Desta vez conversamos com o vocalista da banda Cambones,
Carlos Parra, que disse tudo que pensa. Munido de opiniões fortes e de muito
carisma, Carlão trouxe a luz muitas questões e opiniões.. Confiram!!!!
HM Breakdown: Fale sobre você, suas atividades e em
como você se tornou vocalista.
Carlos Parra: Em primeiro lugar gostaria de agradecer a
oportunidade de poder me expressar para alguém que de fato valha a pena
fazê-lo.
Bem, me considero um cara chato pra caralho, difícil de
conviver e repleto de indignações e indagações. Hoje já "quarentão",
envolvido com bandas e com o underground desde moleque, posso avaliar melhor
como a sociedade é estúpida.
A grande maioria das pessoas se ilude com muito pouco e se
agarram a valores discutíveis, até mesmo no dito underground não é diferente, e
consigo enxergar canalhas e aproveitadores aos montes...
Sobre o fato de ser vocalista, é aquilo: muitas ideias na
cabeça, muita coisa pra se dizer e nenhum talento musical. Foi o que sobrou pra
mim e olha lá.
Só tenho uma preocupação quando o assunto é música, o temor
de meu trabalho atingir as pessoas erradas. Penso que a grande missão é
transmitir minhas ideias, e se por acaso esse trabalho agradar um número
expressivo de alienados que não se preocupam com o que as letras falam, com a
mensagem, é hora de parar.
A luta é tentar fazer as pessoas pensarem, talvez por isso,
eu seja curto e grosso em minhas letras. Tudo fácil de entender, só continua
alienado quem quer. E não tenho a pretensão de agradar, não peço que concordem
com o que digo ou penso, só quero que reflitam a respeito, questionem e saiam da
zona de conforto.
HMB: Então você acredita que através da música é possível
mostrar tanto o lado bom, quanto o lado ruim das coisas?
Carlos: Eu penso que qualquer manifestação artística tem a
missão de fazer com que as pessoas questionem suas vidas e o mundo que as
cercam.
Com a música não é diferente, muito embora compreenda que a
maioria a consuma apenas como diversão e como uma maneira de esquecer tudo a
sua volta. É paradoxal, talvez por isso,
seja tão complexo para muitos entenderem.
HMB: Como você encara a manipulação dos jovens pela media?
Carlos: Bem, em meu trabalho como educador e historiador,
posso perceber que muitos jovens, infelizmente, não pensam com o próprio
cérebro. É fácil constatar e afirmar que a lavagem cerebral é constante e
contínua. Lembro que certa vez questionei uma jovem do motivo pelo
qual ela estava se comportando de maneira tão diferente daquela que costumava,
e ela simplesmente me respondeu: "ah todos são assim, precisei dar um
jeito."
A mídia tem o poder de tratar tudo que é diferente como ruim
ou desajustado e como ela trabalha para o Sistema, nada melhor do que deixar
suas "ovelhas" iguais e seguindo um caminho de fácil pastoreio.
Cabe a nós, abrir os olhos de tantos quanto pudermos.
HMB: Mudanças políticas são fundamentais para o crescimento,
ou cabe às pessoas tomarem conhecimento do que está errado, na sua visão, qual
é o papel da cultura do crescimento pessoal de cada um?
Carlos: A cultura tem funções sociais que são mais
importantes para o desenvolvimento de uma comunidade do que o conteúdo
propriamente dito dessa cultura.
HMB: Sim, entendo, mas se você recebe um produto de péssima
qualidade, qual vai ser o seu entendimento disso? Um entendimento péssimo,
acredito...
Carlos: Penso que há uma relatividade muito grande nesse
sentido. Eu e você, por exemplo, temos um entendimento muito diferente sobre
qualidade do que muitos outros. O que quero dizer, é que penso ser mais
importante existir uma real ligação entre a cultural produzida e a comunidade
em questão. Algo que realmente faça sentido para os indivíduos envolvidos sem
uma pressão imperialista e midiática.
HMB: Qual é o objetivo principal da sua banda Cambones,
diversão ou conscientização?
Carlos: Posso afirmar com bastante tranquilidade que o
Cambones existe para ser um agente de conscientização e como válvula de escape
politico social. É claro que no final das contas uma coisa leva a outra e há
muita diversão em torno do nosso som e da banda propriamente dita. O
interessante é quando os jovens se divertem motivados pelo punk rock e o
hardcore e depois questionem as letras e a mensagem de cada uma.
HMB: A cena hardcore é famosa por levar a cabo o D.I.Y (Do It Youself), você concorda com
esse tipo de visão? Não seria limitar demais a exposição de uma banda, que nos
dias de hoje, vive exclusivamente da venda de seu material promocional?
Carlos: No Cambones ninguém está preocupado com o tamanho da
exposição atingida. O que buscamos sempre é a liberdade de se expressar e de
produzir. Tudo é feito muito naturalmente e sem nenhum tipo de expectativa. Se
por um lado curtimos muito tocar e de
preferirmos locais periféricos onde quase ninguém quer ir, por outro não
esquentamos muito a cabeça quando precisamos dar férias para a banda. Tudo
natural e no tempo de cada um. Ainda sobre o tema exposição, penso sermos a
antítese de quase tudo que está por aí.
HMB: Porque adotar uma posição política definida e já houve
consequências pro este posicionamento??
Carlos: Bem, a banda é uma extensão do que somos em nossas
vidas. Somos uma banda obviamente de esquerda ou até mesmo de extrema esquerda.
Vale ressaltar que muita gente sequer tem ideia do que significa as definições
esquerda e direita. Pois, se você consegue se indignar com tamanha desigualdade
social, com o preconceito, o machismo, o sexismo e é a favor dos direitos
trabalhistas e contra a exploração, então você é de esquerda. Temos muita
liberdade na banda, a formação conta com anarquistas e comunistas. Aliás a nova
peita do Cambones traz o logomarca anarco-comunista. Em relação as consequências,
penso que por hora só colhemos as positivas. Abrimos portas interessantes através
de nosso sincero e natural posicionamento politico. É bom ressaltar que a cena
está repleta de bandas com integrantes reacionários, mesmo entre bandas de
hardcore, que nasceu do punk, é fácil encontrarmos o paradoxal posicionamento
direitista. Só para constar, a direita é de quem detém o poder. Se você é pobre
de direita, com certeza sofre de síndrome de Estocolmo.
HMB: Planos para o futuro?
Carlos: Nossos planos são terminar a mixagem e a masterização
de nosso disco, lança-lo de uma forma ou de outra e fazermos muitos shows para
divulga-lo.
HMB: Resuma Carlos Parra em uma frase.
Carlos: Para me resumir usarei dois verbos: Acreditar e
Lutar!!!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem aos nossos leitores.
Carlos: Agradeço a oportunidade e aproveito para dizer para os
leitores que mesmo que muitas vezes nos sintamos uma pequena gota em um imenso
oceano, não se deixe influenciar só para agradar algo ou alguém. Sermos nós
mesmos, por pior que possa parecer, é e sempre será o melhor a fazer.
"Lutemos por um mundo sem nenhum tipo de fronteiras e
bandeiras só se forem as pretas ou vermelhas. Afinal tanto o preconceito quanto
o patriotismo, são os refúgios dos imbecis."
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