Orkut, baixar seus discos favoritos via Torrent e curtir a banda que gosta dentro de casa que acaba virando um peso morto para todo o movimento. Esse cara, não apoia, não compra merchan de banda independente e quando cola no rolê, fica do lado de fora com uma garrafa de pinga com coca que pagou cinco conto, falando mal do rolê, isso é traição, pior que a de queimar a bandeira do próprio país.
O MetalStock começou simplesmente como mais um evento entre muitos outros visando realmente dar uma força para as bandas, sem jabá, sem essa sujeira de engordar dono de casa noturna com o esquema de vendas de ingressos, um trabalho mostrando a pureza e a diversidade das bandas do meio "Underground", envolver a galera que curte som e que tem essa paixão quase cega pela música. Sempre, desde o começo com enfoque em bandas autorais, já que o principal foco do evento é abrir espaço para essas bandas que não tem lugar para se apresentar. Nesse meio tempo, no começo da carreira com eventos e com o gás no topo para realizar as produções, já fui enrolado por muito dono de casa noturna, já trabalhei muito em prol desse perfil de vagabundo, já fui até roubado nessas. Hoje agradeço pelo aprendizado, foi uma forma de aprender a lidar com as pessoas e conhecer o indivíduo apenas olhando nos olhos, sem nem sequer ter iniciado uma conversa, agradeço por ser um ótimo avalista de perfis hoje em dia e já descartei muito "parceiro" vagabundo por ter esse conhecimento que só conseguimos aprender na prática.
Mas o MetalStock hoje em dia, deixou de ser meramente um evento reunindo bandas de Meta, não, hoje ele é um agente difusor cultural, divulga o Rock e o Metal como nicho cultural, tirando essa ideia de underground, acho que está tão desgastada essa ideia, quanto ouvir Legião Urbana, do tipo no refrão de Que País é Esse neguinho ainda grita "é a porra do Brasil!", chega, temos que nos renovar e sair da caverna do Underground e dizer: "Hey, estou aqui e meu movimento também é uma cultura, vocês gostando ou não", e defende ferrenhamente, o apoio do poder publico para a realização de eventos com entrada franca, afim de estimular essa mesma cultura deixada de lado, já que nós mesmos nos orgulhamos de pertencer ao movimento Underground, justamente e principalmente por ser um movimento totalmente contra modismos impostos pelas grandes mídias, e com certeza , hoje, podemos afirmar que isso é sim uma cultura, independente de rótulos.
Falando mais um pouco sobre o MetalStock, posso afirmar que a verdadeira escola veio em 2005, ano que estudei no SENAC em São Paulo e trabalhei junto com o Edu Lane pela Tumba, realmente foi um divisor de águas na minha carreira de produtor, pois ali a brincadeira ficou séria e logo que cheguei já trabalhei com Vader, Wasp e Andreas Kisser. Querendo ou não sua visão de fã é uma, de produtor é outra, não tem como, e fiz grandes amigos e ganhei um grande respeito por esse trabalho, fiquei muito triste quando o Edu encerrou as atividades da Tumba, pois é referência mundial com toda certeza, desde a parte de produção quanto a de hospitalidade. E desde 2009 sendo assessor da curadoria dos Mai e Brooklin Fest em São Paulo (maio e outubro respectivamente) que por serem eventos multiculturais reais, abriu vários caminhos em relação ao meio cultural da coisa de um modo geral.
E finalizando, hoje o evento MetalStock tem uma conotação muito maior e com a veia cultural muito forte, desde 2012 participando com o "Palco Rock" da Virada Cultural em Botucatu e desde o ano passado através do apoio do amigo e vereador Izaias Colino, através de votação unânime na câmara, conseguimos inserir a comemoração do Dia Mundial do Rock no calendário do Município.


HMB: Então além de ser um produtor de eventos, você também interage no poder público, buscando melhoras o cenário como um todo? Quais são as respostas do poder público no que se refere à música pesada?
Douglas: Cara, sou um cidadão apartidário, mas jamais apolítico, eu vejo as coisas acontecendo, muitas vezes, ainda caio nessas notícias falsas, mas até então está cheio de corneteiro para dar uma forcinha nesses casos (risos), desde que comecei a trabalhar com eventos, sempre fui atrás do poder publico, pois sempre pensei "caralho, somos uma das nações que mais paga imposto, isso tem que voltar de algum jeito" desde então tenho me interessado bastante sobre Lei Rouanet e os vários editais culturais que são publicados.
No começo, quando procurava o poder publico, fora a enrolação cheguei até a escutar de pseudo-politico que isso não ia vingar, que eu deveria arrumar um emprego de verdade, na época a mulher ficou em choque, porque respondi simples assim "acho que todo mundo precisa só de uma oportunidade, você mesma pode ver, está tendo uma oportunidade e está jogando no lixo" e sai dando risada, não precisa nem dizer o que aconteceu né (risos)? A mesma pessoa me parou doze anos depois na rua querendo meu apoio político, uma ajuda entre meus amigos para reeleje-la! (risos)! Eu ainda dou risada, levantei meu polegar no melhor estilo joinha e disse, "conte comigo!" Eu também sei ser um grandississímo... (risos).
Falando em grandissíssimo. Outro desses foi o Turco Loco, eu era fã do cara viu, vi o discurso dele durante o Monsters of Rock de 98 e sou obrigado a dizer que me contagiou. Eu tinha 17 anos, foi a primeira eleição em que votei e votei no cara com gosto.
Em 2006, consegui chegar nele através de alguns contatos e assessores, pensa no perfil do politico bicho, olha no teu olho, aperta sua mão, fala que vai fazer coisa para caralho, que o projeto é ousado e que vai apoiar com muito gosto. Depois desaparece, não te da satisfação e nem nada, e você ali dando andamento no negocio. Para chegar num ponto em ter que adiar o evento porque o cara é pardal que come pedra e não sabe o cú que tem, e chegar a quinze dias do evento, você ligando para o assessor,  três vezes por dia durante dois meses,  par o cara virar para você nos finalmentes e te falar que o candidato sumiu e que nem eles estavam conseguindo falar com a pecinha. Tenho um brother produtor, que teve o mesmo problema, com o mesmo cara, fomos grandes responsáveis pela baixa votação do candidato no ano de 2006, Headbanger ninguém passa para trás de graça, não!
Tive problemas recentemente com um clube aqui da cidade, problemas de política e preconceito, onde estava procurando locação para esse evento do Ratos de Porão, mandei oficio por escrito dia 26 de fevereiro solicitando a reserva do salão social, me enrolaram durante seis meses para me dar uma negativa verbal, a principio falando que estavam com problemas de barulho, que se devem pela realização de pagodes e funk de quinta-feira, respondi para o cara que se eu morasse nas imediações do clube, ia ser o primeiro a ligar denunciando, devido a grande algazarra do lado de fora desses bailes, onde a rua em área residencial, fica abarrotada de menores de idade bebendo, usando drogas e tocando aquele puteiro. Advinha a cara que o nego já estava me olhando (risos)?
Depois disso falou que o grande problema realmente era de menores de idade dentro do evento, pois em Botucatu está muito sério isso, evento com venda de bebidas alcoólicas, o menor não pode entrar nem acompanhado dos pais, o que é uma tremenda papagaiada, pois desde as casas noturnas até aqueles jantares rotarianos (que para mim, não tem diferença alguma entre um e outro pelo olho da Lei) sempre está forrado de menores de idade, muitas vezes chapando com os próprios pais.
Ai começou uma série de desculpas, cara chegou a dizer que havia chegado o ofício solicitando o espaço para o departamento jurídico do clube há apenas quarenta dias.
Liguei para o cara durante seis meses, três vezes por semana, uma pessoa que está atrás de você desse jeito não quer atrasar teu lado, quer agregar no seu corre. O cara me falando que ia rolar o espaço e que estava tudo certo, só precisava arredondar alguns documentos e boa. Mesmo assim, consegui desenrolar outro lugar e em agosto tivemos Ratos de Porão em Botucatu!
Por outro lado, hoje tenho uma abertura muito bacana junto à Secretaria de Cultura aqui da cidade, o secretario é bastante solicito as minhas propostas e me deixa a par do orçamento geral que eles têm e no que podem apoiar. Eles sabem que é interessante manter o giro desses eventos, moramos em uma cidade de 130 mil habitantes que tem mais de 40 bandas de Rock e de Metal, não é pouca coisa! Logo estamos sendo o espelho e a referência para essa cultura que estamos exaltando!
Mas valorizo muito a ajuda política dos meus amigos de Mai Fest, Luiz Delfino Cardia, que é o curador cultural do evento Mai e Brooklin Fest, grande figura que conheci durante o meu ano acadêmico em SP, e o presidente da Associação dos moradores e empreendedores do Brooklin Ademar Tavora. Sem esquecer claro do meu grande amigo e vereador aqui em Botucatu Izaias Colino.
Fizeram toda a diferença no desenvolvimento do meu trabalho dentro da politica! O que ainda continua firme e forte!
Politica é assim mesmo! Lidar com isso é assim!!


HMB: Na questão do público, como é a presença em seus eventos?
Douglas: Sem sombras de dúvidas os eventos públicos tem uma aceitação muito acima dos com portaria anexada.
Já teve evento que fiz com porta em cinto conto que teve trinta pagantes, do mesmo jeito que fiz evento público, só com banda autoral, isso na virada de 2012, teve publico de três mil pessoas.
Fiz um evento com o Nervochaos e com o War Head da Croacia em Bauru, evento o qual participamos com o DIE também, tivemos 180 pagantes, estimativa assombrosa em Bauru, mesmo sendo uma cidade com 400 mil habitantes, um show internacional com um monte de representantes brazucas de peso por cinco conto, e ainda ser uma estimativa assombrosa, digo de sucesso de publico, chega a ser uma vergonha, eu sei... Mas isso se deve a banger de facebook, nego que só é macho atrás do PC e que na hora de comparecer no role fica boquejando e falando bosta.
Mas creio que essa cultura está mudando, estou vendo nesses eventos dos últimos tempos, temos uma parceria muito firmeza com o pessoal da região, A Horde of Demons em Marília, o Jack Pub e o Exilio Art Pub em Bauru, o Caldeira em São Carlos, o Rapidão Rock Fest e o Ferro Velho Pub em Avaré e agora, algumas prefeituras que estão levando o MetalStock para suas cidades, acreditando na força e na cultura desse movimento!
Hoje, estou vendo alguns eventos Underground com publico de quase 300 pessoas. Isso é demais e me anima muito como produtor, em saber que essa aceitação cultural é genuína realmente!

HMB: Qual seria a fórmula para incentivar o público a ir mais aos shows de bandas autorais?
Douglas: Agora sim vamos voltar a falar de politicas dignas para essas bandas.
Eu acredito que o sistema brasileiro é uma merda, claro, eu a gaviões e a torcida do Flamengo... Mas, cornetar tem sido fácil demais, principalmente pelas ferramentas dos sites de relacionamento, bem aquilo no ponto do "gigante acordou, deu uma cagada e voltou a dormir" enquanto sistemas como a Ordem dos Músicos e o próprio ECAD deitam e rolam!
A Ordem dos Músicos já se provou ser o pior órgão voltado a uma classe que poderia existir, o ECAD, só serve para recolher propina e encher bolso de vagabundo. Quando vejo monções de honra, falando em direitos de composição e na cadeira de frente Roberto Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Claudia Leite. Tirando a oportunidade que pessoas têm em mostrar o trabalho, pessoas/bandas/artistas independentes que não tem grana para bancar o próprio trampo, sei que eu fico enojado. Já não basta os caches astronômicos ainda precisa de ajuda governamental para financiar os trabalhos, já que as gravadoras estão praticamente falidas. Se eles estão sofrendo, imagina a gente!
ECAD mesmo, porque a Europa e EUA são grandes exportadores de bandas? Porque tem apoio, o ECAD europeu cai matando em cima de casa que apresenta banda cover, nos EUA a mesma coisa. Isso é modinha hoje porque o ECAD é um órgão incompetente que só pensa no beneficio das pessoas que estão por trás dele, enganação e trairagem, com os verdadeiros artistas e que ralam para mostrar seus trabalhos.
Eu te garanto que se tivéssemos um órgão que trabalhasse sério em relação a isso, além de estimular o artista a compor e mostrar sua verdadeira cara, essa modinha de banda cover ia para o brejo em dois palitos.
Fora os editais governamentais de balcão, você pode pegar o Proac, os editais que sai pelo Minc também, é tudo verba de balcão, o povo que consegue isso tem contato lá dentro que facilita bastante!
Fora as pseudo-organizações que formam comitês, curadoria e o caralho a quatro para chegar na hora nem dar atenção aos trabalhos enviados e colocar os camaradas. Então, é muito falho e teria que haber mudança de comportamento, estimulada através de projetos culturais para mudar esse cenário.


HMB: Eu mesmo já senti na pele isso, mudaram as regras do jogo para beneficiar quem já estava dentro do projeto de incentivo municipal, e quem tinha ralado para mostrar um trabalho digno e democrático, ficou a ver navios em terra seca. Você acha que se existissem políticas claras de incentivo, a democratização cultural no Brasil seria mais valorizada?
Douglas: Orra, com certeza! As políticas de incentivo cultural, tanto através de editais quanto o fiscal, criou um circulo vicioso, uma verdadeira panela de quem está fora não entra e quem está dentro não larga o osso. E tudo isso se deve ao cenário politico brasileiro. Nego prometendo educação, saúde e segurança sendo que são projetos que já deveriam ter sido implementados há muitos anos, mas é o carro chefe das propagandas eleitorais, tanto que hoje em dia no país temos dois partidos de situação, o PT e o PSDB, muda os personagens apenas, porque a politica corrupta continua a mesma, são situação e oposição somente diante da mídia.
E os que tentam fazer alguma coisa, são abafados pelos "colegas partidários". O que nos deixa (população) na merda e carentes sempre! Por isso que esse lance de mudança é importante, temos que ter um candidato brigando pela Cultura, principalmente pela nossa. E digo que não pode ser um Zé Ruela que fique mostrando a bunda em cima do muro, tem que ser um cara de fibra que não tenha medo de dar a cara à tapa, por isso que falo de renovação e se for votar, vote em um candidato que não está se reelegendo para nenhum cargo publico.
Fiquei muito triste em ver o Paulo Skaff no PMDB, temos um dos melhores políticos do País, um cara em pról da Cultura, em um dos piores partidos. Mas, muito melhor ele no governo do que qualquer tucano ou petista!!

HMB: Qual a sua visão do cenário da música pesada no Brasil?
Douglas: Acho que somos filhos de uma das pátrias mais ricas do mundo, e digo de modo geral, recursos, minérios, até de dinheiro. Com a Cultura não poderia ser diferente, nossas origens como povo, incluída a miscigenação cultural, temos com certeza uma das maiores cenas do mundo, pena que muito mal aproveitada.
Para você ter uma ideia, uns tempos atrás, entrei em contato com um produtor do RS para oferecer shows do DIE, e como resposta recebi: "Cara, infelizmente eu não trabalho com banda pequena, não tenho tempo (risos)".
É esse tipo de visão que atrasa nosso cenário e infelizmente é um ponto de vista majoritário em relação a donos de estabelecimentos e pseudo produtores.


HMB: Mas não seria esse um caso isolado, ou você acredita que uma boa parcela dos produtores tem esse tipo de pensamento?
Douglas: (risos) Acho que o cara que mantém essa linha de pensamento é um completo idiota! Gostaria de acreditar que é um caso isolado, mas trouxa tem em todo lugar, por outro lado fico feliz que o próprio ramo acaba filtrando esse tipo de gente. Melhor estilo justiça poética, ou karma, eu acredito nisso!
Hoje em dia eu vejo muita gente esforçada role a fora, muita gente buscando se profissionalizar para oferecer um serviço melhor, senão não haveria uma cena também, fora as bandas que estamos exportando hoje em dia!
Mas observo várias pessoas envolvidas com o ramo fazendo cursos de turismo, eventos, hotelaria e hospitalidade, realmente procurando "pavimentar o Underground", essa galera é da correria e são esses que vale a pena trabalhar, isso por si só, já mostra que  o mercado está cada vez mais filtrado no decorrer do tempo, claro, é muito fácil para o produtor filinho de papai que tem recurso para fazer e bancar os custos de "shows grandes", mas o cara é um babaca só por ver essa cena apenas pelo lado financeiro, e não é só isso! Tá certo que uma das melhores sensações do mundo é você conseguir pagar as suas contas com a grana de um evento, ou mesmo com o cachê da banda, que na maioria quando recebem o cache estão investindo na confecção do merchan, maior ainda quando é Underground e o espaço está cada vez mais aberto para o produtor que enxerga a real oportunidade, conseguindo bancar os custos e fazer um evento massa que agrade o publico E as bandas, claro, aberto as bandas que enxergam que nem tudo são flores e que muitas vezes tem que abraçar os eventos e fazer suas parcerias, de acordo com certas situações é correria e canseira apenas, mas ninguém faz um evento sozinho e jamais vai se resumir as necessidades de um único individuo, podendo até mesmo ser o papa ou o próprio Medina.
Pegando outro caso isolado sem deixar a peteca cair também, é o mencionado acima. O que custa abrilhantar o seu evento com um palco com bandas underground, preguiça de fazer uma seleção honesta e livre de QI´s?
E hoje ainda, aproveitando a deixa, já agradeço a todos meus parceiros produtores e músicos que tão dando o sangue pelo rolê, principalmente, Cadu e Dhany - Marilia - Horde of Demons, Rosilene - Encontro Rock - Marilia, Umberto Buldrini - Rapidão Rock Fest - SIOD - Avaré, meus irmãos do DIE, Diego Cesário e produtora Rabo de Rato, Renato Fernandes e Oficina de Criaturas, Noise Core Fest Bauru, Edu Lane, Metal Media, Stanley Billatto Bullyng - Tremor - Caldeira - São Carlos, aos vagabundos do Hell Metal Fest de Sampa (risos, brothers)! Júlio Borbo e Elias Franco - Equinócio Rio Claro, Jack Pub Bauru, Exilio Art Pub Bauru, São Manuel Tênis Clube, Erica Imazawa (RDP), Izaias Colino, Ademar Tavora, Luis Delfino Cardia - curador do Mai e Brooklin Fest, Centro Max Feffer - Pardinho/SP, Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Botucatu.
Aos meus parceiros aqui de Botuca, todas as essas bandas que estão envolvidas comigo há muito tempo!
DIE, Siod, Ratazana, Nastcut, Elephant King, Al13, Effect Le Fills, Doser, Xingu, Profecy, Sociopata, Trator Br, Artigo Dz9, Hecatomic, Devils Punch, Evil Dead... Mano a lista é longa demais... Mas finalizando, aos caras, que botaram fé no meu trabalho, Worst, Periferia S.A., Nervochaos, Krisiun e agora o RDP.
A lista é longa, muita gente boa a ser enaltecida com toda certeza! E peço desculpas desde já porque tem muita gente de fora!

HMB: Mudando de assunto, o D.I.E., prática um crossover cheio de groove, você acha que com essa sonoridade a banda se beneficia por poder caminhar por eventos de Heavy Metal e de Hardcore?
Douglas: Cara, eu como produtor acredito muito na diversidade, creio que o caminho é deixar de rotular as coisas e abrir um pouco a cabeça, tem muita coisa foda dentro do Metal nacional, qualquer que seja o estilo, queremos estar perto de todos porque somos desse role, vivemos isso e é isso que a banda representa, principalmente no quesito das máscaras, é que realmente pode ser qualquer um no palco, basta ter vontade e perseverança para batalhar, todo mundo tem o lugar ao sol, mas apenas os perseverantes chegam a algum lugar, e acho que é isso que nos falta como povo e como brasileiros e a banda engloba esses temas muito bem.


HMB: E o porque das máscaras?
Douglas: Exatamente isso, o nulo é uma coisa bem representada pelas máscaras, a ideia de que pode ser qualquer um, já que é de onde viemos e assim que acaba o show é para onde voltamos, a banda é uma realidade da cena que temos em nossas vidas particular e social todos os dias e amamos isso.
No caso do modo geral nos remete ao Clube da Luta, mestre Tyler Durden (risos): "Somos aqueles que lavam suas roupas, que servem suas refeições, não sacaneia com a gente que sabemos onde você está."
Somos todos do corre, trabalhamos a semana inteira, temos familia, compromissos que todo mundo tem, comemos, cagamos, mijamos e sangramos como qualquer outro, ninguém aqui veio de berço de ouro, nossa diferença é que somos iguais a qualquer um!

HMB: E isso também se reflete nas letras do D.I.E.? E porque D.I.E.?
Douglas: Reflete totalmente! Principalmente na nossa musica título, DIE, em primeira mão para HMB é o nosso próximo vídeo-clip que vem no segundo semestre de 2014, estamos na produção.
Reflete totalmente inclusive nas iniciais, pois quando escolhi esse nome, já pensava no que ia vir, queria mesmo ter uma coisa que se identificasse com a cena de modo geral, e claro como todo bom crítico, sugestivamente mandar chupim e paga pau tomar no cu! Então logo veio o primeiro significado "Death Isnt Enought" traduzindo, morte não é suficiente, porque?
Na questão religiosa principalmente, morte é o suficiente? Quase que é uma unanimidade que não, para ter quarenta virgens na eternidade (o que já é um presságio de lugar melhor), para ir para o céu, seja para servir o capeta no inferno ou para rumar para algum tipo de evolução, essa última unanimidade entre nós da banda, buscando nossa própria evolução e não nos prendemos em conceitos carnais, materiais e terrenos, tem muito mais, além disso.
Seguiu para Damned by Individual Exile, Condenação por exilio individual! Uma praga para a inclusão/exclusão virtual, onde o individuo parte para alienação quase completa e ao mesmo tempo interagindo completamente para o mundo, isso preocupa onde a cabeça do ser humano pode levar em um futuro próximo!
Pode ser interpretada para todo mundo que já perdeu amigos para vícios como crack, cocaína e álcool. Força as pessoas que lidam com isso!
E a final, e acho que é a minha preferida "Doomed by Intelectual Eficiency" - "Condenado por eficiência intelectual" me responda, benção ou maldição? Eu prefiro saber, do que me ausentar!! Gente que vive na matrix, ou no mundinho do plim plim são bons exemplos a ser aplicados nessa afirmação, religiosas também, tenho muita pena da galera que cai nesse conto do vigário.

HMB: A banda é uma crítica ao modo de vida omisso e pseudo otimista do brasileiro?
Douglas: Com certeza, entre nós mesmos acreditamos que o modo de vida omisso e otimista é característico do ser humano de um modo geral, é uma cultura globalizada onde não podemos nos enganar que o problema seja apenas nosso, dos brasileiros, alguns povos mostram maior tolerância em viver com isso do que outros, se assim fosse não queimariam igrejas na Noruega, E eles não são o principal país em índice de desenvolvimento humano do mundo? Ao lado da Suécia? Também são líderes no ranking de suicídio! Vai me dizer que não é um problema? Mas não deixa de ser um modo de vida omisso. O mundo inteiro está a beira do caos, todos os povos tem seus problemas e seus conceitos hipócritas a respeito do otimismo do qual estamos falando, no caso do brasileiro foge do omisso, o termo é acomodado e isso sim é motivo p deixar uma criatura pensante transbordando de raiva.
Isso nos remete a um dos significados da banda "Doomed by Intelectual Eficiency"
Mas a verdade que realmente mais nos impressiona e não temos como fugir do fato é que a humanidade sempre procura um líder ou um ser imaginário para ser guiado, isso torna a raça de um modo geral alvo fácil para tiranos e déspotas, e quando você discorda desse ponto de vista, e só não é atirado a fogueira, porque a inquisição é coisa do passado, mas que muita gente tem vontade de viver esses tempos. Tem, hein! Estaríamos na celinha da fogueira em um momento desses!

HMB: Eu preferia a fogueira, com certeza. No meu modo de ver, as pessoas hoje preferem viver de blá, blá, blá! Existe muita falação e pouca ação, o que você pensa do atual momento em nosso país?
Douglas: Cara, ao invés de ir para a fogueira eu ia preferir tacar fogo em tudo no melhor estilo Nero (risos)! Estamos vivendo uma época delicada demais, mas ao mesmo tempo parece que o gigante acordou, mijou e voltou a dormir, esse movimento foi uma piada, abafado pela copa do mundo. Vivemos uma burocracia de mentira onde quem tenta realizar bate de cara contra o muro, a mesma burocracia implementada para regularizar, se tornou um caminho infinito para o próprio sistema se reciclar e não ser derrubado.
Agora eu pergunto, onde estão às manifestações, estão esperando pelas olimpíadas?
Remetendo a questão dos eventos, sabemos que a copa custou R$ 40 bilhões aos cofres e a FIFA levou embora R$ 10 bilhões, limpos e livres de impostos. Tiveram isenções fiscais e vários benefícios. Tudo isso para ter os olhos do mundo voltados para cá, quem não quer organizar um evento desse naipe nesses moldes, caralho! E de cagar!
Acredito que seja a hora de algo mais agressivo realmente, os "heróis" da ditadura chegaram ao poder e foram corrompidos, eram a esperança de uma renovação, esperança de um povo sofrido e querendo uma situação melhor, poderiam ser uma mudança no sistema, ai chega lá para posar de foto do lado do Sarney e Collor, puta papagaiada! Não adianta votar em candidato global, aqueles que se digladiam nos debates, mas sabemos que leva quem paga mais para a família Marinho! Aliás, creio que no Brasil se votar adiantasse alguma coisa seria proibido mesmo, o nosso sistema eleitoral é uma piada, começa por ai, já foi provado que é ineficaz e facilmente corruptível!
Tempos atrás, eu estava pesquisando a respeito de um metal chamado nióbio, é um metal que serve para formar chapas de liga leve de alta resistência ao calor, o Brasil detém 98% da reserva mundial. Assistam o vídeo no youtube, a partir dai vão começar a se esclarecer várias coisas que acontecem por baixo do pano, inclusive, o "heroi" Zé Dirceu, está sendo investigado por vender particularmente 50% das minas de nióbio para empresas chinesas e sul coreanas extraírem o metal bruto e nos vender muito mais caro o produto pronto. O mesmo acontece na mina em Minas Gerais, uma ONG inglesa faz a extração sem pagar impostos e de forma desordenada, inclusive a tabela do preço mundial do nióbio é coordenada pela própria Inglaterra, um país que nem possui reservas do mesmo em seu território.
Então é uma questão atrás da outra que faz os vinte centavos parecer brincadeira de criança, nosso sistema está podre até o caroço e só vai mudar quando não restar nenhuma célula cancerígena!
Como você falou, vivemos de blá,blá,blá, já sentimos o cheiro dessa conversa de longe, e acho que muita gente cansou disso e partem para atos mais agressivos, não que vandalismo e violência seja uma saída, mas não deixa de ser um grito pedindo ajuda para um governo escroto escravo de um sistema podre, que o ínico beneficio dado são para aqueles que os cercam, se fosse uma pirâmide, o povo ia estar no porão! VIVA O UNDERGROUND! \\,,//


HMB: Planos para o futuro?
Douglas: Com o DIE, estamos trabalhando realmente muito forte com a banda, fazendo contatos e enviando o som, creio que teremos o lançamento do vídeo da musica DIE e pelo menos já entraremos no estúdio para a gravação do próximo EP, temos material para lançar um disco inteiro, mas pelo preço e condições vamos mais devagar, estamos muito ansiosos para lançar esse próximo trabalho.
Com o MetalStock, estamos trabalhando em parâmetros regionais afim de evoluir o evento e com certeza fazer mais edições publicas com o apoio das prefeituras!

HMB: Resuma Douglas Iglesias em uma frase ou palavra.
Douglas: Vai uma das minhas favoritas: "O importante não é vencer e sim levar o adversário a loucura"
Primeira frase do refrão da nossa música Predicted!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Douglas: Quero agradecer demais a oportunidade em divulgar nosso trabalho e pelo espaço em expor as ideias, agradeço aos leitores e companheiros de cena que puderam dar um bizu na entrevista e se puderem acessem a page do Botucatu MetalSTock e da DIE pelo face para conhecer o trabalho realizado mais a fundo! Grande abraço a todos!
Tapa na cara você sempre vai levar, ai vai de você, se vai baixar a cabeça para nego montar ou se vai devolver de costa de mão!

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