quarta-feira, 16 de julho de 2014

João Pedro “Jilão” Oliveira,, a musica vai além das notas, e as letras vão alem de um texto...


João Pedro “Jilão” Oliveira, guitarrista e vocalista da banda Terra Santa, que pratica uma mistura bem inusitada de Reggae e Death Metal. Estranhou? Eu também, mas depois de ouvir o trabalho dos caras e verificar na fonte que por mais estranho que posso parecer, a banda consegue sim, unir os dois estilos e ainda fazer um trabalho digno de nota e atenção. Jiláo nos concedeu esta entrevista e deixou claro porque dessa mistura e diversos outros assunto muito interessantes, confiram!

Heavy Metal Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Jilão: Olá JP, primeiro fica aqui também o nosso muito obrigado pela oportunidade. Bem, Somos a Terra Santa, uma banda de Thrash/ Roots/ Goove Metal de Miguel Pereira, região serrana do Rio de Janeiro. Começamos a banda em meados de 2011 e de lá pra cá já gravamos um álbum com 12 faixas e estamos caminhando para o segundo, buscando sempre evoluir a banda sem perder as raizes da porradaria.

HMB: Conte-nos um pouco sobre a Terra Santa.
Jilão: Terra Santa é uma banda de Thrash/ Roots Metal com fortes influências no Reggae, na cultura e nas raízes brasileiras, a banda traz um som rústico e de grande peso, buscando sempre cultivar nossas origens e as verdadeiras atitudes a serem tomadas. Com o primeiro trabalho de estúdio já gravado, intitulado "NyahGrooves", o Terra Santa segue gravando seu segundo álbum, e trazendo em seus shows muita atitude, energia e peso, em um elenco de musicas que trazem, além das musicas autorais, clássicos como Sepultura e Megadeth.
Buscamos realmente unir estilos musicais e fazer algo irreverente no metal, que ninguém nunca tenha chegado a um ponto tão extremo de mesclagem como nós.
Bem, esse é o nosso release padrão (risos), mas assim, a Terra Santa é uma banda que nos deu e dá apesar de tudo, muitos bons frutos e trabalhos satisfatórios e aqui na nossa região, até que somos conhecidos, tocamos em eventos e a galera curte bastante. Aqui na nossa cidade as pessoas até cantam nossa canção "Morte Súbita" em coro nos shows e é muito maneiro, é um retorno em escala e dimensão muito menores, mais que nos causam grande satisfação, e acredito que até nos prepare e nos inspire para situações maiores e com maiores proporções, que é o rumo que estamos querendo tomar com o lançamento dos novos singles.


HMB: Porque mesclar a sonoridade do Death Metal com a Cultura Nyahbinghi?
Jilão: Sim. Não é porque é a minha banda, mas eu realmente acho que somos uma banda versátil e estamos fazendo algo realmente diferente e fora dos padrões comuns que se vê no Metal atual. Acredito que as pessoas sentem certa insegurança ou talvez até preconceito com nosso som, por mesclar culturas que "não tem ligação alguma". Mas quando as pessoas passam por essa barreira e escutam alguma musica nossa, muitas vezes se surpreendem e tem uma reação positiva, o que é muito bom! Tenho certeza que apesar dessa nova ideia que estamos tentando passar no Metal, ainda pouco conhecida, deixamos claro para quem ouve nosso som, que mesmo com a mistura de ideias e culturas, não perdemos as raízes nem a verdade dos nossos ideais e da nossa mensagem. Somos todos amantes do Reggae e da cultura que o rodeia, e principalmente, compomos e tocamos o que nós queremos, gostamos e acreditamos, e acho que esse seja o principal motivo de estarmos tão a vontade e satisfeitos com nossa música. A cultura Nyahbinghi é uma cultura muito antiga ligada à igualdade, prosperidade e, principalmente à vida! Somos uma banda de Metal extremo que enaltece a vida e os direitos iguais, somos totalmente positivos e tentamos alertar as pessoas da situação em que vivemos atualmente, principalmente no nosso estado, o Rio de Janeiro e lembrar a elas as atitudes que realmente deveriam ser tomadas. Tudo isso de forma violenta musicalmente, e pacífica idealmente. Buscamos fazer isso através de dois dos estilos musicais que mais representam uma verdade e um ideal, o Metal Extremo e o Reggae/ Dub.

HMB: Você não acha que a princípio, as pessoas vão estranhar essa sonoridade? Digo tanto do lado do Metal, quanto do lado do Reggae?
Jilão: Acho sim JP, na verdade a maioria das pessoas tem muito medo e repreensão pelo "diferente" em geral. Não considero a Terra Santa como uma banda de Reggae. Somos uma banda de Metal extremo e isso fica claro no nosso som. Mas somos três caras com um turbilhão de ideias 24 horas na mente, com varias influencias e por sempre termos ouvido muita musica, de todos os estilos, e julgado o que era bom pra nos, não queremos deixar nenhum tipo de criação ou ideia de fora das nossas composições, para nós, toda ideia é válida, não importa se está ou não no "padrão" das bandas do nosso estilo. Somos uma banda de Metal fixada no rastafarianismo, que é uma religião que admiramos de coração, e não somos os primeiros a fazer algo assim. Existem outras bandas pacíficas e diferentes no metal, com influências de estilos até parecidas com as nossas. Bandas como o próprio Sepultura no álbum "Roots", Soulfly, Eyesburn, enfim, já mesclaram de certa forma esses dois estilos musicais, mas realmente acho que não chegaram a um ponto tão extremo como nós. Talvez realmente sejamos uma banda complicada de compreender a principio, agora, os amantes de Metal extremo não tem motivos para não nos classificar nesse estilo musical, Nossa raiz da porradaria, está presente em tudo, inclusive em alguns reggaes que compomos e resolvemos gravar, que estão no nosso álbum "NyahGrooves". Quem quiser, é só conferir!

HMB: E como se dá o processo de composição da Terra Santa?
Jilão: Bom, a maioria das musicas é composta basicamente por mim, e depois se necessário, tem algumas coisas alteradas no baixo ou bateria de acordo com a ideia que os outros integrantes tenham em seu próprio instrumento. As letras também são todas minhas. Sempre que começamos a ensaiar alguma musica nova acabamos mudando muita coisa e deixando a musica com a cara que ela vai ficar, com a pegada individual de cada um, que acaba se unindo e dando a característica específica da nossa banda. Dê uns tempos pra cá, começaram a surgir mais ideias coletivas e nosso próximo álbum já tem musicas que foram compostas por toda a banda, coisa que não aconteceu no NyahGrooves. Nosso baixista, Lucas (Çuça), é parte muito importante nesse processo de criação também, ele é quem produz a banda, mixa e faz todas essas coisas e manda muito bem. Ele tem muitas influencias de Jazz e principalmente do DUB, e depois que as musicas estão gravadas, ele senta naquele PC e dá um molho legal nas canções, colocando elementos eletrônicos diversos e psicodelia, em meio a toda a porradaria do Metal.
Uso bastante o Guitar Pro no processo de composição, para escrever o "esqueleto" das musicas e não deixar nenhum resquício de ideia passar despercebido.


HMB: E quais são os temas que você abrange em suas letras?
Jilão: As letras falam basicamente de igualdade de direitos para todos, Críticas sociais (que apesar de ser um "clichê" de letras de Metal, no mundo em que vivemos hoje em dia é meio difícil não lidar com esse assunto), abominação a qualquer tipo de racismo ou preconceito religioso, cultural, ou qualquer outro. Nossa mensagem é: Se você é uma boa pessoa, tem bom caráter, lembre-se que existimos para vivermos juntos e em paz, não podemos deixar os hipócritas e canalhas controlarem nossas vidas e nossas atitudes. Vamos celebrar a união, a comunhão, viver de maneira simples e obtermos, cada um, sucesso físico e espiritual. Só continuaremos nossa evolução de onde paramos, quando aprendermos a viver unidos, com simplicidade e paz, e livre de preconceitos e lavagens cerebrais. Já passou da hora de a humanidade começar a consertar seus vários erros e ninguém parece se importar com isso, estão todos acomodados com tamanha hipocrisia, e nós escrevemos as musicas para alertar a sociedade.

HMB: Então você acredita que através da música é possível mostrar tanto o lado bom, quanto o lado ruim das coisas?
Jilão: Com certeza. Esse foi um ponto bom que você tocou. A grande maioria das bandas, principalmente de Metal, falam sempre sobre o lado ruim das coisas. Nós falamos sim, do lado ruim das coisas, mas também procuramos enaltecer o lado bom, que sempre existe, a luz no fim do túnel da esperança cada um. A música, em minha opinião, é o melhor veículo para passar uma mensagem, principalmente quando você toca e escreve com amor no que está fazendo. A música vai além das notas, e as letras vão além de um texto. Música envolve sentimento, e uma vez despertado esse sentimento em alguém, ele nunca mais vai embora. Fazemos nossas musicas e letras com muito amor, fé e esperança de estar ajudando a propagar uma ideia válida que possa ser boa para alguém.


HMB: Você acha que o ser humano precisa de melhores exemplos para se tornarem melhores? Ou vai da carga genética de cada um?
Jilão: Não somente exemplos. Os exemplos são uma maneira ótima de atingir alguém, porém, a verdade, é que infelizmente a maior fonte de "exemplos" que temos no Brasil hoje, são as redes de jornal e televisão, que sugam as famílias e crianças ao redor do país, introduzindo, mesmo que subliminarmente, hipocrisia e imundice, como qualquer um pode ver em reportagens e informações alteradas, cenas de novela, etc. Que parecem muito inocentes e responsáveis, mas em minha opinião, lá no fundo da consciência de cada um, acaba atingindo e alterando uma coisa muito importante que é a índole. Na questão da genética, não sei se é tão influente, pois seja você de qualquer crença, cultura raça, ou "classe social", o caráter e o verdadeiro sentido de estarmos aqui, vivos, já está embutido dentro de cada um de nós, desde sempre, resta é ter certeza e atitude para não deixar isso morrer dentro de você colocar em prática e tentar, despertar essa virtude, da maneira que você conseguir, passar isso para outras gerações, coisa que já vem sendo feita a muitas décadas, seja através da música, texto, vídeos ou qualquer outro meio, mas que para mim, até hoje não pareceu surtir efeito na grande maioria, maioria essa que assiste TV Globo e compra álbuns de sertanejo universitário da som livre, para ouvir enquanto enche a cara em uma festinha, ou fazendo uma putaria, sem pensar no que está por trás de tudo isso que os meios de comunicação ensinam que é bacana e "tá na moda", e em como isso afeta o país e a humanidade de maneira geral.


HMB: E você também acredita que com uma educação de qualidade, maior exposição a diferentes culturas e artes, as pessoas podem crescer e se desenvolver de forma mais... Humana?
Jilão: Certamente. É claro que o que a pessoa é, é totalmente influenciado pelo que ela viveu, pela educação e a qualidade de vida em todos os aspectos. Não acho que se deva vitimizar pessoas que fazem merda, que sabem que são erradas, por ela ser pobre ou algo do tipo. Mas também não creio que devamos condenar. Isso é um problema social, causado na grande maioria, pelo descaso do governo com todas as principais atividades que deveriam ser de primeira qualidade em qualquer país, como educação, saúde e cultura, e que infelizmente, são postas em segundo plano quando se trata de Brasil, quando se trata da galera mais humilde. E nas favelas, onde por mais que os moradores queiram uma qualidade de vida melhor, existe muita dificuldade em ter acesso ao que precisam, o que os torna, na grande maioria, os "monstros" e o "resto", como são classificados inconscientemente pela sociedade "perfeita", que inclui os mentirosos, canalhas, soberbos e ricos, que dão valor ao dinheiro acima de tudo, e não tem a menor ideia do que é sentir certas coisas na própria pele, por isso se acham no direito de julgar. Nosso próximo álbum, vai se chamar "População Chorume", está sendo gravado nesse momento e trata justamente sobre esse assunto.

HMB: Como você vê hoje o cenário da música pesada no Brasil?
Jilão: Bem, o cenário Underground do Metal, já teve seus anos dourados ao redor do mundo, e não é atualmente. Mas apesar disso, eu vejo sim, muitas bandas ótimas, verdadeiras e o principal, fazendo seu trabalho de maneira independente e conseguindo um lugar pra si. As grandes gravadoras não estão muito interessadas nesse estilo musical ultimamente, o que não impediu o cenário Underground do Brasil de continuar vivo, graças ao trabalho das bandas, e aos fãs de música pesada, que já tem o rótulo muito bem colocado de serem fiéis! Nós já tivemos a oportunidade de dividir o palco com bandas conhecidas do Rio de Janeiro, muito boas, como Orrör, Demolishment, e conheço uma galera de bandas Underground muito brabas e boas, como a Not Dead de Nilópolis. Isso me deixa muito alegre e faz eu não perder o tesão de acreditar nesse estilo musical, acredito que não importa o que nos imponham o que aconteça, o cenário do peso sempre vai estar ai, pra quem quiser conhecer. Um dos principais meios de propagar esse cenário, para mim, é com as bandas trocando ideia e perdendo um  pouco do seu tempo sim, ajudando as outras reciprocamente. Na verdade isso gera frutos muito maiores, em dimensões muito maiores. Quando você ajuda uma banda, você perde o tempo que poderia estar divulgando mais a sua, mas ajuda a manter um cenário que até hoje não conseguiram eliminar. Por mais que esse estilo de música sofra todos os preconceitos que sofre, todos nós que trabalhamos duro (e sabemos disso) para manter uma banda, mostramos a todos que estamos aqui sim, e para ficar, sempre!

HMB: As bandas, atualmente, reclamam muito da falta de espaço para shows de bandas autoriais. Estando em Miguel Pereira, como você vê essa reclamação?
Jilão: É uma reclamação que faz todo o sentido sim. As únicas bandas autorais que você vê hoje em dia com um espaço considerável nas mídias, são hipster, ou indies ou seja lá como quer que chamem. Muitas bandas também se sentem oprimidas para tocar canções autorais e caem nessa de fazer cover para poder mostrar seu talento, o que eu não acho bacana. Aqui em Miguel Pereira, até temos nosso espaço, pequeno, mas temos. É uma cidade ligeiramente pequena, com trinta mil habitantes, onde todo mundo acaba se conhecendo pessoalmente e se tornando amigo. Isso é bom, porque o fato da geral nos conhecer e parar no bar com a gente e tal, cria certa intimidade, pois grande parte do público dos festivais de bandas que rolam aqui são nossos amigos e nos dão a maior força, porque tem contato direto com qualquer novidade e música autoral da banda, não nos deixando em posições sem graça ao tocar nossas músicas autorais. Graças a Deus, em todos os lugares que tocamos músicas autorais, tivemos um ótimo resultado, mas infelizmente essa não é a realidade da maioria das bandas novas e independentes.

HMB: E na sua visão, qual seria a solução para este problema?
Jilão: A solução eu não sei te dizer, acho que no fundo essa repressão contra o Underground da "massa" acaba dando o intuito da parada, a magia. Porque é muito trabalho e muitas exigências para conseguir um espaço sem se vender ou tocar covers ou algo do tipo. É difícil conseguir renda, que não deixa de ser algo necessário para a existência de uma banda com músicas autorais. Só quem chega lá ou pelo ou menos conseguem, se manter, são os verdadeiros, aqueles que estão ali para representar e cultivar uma cena. A maioria adora repreender o "diferente", e nós adoramos o "repreendido”. Isso dá mais vontade de gritar uma idéia cada vez mais alto.


HMB: Você acha que os incentivos fiscais dados pelo governo ou até mesmo o apoio financeiro as artes em geral, seria uma forma de tentar reativar esse cenário com produções de shows melhores?
Jilião: Então, o governo mais parece estar interessado naquilo que lhe convém, ou seja, lucro e boas jogadas de politicagem (não cabe dizer política), portanto o cenário que vemos, são de grandes espetáculos com conteúdo artístico duvidoso, atualmente o cenário artístico vem buscando alternativas de forma independente, muitas vezes até contra as permissões do governo. (Bailes Funks, músicos que tocam nas praças públicas por exemplo.) Essa "clandestinidade" da arte poderia ser evitada se houvesse mais diálogo direto com os governantes e que esses respeitassem a liberdade de expressão e reconhecerem o poder cultural que isso tem. As leis de incentivo são ótimas formas para conseguir elaborar novos projetos, no entanto, o processo é burocrático e há grande dificuldade de conseguir bons acordos com a iniciativa privada. O que mais vemos são artistas que não conseguem viver de sua arte e precisam optar por outros caminhos que não satisfaçam seus desejos pessoais.

HMB: Planos para o futuro?
Jilão: Bem, finalizar a gravação do nosso novo trabalho, “População Chorume”, buscar novos contatos e apresentações para divulgar nossa ideia e material. Compartilhar nosso sentimento com outras tribos e eventos, em picos conhecidos do Underground.

HMB: Resuma Jilão em uma frase.
Jilão: Bem, Jilão em uma frase? Difícil (risos). Bem é uma frase simples e minha, que está na canção Morte Súbita: "O que se leva da vida, é a consciência" acho que essa frase traduz um pouco de todos os membros da banda.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Jilão: Galera que está aqui sacando um pouco do nosso trampo e da nossa opinião, muito obrigado. Abram os olhos de todos ao seu redor, vamos escutar mais música, vamos melhorar nossa condição! Só depende de nós! Vamos manter as bandas e o cenário Underground vivo, e não deixar que enterrem nossos ideais! Espero que curtam essa entrevista e procurem saber mais sobre nossa banda e passar adiante! Um grande abraço em todos os leitores e ao blog HM Breakdown! Muito obrigado JP, por esse espaço e continue com seu trabalho aqui que é magnífico e muito importante mesmo! E é isso. Terra Santa Porra!

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