quinta-feira, 19 de junho de 2014

Antônio Carlos Dias Fernandes, fé, determinação e sabedoria


Antônio Carlos Dias Fernandes, vocalista das bandas Sistema Sangria e Crakolândia, figurinha carimbada no cenário da música pesada de São Paulo e um sujeito muito tranquilo e educado, apesar de não parecer! E foi neste clima que Tonhão nos concedeu essa entrevista, onde fala dos seus trabalhos e da sua visão do cenário Underground. Confira!

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Antônio Carlos Dias Fernandes: Boa tarde a todos, meu nome é Antônio Carlos, sou vocalista e guitarrista do Crakolândia e também do Sistema Sangria Tenho 33 anos e atualmente trabalho no ramo de vendas, das quais sai minha fonte de renda, para sustentar o som que não pode parar e desde já agradeço a oportunidade dessa entrevista!
Bom, estou nessa parada há mais de quinze anos, comecei em meados de 98 com o Hate que depois foi batizado de Downhatta, tocamos em muitos lugares de São Paulo e do interior, toquei guitarra em duas ocasiões no Sistema Sangria e hoje toco guitarra e canto no Crakolândia, junto com o Fábio do Sistema Sangria e o Batata do Imminent Chaos.

HMB: E nesses quinze anos, você percebeu alguma mudança no cenário da música pesada aqui de São Paulo?
Tonhão: Aumentou a quantidade de bandas, hoje em dia e mais fácil para se lançar um CD para se gravar, os meios de comunicação estão muito avançados hoje em dia, na minha época lembro-me de receber cartas e fazem contato via correio, hoje tem ferramentas como facebook, myspace entre outros para você divulgar sua banda, você lembra como era difícil para lançar um CD há dez anos, lembro-me de gravar fita e mandar para os lugares, tudo hoje ficou melhor, temos mais opções de show mais infelizmente faltam casas de show que deem um valor para as bandas underground e infelizmente ainda e muito difícil sobreviver só de banda até hoje, mesmo assim prefiro fazer o que gosto, a tocar um som só por dinheiro, por isso hoje, sou vendedor.

HMB: E você acha que com todas essas facilidades houve uma banalização do trabalho autoral o que fez com que as pessoas migrassem para os shows de bandas tributo?
Tonhão: Eu particularmente dou muito valor para quem faz um som próprio mais o pior e que pagam mais p quem faz um cover de algum grupo pop rock entre outros do que para um som de autoria própria feito de verdade, que graça tem você querer ser o guitarrista da banda y ou x?
Só para reforçar está questão não tenho nada contra quem toca cover e é feliz assim mais desde já você que toca cover está tirando um espaço que poderia ser para divulgar sua composição ou algo do tipo, bandas famosas não precisam de divulgação vamos divulgar o som próprio.

HMB: Você é inserido predominantemente no cenário Hardcore, mas migra por entre as vertentes com facilidade, já que sua banda agrada todos os públicos. Quais são as grandes diferenças em relação ao público entre o cenário Heavy Metal e o cenário Hardcore?
Tonhão: Que pergunta difícil essa, viu JP, vou tomar cuidado para não falar besteira. Em primeiro lugar fico feliz por agradar a todas vertentes se assim for à todos que escutam nosso som, não vou falar dos outros mais eu particularmente escuto muito tipo de som diferente desde o metal ao Hardcore, não sei se estou certo mais estou mais envolvido no cenário Hardcore mais vejo que a galera do heavy metal tem uma organização muito forte, existem muitos festivais de metal que a galera da uma força a todos os tipos de som e no Hardcore tem alguns estilos que se dividem sendo que poderíamos se misturar sem frescura de rótulos, não gosto de ficar inventando estilos ou rótulos e particularmente gosto tanto do metal como Hardcore, Thrash entre outros nunca vou ficar falando que sou só um estilo sendo que posso ter influência de tudo e agregar a um conhecimento maior de estilos musicais diferentes.


HMB: Sendo assim, o que toca no seu player?
Tonhão: Ultimamente estou escutando todos os trabalhos do mestre Ronnie James Dio desde o Sabbath, Heaven and Hell, em carreira solo e no Rainbow.  O Soundgarden é uma das minhas maiores influências no dia a dia, é a banda que escuto desde criança e a cada dia gosto mais, estou tentando colecionar todos em LP e estou quase conseguindo, recentemente ouvi o novo LP do Carcass e achei fudido, fora as bandas de cabeceira como Pantera, Slayer, entre outros, que escuto desde sempre.
E não posso me esquecer de Anthrax, Testament, Suicidal e se continuar vai longe..

HMB: Esse leque de influências acaba servindo de referencia na hora em que você compõe as suas linhas de voz?
Tonhão: Digamos que sim, o poder que o Dio tem na voz não existe, ele é único, mais para a linha de vocal berrado tenho outros tipos de influência, você pega uma gravação de vocal do Phil Anselmo e é uma produção surreal que nem ele consegue fazer ao vivo, Chuck Billy do Testament, acho um vocal monstro que serve de influência para um som pesado pelo menos para minhas ideias de timbre, gosto do vocal do Carcass, pois só ele consegue fazer aquela voz bestial e por ai vai. São muitas bandas e influências diferentes, por isso, não tenho como falar que sou do Grind, do Hardcore, do Thrash ou outro estilo, eu prefiro poder escutar um timbre de voz berrado, limpo agudo grave e de todos os estilos que caiam bem aos meus ouvidos e gosto e igual bunda cada um tem o seu, de repente posso estar falando merda mais é o que gosto, é muito peculiar essa referência, pois são timbres e encaixes diferentes que fazem a gente tentar melhorar cada vez mais sendo que nem em sonhos penso em chegar perto de alguns desses monstros.

HMB: Fale-nos da sua outra banda, o Kracolândia.
Tonhão: O Crackolândia é uma banda que deve ter já quase seus 10 anos também, é um projeto tranquilo no qual o objetivo é se divertir no ensaio sem stress ou cobrança, funciona assim uma hora de ensaio e a outra hora é descanso para as brejas, não consigo mais ficar num estúdio só tocando, tem que haver diálogo entre todos e o essencial, A CERVEJA,  no som podemos ou tentamos ao menos fazer um som mais arrastado com algumas músicas instrumentais e outras com vocal, é bem experimental mesmo.

HMB: E essa banda é um descanso da velocidade do Sistema Sangria?
Tonhão: Descanso de velocidade, descanso no berro e descanso em tudo...


HMB: Fale sobre o Sistema Sangria.
Tonhão: O sistema sangria começou comigo encontrando um amigo de infância, e que estudou comigo, depois de anos ele apareceu em casa dizendo que estava tocando guitarra e eu já tocava com o Hate que depois virou o Downhatta, chamei o rapaz que se chama Jesher para fazer vocal para eu tocar guitarra, pois no Downhatta eu já cantava e tinha acabado de comprar uma guita, conhecia o Nader e ele estava sem banda e o chamei para fazer o baixo mais ele tentou a bateria e em uma semana chamamos o Dinho para tocar a bateria, se eu não me engano a banda começou com o nome Insideout ou Insidecore não me lembro corretamente, tocamos em alguns lugares de Sp e na praia com essa formação, depois de um ano sai da banda e entrou meu irmão Bolivar assumindo a guitarra no qual ficou pouco tempo comigo voltando e saindo também vindo o André Hirota para assumir as guitarras da banda e o mesmo já tocava comigo no Downhatta sendo um dos fundadores juntamente com o Hatiro primeiro baterista do Downhatta e uma das pessoas que mais me ajudaram no meio da música, sempre vou agradecer os dois Hirotas e sua família, nesse meio tempo o André foi trabalhar no Japão e eu voltei com mais um guitarrista chamado Leandro. Passando se um tempo o Nader, me despediu e ao Leandro sem pagar fundo de garantia ou algo do tipo assim entrando o Fábio para assumir de vez as guitarras e dar uma mudada na vida do antigo Insidecore que virou Sistema sangria ajudando muito também nos corres do Downhatta e tocando comigo até hoje no Crackolândia sendo decisivo na correria e na mudança no estilo do som, com o Fábio ficamos com o som mais pesado com uma afinação diferente eu mesmo peguei muita influência de guitarra com o mestre Fábio, um mito do Sistema Sangria e logo depois, juntando-se ao time que se tornou a melhor formação da banda, o Dinho saiu, foi então que Igor (mãos de polvo), que assumiu a bateria e a banda ficou com a melhor formação desde então e lançando o CD “Brasileiro de verdade não tem medo não”.
Depois de anos voltei no lugar do Jesher, assumindo os vocais e gravando o LP Sistema Sangria que foi a realização de um sonho, poder lançar em vinil, com 20 faixas pelo selo independente Hardcaos.

HMB: Então o Sistema Sangria é muito mais uma família do que uma banda?
Tonhão: Todos que passaram pela banda são amigos, irmãos e por ai vai, até meu irmão de sangue fez parte disso e todos nós somos amigos à mais de 15 anos e todos que não estão tocando eu encontro sempre, acho que independente de quem for tocar, quem sair da banda temos que deixar a banda no estúdio e a amizade nas ruas tem que ser a mesma, não podemos misturar a banda com o cotidiano do nosso dia a dia. Penso que a banda serve como uma válvula de escape e um lazer não um compromisso, quando isso virar obsessão perde a razão e o prazer de tocar, não toco por dinheiro mais por que gosto do que faço e quando você toca com seus amigos e não pode ter um diálogo, uma conversa sobre tudo que está acontecendo já não está mais rolando como deve ser, para 4 integrantes de uma banda se encontrar não é todo dia então o estúdio não serve só para ensaiar mais também para conversar sobre os assuntos da banda e não na mesa do bar quando estaremos fazendo outras coisas,

HMB: A música funciona como uma terapia para você?
Tonhão: Com certeza a música tem um significado único, a felicidade de poder fazer composições novas e gravá-las e depois disso ouvir e ver o resultado, não tem dinheiro que pague, tem pessoas que gostam de sair e fazer seus roles e eu gosto muito de ficar trancado em casa ouvindo meus discos durante horas e para mim serve como terapia ou algo do tipo sim. Nesse momento estou ouvindo um LP e falando com você e é difícil um momento que eu não esteja com meu toca discos ligado, lembro ano passado depois de quinze anos, o Soundgarden lançou um CD, e fazia oito anos que não comprava um CD e esse tive que buscar só para ouvir o trabalho novo dos caras e isso me traz muita satisfação. As pessoas gostam de ir ao shopping e gastar dinheiro com o Mac Lixo e outras coisas, meu passatempo se baseia em estar em casa ouvindo algum disco ou fazendo alguma composição fora isso não tenho outras ocupações que me interessam nesse momento fora estar do lado de quem me faz bem e que tenha algo em comum comigo.


HMB: Como é o processo de composição das suas bandas?
Tonhão: Não temos um modo correto de composição, no Crackolândia no começo eu já tinha algumas músicas prontas e quando o Fábio entrou ele acrescentou fazendo vocal e trazendo seus riffs também, dependendo da música venho com um riff e o Fábio com outro e juntamos tudo misturando ao mesmo tempo com o mestre Batata dos tambores encaixando sua parte dando suas marretadas e dai vai, o processo do vocal no Crack fica por último quase sempre depois que ficou pronta a parte instrumental começamos a trabalhar em cima do vocal.
No Sistema Sangria é completamente, pois só faço parte das composições no vocal e no riff o Fábio e o Nader já vem com as ideias de casa, algumas músicas já vem com letra e depois vou moldando conforme acho melhor, mudando uma frase ou a forma como foi feito o e encaixe, normalmente mudo todos para ficar com o meu estilo, de resto acho que é por ai que vai o processo de composição. Acho que a única parte que tem em comum entre as duas bandas é que tanto o Batata, quanto o Igor fazem suas linhas de bateria com total liberdade.

HMB: O que você acha do cenário nacional e do apoio de selos, grupos que organizam shows e do público em geral?
Tonhão: Temos muitas bandas no cenário e é até injusto falar de uma ou outra banda. Mas vejo o cenário nacional cada vez mais forte, pois podemos ver que a galera do Metal, Hardcore, Punk, Crust, Grind entre outros estilos, estão juntos e misturados e isso é legal, ver o respeito que todos tem, sem discriminar ninguém, tem espaço para todos os estilos sem frescura e a galera está dando apoio, infelizmente é muito pouco por que aqui no Brasil ninguém consegue viver de música tendo que trabalhar para poder se sustentar, por isso quem sabe daqui alguns anos possamos dar mais valor as bandas do Underground para não  ter que tirar dinheiro para se lançar, ter apoio nos shows entre outras coisas, pois é muito difícil se manter no cenário sem ajuda ou apoio de algum selo, casas de shows e outros meios para fortalecer. Mesmo assim temos ajuda de alguns selos que estão atuantes na cena.
Marcelo do Rot e da loja Extreme Noise Discos é um dos que fortalece o movimento, e nós do Sistema Sangria agradecemos muito a ajuda e o espaço na loja, vendendo nosso vinil e divulgando nosso trabalho, o Pudoul, que é do selo Bucho Discos também sempre está na correria com a gente e se me esqueci de alguém, me desculpem, mais agradeço à todos que estão sempre ajudando o Sistema Sangria e também as bandas, selos, casas de shows que sempre estão apoiando a cena e as bandas aqui no Brasil. Sem ajuda, sem conquista!


HMB: Planos para o futuro?
Tonhão: Lançar um LP com o Crackolândia e fazer alguns shows sem desespero, continuar conhecendo bandas novas e quem sabe, um projeto novo para o  ano de 2015, tenho músicas enterradas, que dão para lançar um play inteiro e tem horas que penso muito em desenterrar e entrar em estúdio para lançar algo novo, espero também por prosperidade nesse país de políticos sem vergonh, que roubam a gente na cara larga, essa não vai ser a Copa do Mundo e sim a Copa do Roubo e da Exploração. Cambada de políticos filhos da puta, sem vergonha que só servem para roubar mais, espero que no futuro  tenham manifestações, pois cansamos disso tudo e parece que o povo está acordando, assim espero! Morte, Tristeza, Sangue,  Em vão, isso é a Copa do Mundo no Brasil

HMB: Resuma Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra ou frase.
Tonhão: Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra não dá, vou me descrever em três palavras: Fé, Determinação e Sabedoria.  Nunca desistir dos meus sonhos e objetivos, se tomei um rodo, eu me levanto e é sempre assim, sempre em frente.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Tonhão: Obrigado desde já pela oportunidade em ceder esse espaço muito legal e interessante que é a HeavyMetalBreakdown e a você grande JP, amigo de batalha de vários shows e roubadas por ai a fora, à todos leitores, amigos, bandas, casas de show que estão de uma forma ou outra fazendo tudo isso sair do sonho e virar realidade, espero também poder ter ajudado de alguma forma fortalecer a cena underground aqui nesse país. Valeu!

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