Daniel Ávila, baixista da banda Stodgy, do Rio de
Janeiro, mas especificamente de Barra do Piraí, formado psicólogo com
especialização em Psicologia Fenomenológica Existencial, ciência que busca a
compreensão mais ampla a partir da queixa do paciente. E buscam compreender as
dificuldade e superá-las. Além disso, Daniel é um cara que ama o que faz e é
também, formado em gastronomia. Vive o Heavy Metal com sua banda, e busca a
união das bandas para melhorar a qualidade das apresentações. Confira a seguir.
Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo
seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você
e suas atividades.
Daniel Ávila: Cara, que isso eu que agradeço a Heavy Metal
Breakdown em nome da Stodgy. Taí uma pergunta que não me deparo todos os dias...
Então, atualmente aos 27 anos, faço uma especialização em Psicologia
Fenomenológica Existencial, pois consegui terminar minha segunda faculdade no
final do ano passado, onde me formei em psicologia e hoje atuo na área clínica.
A primeira me formei no final de 2007 em gastronomia e culinária, pois como um
bom gordo, sempre gostei de cozinhar e me arriscar com as panelas (risos).
Nesse intervalo, em 2008, tive um café e surgiu a Stodgy. Porra, hoje eu não
consigo me ver desvinculado da banda, saca... Curto som desde a adolescência,
sempre fui fissurado em Thrash e suas vertentes. Lembro quando era mais novo,
por volta de uns 6 ou 8 anos, via a banda do meu primo ensaiando em uma garagem e hoje ele faz parte da formação
da Stodgy. Quase algo de família, entende (risos). A banda faz parte do meu
percurso de formação profissional, saca (risos). Lembro que quando começamos,
sempre tivemos o ideal de compor nossas próprias musicas e tal e "reviver
a cena underground" da nossa cidade, onde na década de 90 era bem forte.
No decorrer destes 6 anos, montamos um álbum totalmente independente, arcando
com todas as despesas (capa, prensagem, estúdio, etc), com dez faixas autorais,
em relação a cena até o final de 2012 estava indo "bem", caso essa
palavra encaixe, mas como sempre quando se monopoliza na mão de um da rolo
(risos). Ai, fizemos uma união com umas bandas amigas aqui da região, e
realizamos juntos o Metal Bastards Union
em 2013. Bem, no inicio de 2014 o Simão entra na banda substituindo Neive, que
por motivos profissionais teve que deixar a banda. Agora estamos em fase de
composição, estamos com seis musicas inéditas e uma que vamos gravar em agosto
e lançar um single. Já tem uma prévia no nosso diário de ensaio, no canal
oficial do You Tube. Cara e hoje eu me vejo fazendo tudo o que eu gosto. Não
posso reclamar (risos).
HMB: Você acha que é possível unir a paixão pelo Heavy Metal
e pela gastronomia?
Daniel: Claro, sempre tem como. Aqui, temos o habito de
reunir a galera mais chegada para fazer o "Dezembro Negro", que nada
mais é que uma reunião para escutar som e comer ogrisses. (risos). Eu e
Uesllen, ficamos responsáveis pela cozinha, no primeiro ano fizemos um bolo de
carne de metro empanado e frito em banha de porco, no segundo ano, uma
feijoada, e nos últimos dois anos hamburgueres gigantes e baconese. Ano passado
que não rolou fazer, pois eu estava enrolado com o final da faculdade, mas esse
ano com certeza vai rolar um. O legal é que todo ano gera-se uma expectativa
sobre o que vai ter para comer e quem vai participar, fica foda! Cara, essa é
uma parada que eu me amarro em fazer, um prazer quase orgástico (risos).
HMB: Sei bem como é ter uma banda Gourmet. Você consegue
imaginar um cardápio voltado aos fãs do Heavy Metal, ou a gastronomia é sempre
voltada a todos? E se sim, como seria esse cardápio?
Daniel: Cara, eu acho que a gastronomia pode ser sim
acessível a todos, alias acho que essa é a grande dificuldade que implica nessa
profissão. Mas tem como criar sim, um cardápio Heavy Metal. Cara, eu penso
sempre em algo pesado, algo que tenha variações de carnes, bastante bacon,
queijos e molhos pesados, acompanhados sempre de uma cerveja bem gelada saca!
Mesmo que eu não esteja comendo carne há quase dois anos, eu consigo pensar
nesse cardápio e fazer também uma substituição para o vegetarianismo. (risos).
Seria legal pensar nesse tipo de cardápio.
HMB: Vamos fazer! Metal e Gastronomia. Quem sabe uma disputa
na cozinha entre nossas bandas?
Daniel: Porra, isso seria do caralho! Estamos dentro! Fat
metal, ai vamos nós (risos)!
HMB: Vamos combinar isso então. Voltando: e unir o Heavy
Metal com a Psicologia?
Daniel: Cara, aqui já é mais complicado que na gastronomia
(risos). Mas na real, eu vejo que o Metal é o que me auxilia a manter o eixo,
sabe? Alivia o estresse, me auxilia a pensar em questões pessoais, resolver
problemas, e essas coisas. Eu não fico um momento sem escutar Metal, alias, nem
sempre só Metal, às vezes Blues, Rock clássico, e outras vertentes do som. E
pensando um pouco mais a fundo, segundo Heidegger: "Se nada, a priori,
determina o ser, o que o determina são seus modos de ser.", ou seja, não
tem como pensar nesses dois pontos para mim de forma distinta, pois ambos me
determinam em sua dinâmica. Assim, mas voltando a pergunta, sim tem como!
(risos)
HMB: Em que ponto você descobriu que gostava de psicologia e
resolveu seguir por este caminho?
Daniel: Então, quando eu me formei em gastronomia no final
de 2007, já estava com a ideia de abrir um café e começar a movimentar com a
gastronomia. Comecei em fevereiro, os negócios começaram devagar e foram
progredindo aos poucos. Aos trancos e barrancos as coisas foram se
estabilizando, fui trabalhando e percebendo a relação das pessoas umas com as
outras e fui me interessando, fui ficando curioso. Fui conversando com um amigo
que tinha feito o curso, ele me passou uns livros e comecei a ler e ficar bem
inteirado. Surgiu a oportunidade de fazer a faculdade de psicologia e fui.
Arrisquei tudo, e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, e hoje eu tenho
certeza disso.
HMB: Você acredita que a música atua de forma positiva na
condição psicológica das pessoas?
Daniel: Acredito sim, a música tem essa capacidade. Não
acredito em uma musica ou estilos específicos para todas as pessoas, como algo
determinado, mas sim em qual o sentido a pessoa atribui àquela melodia ou estilo,
fazendo com que para ela aquela musica funcione de forma positiva ou não,
entende...
HMB: Conte como foi essa união para a realização do Metal
Bastards Union, e fale-nos o que você pensa sobre esses coletivos de bandas,
visando melhorar a qualidade dos shows.
Daniel: Cara, eu acho muito valido, saca. Quando pensamos em
nos mobilizaar, foi por que aqui na região a situação estava preta, se é que me
entende. Aqui na cidade, sempre apoiamos o evento, emprestávamos equipamentos,
chamávamos o publico, agitávamos para que desse certo. Nunca recebemos nada, no
máximo um lanche ou uma cerveja. Beleza, tínhamos a proposta de incentivar a o
movimento underground na cidade. Daí, começamos a perceber que as bandas que
vinham de outros lugares tinham ajuda de custo, na maioria das vezes cache e
para as bandas da região, NADA. Então, conversando com nossos amigos de outras
bandas vimos que essa situação se repetia em outras cidades, com outros
produtores, cara teve uma hora que o caldo entornou, não teve mais como fingir
que nada estava acontecendo. Decidimos romper com esse esquema. Nisso tivemos
essa reação da galera da Monstractor e da D'FRONT SA, que foram os irmãos que
embarcaram nessa conosco. Em agosto de 2013 fizemos o 1º MBU, em Resende, e foi
muito bacana. Vimos que dá para se fazer os eventos sem a necessidade de
produtores desinteressados na cena underground e preocupados unicamente com os
bolsos, tá ligado? Ainda temos uma grana em caixa para fazermos o segundo
(risos). As bandas tem que começar a visualizar também essa possibilidade de
montar os eventos, entende. Como qualquer forma de movimentação eu acho valido
esse reivindicar de direitos, sabe. Aquele velho lance de em poucos somos
fracos e em muitos somos fortes, entende. Mas claro que, não é um movimento
contra os produtores, pois existem bons produtores, mas sim aqueles que zoam
com o movimento e ainda sujam o nome desses que se empenham em fazer um bom
evento. Temos que prestigiar a galera que faz um bom trampo, não podemos ser
hipócritas, tem que se saber separar o joio do trigo.
HMB: E em um coletivo como esse de vocês, tudo é dividido
igualmente entre as bandas, sejam os lucros ou os prejuízos?
Daniel: Tudo! Tudo é dividido. Se for para comer o filé, ou
roer o osso, não tem problema o foco é o evento, é o mantenimento e a
fortificação da cena, entende. O lucro não é e nunca foi o importante, tendo
como bancar o evento, pagar as bandas, tem uma estrutura boa para ambos os
lados (bandas e publico) é o principal (risos).
HMB: Sempre pergunto as pessoas aqui no blog, se um coletivo
de bandas, como este de você seria válido. E fico feliz de que agora temos um
exemplo, de que a coisa funciona sim, desde que levada com seriedade. Você acha
que o futuro das apresentações de bandas autorias deverá ser com esse conceito?
Daniel: Cara, como única forma não. Temos que levar em conta
que existem bons produtores, com visão do que seria um bom evento, com noção de
estrutura, que sabem trabalhar e eles merecem todo o crédito pelo trabalho que
fazem. Agora, com certeza é uma forma nossa de movimentar a cena, é uma
responsabilidade de cada banger sair do quarto e lutar pelo que é seu, entende.
Então, eu vejo desta forma até porque tenho que mostrar meu trabalho. Sou
membro de uma banda underground, suamos a vera para compor e gravar nossas
faixas e produzi-las, não tem como ficarmos estagnados e esperando por convites
para tocar. E essa é uma saída. Claro que nem tudo são rosas, né mano? Organizar um evento, em meio de trabalho,
banda, família, namoro e outros compromissos, se faz complicado, pois é algo
que toma muito tempo tanto na execução quanto no planejamento...
HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada no
Brasil?
Daniel: Cara, em relação às novas bandas eu tenho curtido bastante,
cada vez mais profissionais, com o material cada vez melhor, produção maneira e
tal. Estou sempre procurando. Agora em relação a espaço para mostrar seu
trabalho não vejo muito não, para ser muito sincero quase nenhum. O publico
existe, a cena existe, o espaço que é foda (risos).
HMB: Como você usa a Internet para a divulgação do seu
trabalho?
Daniel: Cara a internet é um grande veiculo de divulgação,
não há mais duvidas. Nós trabalhamos com a acessória da Sunset Metal Press, que
faz um trabalho excepcional nesse ponto.
HMB: Sendo assim, você acha imprescindível o trabalho de uma
assessoria de imprensa, visto que este tipo de serviço acaba por tirar das
costas do músico a divulgação de notas, podendo assim, se concentrar mais em
compor ou tocar?
Daniel: Acho que o auxilio acessória de imprensa é
imprescindível para a profissionalização da banda, mesmo que no underground. A
acessória te faz ter uma visibilidade maior, coisas que talvez a banda sozinha
não consiga, entende. Mas que ao mesmo tempo, a banda não deve se
desresponsabilizar sobre as divulgações, mas sim trabalharem juntos, é um
aprendizado muito bacana. E de fato, dividir esse "fardo" te deixa
mais livre para se concentrar nas composições, shows e gravações.
HMB: Mesmo o Brasil sendo um celeiro de bandas e músicos
criativos e virtuosos, o público muitas vezes não dá espaço, ou não vê mesmo o
talento, Essa persistência e crença no trabalho a que você se refere, acaba
sendo um caminho que todos têm que trilhar, ou um músico que persiste em ter
uma carreira internacional, acaba sendo um candidato mais forte a ver a luz no
fim do túnel?
Daniel: Assim, vejo que todos os que deveriam trilhar são
aqueles que almejam algo mais do que uma banda de garagem. Agora, quando você
fala de um "musico que persiste em ter uma carreira internacional",
vou aproveitar dessa frase para ser meu exemplo (risos). Esse que vislumbra um
mercado internacional, ele se implica mais, se dedica mais ao teu sonho e tua
ideologia, certo? Automaticamente, percebo que ai pode ser um candidato provável
a crescer sim, mas sempre através do teu próprio esforço.
HMB: Planos para o futuro?
Daniel: Sim, sempre (risos). Em um curto prazo, esperamos
conseguir gravar o nosso single "Escória", essa que será a nossa
primeira música com letra em português. Até o final do ano esperamos ter a gravação
de mais um full planejada, tentar movimentar show por São Paulo ou Minas Gerais,
comprar uma vaca e se tudo der certo conquistar o mundo (risos).
HMB: Resuma Daniel Ávila em uma palavra ou frase.
Daniel: Headbanger!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para nossos leitores.
Daniel: Opa, mas já (risos)? Cara, eu que agradeço
imensamente a oportunidade de vir aqui mostrar o trabalho da STODGY, nossas
ideias, nossa visão sobre o mundo underground. Agradeço demais a rapaziada que
curte nosso som, a galera que prestigia os eventos, aos que fazem realmente o
movimento acontecer, ao pessoal da Sunset e claro a vocês do HM Breakdown. Quem
não conhece nosso trabalho, pode acessar nosso soundcloud.com/stodgy-band ou
nosso canal oficial no YouTube onde estamos postando nossos diários de ensaio
sobre esses novos materiais. Obrigado a todos e thrash till death!
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