Antônio Carlos Dias Fernandes, vocalista das bandas Sistema
Sangria e Crakolândia, figurinha carimbada no cenário da música pesada de São
Paulo e um sujeito muito tranquilo e educado, apesar de não parecer! E foi
neste clima que Tonhão nos concedeu essa entrevista, onde fala dos seus
trabalhos e da sua visão do cenário Underground. Confira!
Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo
seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você
e suas atividades.
Antônio Carlos Dias Fernandes: Boa tarde a todos, meu nome é
Antônio Carlos, sou vocalista e guitarrista do Crakolândia e também do Sistema
Sangria Tenho 33 anos e atualmente trabalho no ramo de vendas, das quais sai
minha fonte de renda, para sustentar o som que não pode parar e desde já
agradeço a oportunidade dessa entrevista!
Bom, estou nessa parada há mais de quinze anos, comecei em
meados de 98 com o Hate que depois foi batizado de Downhatta, tocamos em muitos
lugares de São Paulo e do interior, toquei guitarra em duas ocasiões no Sistema
Sangria e hoje toco guitarra e canto no Crakolândia, junto com o Fábio do
Sistema Sangria e o Batata do Imminent Chaos.
HMB: E nesses quinze anos, você percebeu alguma mudança no
cenário da música pesada aqui de São Paulo?
Tonhão: Aumentou a quantidade de bandas, hoje em dia e mais
fácil para se lançar um CD para se gravar, os meios de comunicação estão muito
avançados hoje em dia, na minha época lembro-me de receber cartas e fazem
contato via correio, hoje tem ferramentas como facebook, myspace entre outros
para você divulgar sua banda, você lembra como era difícil para lançar um CD há
dez anos, lembro-me de gravar fita e mandar para os lugares, tudo hoje ficou
melhor, temos mais opções de show mais infelizmente faltam casas de show que
deem um valor para as bandas underground e infelizmente ainda e muito difícil
sobreviver só de banda até hoje, mesmo assim prefiro fazer o que gosto, a tocar
um som só por dinheiro, por isso hoje, sou vendedor.
HMB: E você acha que com todas essas facilidades houve uma
banalização do trabalho autoral o que fez com que as pessoas migrassem para os
shows de bandas tributo?
Tonhão: Eu particularmente dou muito valor para quem faz um
som próprio mais o pior e que pagam mais p quem faz um cover de algum grupo pop
rock entre outros do que para um som de autoria própria feito de verdade, que
graça tem você querer ser o guitarrista da banda y ou x?
Só para reforçar está questão não tenho nada contra quem
toca cover e é feliz assim mais desde já você que toca cover está tirando um
espaço que poderia ser para divulgar sua composição ou algo do tipo, bandas
famosas não precisam de divulgação vamos divulgar o som próprio.
HMB: Você é inserido predominantemente no cenário Hardcore,
mas migra por entre as vertentes com facilidade, já que sua banda agrada todos
os públicos. Quais são as grandes diferenças em relação ao público entre o
cenário Heavy Metal e o cenário Hardcore?
Tonhão: Que pergunta difícil essa, viu JP, vou tomar cuidado
para não falar besteira. Em primeiro lugar fico feliz por agradar a todas
vertentes se assim for à todos que escutam nosso som, não vou falar dos outros
mais eu particularmente escuto muito tipo de som diferente desde o metal ao Hardcore,
não sei se estou certo mais estou mais envolvido no cenário Hardcore mais vejo
que a galera do heavy metal tem uma organização muito forte, existem muitos
festivais de metal que a galera da uma força a todos os tipos de som e no Hardcore
tem alguns estilos que se dividem sendo que poderíamos se misturar sem frescura
de rótulos, não gosto de ficar inventando estilos ou rótulos e particularmente
gosto tanto do metal como Hardcore, Thrash entre outros nunca vou ficar falando
que sou só um estilo sendo que posso ter influência de tudo e agregar a um conhecimento
maior de estilos musicais diferentes.
HMB: Sendo assim, o que toca no seu player?
Tonhão: Ultimamente estou escutando todos os trabalhos do
mestre Ronnie James Dio desde o Sabbath, Heaven and Hell, em carreira solo e no
Rainbow. O Soundgarden é uma das minhas
maiores influências no dia a dia, é a banda que escuto desde criança e a cada
dia gosto mais, estou tentando colecionar todos em LP e estou quase
conseguindo, recentemente ouvi o novo LP do Carcass e achei fudido, fora as
bandas de cabeceira como Pantera, Slayer, entre outros, que escuto desde
sempre.
E não posso me esquecer de Anthrax, Testament, Suicidal e se
continuar vai longe..
HMB: Esse leque de influências acaba servindo de referencia
na hora em que você compõe as suas linhas de voz?
Tonhão: Digamos que sim, o poder que o Dio tem na voz não
existe, ele é único, mais para a linha de vocal berrado tenho outros tipos de
influência, você pega uma gravação de vocal do Phil Anselmo e é uma produção
surreal que nem ele consegue fazer ao vivo, Chuck Billy do Testament, acho um
vocal monstro que serve de influência para um som pesado pelo menos para minhas
ideias de timbre, gosto do vocal do Carcass, pois só ele consegue fazer aquela
voz bestial e por ai vai. São muitas bandas e influências diferentes, por isso,
não tenho como falar que sou do Grind, do Hardcore, do Thrash ou outro estilo, eu
prefiro poder escutar um timbre de voz berrado, limpo agudo grave e de todos os
estilos que caiam bem aos meus ouvidos e gosto e igual bunda cada um tem o seu,
de repente posso estar falando merda mais é o que gosto, é muito peculiar essa
referência, pois são timbres e encaixes diferentes que fazem a gente tentar melhorar
cada vez mais sendo que nem em sonhos penso em chegar perto de alguns desses monstros.
HMB: Fale-nos da sua outra banda, o Kracolândia.
Tonhão: O Crackolândia é uma banda que deve ter já quase
seus 10 anos também, é um projeto tranquilo no qual o objetivo é se divertir no
ensaio sem stress ou cobrança, funciona assim uma hora de ensaio e a outra hora
é descanso para as brejas, não consigo mais ficar num estúdio só tocando, tem
que haver diálogo entre todos e o essencial, A CERVEJA, no som podemos ou tentamos ao menos fazer um
som mais arrastado com algumas músicas instrumentais e outras com vocal, é bem
experimental mesmo.
HMB: E essa banda é um descanso da velocidade do Sistema
Sangria?
Tonhão: Descanso de velocidade, descanso no berro e descanso
em tudo...
HMB: Fale sobre o Sistema Sangria.
Tonhão: O sistema sangria começou comigo encontrando um
amigo de infância, e que estudou comigo, depois de anos ele apareceu em casa
dizendo que estava tocando guitarra e eu já tocava com o Hate que depois virou
o Downhatta, chamei o rapaz que se chama Jesher para fazer vocal para eu tocar
guitarra, pois no Downhatta eu já cantava e tinha acabado de comprar uma guita,
conhecia o Nader e ele estava sem banda e o chamei para fazer o baixo mais ele
tentou a bateria e em uma semana chamamos o Dinho para tocar a bateria, se eu
não me engano a banda começou com o nome Insideout ou Insidecore não me lembro
corretamente, tocamos em alguns lugares de Sp e na praia com essa formação,
depois de um ano sai da banda e entrou meu irmão Bolivar assumindo a guitarra
no qual ficou pouco tempo comigo voltando e saindo também vindo o André Hirota
para assumir as guitarras da banda e o mesmo já tocava comigo no Downhatta
sendo um dos fundadores juntamente com o Hatiro primeiro baterista do Downhatta
e uma das pessoas que mais me ajudaram no meio da música, sempre vou agradecer
os dois Hirotas e sua família, nesse meio tempo o André foi trabalhar no Japão
e eu voltei com mais um guitarrista chamado Leandro. Passando se um tempo o
Nader, me despediu e ao Leandro sem pagar fundo de garantia ou algo do tipo
assim entrando o Fábio para assumir de vez as guitarras e dar uma mudada na
vida do antigo Insidecore que virou Sistema sangria ajudando muito também nos
corres do Downhatta e tocando comigo até hoje no Crackolândia sendo decisivo na
correria e na mudança no estilo do som, com o Fábio ficamos com o som mais
pesado com uma afinação diferente eu mesmo peguei muita influência de guitarra
com o mestre Fábio, um mito do Sistema Sangria e logo depois, juntando-se ao
time que se tornou a melhor formação da banda, o Dinho saiu, foi então que Igor
(mãos de polvo), que assumiu a bateria e a banda ficou com a melhor formação
desde então e lançando o CD “Brasileiro de verdade não tem medo não”.
Depois de anos voltei no lugar do Jesher, assumindo os
vocais e gravando o LP Sistema Sangria que foi a realização de um sonho, poder
lançar em vinil, com 20 faixas pelo selo independente Hardcaos.
HMB: Então o Sistema Sangria é muito mais uma família do que
uma banda?
Tonhão: Todos que passaram pela banda são amigos, irmãos e
por ai vai, até meu irmão de sangue fez parte disso e todos nós somos amigos à
mais de 15 anos e todos que não estão tocando eu encontro sempre, acho que
independente de quem for tocar, quem sair da banda temos que deixar a banda no
estúdio e a amizade nas ruas tem que ser a mesma, não podemos misturar a banda
com o cotidiano do nosso dia a dia. Penso que a banda serve como uma válvula de
escape e um lazer não um compromisso, quando isso virar obsessão perde a razão
e o prazer de tocar, não toco por dinheiro mais por que gosto do que faço e
quando você toca com seus amigos e não pode ter um diálogo, uma conversa sobre
tudo que está acontecendo já não está mais rolando como deve ser, para 4
integrantes de uma banda se encontrar não é todo dia então o estúdio não serve
só para ensaiar mais também para conversar sobre os assuntos da banda e não na
mesa do bar quando estaremos fazendo outras coisas,
HMB: A música funciona como uma terapia para você?
Tonhão: Com certeza a música tem um significado único, a
felicidade de poder fazer composições novas e gravá-las e depois disso ouvir e
ver o resultado, não tem dinheiro que pague, tem pessoas que gostam de sair e
fazer seus roles e eu gosto muito de ficar trancado em casa ouvindo meus discos
durante horas e para mim serve como terapia ou algo do tipo sim. Nesse momento
estou ouvindo um LP e falando com você e é difícil um momento que eu não esteja
com meu toca discos ligado, lembro ano passado depois de quinze anos, o
Soundgarden lançou um CD, e fazia oito anos que não comprava um CD e esse tive
que buscar só para ouvir o trabalho novo dos caras e isso me traz muita
satisfação. As pessoas gostam de ir ao shopping e gastar dinheiro com o Mac Lixo
e outras coisas, meu passatempo se baseia em estar em casa ouvindo algum disco
ou fazendo alguma composição fora isso não tenho outras ocupações que me
interessam nesse momento fora estar do lado de quem me faz bem e que tenha algo
em comum comigo.
HMB: Como é o processo de composição das suas bandas?
Tonhão: Não temos um modo correto de composição, no
Crackolândia no começo eu já tinha algumas músicas prontas e quando o Fábio
entrou ele acrescentou fazendo vocal e trazendo seus riffs também, dependendo
da música venho com um riff e o Fábio com outro e juntamos tudo misturando ao
mesmo tempo com o mestre Batata dos tambores encaixando sua parte dando suas
marretadas e dai vai, o processo do vocal no Crack fica por último quase sempre
depois que ficou pronta a parte instrumental começamos a trabalhar em cima do
vocal.
No Sistema Sangria é completamente, pois só faço parte das
composições no vocal e no riff o Fábio e o Nader já vem com as ideias de casa,
algumas músicas já vem com letra e depois vou moldando conforme acho melhor, mudando
uma frase ou a forma como foi feito o e encaixe, normalmente mudo todos para
ficar com o meu estilo, de resto acho que é por ai que vai o processo de
composição. Acho que a única parte que tem em comum entre as duas bandas é que
tanto o Batata, quanto o Igor fazem suas linhas de bateria com total liberdade.
HMB: O que você acha do cenário nacional e do apoio de
selos, grupos que organizam shows e do público em geral?
Tonhão: Temos muitas bandas no cenário e é até injusto falar
de uma ou outra banda. Mas vejo o cenário nacional cada vez mais forte, pois
podemos ver que a galera do Metal, Hardcore, Punk, Crust, Grind entre outros
estilos, estão juntos e misturados e isso é legal, ver o respeito que todos
tem, sem discriminar ninguém, tem espaço para todos os estilos sem frescura e a
galera está dando apoio, infelizmente é muito pouco por que aqui no Brasil
ninguém consegue viver de música tendo que trabalhar para poder se sustentar, por
isso quem sabe daqui alguns anos possamos dar mais valor as bandas do Underground
para não ter que tirar dinheiro para se
lançar, ter apoio nos shows entre outras coisas, pois é muito difícil se manter
no cenário sem ajuda ou apoio de algum selo, casas de shows e outros meios para
fortalecer. Mesmo assim temos ajuda de alguns selos que estão atuantes na cena.
Marcelo do Rot e da loja Extreme Noise Discos é um dos que fortalece
o movimento, e nós do Sistema Sangria agradecemos muito a ajuda e o espaço na
loja, vendendo nosso vinil e divulgando nosso trabalho, o Pudoul, que é do selo
Bucho Discos também sempre está na correria com a gente e se me esqueci de alguém,
me desculpem, mais agradeço à todos que estão sempre ajudando o Sistema Sangria
e também as bandas, selos, casas de shows que sempre estão apoiando a cena e as
bandas aqui no Brasil. Sem ajuda, sem conquista!
HMB: Planos para o futuro?
Tonhão: Lançar um LP com o Crackolândia e fazer alguns shows
sem desespero, continuar conhecendo bandas novas e quem sabe, um projeto novo
para o ano de 2015, tenho músicas
enterradas, que dão para lançar um play inteiro e tem horas que penso muito em
desenterrar e entrar em estúdio para lançar algo novo, espero também por
prosperidade nesse país de políticos sem vergonh, que roubam a gente na cara
larga, essa não vai ser a Copa do Mundo e sim a Copa do Roubo e da Exploração.
Cambada de políticos filhos da puta, sem vergonha que só servem para roubar
mais, espero que no futuro tenham
manifestações, pois cansamos disso tudo e parece que o povo está acordando,
assim espero! Morte, Tristeza, Sangue,
Em vão, isso é a Copa do Mundo no Brasil
HMB: Resuma Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra ou
frase.
Tonhão: Antonio Carlos Dias Fernandes em uma palavra não dá,
vou me descrever em três palavras: Fé, Determinação e Sabedoria. Nunca desistir dos meus sonhos e objetivos, se
tomei um rodo, eu me levanto e é sempre assim, sempre em frente.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Tonhão: Obrigado desde já pela oportunidade em ceder esse
espaço muito legal e interessante que é a HeavyMetalBreakdown e a você grande JP, amigo de batalha de vários shows e roubadas por ai a fora, à todos
leitores, amigos, bandas, casas de show que estão de uma forma ou outra fazendo
tudo isso sair do sonho e virar realidade, espero também poder ter ajudado de
alguma forma fortalecer a cena underground aqui nesse país. Valeu!
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