Fernanda Terra além de ser uma eximia instrumentista é
daquelas pessoas que encanta, que nos faz bem e demonstra uma vontade de viver
imensa, cercada de seus projetos, de suas aulas e bandas, Fernanda encontrou um
tempo para este bate-papo por e-mail, e se mostrou uma pessoa muito focada na
sua arte, além de deixar muito claro que tem visão e busca seus objetivos com
unhas e dentes, confiram a seguir:
HM Breakdown: Antes, fale sobre você, suas
atividades e em como você se tornou baterista.
Fernanda Terra: Esse ano faço 22 anos de bateria. Comecei a
tocar pra tocar na banda do meu irmão que fazia cover de Iron Maiden,
Metallica, Ramones, L7... Desde lá nunca mais parei, nunca tive a pretensão de
que virasse minha profissão, fui tocando por hobbie e fui ficando conhecida e
com o tempo fui sendo remunerada pra isso. Hoje é minha profissão, dou aula de
bateria e ganho mais do que quando eu era designer. Confesso que precisei de
coragem pra mudar de uma profissão que eu era pós-graduada pra uma que eu
comecei no colégio. Apoio da família eu sempre tive, desde que fosse hobbie
(risos), tenho uma tia que até hoje me pergunta se eu estou trabalhando ou só
dando aula, eu dou risada disso. Estou num momento legal... Logo mais volto a
fazer workshop, dessa vez pra Yamaha, assinei contrato com a bateria eletrônica
deles este ano, mas continuo com a acústica da Sonor. Estou com uma banda de
som próprio, um Pantera cover só de mulheres e uma banda de Brasília me chamou
pra tocar e eu topei! Acredito que já vivi 1/3 da minha vida baterística, muito
bem vivida!
HMB: Falando nisso, você não acha que se tornou cultural, as
pessoas dizerem para alguém que trabalha com artes, seja ela um ator, músico, artista
plástico ou qualquer coisa relacionada a artes, que ele não trabalha e vive
apenas disso? Qual a sua opinião sobre isso e o que você acha que deve ser feito,
buscando mudar esse tipo de visão?
Fernanda: Eu acho que isso se deve as pessoas que levam a
arte como hobbie, por quem já tem uma renda fixa e toca de graça, da aula por
um valor baixíssimo, toca por cerveja... E isso vai desvalorizando a profissão
e o próprio trabalho. E por essas e outras a profissão não é levada muito a
serio por alguns. Eu acho que a ordem dos músicos tinha que fazer algo em
relação a isso.
Também acho um absurdo aqueles eventos que os músicos
(normalmente estudantes sustentados pelos pais) têm que vender uma quantidade
de ingressos, devia ser proibido isso, quem organiza o evento que tem que se
preocupar com isso e não a banda. Ai o cara que vai tocar nesse evento vem e
fala que ou faz isso ou não toca em lugar nenhum, se ele e todas as pessoas que
tocam dessa maneira boicotassem esses eventos não iria existir essa exploração,
duvido que esse produtor não fosse precisar das bandas pra fazer eventos.
Enfim, tocar é um trabalho, um trabalho legal, mas trabalho
e tem que ser remunerado mesmo que você tenha outra profissão.
HMB: Qual seriam as dificuldades para uma pessoa se torne
músico profissional??? Existem dificuldades burocráticas para serem ultrapassadas ou é
mais simples do que parece ser?
Fernanda: Precisa acreditar, ter coragem, persistência e
dedicação porque uma das maiores dificuldades é ouvir dos outros que não vai
dar certo. Ainda tem as pessoas que competem, quando se sentem ameaçadas e
tentam destruir o trabalho do outro. Mas isso não muda muito, rola um susto no
começo porque isso é bem cruel, mas logo você acaba percebendo a realidade, é
só ter foco e continuar, eu mesma nunca vou achar que esta bom, sempre vou ter
o que melhorar, mas se alguém acha que já esta bom é melhor procurar outra
coisa pra fazer, porque qualquer um sempre vai ter o que evoluir. Pra mulher é
mais difícil, existe muito machismo nesse meio. Mas pra mim o que importa é ter
respeito por si mesmo, pelos outros e praticar que o trabalho vai aparecendo.
HMB: Mesmo o Brasil sendo um celeiro de bandas e músicos
criativos e virtuosos, o público muitas vezes não dá espaço, ou não vê mesmo o
talento, Essa persistência e crença no trabalho a que você se refere, acaba
sendo um caminho que todos têm que trilhar, ou um músico que persiste em ter
uma carreira internacional, acaba sendo um candidato mais forte a ver a luz no
fim do túnel?
Fernanda: Na real eu acho que a grande maioria do publico vê
o talento e o virtuosismo quando ele eh alcançado, o que eu disse sobre as
competições, geralmente são entre os próprios músicos e é uma minoria. Acho
legal investir em carreira internacional sim, com um publico maior é mais fácil
viver de musica e com a internet tudo ficou muito mais fácil.
HMB: Existe algum estilo musical que você se recusaria a
tocar, mesmo profissionalmente?
Fernanda: Axé, funk... O obvio... (risos)
HMB: E tirando esses que citou, fora do rock, você gosta de
algum outro estilo musical?
Fernanda: Gosto de tudo que não é comercial, não gosto de
musica com prazo de validade que faz sucesso por um verão. Fora do rock eu
gosto de Blues, reggae, jazz, mpb... Não que eu goste e conheça de tudo dentro
desses estilos, mas tem muita coisa que me agrada.
HMB: No seu modo de ver, como anda a cena da música pesada
nacional?
Fernanda: Acho que a cena da musica pesada esta bem legal,
só acho que tem muita gente que reclama por pagar 20 reais num show, mas aí vem
uma banda de fora e paga 300 sem questionar nada. Acho que podiam valorizar
mais o que temos por aqui, isso ajuda a fortalecer a cena.
HMB: Planos para o futuro?
Fernanda: Tenho muitos planos para o futuro, mas num futuro
próximo eu pretendo estar de volta aos palcos, fazer workshops, tem muitas
coisas para acontecer ainda esse ano se tudo der certo, quem quiser ficar por
dentro pode entrar no meu site www.fernandaterra.com ou curtir minha página no
facebook.com/fernanda.terra1
HMB: Resuma Fernanda Terra em uma frase
Fernanda: Ousar lutar ousar vencer!
Essa frase é do Carlos Lamarca, mas me identifico muito! Ou pode ser também "Enquanto meu coração tiver ritmo
vou tocar bateria". Essa é minha (risos).
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para nossos leitores.
Fernanda: Obrigada pela entrevista, JP!
Ae galera, valeu a força! Apoiem o underground indo aos shows,
comprando material das bandas, toquem, fotografem, façam sites... Faça alguma
coisa pra fortalecer a cena, sempre se respeitando e respeitando o próximo! É
isso, valeu!
Excelente!
ResponderExcluiruhuuu... É isso ai a Fê sempre mandando bem. Vc ja sabe mais quero registrar aqui também... Desejo sempre muito sucesso e estarei sempre acompanhando e torcendo por vc... ;-)
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