Marcelo “Korujão” Ladwig, baterista, já passou por inúmeras
bandas como Exon, RRRAICT TUFF!!! Hoje, na King Bird, Marcelo dá vazão a sua
veia Classic Rock, mas mesmo com a agenda atribulada de shows do Pássaro Rei,
encontra tempo para tocar outros estilos e prestigiar o cenário da música
pesada nacional. Confira tudo que ele nos contou no bate papo a seguir.
Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo
seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você
e suas atividades.
Marcelo “Korujão” Ladwig: Bom dia JP! Eu que agradeço pela
oportunidade dessa conversa.
Bom, sou um trabalhador como qualquer cidadão comum. Acordo cedo pra trabalhar e durmo tarde
trabalhando. Sou músico e também mantenho outra profissão durante o dia. Mas o
que interessa aqui é a música, então vamos lá.
Sou baterista desde 1987. Comecei tocando sem estudo formal,
foi na raça mesmo. Aprendi muito tocando com caras mais velhos. Minha primeira
banda foi o Exon, que chegou a lançar um CD e fazer muitos shows e durou até
1996. De lá até aqui foram inúmeros trabalhos, inclusive fora do metal, tocando
pop, reggae, e outras coisas. Passei pelo RRRAICT TUFF!!!, como o sr. bem sabe (risos).
Uma banda hardcore/punk que teve uma boa repercussão nos anos 90, tendo a vossa
ilustre presença. De 2000 a 2010 toquei no M-19, que foi um dos pilares do
movimento punk no Brasil. Toquei no Salário Mínimo, outra banda importante no
cenário nacional, e em diversas bandas de cover pela noite. Mais ou menos em
2000 comecei a estudar música formalmente, o que faço ainda com alguma
frequência. Estou com a King Bird desde 2005. Preferi me afastar um pouco dos
trabalhos cover, porque o desgaste estava sendo muito maior que a recompensa
financeira. E desde que minha filha nasceu (há 1 ano e meio) preferi ficar mais
tempo com ela. Hoje meu foco, além da King Bird, que é meu trabalho principal e
que me consome mais tempo, também toco na banda Makinária Rock, e no Damagewar,
com a qual voltei a tocar Thrash Metal depois de uns 15 anos. Foi bom saber que
ainda tenho habilidade pra tocar uma música muito mais rápida e pesada.
HMB: Quais são as mudanças, que você vê no cenário Heavy
Metal de 1987 para cá?
Marcelo: Acredito que a grande diferença seja que hoje em
dia, praticamente não se vende mais discos. O grande público hoje, se contenta
em ter apenas as músicas em formato digital, diferentemente da época em que nós
ficávamos desesperados atrás dos vinis e passávamos horas ouvindo e lendo todo
o encarte, ficha técnica, letras, agradecimentos, etc.
Os shows hoje são muito melhor estruturados, porém os locais
são cada vez mais raros. Um bar ou outro abre as portas pras bandas autorais, a
maioria das casas, só dão espaço para as bandas cover. Lembro que nos anos 80
rolavam muitos shows em colégios, hoje em dia não rolam mais. Também lembro que
rolou um festival no antigo Teatro Mambembe durante um mês, às segundas e
terças feiras e foram todos lotados. Parece que o público perdeu um pouco do
interesse de ir a shows de bandas underground. E não se pode falar que as
bandas atuais não são competentes. Há um grande revival de bandas que acabaram
e voltaram, mas também tem muita gente nova fazendo muito som bom por aí.
HMB: O desinteresse do público, não seria porque há um
inchaço no cenário? Afinal, pelo menos no Heavy Metal, todo mundo é músico ou
pretende ser músico?
Marcelo: Esse pode ser um dos fatores, claro. Além disso,
quem não é músico é jornalista, promotor de eventos ou exerce alguma outra
atividade ligada ao meio. Mas também acho que de certa forma, se as redes
sociais ajudam na divulgação de bandas, por outro lado também gerou certo
comodismo. O cara abre o You Tube e assiste aos shows completos da banda
preferida dele sem sair de casa. Até hoje eu vivo em buracos assistindo bandas
de tudo que é estilo. Se eu não estiver tocando, fatalmente você vai me
encontrar em algum lugar curtindo alguma banda. Esse entusiasmo eu cultivo
desde que me envolvi com a música, e não é pelo fato de ser músico que não vou
curtir o trabalho de outros músicos. É claro que temos que estar antenados, nas
mudanças, isso é inevitável. Eu também uso essas ferramentas digitais, assisto
muita coisa na internet, mas não deixo de ver ao vivo.
HMB: Ainda tentando explorar o pensamento. Então no cenário
Underground, como todo mundo está envolvido com alguma atividade, relacionada á
música, pode ser que sejamos uma nação de concorrentes e não de fãs?
Marcelo: De maneira alguma. O rock é uma música cativante e
empolgante, que faz nascer uma vontade de participar, além de ser fã. Em geral
tem disso, o garoto começa a ouvir e imediatamente se identifica, querendo tocar
como seu ídolo. Isso faz com que, além de fãs, sejamos contribuintes da cena.
Tocamos, escrevemos, organizamos, produzimos.
No âmbito profissional, como em qualquer área de atuação,
isso acaba gerando uma concorrência, o que é muito natural, mas acredito que
não seja uma regra.
HMB: Recentemente, houveram mudanças na King Bird
ultimamente, conte-nos tudo que está rolando com a banda agora.
Marcelo: Sim. A formação vinha atuando junta há nove anos,
mas o João Luiz resolveu seguir outras propostas de trabalho. A nós coube
apenas respeitar e apoiar a sua decisão e correr atrás do prejuízo (risos).
De imediato nos reunimos para dar seguimento ao trabalho e
recrutar um novo cantor. Já estávamos com toda a parte instrumental gravada
para um novo álbum e não foi muito difícil
escolher o Tom Cremon pra assumir o microfone do pássaro, afinal o cara é um
grande talento e chegou com muita vontade de contribuir. Ele já está plenamente
adaptado e pronto para entrar em estúdio e registrar os vocais das onze faixas
do novo álbum, que esperamos que esteja pronto no segundo semestre. Além disso,
já houve a de estreia dessa nova fase. Dia 28 de junho no Sesc Belenzinho, aqui
em São Paulo, a partir daí esperamos continuar fazendo shows, que é o que mais
gostamos.
HMB: E como foi encontrar um novo cantor? Pelo visto vocês
já o conheciam, ou pelo menos não ouvi nada a respeito de você terem feito
audições com outras pessoas.
Marcelo: Nós já o conhecíamos sim, através dos outros
trabalhos dele. Foi tudo muito rápido. Assim que o João saiu começamos a nos
organizar pra continuar o vôo. Tínhamos uma lista com uns quatro ou cinco nomes
e colocamos em ordem de prioridade. O Tom foi o primeiro e como rolou muito bem, já fechamos. Não quisemos ficar fazendo
audições. Como já sabíamos o que queríamos, fomos direto ao assunto, e se não
desse certo com ele por qualquer questão,
com certeza teria dado com os outros nomes que tínhamos, que são todos
muito competentes. Na real nós sentamos,
conversamos e batemos o martelo. Marcamos uma sessão de fotos e divulgamos a
notícia. A certeza de que estávamos no caminho certo era tão grande que a
última coisa que fizemos foi cair para o estúdio pra tocar (risos).
HMB: Qual é a grande sacada para que uma banda, como o King
Bird, tenha longevidade e se mantenha sendo relevante para o cenário?
Marcelo: Acho que vários fatores contribuíram a nosso favor.
Somos amigos desde antes de a King Bird existir e já
havíamos tocado juntos em outros projetos. Essa amizade perdura até hoje e com
a experiência aprendemos a respeitar sempre as opiniões de cada um. Sempre
mantivemos um direcionamento e foco no trabalho da banda, mesmo que cada um de
nós tenha gostos distintos. Eu, por exemplo, ouço muito Hardcore, mas nunca
iria querer tocar um The Exploited dentro da King Bird. Também temos grande
apoio de nossas famílias, amigos e fãs. Sem esse apoio não sei se
conseguiríamos atravessar tantos desafios. E o fator mais clichê, e o mais
verdadeiro: somos loucos e apaixonados pelo que fazemos. A última formação,
como falei, atuou junta por nove anos, e agora estamos começando uma fase que
espero que dure pelo menos mais uns 30 anos, se assim Deus permitir (risos).
HMB: Essa diversidade de gostos acaba influenciando nas
composições, mesmo que sua música não siga a linha do The Exploited, por
exemplo?
Marcelo: Somos um imã de influências (risos). Antes da King
Bird eu vinha de uma fase em que explorava muito o uso de bumbo duplo e tive
que aprender a segurar o ímpeto pra não poluir demais as músicas, mas você vai
perceber que os bumbos estão lá, muito discretamente, mas estão. Se ouço uma
música com uma frase de batera a mil por hora, provavelmente ela não caberá no
contexto da King Bird, mas nada impede que eu a adapte e encaixe em algum lugar
da música. Da mesma forma, uma música latina que é riquíssima em ritmos. Muitas
vezes o público não percebe isso, e às vezes nem os companheiros de banda (risos).
Digo isso sob o ponto de vista do baterista, mas vale também para os outros
músicos.
HMB: Então, as possibilidades de ter um vasto leque de
influências, seja benéfica não apenas para a King Bird, mas para as outras
bandas em que você toca?
Marcelo: Sem dúvida que sim. Tudo é uma questão de bom
senso. E o meu próprio trabalho dentro da King Bird, acaba influenciando a
forma de abordar as músicas do Makinária e do próprio Damagewar. Claro que
sempre respeitando as particularidades de cada banda.
HMB: Você toca em três bandas com sonoridades diferentes,
está seria a forma que você encontrou para colocar para fora todo a sua bagagem
musical?
Marcelo: Não foi proposital, mas se parar pra pensar, acho
que naturalmente foi isso mesmo que aconteceu. E dentro dessa linha, também
gosto de mudar todo o posicionamento do meu kit de batera, adaptando pra cada
trabalho. Eu sempre tenho estilos diversos dentro do meu player. No mesmo dia
ouço Bad Company, Pantera, Lynnyrd Skynyrd, Havoc, Gbh, Exodus, MC5, Deep
Purple, etc. É natural pra mim, querer tocar um pouco de cada coisa que escuto.
Ou seja, ainda está faltando desenvolver outros projetos.
HMB: E falando no seu player, qual a banda que quando você
ouve, dá vontade de sair correndo e gritando na rua?
Marcelo: Difícil hein!
Eu não conseguiria citar apenas uma. Mas sempre ouvi muito Lynyrd
Skynyrd, Exodus, Van Halen, Black Sabbath, Dorsal, Judas Priest. E mais
recentemente tenho pirado com Black Country Communion, Chickenfoot, Havoc e
Suicidal Angels. Não saio correndo e gritando, mas que me dá uma vontade enorme
de abrir uma cerveja pra acompanhar, disso você pode ter certeza.
HMB: Você pratica algum exercício para manter a forma, e tem
alguma dica que possa dar para quem está começando a tocar bateria?
Marcelo: Como eu comecei a estudar muito tarde, tenho que
correr atrás. Meus estudos dependem muito do que estou fazendo no momento. Se
tenho muitos shows estudo menos. Quando tenho mais tempo estudo mais, tenho
aulas com o Vanderlei dos Santos, um cara que me ensinou muita coisa.
Diariamente faço exercícios na velha borrachinha. Às vezes em frente à TV
enquanto assisto a um jogo do Timão ou, outro programa qualquer, fico ali
praticando rudimentos com o metrônomo ligado. Pratico leitura, solos de caixa
marcial, stick control e outros fundamentos. Quando tenho mais tempo pratico na
própria bateria, aí adiciono o estudo de pedal duplo, toco músicas em playback
e ritmos variados. Hoje eu percebo o quanto perdi em não ter estudado quando
comecei a tocar. Por isso, acho que não sou muito indicado pra dar uma dica,
mas já que você pediu, minha dica é: estude muito, toque muito, se dedique e
não desanime. A velocidade é o menos importante no início, procure ter toques
limpos em primeiro lugar e você vai atingir a velocidade naturalmente. Hoje
temos boas opções de vídeo-aulas, mas principalmente no início, um professor de
confiança e indispensável.
HMB: Planos para o futuro?
Marcelo: Na real não sou de ficar fazendo muitas projeções para
o futuro, deixo o vento levar e procuro curtir o que estou fazendo do momento.
Mas de imediato pretendo continuar tocando com minhas bandas, gravando e
lançando bons trabalhos. O primeiro ato é esse show de estréia do Tom na King
Bird, e o segundo é a finalização do novo álbum. Como sempre, prestigiar ao
vivo as bandas que eu curto e comprar seus CD's. É a minha maneira de colaborar com a cena,
sempre sendo verdadeiro, sem sacanear, sem passar por cima de ninguém.
HMB: Resuma Marcelo “Korujão” Ladwig em uma palavra ou
frase.
Marcelo: Difícil falar de si mesmo (risos). Sou um cara da música, que vive pela música e
ama a família e amigos. Não sou o Pelé, mas faço meus golzinhos. Pingou na área
é caixa.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Marcelo: Eu que te agradeço pelo espaço. Somos amigos de
longa data, já tocamos juntos e espero que um dia possamos fazer algo de novo
(Tá vendo? Isso é um plano pro futuro (risos).
Agradeço aos leitores que perderam um pouco de tempo aqui
lendo essa conversa, aos fãs da King Bird, que são importantíssimos sempre, e
em especial nesse momento de transição. O rock está muito vivo e vejo que
apesar de ter ficado um pouco mais no underground, os fãs dessa música estão
sempre surgindo. É possível juntar num mesmo palco, músicos da década de 70 e
novos músicos. Ou seja, estamos vivos e ainda vamos fazer muito barulho.
Long Live Rock'n Roll!
Grande abraço a todos!
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