HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você, suas
atividades e em como você se tornou guitarrista
Prika Amaral: Eu toco guitarra na banda Nervosa, atualmente
estamos lançando o nosso CD de estréia
"Victim of Yourself" e iniciando uma turnê para promover esse
disco, nossa perspectiva é tocar no Brasil todo, Europa, América do Sul e EUA
ainda esse ano.
Comecei a tocar guitarra com 14 anos e fazem 14 anos que toco
guitarra. Meu pai toca viola caipira e meu avô tocava violão na rádio nos anos
60, acho que nasci para ser musicista de cordas, e como minha mãe é do Classic Rock, misturou-se tudo, e aí que eu surgi assim, guitarrista de Metal!
HMB: Você concorda que numa família onde a música faz parte
do dia a dia, a possibilidade de alguns deles se tornarem profissionais é maior do
que em outras famílias? O que você acha necessário para que o aprendizado
musical seja mais abrangente para as pessoas que não tem essa ligação?
Prika: Com certeza, principalmente quando somos crianças,
pois a criança é educada pelos pais, e logo é influenciada por eles. Em minha
opinião, se existisse aula de música nas escolas públicas a mediocridade da
música brasileira iria diminuir bastante, pelo menos teríamos bons músicos, e
quando digo bons músicos estou me referindo que pelo menos o estilo funk
carioca tivesse instrumentos ao invés de uma batida barata eletrônica, horrivelmente
mal feita, talvez assim, quem sabe, poderíamos começar a chamar de música.
Música é terapia, exercita o cérebro, é cultura, enriquece a
alma, é arte e é vida. Pra mim aula de música é muito mais importante do que
uma aula química, por exemplo, tudo o que eu aprendi de química não serviu pra
nada, essa aula é importante para uma faculdade onde necessite, não para um
ensino fundamental ou médio, a música sim, vai enriquecer e trazer alguma coisa
para a vida.
HMB: O que você pensa da cena musical brasileira??
Prika: O Brasil sem dúvida alguma tem uma cena riquíssima,
com muitas bandas ótimas, sempre em entrevistas de outros países, sempre
perguntam sobre as bandas daqui e a cena. Nós temos um potencial magnifico e
não é a toa que está chovendo shows de bandas gringas por aqui, e o mais legal
é ver que a cena brasileira está se descentralizando, ou seja, saindo um pouco
de São Paulo. Agora é comum vermos shows gringos pelo país todo, isso é demais.
Esse negócio de desunião é besteira, isso existe no mundo inteiro e a cena
acontece. O que fode com a nossa cena é a porcaria do nosso governo, onde tudo
se torna inviável devido aos preços, tudo é uma questão de que aqui o governo
rouba e quem paga somos nós, os impostos mais caros do mundo e os juros mais
abusivos, isso implica diretamente no preço de tudo.
Existem muitos produtores sérios e bons, é só não se
sujeitar a porcarias que elas deixam de existir, ou seja, enquanto existirem bandas que aceitam pagar pra tocar vendendo uma cota de ingresso, sempre existirão produtores propondo esses absurdos. Faltam casas de show porque é caro
manter, e é caro manter porque os impostos são absurdos e tudo mais, mas tudo
se resume na economia brasileira onde o governo impõe o roubo e o brasileiro
assina embaixo e ainda fica devendo. O público precisa valorizar um pouco mais
o que tem, porque temos coisas ótimas e os gringos pagam muito pau pra gente lá
fora.
HMB: Concordo plenamente com você. Sua banda hoje, esta alcançando status de grande banda, Vocês conseguiram mostrar que, com trabalho
duro e muita vontade, é possível conquistar seu espaço e valorizar sua música. Você acredita que as pessoas podem seguir este exemplo, ou ainda é
difícil para as bandas brasileiras darem passos maiores?
Prika: O único limite é você mesmo, como o titulo do nosso
disco "Victim of Yourself", e é isso você é vitima de si mesmo, o que
você plantar você vai colher. As pessoas falam que conseguimos as coisas fáceis
porque somos mulheres, mas não foi isso que fez a gente conquistar as coisas,
mesmo porque existem muitas bandas de mulheres. O que ninguém sabe é que
abrimos mão de tudo, eu e a Fernanda Lira largamos a faculdade pra nos dedicar a
banda, eme afastei da família que mora em outra cidade, abandonei um ótimo
emprego pra trabalhar em uma empresa ruim e que paga mal, só pela flexibilidade
de horários, porque tudo é pela banda, corremos atrás e tentamos fazer tudo
o mais profissional possível. Eu acho que tudo depende do tamanho do seu
esforço e de sua dedicação, tudo depende do seu capricho e cuidado em fazer um
bom trabalho, ninguém gosta de coisa mal gravada em qualquer estúdio e de um CD
com qualquer capa, hoje em dia é tão fácil fazer as coisas direito, que é
inaceitável algo mal feito.
Ninguém vai dar patrocínio para uma banda que não tem no
mínimo um site, as pessoas não enxergam as possibilidades e oportunidades, ter
uma banda é como uma empresa, tem que saber administrar tanto financeiramente
como administrar a imagem, e imagem eu digo é a impressão que você passa aos
outros.
HMB: Como você vê a cena da música pesada hoje? E, tem
alguma coisa que na sua opinião seja relevante para a cena hoje???
Prika: O pessoal tem mania de ficar reclamando que o metal é
sempre o mesmo, que não surge mais nada de novo, e tudo mais, mas pra mim se
quer ouvir novidade vai curtir lepo lepo, porque isso é novidade, se você gosta
de metal você vai curtir o mesmo pra sempre, se mudar estraga, bandas muito
modernas não viram, tem um pequeno sucesso mas não sobrevivem, então esse
negócio de querer coisa nova e diferente pra mim é coisa de quem está cansado
de curtir metal/rock, por exemplo: eu vou ouvir Raining Blood pra sempre e vou
gostar das bandas novas que são influencias por isso. Tem uma parte do público
que se sente entediado, principalmente as pessoas que vivem em cidades grandes,
é uma síndrome comum hoje em dia, eu vejo tantas bandas boas, como por exemplos
algumas nacionais que estão dando o que falar tanto aqui no Brasil quanto lá
fora: Krow, Lacerated and Canbonized, Vocífera, Leatherfaces, Necromesis,
Voodoo Priest, etc... São bandas novas que são totalmente profissionais e são
ótimas! Hoje em dia as coisas estão muito mais a nosso favor, porque antes os
contatos eram feitos por carta, porque as ligações eram caras, principalmente interurbanos,
e ligações internacionais então, era impossível, troca de material era só pelo
Correio, tudo acontecia mais lentamente e, sem contar no acesso aos
instrumentos, que eram hiper caros e os que tinham no Brasil não eram marcas
tão boas e era necessário importar muitas coisas, então hoje é tudo muito
fácil, conseguimos falar com pessoas do mundo inteiro da mesma maneira que
falamos com os nossos vizinhos, amigos e parentes, o mundo ficou mais próximo,
e o acesso a tudo ficou fácil demais, o que mudou foi o humor das pessoas, que
ficaram chatas e entediadas, mas eu sinto a cena como um todo não só no Brasil
como no mundo também, se fortalecendo e aprendendo a se adaptar as condições
atuais, vejo um bom futuro, estamos crescendo, isso é o que importa!
HMB: E com a internet os contatos ficaram muito fáceis,
você consegue ver a sua vida ou o seu trabalho sem estar conectado e
principalmente, nas redes sociais?
Prika: O ser humano foi feito para se adaptar a qualquer
tipo de situação, então não existe essa de não conseguir viver sem, as redes
sociais são importantes pra quem tem banda ou pra quem tem uma empresa, é o
melhor meio de divulgação hoje em dia, porque todo mundo está conectado o tempo
todo, no caso de bandas é essencial, porque se a banda não está na internet ela
não existe, eu encaro como uma boa ferramenta, é só saber usar, porque tem
banda que quer enfiar goela abaixo, e não é assim que funciona, isso afasta as
pessoas, as nossas vidas conseguem prosseguir sem as redes sociais, mesmo porque
há poucos anos atrás isso tudo não existia e a gente vivia, eu acho incrível,
porque as redes sociais deram as pessoas um nível de divulgação de liberdade de
expressão individual incrível, e as pessoas se revelam muito, é uma diversidade
de comportamentos, 98% não sabe usar as redes sociais ao seu favor, mas todos
estão aprendendo pois a velocidade das novidades tecnologias são extremamente
rápidas, tudo fica obsoleto bem rapidamente. Tudo está ao nosso favor, basta as
pessoas entenderem isso e aprender a usar.
HMB: Planos para o futuro?
Prika: Tocar no mundo inteiro, conhecer muitos lugares,
viajar muito, divulgar o nosso trabalho, melhorar e crescer, gravar muitos CDs,
evoluir, conhecer e aprender.
HMB: Resuma Prika Amaral em uma frase.
Prika: Sinceridade verdadeiramente nervosa!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Prika: Primeiramente obrigada pela entrevista, foi muito
legal, parabéns pelo seu trabalho, tanto com os blogs e tudo o que faz, com
suas bandas, sempre presente e atuante, Yekun é foda e tem futuro. Aí vai o meu
recado: Respeitem todas as bandas, mesmo que você não goste, pois toda banda
teve uma dedicação, um trabalho duro, mesmo que seja mal feito, pode ter
certeza que envolveu escolhas e tempo dedicado, só por isso já merece respeito,
aprendam a lidar com a diferença de gostos, o que você não gosta o outro gosta,
e é assim pra tudo nessa vida.
Eu conheço a Prika e ela é guerreira.
ResponderExcluirTudo que vem colhendo com a Nervosa é por merecimento.
Parabéns pela entrevista, muito verdeira.
ótimo material!
ResponderExcluirMuito bom trabalho, JP!
ResponderExcluirObrigado!!!!
Excluir