Amilcar Christófaro, baterista de uma das mais influentes
banda brasileira. Além de provar a cada compasso que é sim, um dos grandes bateristas
desde país. Neste bate papo, Amilcar falou sobre sua paixão pela bateria, de
sua banda e sobre o cenário brasileiro da música pesada. Confira a seguir.
Heavy Metal Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
Amilcar Christófaro: Olá! O prazer é meu de estar falando
com o Heavy Metal Breakdown. Minha vida basicamente é feita de ensaios, shows e
aulas, pois dou aula de bateria também. Estamos divulgando nosso novo disco
"Esquadrão de Tortura" e a agenda de shows tem crescido bastante.
HMB: Como você se tornou baterista e quais foram suas
maiores influências?
Amilcar: Acho que esse caminho ia ser uma coisa natural na
minha vida. Meu pai foi baterista na década de 1960, tinha sua banda, os The
Four Boys, e tocava em bandas de baile também. Aliás, ele sempre me disse que
gravou um disco com os The Jet Blacks, um disco que chama Twist. Fora ele, meu
irmão mais velho também começou a tocar, comprou uma Gope de set básico e
deixava no nosso quarto, isso no começo da década de 90. Então quando ele ia
trabalhar, eu sentava na bateria e tentava tocar alguma coisa, até que um dia
minha mãe escutando da cozinha, falou pra mim "Mi, você tem ritmo, você
leva jeito pra tocar, eu escuto o ritmo certinho quando você toca!" e
nessa mesma época eu tinha uma paixão fulminante pelo skate. Queria ser
skatista profissional, aliás, mas de tanto ir tocando, e ao mesmo tempo
conhecendo bandas, curtindo mais Rock, Metal, acompanhando a banda do meu irmão
de perto, eu fui entrando nesse mundo e naturalmente largando o skate.
No meu começo na música pesada as influências eram variadas
e era mais da música em si e não de bateras, depois que eu comecei a ter meus
bateras de grande influência mesmo, como Neil Peart, Dave Lombardo, Mike
Portnoy e etc... Ter visto o Max tocando blast beat na frente foi um impacto
muito grande porque até então eu conhecia Morbid Angel, Deicide, mas nunca
tinha visto alguém tocar aquela levada agressiva de caixa que não para, que a
gente chamava simplesmente de Death Metal, nem sabia que era blast beat.
As influências mais fortes continuam sendo deles, mas com
certeza, todas as bandas que eu me apego vira uma influência forte também, como
Death (Gene Hoglan), King Diamond (Mikkey Dee) Queensryche (Scott Rockenfiled),
Morbid Angel (Pete Sandoval) Sepultura (Igor Cavalera), Metallica (Lars Ulrich)
e por aí vai...
Com o tempo conheci bateras de outros estilos como Buddy
Rich, Billy Cobham, Thomas Lang, que de alguma forma entram no meu hall de
influências também.
HMB: Percebe-se que você tem um leque enorme de influências
e que gosta de vários estilos musicais. Você acha que essa variedade é
importante para a formação do músico?
Amilcar: Depende o que cada pessoa busca. Conheço músicos
extraordinários dos dois lados, tanto aquele que sempre teve aquelas mesmas
influências e ficará assim eternamente e outros que, com o passar do tempo, vão
naturalmente adquirindo outras influências para somar e enriquecer ainda mais o
seu trabalho. Eu faço parte desses que mantem as influências intactas, que a
estrutura nunca irá mudar, mas que mantem a porta aberta para novas influências
de bons músicos e boa música. Mas é claro que por essa porta só entra se for
coisa boa, se não, sem chance (risos).
HMB: O que você acha das produções de baterias aqui no país? Você sempre conseguiu os timbres que desejava para seus discos?
Amilcar: Sempre achei bacana. Principalmente as bandas que tem os bateras que tem um estilo legal e próprio, isso fica caracterizado no som da batera porque se preocupam com o som e deixa a originalidade da banda mais nítida ainda.
HMB: O que você acha das produções de baterias aqui no país? Você sempre conseguiu os timbres que desejava para seus discos?
Amilcar: Sempre achei bacana. Principalmente as bandas que tem os bateras que tem um estilo legal e próprio, isso fica caracterizado no som da batera porque se preocupam com o som e deixa a originalidade da banda mais nítida ainda.
HMB: Sobre o Esquadrão de Tortura, porque um título em
português?
Amilcar: Depois de um tempo trabalhando nas letras do disco,
conhecendo mais sobre a história da época da Ditadura Militar no Brasil, me
pareceu que o nome da banda em português, cairia como uma luva, como título do
disco. Fora isso, também serviu para que as pessoas de fora do Brasil soubessem
de vez que a banda é brasileira, pois vai ver que o título é em outra língua, e
essa língua é o português e inevitavelmente irão associar. Sem falar que nunca
tínhamos tido um disco com nome em português então, isso foi mais uma das
coisas, que envolveu esse disco, que foi inédito na carreira da banda.
Amilcar: Foi bacana. Embora a história não nos remeta a
tanta felicidade, o fato de estarmos falando sobre algo que aconteceu e é
importante na história política do nosso país, foi significativo pra nós.
HMB: Como você vê o conteúdo lírico das bandas brasileiras?
Acha que o brasileiro tem uma forma diferente de se expressar através da
música?
Amilcar: Percebo que na maioria das vezes as letras são bem
duras, na cara, contando e despejando indignação sobre essa falta de respeito
que a gente vive no nosso país que já virou rotina. Aliás, não tem como ter
outra coisa pra falar né? O brasileiro já está acostumado a viver essas coisas
absurdas porque a politicagem do Brasil é tão imunda, trata o povo como lixo há
anos, que todos já nem sabem o que fazer para melhorar, a não ser fazer a nossa
parte como cidadão. Dá vontade de chegar a Brasília com uma bazuca pra dizimar
todos os políticos e começar do zero, mas muita gente é do bem e tem muito a
perder para se comprometer a fazer algo radical desse tipo e se tornar um
mercenário inteligente, então o que sobra para nós que temos a nossa arte, é
naturalmente vomitar tudo isso nas letras e continuar fazendo a nossa parte
como cidadão. Até começar a entrar pessoas normais na politica brasileira,
pessoas que fazem com que com valores normais do ser humano como honestidade,
valor ao próximo, hombridade dá lugar a desonestidade, ganancia, covardia e
sem-vergonhice, que é o que predomina hoje.
HMB: Como você vê os incentivos culturais de nossos governos
a arte e cultura em geral?
Amilcar: Vejo que tem crescido bastante, mas conversando com
amigos de banda ou pessoas que tem mais contatos com prefeituras, tanto da capital
quanto do interior, percebo que ainda rola uma descriminação com o Metal. Na Virada
Cultural mesmo, é na cara. Você vê bandas gringas, bandas brasileiras de outros
estilos sempre tocando, todo ano, em vários palcos, ganhando cachês absurdos,
enquanto as bandas da verdadeira cena Metal brasileira não tem a chance de
tocar ganhando um cachê justo também, ou seja, é o que a gente sempre ouve
falar, para tocar nesses lugares você tem que entrar em alguma panela, ou máfia
como dizem também, para se conseguir alguma coisa porque na honestidade e no
merecimento, que é como acontecem às coisas normais, dificilmente rolará. É um
reflexo do que é o país como um todo, por isso do nosso grande foda-se pra tudo
e pra todos e continuamos a nossa vida, sem que a nossa música precise desse
tipo de gente.
HMB: E na questão dos shows, você percebe um esvaziamento
nos shows de bandas autorais?
Amilcar: Sinto que continua a mesma coisa de tempos atrás,
pelo menos a nossa realidade é essa. Nosso público está lá como em todos os
anos. E vejo muitas bandas tocando que estão construindo um grande público ou
mantendo o que conquistou. Posso citar
de exemplo o Claustrofobia, Project 46 e o Nervochaos.
HMB: Mesmo o Brasil sendo um celeiro de bandas e músicos
criativos e virtuosos, o público muitas vezes não dá espaço, ou não vê mesmo o
talento, Essa persistência e crença no trabalho a que você se refere, acaba
sendo um caminho que todos têm que trilhar, ou um músico que persiste em ter
uma carreira internacional, acaba sendo um candidato mais forte a ver a luz no
fim do túnel?
Amilcar: Com certeza a persistência, paixão e um pouco de
originalidade na sua música são coisas que chamam a atenção das pessoas com o
passar dos anos, pois elas veem que você realmente tem algo artístico para
expressar, mas no Brasil eu acho sim que, para uma parcela do público, se você
fizer um bom trabalho e obter reconhecimento fora do país, você automaticamente
cresce aqui também. Em época de copa do mundo posso traçar um paralelo com
jogadores de futebol por exemplo. Hoje tem jogadores na seleção brasileira que
nem jogaram direito no Brasil e já foram para fora do país muito novos, mas só
por terem conquistado um grande espaço em times fora do país e a atenção
mundial, o povo brasileiro vê eles de uma forma mais grandiosa. Parece que para
essas pessoas o OK dos gringos já é o bastante pra ele saber que é bom ai sim
ele se interessa. Muitas vezes parece ser dessa forma. Mas lembrando do que
falei, somente para uma parcela do público, pois tem outra que é muito sábia e
verdadeira e não espera ninguém dar OK por ele mesmo, ele vai atrás e vê se é
bom ou não e fim de papo.
HMB: Como foi participar como convidado do debut da banda Nervosa? E o que você achou da escolha de Pitchu Ferraz?
Amilcar: Foi um prazer. A Nervosa é uma grande banda feita de grandes pessoas e bangers de verdade, sendo assim, as músicas são honestas. Foi uma honra tocar com elas e fiquei muito feliz em tê-las ajudado e que deu tudo certo com a Pitchu. Ela simplesmente é perfeita para banda, nasceram para tocarem juntas. Admiro a Pitchu como pessoa e batera, e na minha opinião, ela só veio pra dar mais poderio ainda a banda.
HMB: Como foi participar como convidado do debut da banda Nervosa? E o que você achou da escolha de Pitchu Ferraz?
Amilcar: Foi um prazer. A Nervosa é uma grande banda feita de grandes pessoas e bangers de verdade, sendo assim, as músicas são honestas. Foi uma honra tocar com elas e fiquei muito feliz em tê-las ajudado e que deu tudo certo com a Pitchu. Ela simplesmente é perfeita para banda, nasceram para tocarem juntas. Admiro a Pitchu como pessoa e batera, e na minha opinião, ela só veio pra dar mais poderio ainda a banda.
HMB: Como está sendo atuar como um trio? Vocês não cogitaram
em nenhum momento colocar outro vocalista na banda?
Amilcar: Não cogitamos, não! Em nenhum momento. Estamos nos
sentindo muito bem como trio e enquanto o André estiver se sentindo bem
cantando e tocando é assim que vamos ficar.
HMB: Planos para o futuro?
Amilcar: Continuar trabalhando. Ensaiando bastante como
sempre, fazer o máximo de shows possíveis para divulgar o Esquadrão de Tortura
e continuar compondo para o próximo disco.
HMB: Resuma Amilcar Christófaro em uma frase ou palavra.
Amilcar: Obstinado
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Amilcar: Eu que agradeço pelo papo legal e a oportunidade de
divulgar um pouco mais meu trabalho. Tudo de bom pra todos.
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