sábado, 5 de julho de 2014

Elias Oliveira, um diabo necessário...


Elias Oliveira, paulistano radicado no Rio de Janeiro, baixista da banda Demolishment e um cara muito divertido, mas seríssimo no que diz respeito a sua banda. Confira tudo que ele nos contou a seguir.

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Elias Oliveira: Olá JP, eu que agradeço o convite. Bem, vamos lá. Sou o Elias, sou o baixista e back vox gutural da Demolishment. Sou nascido e criado em São Paulo, mas já moro no Rio de Janeiro tem uns sete anos. Eu toco baixo desde os 16. Sou autodidata, aprendi um pouco aqui, um pouco ali, pegava uns VHS emprestados de vídeo aulas pra poder evoluir e venho estudando desde então. Comecei com um baixo de quatro cordas, mas ele não estava mais atendendo as necessidades atuais e das propostas das músicas, hoje em dia, uso um Washburn fretless de seis cordas e alguns pedais de preamp e equalizer pra compor a timbragem.
Quando vim morar no Rio, fiquei um tempo sem tocar, até mesmo porque não conhecia ninguém. E conheci uma garota, que me indicou o Rafael Sousat e comecei a conversar com ele. Ele estava com um início de projeto para uma banda de Technical Death Metal chamada Carnage Brawl, ele me mandou uma prévia das composições e comprei a ideia na hora. A banda era composta por Rafael, Bruno Tavares (Demolishment), Juan Carlos (Innocence Lost) e o gordo aqui.
Chegamos a compor uma música, mas entre muitos contratempos, a banda se desfez. A antiga banda do Bruno também terminou (Divine Curse) e ele montou o projeto inicial da Demolishment com o Thiago (nosso vocal, mas tocava baixo inicialmente), Felipe Diaz (guitarra), Bruno (guitarra) e Rafael (bateria). A banda passou por reformulações, entrou Diego (guitarrista) e eu. Então gravamos nosso single com Bruno fazendo os vocais rasgados e drives e eu segui no gutural. Logo após, o Rafael também saiu e chamamos Diogo (baterista). A banda seguiu assim por um tempo, então decidimos chamar o Thiago de volta para a banda, dessa vez no vocal, até mesmo porque se ele voltasse para o baixo o que eu iria fazer né (risos)?
Então com essa adição, o time finalmente ficou completo. E a ideia deu muito certo, e estamos seguindo nessa formação até hoje e creio que não irá mudar. Estamos com foco total nas novas composições. Tem material novo pra chegar por ai.

HMB: Como foi a repercussão do EP "Our Fury is Unleashed"?
Elias: Cara tem sido muito boa. A galera tem gostado bastante. Ano passado fizemos uma temporada de shows para divulgar o mesmo. Entre fevereiro e outubro tocamos e sempre fomos bem recebidos pela galera. O público contribuiu em grande maioria com a presença, comprando o material da banda, mandando mensagens de suporte, falando conosco depois do show, ficamos muito felizes com o resultado. Dá aquela sensação de dever cumprido, sabe? Fizemos o EP com empenho e ficamos felizes de ver o resultado.
Algumas resenhas foram feitas por muitos blogs, saímos também na Road Crew onde Jhonny Z. escreveu a resenha.
Acho que não poderíamos prever um feedback melhor do que o que tivemos. Em suma, fechamos 2013 muito contentes com o resultado.


HMB: Como é o cenário Heavy Metal no Rio de Janeiro?
Elias: Bem não vou dizer que o cenário é fraco, apenas que já foi melhor. Atualmente, os eventos de bandas autorais não vêm dado tanto público como antigamente. Os eventos de cover continuam tendo maior expressão. Mas creio que isso seja normal em qualquer lugar. Não é uma característica específica do Rio de Janeiro. Mas pelo que venho observado, estamos tendo uma melhora nesse quesito. Espero que continue a subir o degrau progressivamente.
O que observei é que eventos em locais mais distantes da capital tendem a ter maior público. E o público que comparece nos shows da capital, é geralmente o mesmo público de todos os eventos que você vê. A galera que realmente curte e apoia e tá lá pra curtir o bom e velho Metal!

HMB: E essa evasão do público dos shows autorias, não seria pela pouca expressão das bandas?
Elias: Acho que as duas coisas caminham juntas: comparecimento nos shows e divulgação das bandas. Toda banda grande, hoje em dia já foi underground e estão onde estão pelo apoio do público. É uma relação de simbiose. A banda depende do público pra coexistir, sem eles, não somos nada. Claro, que uma boa divulgação e ação de marketing têm grande influência, afinal, toda ação midiática tem alvo e sendo assim, gera um público. Mas nem sempre esse público que dá o suporte online está lá presente para colaborar e conferir pessoalmente o desempenho da galera. Mas acho que as pessoas estão onde deveriam estar. Quem foi para o show, é porque tinha que estar lá e com certeza vai se divertir, vai curtir as bandas, vai tomar umas boas cervejas com a galera, conversar e entrar na roda. Quem sabe até perder um dente e guardar como recordação (risos).

HMB: Mas você concorda que muitas bandas, se preocupam apenas a divulgação pelas redes sociais, e que dificilmente saem dessa zona de conforto?
Elias: Concordo. Uma coisa que nem toda banda faz é procurar comparecer nos shows Underground e apoiar a galera. Então muita gente reclama, mas não faz diferença para mudar o quadro. Tem que comparecer, se não conhece, dá uma ouvida, curtiu, aparece. Com certeza novas amizades vão se formar e bons contatos surgem desses momentos.
Hoje em dia muito se perdeu da questão de fazer divulgação pessoalmente. Malefícios da sociedade moderna onde tudo é digital e para ontem.


HMB: Estou sabendo que em breve haverá um novo lançamento da Demolishment, Você pode nos adiantar alguma coisa sobre isso?
Elias: Sim. Realmente estamos parados para shows neste momento porque estamos focados na gravação do nosso novo disco. Será o debut. Novas músicas que serão inclusas nesse disco foram tocadas em nosso último show e pelo que parece a galera curtiu muito.
Esse disco será misto, com composições em inglês e em português. O disco vem com uma temática mais sombria no que se trata de algumas composições de letras novas. Trabalhamos bastante nessas novas músicas. Queremos agregar a técnica, mas sem perder nossa característica musical. Encontramos nossa identidade de criação, e acho isso muito válido, portanto exploramos bastante dentro desse nicho para poder criar essas novas músicas. Ficamos muito contentes com o resultado das composições e acho que o público vai curtir também essa variação.
Temos um planejamento de finalizar tudo até agosto desse ano e estamos trabalhando para isso. Todos na banda têm o tempo bem escasso e estamos quase que inventando tempo para poder cumprir o prazo, mas todo o esforço vai valer a pena quando tivermos o trabalho pronto e em mãos. Portanto fiquem ligados!

HMB: E como se dá o processo de criação da banda?
Elias: Nossas criações são bem mescladas devido a nossas influências variadas. Eu por exemplo vim do Prog/melódico/Groove; Bruno era mais Death melódico, Diego voltado pro Thrash/Heavy, Diogo também veio da escola do Prog e o Thiago mais Thrash. Então temos muitas vertentes que colaboram com nossas criações. Quando um tem uma ideia, procura lançar para o papel e apresentar para o restante, assim todo mundo vai ouvindo e dando suas opiniões sobre os riffs e as linhas que combinariam. Tudo é analisando e vamos acrescendo na música com um acordo mútuo. Linhas de criação podem vir dos mais variados lugares e momentos. Eu por exemplo, criei linhas da Age Of Doom durante o casamento de um tio meu, eu sai da cerimônia, fui para o lado de fora, gravei a linha com a boca no meu celular e voltei. Chegando em casa foi só escrever; Tem uma música nova que estará no CD que eu fiz durante uma viagem de trem. Aproveitei a marcação dos trilhos como metrônomo e fui criando e tudo sendo gravado no celular (bendito seja) (risos).
As linhas das bases geralmente vêm do Bruno ou de mim, mas o importante é que nada é fechado sem que todos opinem.
As letras também seguem um planejamento parecido. Alguém escreve e manda para que todos analisem, a gente faz observações, nos reunimos e vemos o que fica melhor. Todos na banda têm liberdade total de criação e expressão. Somos músicos e acima de tudo, somos amigos, o que sempre facilitou para a exposição de opiniões.

HMB: Você acredita que uma relação de amizade seja fundamental para a longevidade de uma banda?
Elias: Acho não, tenho certeza disso. Pra mim, o fato de já sermos amigos antes de termos completado da Demolishment faz com que tudo seja resolvido de forma mais prática. Tudo é decidido por todos, todos opinam, todos tem liberdade, a banda é de todos. Essa união colabora, e muito, nas composições, tomadas de decisões e faz com que não tenhamos um desgaste. Estamos sempre brincando e rindo, falando merda o tempo todo. É um clima sempre descontraído. Sabemos bem a hora de falar sobre coisas sérias e a hora de aloprar. Amizade faz que a base de tudo seja mais forte, consequentemente, vai ser mais duradouro.

Casa que é construída na areia não tem base sólida e logo desmorona. A amizade traz a base mais sólida que se pode ter: confiança. Temos confiança e respeito uns pelos outros, e isso faz com que possamos erguer essa casa até onde nossos olhos puderem alcançar, pois temos uma base sólida e estruturada pra erguer isso. Agora é batalhar, pois as oportunidades estão ai e cabe a nós nos prepararmos para abraçá-las

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HMB: Quais são seus ídolos e influências no contrabaixo?
Elias: Bem, meus ídolos são inquestionáveis pra mim. Com certeza absoluta entram nesse hall o grande Steve Morse, Eric Johnson, Satriani, Steve Vai, Hermeto Pascoal, Yanni, Muhammed Suiçmez, Wooten, Miller, La Rue, Caspersen, Champignon. Esses são os principais que ajudaram a me tornar o músico que sou hoje em dia.
Minhas influências são muito variadas. Tenho influência desde o groove até o technical death metal. Os principais são Abraham Laboriel (Ron Kenoly), Markus Grosskopf (Helloween), Victor Wooten, Marcus Miller, Dave La Rue (Steve Morse Band). Jaco Pastorius, Flea (RHCP), Les Claypool (Primus), Stephan Fimmers (Necrophagist) e os mais influentes nos últimos anos, Erlend Caspersen (Spawn Of Possession) e Sean Beasley (Dying Fetus). Essa surruba musical fez com que eu tivesse a pegada de hoje em dia e pudesse montar minha identidade musical no instrumento.

HMB: Você ainda estuda seu instrumento?
Elias: Vou te dizer que na teoria sou uma derrota (risos), mas faço o possível para sempre me atualizar. Procuro sempre estar antenado com técnicas e novas formas de execução. Existem músicos excelentes mundo a fora e o mundo digital colabora para que tenhamos acesso às novas informações. Ultimamente a faculdade consome muito do meu tempo, mas sempre arrumo um tempo na semana para tocar um pouco em casa.
Acho que uma das melhores formas de se evoluir é pegar aquela música que você acha difícil e tentar executá-la. Com certeza vai te forçar a desenvolver novas formas, pegadas e técnicas em diversas áreas do seu instrumento.

HMB: Como são feitas as divulgações da Demolishment? Você acha que as redes sociais são uma ferramenta importante para este tipo de trabalho?
Elias: Nós agora fechamos assessoria com a Metal Media pra cuidar dessas questões pra gente. Antes, a divulgação era majoritariamente online a gente procurava comparecer ao máximo de eventos para fazer a clássica divulgação boca a boca, tomando uma cerveja com a galera e levando material quando possível.
Como eu havia falado anteriormente, divulgação online é de suma importância, e a Metal Media vai fazer isso com maestria, mas iremos continuar a presenciar os eventos e divulgar nosso material. Temos alguns planejamentos sobre esse assunto que serão colocados em prática assim que o CD novo sair.
Sobre as redes sociais, acho que são de extrema importância. Tudo hoje em dia esta conectado, e não poderíamos fazer diferente. No mundo online, você tem um maior alcance de pessoas e em maior velocidade. Sua música pode ser compartilhada pelo seu vizinho hoje e amanhã ter pessoas no Japão curtindo o seu som. Isso é sensacional. Temos que aproveitar as vias que a tecnologia nos proporciona.


HMB: Planos para o futuro?
Elias: Tenho muitos. Me formar, o que ainda está meio longe, mas futuro é futuro né (risos)?
Além disso, pretendo seguir firme e forte tocando do lado dos meus irmãos. Deposito muita energia e confiança nessa banda e acredito em um futuro próspero para todos nós

HMB: Resuma Elias Oliveira em uma frase ou palavra.
Elias: Sinceridade. Sou um cara muito sincero e não tenho papas na língua. Falo o que tiver que falar para quem tiver que falar e na hora que tem que ser dito. Sou meio ogro mesmo. Assim como dizia o Pica-Pau, costumo dizer que sou um "diabo necessário."
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HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Elias: Eu que agradeço o convite e o espaço cedido para poder falar sobre minha vida e minha banda, que não deixa de ser minha vida também.
A mensagem que deixo é que acreditem realmente nos seus sonhos. Se quer algo, corra atrás. Acredite na sua capacidade e criatividade. Deixe-a fluir livremente e não se prenda a rótulos e conceitos. Criação, não tem limites.
"The creations of the hand are confined by reality. The creations of the mind know no such limits."
É isso. Sucesso para todos nós!


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