quarta-feira, 30 de julho de 2014

Daniel Ávila, Heavy Metal e gastronomia


Daniel Ávila, baixista da banda Stodgy, do Rio de Janeiro, mas especificamente de Barra do Piraí, formado psicólogo com especialização em Psicologia Fenomenológica Existencial, ciência que busca a compreensão mais ampla a partir da queixa do paciente. E buscam compreender as dificuldade e superá-las. Além disso, Daniel é um cara que ama o que faz e é também, formado em gastronomia. Vive o Heavy Metal com sua banda, e busca a união das bandas para melhorar a qualidade das apresentações. Confira a seguir.

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Daniel Ávila: Cara, que isso eu que agradeço a Heavy Metal Breakdown em nome da Stodgy. Taí uma pergunta que não me deparo todos os dias... Então, atualmente aos 27 anos, faço uma especialização em Psicologia Fenomenológica Existencial, pois consegui terminar minha segunda faculdade no final do ano passado, onde me formei em psicologia e hoje atuo na área clínica. A primeira me formei no final de 2007 em gastronomia e culinária, pois como um bom gordo, sempre gostei de cozinhar e me arriscar com as panelas (risos). Nesse intervalo, em 2008, tive um café e surgiu a Stodgy. Porra, hoje eu não consigo me ver desvinculado da banda, saca... Curto som desde a adolescência, sempre fui fissurado em Thrash e suas vertentes. Lembro quando era mais novo, por volta de uns 6 ou 8 anos, via a banda do meu primo ensaiando  em uma garagem e hoje ele faz parte da formação da Stodgy. Quase algo de família, entende (risos). A banda faz parte do meu percurso de formação profissional, saca (risos). Lembro que quando começamos, sempre tivemos o ideal de compor nossas próprias musicas e tal e "reviver a cena underground" da nossa cidade, onde na década de 90 era bem forte. No decorrer destes 6 anos, montamos um álbum totalmente independente, arcando com todas as despesas (capa, prensagem, estúdio, etc), com dez faixas autorais, em relação a cena até o final de 2012 estava indo "bem", caso essa palavra encaixe, mas como sempre quando se monopoliza na mão de um da rolo (risos). Ai, fizemos uma união com umas bandas amigas aqui da região, e realizamos  juntos o Metal Bastards Union em 2013. Bem, no inicio de 2014 o Simão entra na banda substituindo Neive, que por motivos profissionais teve que deixar a banda. Agora estamos em fase de composição, estamos com seis musicas inéditas e uma que vamos gravar em agosto e lançar um single. Já tem uma prévia no nosso diário de ensaio, no canal oficial do You Tube. Cara e hoje eu me vejo fazendo tudo o que eu gosto. Não posso reclamar (risos).

HMB: Você acha que é possível unir a paixão pelo Heavy Metal e pela gastronomia?
Daniel: Claro, sempre tem como. Aqui, temos o habito de reunir a galera mais chegada para fazer o "Dezembro Negro", que nada mais é que uma reunião para escutar som e comer ogrisses. (risos). Eu e Uesllen, ficamos responsáveis pela cozinha, no primeiro ano fizemos um bolo de carne de metro empanado e frito em banha de porco, no segundo ano, uma feijoada, e nos últimos dois anos hamburgueres gigantes e baconese. Ano passado que não rolou fazer, pois eu estava enrolado com o final da faculdade, mas esse ano com certeza vai rolar um. O legal é que todo ano gera-se uma expectativa sobre o que vai ter para comer e quem vai participar, fica foda! Cara, essa é uma parada que eu me amarro em fazer, um prazer quase orgástico (risos).


HMB: Sei bem como é ter uma banda Gourmet. Você consegue imaginar um cardápio voltado aos fãs do Heavy Metal, ou a gastronomia é sempre voltada a todos? E se sim, como seria esse cardápio?
Daniel: Cara, eu acho que a gastronomia pode ser sim acessível a todos, alias acho que essa é a grande dificuldade que implica nessa profissão. Mas tem como criar sim, um cardápio Heavy Metal. Cara, eu penso sempre em algo pesado, algo que tenha variações de carnes, bastante bacon, queijos e molhos pesados, acompanhados sempre de uma cerveja bem gelada saca! Mesmo que eu não esteja comendo carne há quase dois anos, eu consigo pensar nesse cardápio e fazer também uma substituição para o vegetarianismo. (risos). Seria legal pensar nesse tipo de cardápio.

HMB: Vamos fazer! Metal e Gastronomia. Quem sabe uma disputa na cozinha entre nossas bandas?
Daniel: Porra, isso seria do caralho! Estamos dentro! Fat metal, ai vamos nós (risos)!


HMB: Vamos combinar isso então. Voltando: e unir o Heavy Metal com a Psicologia?
Daniel: Cara, aqui já é mais complicado que na gastronomia (risos). Mas na real, eu vejo que o Metal é o que me auxilia a manter o eixo, sabe? Alivia o estresse, me auxilia a pensar em questões pessoais, resolver problemas, e essas coisas. Eu não fico um momento sem escutar Metal, alias, nem sempre só Metal, às vezes Blues, Rock clássico, e outras vertentes do som. E pensando um pouco mais a fundo, segundo Heidegger: "Se nada, a priori, determina o ser, o que o determina são seus modos de ser.", ou seja, não tem como pensar nesses dois pontos para mim de forma distinta, pois ambos me determinam em sua dinâmica. Assim, mas voltando a pergunta, sim tem como! (risos)

HMB: Em que ponto você descobriu que gostava de psicologia e resolveu seguir por este caminho?
Daniel: Então, quando eu me formei em gastronomia no final de 2007, já estava com a ideia de abrir um café e começar a movimentar com a gastronomia. Comecei em fevereiro, os negócios começaram devagar e foram progredindo aos poucos. Aos trancos e barrancos as coisas foram se estabilizando, fui trabalhando e percebendo a relação das pessoas umas com as outras e fui me interessando, fui ficando curioso. Fui conversando com um amigo que tinha feito o curso, ele me passou uns livros e comecei a ler e ficar bem inteirado. Surgiu a oportunidade de fazer a faculdade de psicologia e fui. Arrisquei tudo, e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, e hoje eu tenho certeza disso.

HMB: Você acredita que a música atua de forma positiva na condição psicológica das pessoas?
Daniel: Acredito sim, a música tem essa capacidade. Não acredito em uma musica ou estilos específicos para todas as pessoas, como algo determinado, mas sim em qual o sentido a pessoa atribui àquela melodia ou estilo, fazendo com que para ela aquela musica funcione de forma positiva ou não, entende... 


HMB: Conte como foi essa união para a realização do Metal Bastards Union, e fale-nos o que você pensa sobre esses coletivos de bandas, visando melhorar a qualidade dos shows.
Daniel: Cara, eu acho muito valido, saca. Quando pensamos em nos mobilizaar, foi por que aqui na região a situação estava preta, se é que me entende. Aqui na cidade, sempre apoiamos o evento, emprestávamos equipamentos, chamávamos o publico, agitávamos para que desse certo. Nunca recebemos nada, no máximo um lanche ou uma cerveja. Beleza, tínhamos a proposta de incentivar a o movimento underground na cidade. Daí, começamos a perceber que as bandas que vinham de outros lugares tinham ajuda de custo, na maioria das vezes cache e para as bandas da região, NADA. Então, conversando com nossos amigos de outras bandas vimos que essa situação se repetia em outras cidades, com outros produtores, cara teve uma hora que o caldo entornou, não teve mais como fingir que nada estava acontecendo. Decidimos romper com esse esquema. Nisso tivemos essa reação da galera da Monstractor e da D'FRONT SA, que foram os irmãos que embarcaram nessa conosco. Em agosto de 2013 fizemos o 1º MBU, em Resende, e foi muito bacana. Vimos que dá para se fazer os eventos sem a necessidade de produtores desinteressados na cena underground e preocupados unicamente com os bolsos, tá ligado? Ainda temos uma grana em caixa para fazermos o segundo (risos). As bandas tem que começar a visualizar também essa possibilidade de montar os eventos, entende. Como qualquer forma de movimentação eu acho valido esse reivindicar de direitos, sabe. Aquele velho lance de em poucos somos fracos e em muitos somos fortes, entende. Mas claro que, não é um movimento contra os produtores, pois existem bons produtores, mas sim aqueles que zoam com o movimento e ainda sujam o nome desses que se empenham em fazer um bom evento. Temos que prestigiar a galera que faz um bom trampo, não podemos ser hipócritas, tem que se saber separar o joio do trigo. 

HMB: E em um coletivo como esse de vocês, tudo é dividido igualmente entre as bandas, sejam os lucros ou os prejuízos?
Daniel: Tudo! Tudo é dividido. Se for para comer o filé, ou roer o osso, não tem problema o foco é o evento, é o mantenimento e a fortificação da cena, entende. O lucro não é e nunca foi o importante, tendo como bancar o evento, pagar as bandas, tem uma estrutura boa para ambos os lados (bandas e publico) é o principal (risos).

HMB: Sempre pergunto as pessoas aqui no blog, se um coletivo de bandas, como este de você seria válido. E fico feliz de que agora temos um exemplo, de que a coisa funciona sim, desde que levada com seriedade. Você acha que o futuro das apresentações de bandas autorias deverá ser com esse conceito?
Daniel: Cara, como única forma não. Temos que levar em conta que existem bons produtores, com visão do que seria um bom evento, com noção de estrutura, que sabem trabalhar e eles merecem todo o crédito pelo trabalho que fazem. Agora, com certeza é uma forma nossa de movimentar a cena, é uma responsabilidade de cada banger sair do quarto e lutar pelo que é seu, entende. Então, eu vejo desta forma até porque tenho que mostrar meu trabalho. Sou membro de uma banda underground, suamos a vera para compor e gravar nossas faixas e produzi-las, não tem como ficarmos estagnados e esperando por convites para tocar. E essa é uma saída. Claro que nem tudo são rosas, né mano?  Organizar um evento, em meio de trabalho, banda, família, namoro e outros compromissos, se faz complicado, pois é algo que toma muito tempo tanto na execução quanto no planejamento...  

HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada no Brasil?
Daniel: Cara, em relação às novas bandas eu tenho curtido bastante, cada vez mais profissionais, com o material cada vez melhor, produção maneira e tal. Estou sempre procurando. Agora em relação a espaço para mostrar seu trabalho não vejo muito não, para ser muito sincero quase nenhum. O publico existe, a cena existe, o espaço que é foda (risos).


HMB: Como você usa a Internet para a divulgação do seu trabalho?
Daniel: Cara a internet é um grande veiculo de divulgação, não há mais duvidas. Nós trabalhamos com a acessória da Sunset Metal Press, que faz um trabalho excepcional nesse ponto. 

HMB: Sendo assim, você acha imprescindível o trabalho de uma assessoria de imprensa, visto que este tipo de serviço acaba por tirar das costas do músico a divulgação de notas, podendo assim, se concentrar mais em compor ou tocar?
Daniel: Acho que o auxilio acessória de imprensa é imprescindível para a profissionalização da banda, mesmo que no underground. A acessória te faz ter uma visibilidade maior, coisas que talvez a banda sozinha não consiga, entende. Mas que ao mesmo tempo, a banda não deve se desresponsabilizar sobre as divulgações, mas sim trabalharem juntos, é um aprendizado muito bacana. E de fato, dividir esse "fardo" te deixa mais livre para se concentrar nas composições, shows e gravações.

HMB: Mesmo o Brasil sendo um celeiro de bandas e músicos criativos e virtuosos, o público muitas vezes não dá espaço, ou não vê mesmo o talento, Essa persistência e crença no trabalho a que você se refere, acaba sendo um caminho que todos têm que trilhar, ou um músico que persiste em ter uma carreira internacional, acaba sendo um candidato mais forte a ver a luz no fim do túnel?
Daniel: Assim, vejo que todos os que deveriam trilhar são aqueles que almejam algo mais do que uma banda de garagem. Agora, quando você fala de um "musico que persiste em ter uma carreira internacional", vou aproveitar dessa frase para ser meu exemplo (risos). Esse que vislumbra um mercado internacional, ele se implica mais, se dedica mais ao teu sonho e tua ideologia, certo? Automaticamente, percebo que ai pode ser um candidato provável a crescer sim, mas sempre através do teu próprio esforço.


HMB: Planos para o futuro?
Daniel: Sim, sempre (risos). Em um curto prazo, esperamos conseguir gravar o nosso single "Escória", essa que será a nossa primeira música com letra em português. Até o final do ano esperamos ter a gravação de mais um full planejada, tentar movimentar show por São Paulo ou Minas Gerais, comprar uma vaca e se tudo der certo conquistar o mundo (risos).

HMB: Resuma Daniel Ávila em uma palavra ou frase.
Daniel: Headbanger!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para nossos leitores.

Daniel: Opa, mas já (risos)? Cara, eu que agradeço imensamente a oportunidade de vir aqui mostrar o trabalho da STODGY, nossas ideias, nossa visão sobre o mundo underground. Agradeço demais a rapaziada que curte nosso som, a galera que prestigia os eventos, aos que fazem realmente o movimento acontecer, ao pessoal da Sunset e claro a vocês do HM Breakdown. Quem não conhece nosso trabalho, pode acessar nosso soundcloud.com/stodgy-band ou nosso canal oficial no YouTube onde estamos postando nossos diários de ensaio sobre esses novos materiais. Obrigado a todos e thrash till death!

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