Jurandir é um cara multitarefas, sindicalista, professor e
Headbanger! O porta voz do Heavy Metal na cidade de Paulo Afonso (BA) e
frontman de uma das mais batalhadoras bandas daquela cena, o Hatend! Um cara
que luta com unhas e dentes pelo seu espaço, confira tudo o que tem a dizer
este verdadeiro representante do underground!
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
Jurandir Roque Lima: Nossa, eu que agradeço, a mais um
veículo formidável de divulgação de nossa cena que é tão rica, Obrigado ao
Heavy Metal Breakdown.
Bem vamos lá sou Jurandir Roque Lima, tenho 37 anos e
sou vocalista da banda Hatend há 10 anos, também sou diretor num sindicato aqui
de minha cidade, Sindicato dos Comerciários de Paulo Afonso e Região (Sincopa), professor também com habilitação em português e inglês graduado em Letras,
então como não é novidade, nenhuma pra nós que fazemos metal no Brasil temos
que acumular várias atividades, se quisermos dar ao luxo de viver o nosso
grande amor que é heavy metal e comigo não é diferente dos leitores e bangers
espalhados pelo país, mas tenho orgulho de toda esta trajetória, pois já canto
em bandas desde 95 e já tenho uma vida ligada ao metal/rock de mais 24 anos, e
cada dia amo mais isso. Mesmo com toda a dificuldade.
HMB: Podemos dizer que em todas as suas atividades, você é
movido pela paixão, já que atua em áreas tão diferentes?
Jurandir: Acredito que está é chave pra tudo na vida, a
paixão e o sentimento que você coloca quando faz as coisas, tudo é um misto de
iniciativa (fazer), sonho (metas), paixão (dedicação) e persistência
(continuar), muita gente quando percorre qualquer caminho se apega muito ao
destino e ao seu final, já comigo eu prefiro o percurso, as viradas, as curvas,
por que quando se chega ao final tudo acaba, o prazer pra mim está na jornada e
minha está muito longe de acabar, ainda bem. Tudo parte daquela premissa onde eu
prefiro as escadas em vez do elevador, e isso aplico em tudo que faço.
HMB: Uma colocação que se aplica muito bem ao mundo da música
pesada: preferir as escadas em vez do elevador. Você acredita que não existe
música pesada sem trabalho duro?
Jurandir: Acredito! Que mesmo soando clichê, mas as nossas
vidas são regidas por clichês gerais, que tem peso individual pra cada um, e
pra mim, o trabalho só ficara perfeito com muita dedicação e doação e cruzando
um degrau de cada, vez, e vamos voltar ao velho ditado mais infalível quanto
mais alto fica, mais rápida é a queda, e se você sobe devagar e a queda
acontecer, você terá uma base solida pra lutar, começar e se reinventar, eu
nunca tive medo do recomeço e no mundo da música principalmente, ter coragem e
ir em frente é a chave, e mesmo aqui em Paulo Afonso (BA) vivendo em uma região
com uma cultura tão forte para o popular, forro, axé, pagode, fazer metal contra
tudo e todos, só com muito trabalho e amor mesmo, acho que isso que outro
estilo não tem e nunca vai saber que que música é sentimento. E estamos
aqui pra provar isso.
HMB: E que tipo de obstáculos você encontra? Como você
descreveria a cena da música pesada na Bahia?
Jurandir: Fora os obstáculos que colocamos sobre nós mesmos,
encontramos às vezes nas pessoas e nas expectativas, que nem sempre aquele
sucesso ou reconhecimento que é meta de cada banda, virá! E que esbarra também
no gastar e não ver o retorno disso, mais particularmente pra mim. Que não enxergo
a Hatend como fonte de renda (mas nunca dizendo que eu não queira que isso
aconteça, mas se não acontecer estamos bem assim, persistindo e continuando e
levando nosso nome ao máximo de pessoas que pudermos). E não vivemos da banda, temos
empregos deixando que o amor pelo metal e liberdade com nosso destino musical e
que a banda viva por tanto tempo, em uma cidade onde só tem a Hatend como
representante da musica pesada, em uma cidade que tem 109 mil habitantes, no
extremo norte do estado, estado este que tem 413 municípios e fica a 484
quilômetros da capital Salvador, ainda esbarramos nos preconceitos e visões
sobre o metal e rock, que é de marginalidade e não ser cultura, sendo
desprestigiado de qualquer tipo de
invectivos das políticas publicas e privadas, é isso que fundo nos dá
combustível pra continuar sempre e tendo que praticamente, inventar nossos espaço,
em um lugar onde só tem espaço pra
cultura de massa.
Mas temos grandes bandas aqui neste estado e nossa cena é
muito forte em toda a Bahia. Temos o Palco do Rock em Salvador, que é feito em
pleno carnaval e fora do grande centro temos o Boqueirão Festival em Cícero
Dantas, organizado pelo Adauto Dantas,temos o Bahia Rock Machine, site do Guilherme
Neto, que divulga nossa cena, e no sul do Estado tem a Retch Records do Julio Neto , Wilker Carvalho
organizador do Alta Voltagem aqui de Paulo Afonso.
E pra não correr risco de esquecer nenhuma banda cito aqui
as duas grandes representantes que são o
Headhunter D.C. e o Mystifer. Que são o espelho para continuarmos, mas como eu disse nosso Estado é imenso e tem grandes
bandas que não devem nada a ninguém, só esperando serem reconhecidas e
descobertas por headbangers curiosos. Que queiram sair da zona de conforto e
descobrir o metal aqui na Bahia..
HMB: Eu vi um show do Headhunter D.C. há poucas semanas com
o Nervo Chaos aqui em São Paulo, e vou te falar! É impressionante essa banda no
palco! Você acha que uma banda estando no eixo Rio-São Paulo tem mais chance de
exposição? Ou enxerga isso como mito?
Jurandir: Deve realmente ter sido uma experiência única,
tanto Headhunter D.C. como Nervo Chaos são duas grandes bandas de nosso Brasil.
Sim Acredito que a exposição é bem maior por que aí, mesmo
aos trancos e barrancos, pois sei que aí também é difícil, mas no eixo ainda
existe um circuito de casas e de alguns interessados que abrem espaço pra
música pesada e autoral, estúdios e
mídias especializadas, Sampa é um lugar para expor bem uma banda, mas diferente de alguns e de uma minoria que
ainda faz uma zoada boa sobre isso.
Não Metal do Brasil não se resume só ao eixo Rio e São
Paulo, e ainda faltam alguns enxergarem e aceitarem mais isso, claro que isto
mudou muito, hoje em dia, com Internet e as redes sociais, mas ao mesmo tempo
também cresceu um tipo de bairrismo que impõe esta barreira, mas para nossa
alegria,em paralelo a isso tem gente boa na mídia e até na cena que abre espaço
para que bandas fora do eixo Rio –São Paulo se apresentarem ao público, como o
caso, agora do Heavy Metal Breakdown!
Mas acredito que entenderão o que eu quis dizer, que ainda existe
em nossa região uma grande vitrine, mesmo que longe daí, que também tem uma
vida e bandas que merecem tanto respeito e olhares como todas, mais sim não é
mito não, lutamos pra um dia também chegarmos até vocês e mostrar o nosso
metal, feito no meio de sertão com muito sangue no olho.
HMB: Como é a sua relação com a internet, mais precisamente
com as redes sociais?
Jurandir: Minha relação é melhor possível, fizemos grandes
amigos e conquistamos muito suporte nas redes sociais, acredito que muito de
nosso alcance e contato devemos as tais redes, como tudo na vida se você usa
com seriedade e compromisso, ela retorna para você da melhor forma, por lá, temos
contato direto com quem acompanha nossa música, é um grande contato, sem limites
tanto para bem ou para mal, não tem mais como viver sem isso, mas precisamos saber
usar acredito que se colhemos tantas coisas boas é por que usamos direito, e
quero aqui agradecer a cada um aqui que nos acompanha pelo nossa page e que
partir de agora também vai nos conhecer um pouco mais e podem fica a vontade
pra acompanhar, criticar, falar e propagar o nome da Hatend, nós só temos que agradecer
e dizer que independente de tudo que acontecer, estaremos aqui firmes e fortes.
HMB: E a cena da música pesada nacional, como você é o seu
relacionamento com outras bandas?
Jurandir: Da minha parte é de respeito e cooperação e não
competição, temos boa relação com bandas de rock de varias vertentes, então para
mim, acredito que se não houver união
não haverá realmente uma cena, acredito que nossa fraqueza está na barreira e nas
separações, que muitas vezes veem de dentro do rock e do próprio
metal. Quando eu comecei, você é aquele moleque que quer ser o fodão, o true, de minha parte nunca
compactuei com uma linha, só de música, e sou assim até hoje, posso escutar o
Ten do Pearl Jam, com mesma paixão que escuto o The Great Execution do Krisun ,
desculpem-me os xiitas mas sempre fui assim! E como eu gostaria que anossa cena
tivesse esta compreensão e que as bandas também estivessem se respeitando. Aacho
que respeito define tudo.
HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo
de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Jurandir: Sempre acreditei nisso! Mas como em qualquer
repartição ou grupo de pessoas alguns pensamentos de individualidade, de superioridade,
e até mesmo de descrença, não acredita que esta união seja benéfica a todos, epõem
tudo a perder, e acho que tudo que se faz sozinho torna-se mais difícil, acho
tão contraditório, até mesmo pro movimento rock e metal e todos seus
subgêneros, que tem como ideia básica,
mesmo que de forma indireta a liberdade e o respeito como filosofia, mesmo que ate de maneira quase imperceptível,
seja em letras de musica ou atitude, acumule tanta desunião, mas acredito
sempre na evolução natural do ser humano e com um trabalho de conscientização
das bandas e do público poderemos andar juntos de verdade, sem hipocrisia, seja
qualquer estilo dentro do rock e do metal, acredito mesmo nisso! Levantaria qualquer
cena, todos unidos trabalhando junto e cooperando não teria pra ninguém. Vou
continuar a lutar, mesmo que muitos já digam que isso é bem utópico, acho que
meu lado educador nunca desacredita na
capacidade de superação de qualquer pessoas em relação a qualquer coisa ou
situação.
HMB: O que você acha da segmentação dos shows, onde só tocam
bandas de Thrash Metal, em outros, bandas de Death Metal, alguns bandas de
Heavy Metal, não seria mais interessante terem bandas de vários estilos dentro
de um mesmo evento?
Jurandir: Vou te falar o que acontece por aqui, muitos acham
que este tipo de ideia (de separar estilos) devia continuar, mas no interior eu
falo a todos isso e vamos ver se concordam em se fazer um festival assim aqui e
já fizeram muitos é bem ruim por que o público é muito pouco, mesmo pra todo mundo, vamos falar que aquela
parte do público consciente, para cada estilo, é mais ou menos umas vinte
pessoas, que realmente querem pagar o ingresso e querem fortalecer a cena e
muitos gostam, mas preferem ficar do lado de fora, bebendo, não entram e tal,
não valorizam e todo mundo perde, divulgação, material é tudo, não sei se
em grandes centros funcionaria. Pode
ser, por ter mais gente e tals... Mais no interior não, a única solução pra
isso, é realmente o público se educar e respeitar uns aos outros e fazer a
festa juntos, afinal todos concordam em uma coisa: temos gosto diferenciado da
grande massa, somos todos fã de guitarra pesada ou de guitarras, porque também
falo isso do Rock, Blues e Jazz. Então acredito que esse tipo de coisa
funciona, aqui no Nordeste tem Festival chamado Abril Pro Rock, na cidade de
Recife (PE) , que já pratica isso há mais de 20 anos com muito sucesso que na
noite do peso ou dos camisas pretas como popularmente é chamado, figuram bandas
Metal e HC, Rock e é um sucesso, temos
provas que pode funcionar, e que já funciona não sei por que não aplicar!
Pois pelo menos nós, da Hatend temos muito boas relações com bandas de várias
vertentes e até já tocamos em festivais Punks e HC e sempre foi maravilhoso e
proveitoso. Não vejo por que não.
HMB: Planos para o futuro?
Jurandir: Continuar com a Hatend, levar a banda maior numero de pessoas
possível e divulgar nosso trabalho.
HMB: Resuma Jurandir Roque Lima em uma frase
Jurandir: Esta frase é de um adesivo que via em muitos vinis a
Eldorado, e pra min é tudo: “Rock Sempre, Violência Nunca” isto sou eu.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Jurandir: Queria dizer que eu que agradeço em meu nome e da Hatend,
pelo espaço dado no Heavy Metal Breakdown , este grande veículo de divulgação
de cena, feito por uma cara amigo e generoso, o grande JP Carvalho, que me deu o prazer de
figurar aqui do lado de grandes pessoas, que movimentam a cena de alguma forma,
e que também são influência pra mim. Digo que li todas as entrevistas feitas
aqui, que são um grande espelho e incentivo pra continuarmos na luta. Obrigado
aos leitores e aqueles que a partir desta entrevista vão conhecer um pouco de
mim e do meu trabalho. Valeu pelo espaço e nos veremos logo em algum palco
perto de vocês, Metal sempre!
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