Christophe Correia, de Portugal, é um
empreendedor nato, leva a frente a página de entrevistas no facebook
Underground´s Voice, que busca entrevistar bandas de todo mundo e em especial
as pequenas e leva para seus leitores ótimas oportunidades para conhecerem e
saber como pensam essas mesmas bandas. E não é só isso, nesse bate papo,
pudemos ver que não é só a nossa realidade que esta difícil, assim como irmãos
de língua, somos também, irmãos nos
desgostos, desmandos da política, das pessoas e da cena da música pesada. Mas,
ele tem os olhos focados diretos num futuro, não muito distante, onde busca
ampliar suas conquistas. Confira a seguir:
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
Christophe Correia: Para começar quero agradecer o convite,
é uma enorme honra para mim participar neste projecto que tem tudo para dar
certo e que vai conseguir mostrar que a música é muito mais do que apenas quem
está no palco!
Bem, eu sou o Chris, de Portugal e tenho dois projectos.
Começando pelo mais fácil, rápido e também mais antigo, criei à 3 anos "Machine
Head Portugal". Não há muito a dizer sobre isto, apenas que é uma página
onde se podem encontrar notícias actualizadas sobre a banda e convívio entre os
fãs.
O projecto mais recente tem quase 2 anos de vida, a
"Underground's Voice" que tal como o nome indica dá a voz ao
underground. Explicando melhor, é um sítio onde as bandas recentes e/ou menos
reconhecidas têm espaço para divulgar o seu trabalho através de entrevistas.
Sempre pensei que as bandas grandes têm sempre toda a atenção virada para eles
todos os dias e por isso decidi criar algo diferente, algo que desse a atenção
a quem não a tem diáriamente. Por outro lado não queria criar algo com
biografia, discografia, agenda dessas mesmas bandas porque isso não iria fazer
com que as pessoas ficassem a conhecer um pouco mais da banda e seus elemento,
por isso decidi criar este projecto. E tem corrido muito bem!
HMB: Pensando nisso, você acredita que dando espaço a bandas
menores, o público pode ser igual ou superior a uma publicação de uma banda já
consolidada na cena heavy metal do seus país?
Christophe: Sem dúvida! Pelo menos as pessoas que gostarem
verdadeiramente de música e não apenas por bandas da moda tenho a certeza que
se interessam. Tive o prazer de entrevistar quase 250 bandas durante este tempo
e a enorme maioria delas são bandas menos reconhecidas, certamente muitas
pessoas olhariam para a lista completa e diriam "ah, não conheço umas 20
ou 30 bandas dessa lista, no mínimo" e isso deixa-me contente, porque é
esse mesmo o objectivo, dar a conhecer novos projectos que muita gente nunca
ouvi falar e têm imensa qualidade. Se bem que eu não faço este trabalho com
base nas possíveis visualizações, likes ou partilhas, pelo menos não
directamente. Claro que prefiro que haja 100 pessoas a ver em vez de 10, mas
pensando um pouco... É melhor uma publicação que tenha sido lida por 4 pessoas
em que uma delas diga "não conhecia a banda, gostei" do que uma
publicação vista por 100 pessoas em que ninguém dá qualquer feedback, pelo
menos é esse o meu ponto de vista.
HMB: Quais os seus objetivos com o Underground´s Voice e
você tem parcerias que te ajudam neste trabalho?
Chris: Bem, tenho objectivos imediatos e também objectivos
para o futuro. O imediato é o que já referi anteriormente, divulgar/dar a conhecer
bandas que não têm os holofotes virados para eles todos os dias e é nisso que
vou continuar a trabalhar sempre, independentemente da visibilidade que este
projecto tem e possa vir a ter um dia. Mas não quero que a Underground's Voice
se limite apenas a uma página do facebook para sempre e por isso tenho uma
vontade. Transformar o projecto numa acessoria de imprensa para este tipo de
bandas com prioridade para as bandas Portuguesas claro, mas com via aberta
também para bandas internacionais, ou seja, ter um grupo de bandas e trabalhar
com elas, ajudá-las a chegar até mais gente, ajudá-as a preencher a sua agenda
de concertos, ajudá-as a chegar até revistas, webzines, blogs, etc. Depois
disso tenho outro pensamento, não diria que é um objectivo ainda, mas um sonho
por agora, que seria chegar ao ponto de criar uma nova editora e ter as bandas
a lançar os seus CD's/EP's/DVD'S/etc com o selo da Underground's Voice. Se vou
chegar até lá, não sei, mas vou trabalhar para isso sempre, todos os dias!
Seria um enorme orgulho elevar a UV até esse patamar!
Quanto a parcerias, sim, tenho algumas, desde logo um
excelente projecto do meu grande amigo Paulo Guedes, em que eu também pertenço
à equipa, mas aqui o mérito é no mínimo 95% para ele, a Rock & Metal
Worshipers, um projecto que vale a pena dar atenção, vai dar muito que falar!
Tenho outras parcerias como a CRIA, um excelente projecto muito virado para a
arte e respectivo artistas, as acessorias de imprensa brasileiras Metal Media
Managment, Sunset Metal Press e União Underground que ajudam sempre ao
disponibilizar as suas bandas para entrevista.
HMB: Existe uma comparação entre a cena portuguesa e a cena
brasileira da música pesada? Quais são os pontos em comum, tanto de público
como das bandas?
Christophe: Definitivamente sim, encontro algumas
semelhanças em vários pontos. Salta logo à vista que ambos os países têm um
nome grande no Metal, Moonspell em Portugal, Sepultura no Brasil, uma ou duas
bandas com elevado conhecimento como More Than a Thousand aqui e Krisiun ou
Violator aí e depois centenas de bandas que vivem imensas dificuldades para
sobreviver. É triste ver que bandas do Porto tenham dificuldades em tocar em
Lisboa e vice-versa (as cidades são separadas por cerca de 300 quilômetros)
porque o cachê não dá sequer para pagar a gasolina. Aqui uma banda tem quase
sempre prejuízo quando toca fora da sua cidade. Pior ainda quando acontece com
bandas da Madeira ou Açores, as nossas ilhas! Mesmo assim as bandas fazem esse
esforço e viajam de um lado para o outro e por vezes chegam e tocam para uma
sala com 50 pessoas, ou nem tanto, não é fácil... é mesmo por amor à camisola!
Para pior a situação, algumas pessoas que organizam concertos olham para as
bandas nacionais com uma forma de "encher chouriços", querem fazer
delas quase escravos que dão o seu concerto por uns trocos ou mesmo de graça,
porque para eles bandas nacionais são mesmo para isso, se querem mostrar o seu
trabalho têm que aceitar tocar em qualquer sítio e em quaisquer condições.
Essas mesmas pessoas que contratam bandas internacionais e os tratam como reis.
Triste, não é? Pelo que vou lendo quando entrevisto bandas aí do Brasil, o
cenário é o mesmo e sendo o país tão grande, torna-se impossível uma banda
atravessar o país para tocar nessas condições, certo?
Quanto ao público, divido-o em duas partes, o mau e o bom.
Temos muita gente que passa a vida nos fóruns, redes sociais, sites, que passam
a vida a criticar tudo e todos, a pedir que tragam a banda X ou Y a Portugal. E
esses são as pessoas que não ajudam em nada, não contribuem para melhorar nada
e não aparecem em concerto nenhum, nem mesmo quando os seus pedidos são
concretizados. Mas o importante é que apoia, é quem vai aos concertos, que
compram os álbuns das bandas, o merchandise, os tais 50 que aparecem
normalmente que eu falei anteriormente. Aí somos insuperáveis, o público é
fantástico, todas ou quase todas as bandas do mundo que passam aqui elogiam o
nosso público, como sendo as mais calorosas e entusiastas.
Por tudo isso sim, o underground Português e Brasileiro tem
muito em comum, sempre disse que adorava ver um festival com bandas Portuguesas
e Brasileiras. Já imaginaram 2 ou 3 dias recheados de boa música assim? Seria
fantástico!
HMB:: Certíssimo, é difícil até para a bandas pequenas aqui, irem
tocar no Rio de Janeiro ou Minas gerias, que é aqui ao lado. E pelo visto não
somos irmãos apenas pela língua, mas também pelas dificuldades. Como você vê a
realidade políticas de ambos os países?
Christophe: Bem, política não é o meu forte mais a vida aqui
é muito difícil, olhando de forma fria para a realidade daqui: ou se é podre de
rico, ou vive-se todos os dias a contar os tostões e nunca chega até o fim do
mês. São cortes atrás de cortes sempre em quem menos tem, para eles cada vez
ficarem com mais... Temos até um primeiro ministro que disse à sua maneira
"se não estiverem satisfeitos, emigrem". Fazemos imensas
manifestações, greves, todas as formas de protesto mas... isso envolve apenas
uma percentagem das pessoas. A maior percentagem continua a dar prioridade ao
futebol, às novelas e coisas assim. Claro que é necessário ter tempo para nos
distrair com coisas como essas, mas o bem estar de um país que está cada vez
mais na cauda de Europa devia ser a principal prioridade. Ainda assim, acho o
povo Português optimista embora muitas pessoas tenham outra opinião! É muito
complicado arranjar um trabalho aqui, seja para o que for, exagerando um pouco
(ou talvez não) o empregado ideal para os patrões é alguém com 18 anos, com
curso superior, mestrado, cursos extra, 5 anos de experiência, surreal não é? E
foi também com essa visão das coisas que eu criei a Underground's Voice. Se o
trabalho não aparece, porque não criar algo que um dia se pode tornar no meu
ganha pão? É algo que eu adoro fazer e quem sabe se consigo alcançar os
objectivos que falei anteriormente... Criando uma editora criava um trabalho
para mim e certamente para mais pessoas, seria incrível!
HMB: Então, nossas realidades políticas e financeiras, fazem
com que sejamos mais criativos e empreendedores, se por um lado temos as
dificuldades, por outros, só cabe a nós irmos atrás do crescimento. Concorda
com isso?
Christophe: Se nos fazem mais criativos e empreendedores não
sei, mas certamente deveriam fazer. Há sempre uma boa parte de pessoas que não
fazem nada, não votam nas eleições e são os primeiros a criticar tudo e todos.
Acho sinceramente que é preciso criatividade, força de vontade e nunca, mesmo
nunca, baixar os braços e pensar que não há forma disto melhorar. Não é fácil,
mas quando conseguimos alcançar o objectivo sabe imensamente melhor! Falo por
experiência própria... Podia passar o dia todo numa esplanada a falar mal do
governo, a falar mal do país mas não faço isso, decidi pensar numa ideia
diferente e criar um projecto que me agrada e possa ser útil de alguma forma às
bandas. Se isso vai melhorar o país, globalmente falando? Certamente que não,
mas pode ajudar a que no futuro 3 ou 4 ou 5 pessoas ganhem um trabalho comigo,
seria uma contribuição nula para os números do país, mas importantíssima para essas
pessoas. Pessoalmente falando, consegui alcançar coisas que nunca pensei
alcançar no início, muito sinceramente se me dissessem algo do tipo "em
menos de 2 anos vais ter cerca de 250 entrevistas publicadas, algumas delas com grandes nomes mundiais do metal como Belphegor, Decapitated, Suicidal Angels,
Korzus, etc, uma reportagem de um concerto na publicada na Metal Hammer
Espanhola, destaque à UV no Brasil, etc etc" eu não acreditava! Isto tudo
numa escala pessoal, por isso se todos pensarem dessa forma, tentarem ser
originais e tiverem força de vontade.... Certamente o estado do país ficará
melhor!
HMB: Planos para o futuro?
Christophe: Os planos para o futuro são esses mesmos que eu
fui falando ao longo da entrevista, dar a conhecer e divulgar cada vez mais
bandas nacionais, dar-lhes algum tempo de antena, fazer o meu projecto crescer
um pouco mais todos os dias! Em breve a UV irá ter uma nova imagem, novo logo e
também t-shirts para vender, acho que haverá mais boas novidades em breve, por
isso estejam atentos! Vou continuar a dar o meu contributo para a Rock &
Metal Worshipers que vai começar a bombar também, vai ser imparável no futuro e
de certeza imensas bandas cheias de qualidade irão passar por lá! De resto, não
sei bem... mas garanto que estou constantemente a pensar em novas coisas.
HMB: Resuma Christophe Correia em uma frase
Christophe: Estou constantemente insatisfeito e em busca de
mais, nunca me acomodo, nunca desejei ser melhor ou pior que ninguém, mas luto
sempre para deixar a minha marca.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar uma visão da realidade de Portugal, e claro, pelo ótimo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Christophe: Resta-me novamente agradecer o teu convite que
aceitei com todo o gosto, já o disse mas repito que é uma grande honra ter
participado neste excelente projecto, desejo a maior sorte! Tenho a certeza que
grandes nomes irão passar por aqui e que vai ser um sucesso. Espero que todos
possam dar a atenção merecida a este projecto!
Para terminar, em muitas entrevistas que fiz com bandas
brasileiras disseram que não conheciam muitas bandas aqui de Portugal e pediram
para indicar algumas... Por isso aqui vão aquelas que eu mais gosto: Revolution
Within, Switchtense, Equaleft, Pitch Black, W.A.K.O, Gates Of Hell, Corpus
Christii, Morte Incandescente, Irae, Prayers Of Sanity, Exylus, Filii
Nigrantiun Infernalim, Damage My God, Web, Echidna, Terror Empire, Seven
Stitches e muitas muitas mais! Obrigado pelo espaço, um abraço a todos!
Gostei bastante de ler a entrevista, é ótimo ter visão de coisas de fora que também reverbera por aqui. Valeu.
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