Henrique Scraper Head é um cara que vive o Heavy Metal desde
a década de 1980, vocalista da banda Scraper Head e um assíduo frequentador do
cenário. Atualmente morando em Caxias do Sul, onde a banda renasceu, Henrique
conversou conosco por e-mail e o resultado deste bate papo, você confere a
seguir.
HM Breakdown: Olá Henrique, antes de começarmos quero
agradecer pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora,
fale-nos sobre você e suas atividades.
Henrique Scraper Head: Hail! Eu que agradeço a oportunidade! Bom, Eu
tenho 41 anos, paulistano, morei por muitos anos em Salvador atualmente moro em
Caxias do Sul e ganho a vida trabalhando com cervejas especiais, sou um típico
vocalista de Death Metal e já cantei nas bandas Chemical Death
(Salvador-88/91), Black Death (São Paulo 92/95), Scraper Head (São Paulo 2008
até agora), gosto de Artes Marciais e música pesada.
HMB: O que te levou a ser um vocalista de Death Metal?
Henrique: Boa pergunta (risos). Em meados de 1988 em
Salvador, (sou amante do Heavy Metal desde meus 10 anos e gostava de tentar
cantar o que eu ouvia), um grande amigo (Marcos Russo) foi chamado para ser o
vocalista do Chemical Death, porém o mesmo disse aos caras da banda que tinha
um amigo que seria melhor do que ele para o posto e num belo domingo ele me
leva me apresenta os caras que de imediato me jogaram as letras nas mãos e
foram passando as músicas. Cara, eu não tinha a menor noção do que fazer
(risos), mas aos poucos fui entendendo. Com relação ao vocal que deveria ser
feito, segui a linha de bandas como Napalm Death que era a proposta da banda na
época, gosto tanto que ainda estou nessa.
HMB: E depois de ser colocado nessa roubada, qual foi a sua
iniciativa para melhorar o desempenho?
Henrique: Eu fui tentando fazer o melhor possível (risos),
mas só começou a ficar bom mesmo quando eu comecei a participar da construção
da coisa. Mas não foi muito difícil, nós tocávamos Deathgrind, e eu adorei essa
roubada (risos) e logo depois que eu entrei no Chemical Death o meu amigo, o
Marcos Russo se tornou o vocalista da banda The Side War, e como todos nós éramos
vizinhos um foi ajudando o outro. Juntamo-nos com o Head Hunter DC e logo
nasceu o Mystifier na sequência veio também a Necrolust. Ensaiávamos
praticamente no mesmo lugar, sempre muito unidos. Nós carregávamos o
Underground Soteropolitano nas costas, com muitos shows e festivais organizados
por nós mesmos, saca? Carregando equipo nas costas, dentro de ônibus urbano e tudo
mais, em suma melhorei mesmo a minha performance, na base da garra, da gana, da vontade
interminável de fazer a coisa certa e seguir com sangue no olho mesmo. E não
havia muita preocupação se estava realmente correto. A parada foi superada pela
garra e a vontade de fazer a coisa acontecer. Até que no começo de 89 gravamos
a primeira Demo-tape com treze músicas tudo diretão, no ao vivo mesmo.
HMB: E como foi na época, a repercussão desse trabalho?
Henrique: Foi ótima, foi muito boa mesmo, até porque antes
de qualquer coisa somos Headbangers e a coisa era feita de bangers para
bangers. Andávamos todos juntos, nas ruas, nos bares, fazendo festas e tudo
mais era muito comum chegar a minha hora de tocar em algum show e os caras
terem que me arrancar de algum boteco da quebrada (risos). Mas infelizmente por
motivos pessoais em 1991 tive que deixar a banda, os caras até tentaram
continuar e se não me engano gravaram mais uma demo, a primeira comigo no vocal
é Agony Screams (acho que o meu amigo Val da banda Rattle vai me xingar), eu
não tenho mais essa demo-tape, acho que o Zulbert do Headhunter deve ter e o
Cavalo do Amazarak deve ter a segunda demo, Satanic Legion, de vez em quando me
deparo com alguém falando sobre como era o Chemical Death na época, isso é
muito gratificante. Veja bem, algo que foi gravado sem recursos adequados e no
início de 1989, é lembrado e comentado até hoje! Isso é maravilhoso! Poder ver
que bandas como Head Hunter DC e Mystifier estarem ai até hoje, firmes e fortes
mantendo a honra e suas origens intactas, isso é muito foda! A coisa só
enfraquece ou acaba para quem é modista, embalista, poser e afins, paga-pau de
sonzinho moderno que ficam pulando de galho em galho, esses só merecem o nosso
desprezo.
HMB: E como você vê o cenário da música pesada no Brasil
hoje?
Henrique: Muito mais fácil que antes sem dúvida. Existem
inúmeras ferramentas para trabalhar seu material. Ainda assim, existe uma
parcela de bunda mole por aí que só reclama. Porra mano, antes tínhamos que
ralar para conseguir espaço para tocar, muitas vezes mentir para os
proprietários e dizer que era um show de rock. Por que se você falasse que era
show de Heavy Metal era só a porta na cara, não tinha internet, informações e
troca de material de divulgação eram feitas por cartas e no boca a boca. Hoje
temos tudo aí, nas mãos, ótimas bandas, diversos estúdios de ótima qualidade
tanto para ensaio quanto para gravação. Quando deixei o Chemical Death em
Salvador e voltei para minha cidade natal (São Paulo), fui convidado para fazer
o vocal no Black Death (eram meus vizinhos). Não tínhamos porra nenhuma, mas
estávamos lá ensaiando e lutando para a porra acontecer. Infelizmente a coisa se
acabou, me afastei um pouco de ter banda, mas sempre estive presente na cena.
Hoje o Metal no Brasil está mais forte que nunca, grandes bandas, ótimos
músicos, bons produtores, estúdios bem preparados com o melhor para ensaio e
gravação. O lance é acreditar no seu som, correr, ir pra cima do seu objetivo,
mostrar o que você faz, e ficar sentado e só reclamando disso ou daquilo não
vai fazer sua banda sair garagem. Sou muito adepto do lance faça você mesmo!
Aí, não terá que reclamar da atitude de ninguém. Espaço existe, ótimas bandas
também e o público meu amigo só depende de você e o que você tem para mostrar.
Se for bom será recompensado, se não for... Procure melhorar! Abrir a boca e
falar que o público não apoia a cena nacional é fácil, mas quando aparece um
show de banda gringa, esse é o primeiro a comprar o ingresso e postar nas redes
sociais. Vai se foder! Não me entenda mal! Eu gosto e vou aos shows de banda
gringa, mas a minha prioridade são as bandas locais e nacionais. Um exemplo:
conheço o Claustrofobia desde que eles vieram de Leme para São Paulo, acho que compareci
em todos os shows que me foi possível estar (os caras do claustro não me deixam
mentir). Pude ver show deles para meia dúzia de neguinho de cara feia ainda,
mas os caras estavam lá, mandando ver, acreditando, ralando, batalhando seu
espaço. Hoje você vai a um show dos caras é fácil ver muito mais de 500 pessoas
e tocando fora do país com saldo positivo, com um suporte adequado, mas isso
existe porque acreditam no que fazem. O Metal nacional e a cena existem e estão
em sua melhor fase!
HMB: A cena Metal no Brasil é enorme, mas escassa de apoio
dentro da sua própria casa, você enxerga alguma mudança e quais seriam as
atitudes, em sua opinião, que deveríamos ter para que essa realidade mudasse?
Henrique: Concordo que o Metal no Brasil é gigante e que o
apoio é mínimo. Mas veja bem, se houvesse uma união maior entre as bandas acho
que teríamos um panorama diferente, vejo que existe muita disputa entre as
bandas, que meu som é foda, que aquela banda é um lixo, que fulano é falso e
por aí vai. São Paulo, no meu ver, é o berço do Metal nacional e não existe uma
data no calendário da prefeitura para um evento específico uma vez por ano que
seja. Só cobra engolindo cobra, ao passo que existem festivais consagrados e
sagrados todo ano no Norte e Nordeste com data no calendário da prefeitura.
Existe sim muita panelinha entre algumas bandas, vejo inúmeros shows de bandas
no underground, quase toda semana, então a coisa está acontecendo e em minha
opinião se houver uma união maior e todos trabalharem para o mesmo ideal seria
mais fácil ser notado à importância da coisa. Da mesma forma que uma banda
batalha para mostrar seu som, todas as bandas unidas devem batalhar por um
apoio digno essa é a minha maneira de ver. Como cinco bandas é igual há vinte pessoas,
então cinquenta bandas, deveria ser igual há duzentos malucos correndo atrás do
mesmo objetivo, acho que é mais viável.
HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo
de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Henrique: Acredito sim! Não importa o estilo de som, a união
é importante para conquistar apoio digno, claro que também acho que talvez não
seja tão saudável misturar Metal Melódico, Pop Rock e Death Metal em um mesmo
show (risos), falo da união para conquistar apoio e podemos ter todos esses
estilos num mesmo festival e ter um grande evento cada um na sua praia e todos
na mesma luta para a conquista do devido apoio. Porra! Existem grandes
festivais na gringa com centenas bandas dos mais variados estilos todos em uma
grande união, seja publico ou banda, todos ganham com isso. Meu som preferido é
Thrash e Death Metal, mais gostaria de ver uma banda boa de Stoner Rock
detonando, saca?
HMB: Entendo! Você acha que um coletivo de bandas autorais,
com o propósito de fazer shows com qualidade melhor, poderia fazer com que as
pessoas voltassem a ter interessa maior nas bandas autorais?
Henrique: Acredito muito nisso, é como eu disse antes, se o
seu som é bom e você acredita no que faz , será recompensado com certeza!
Você até pode ter uma banda cover, desde que seja igual ou
melhor que a original para você fazer disso um trabalho onde toque em bares que
acomodam esse tipo de banda, trabalhar como uma banda operária e paralelamente
manter sua banda autoral trabalhando forte para conquistar o devido apoio, pois
existem muitos músicos que escolheram viver da música e só com sua banda
autoral e sem o devido apoio fica difícil sobreviver e muitos desistem. Nós no
Scraper Head ganhamos a vida com trabalhos normais apenas um dos guitarristas
vive da música, sendo professor de música, dois são professores (inglês e
biologia), eu e o batera trabalhamos com cervejas especiais, quando começamos
tínhamos a pretensão de viver da banda (um sonho da maioria), mas a vida nos
aplica grandes surpresas, depois uns casam ganham seus filhos e aí a coisa
entorta. Mas acredito sim, numa união de bandas trabalhando duro e apresentando
seus trabalhos com sua devida qualidade, não tem porque o publico não
comparecer, a massa quer curtir música boa e bem feita unindo isso à qualidade
fica perfeito. Sei que é foda, mas temos que continuar lutando e trabalhando a
sonoridade da banda, as dificuldades do passado foram sanadas pelo o avanço da
tecnologia que temos em mãos hoje, agora temos novas e outras dificuldades e
que também serão vencidas. Só depende do entendimento e da união e força de
todos para que isso aconteça.
HMB: Como andam os trabalhos para a gravação do próximo CD
do Scraper Head?
Henrique: Então, como estávamos parados por quase cinco
anos, estamos tirando a ferrugem das juntas (risos). Na verdade fomos motivados
a voltar por culpa de um amigo, o Junior Terror Cult, o cara curti muito o som
da gente desde o principio, ano passado ele estava de férias e veio passear
aqui em Caxias do Sul e praticamente nos obrigou a fazer um ensaio. Ele toca
todas as músicas e ainda nos ensinou como toca-las (risos). Foi um ótimo ensaio
e gostamos muito do resultado. No momento estamos finalizando os últimos
detalhes nas músicas, formação nova e reformulando todas as músicas, mexemos na
afinação, no vocal em tudo mesmo. Vamos participar de um festival com bandas
antigas daqui e virá também o Leviaethan de Porto Alegre. Com relação ao CD
pretendemos usar o projeto Financiarte da prefeitura de Caxias do Sul (a coisa
funciona por aqui), muitos lançam seus trabalhos dessa forma. O CD conterá
quatro músicas da primeira fase da banda (regravações, são músicas ótimas e que
merecem um trato melhor), três da fase intermediária da formação que teve em
São Paulo e três inéditas. A ideia é lançar até o fim do ano, esperamos
conseguir.
HMB: Qual é o seu pensamento sobre o ensino musical nas
escolas?
Henrique: Fundamental! Imagine criar uma geração com essa
cultura! A criança crescer estudando música quando chegar aos seus 16 anos será
um grande músico, às vezes vejo pessoas impressionadas com a qualidade musical
de um jovem do velho mundo que aos seus 16 anos tocam com grandes nomes da
música no mundo, porra o garoto estuda música com alta qualidade de ensino em
sua escola desde bem pequeno, com 16 anos ele já estuda a coisa por 10 anos. Quantos
jovens entram em um projeto de uma ONG qualquer em sua cidade e com grandes
dificuldades de chegar até a escola e com instrumentos que em sua maioria foi
recuperado, comprado usado com muito suor e até mesmo construído por ele mesmo
e ao ver esses garotos tocarem arrancam lágrimas. Imagine esses garotos com
ensino musical nas escolas desde pequeno!
HMB: Como você se relaciona com a Internet, tanto no seu
trabalho como na sua vida pessoal?
Henrique: A Internet é um mal necessário (risos), faz parte
da minha vida. Uso no trabalho o dia todo, como agora por exemplo. Conecta
mundos diferentes em tempo real, na minha vida pessoal posso falar com meu
filho ou meus amigos distantes a qualquer hora, sempre tem um maluco conectado!
HMB: Mas você concorda que esta ferramenta pode ser usada
para o bem ou para o mal.
Henrique: Sim concordo plenamente! Já presencie casais
separando-se por conta das redes sociais, como também sou testemunha de união
matrimonial onde tudo começou pela internet. Falsas notícias que levaram a
morte pessoas que nada fizeram, e por aí vai.
HMB: O que você acha da opção dos comentários anônimos,
geralmente depreciando o trabalho ou a arte de alguém?
Henrique: Cara, eu pessoalmente apenas digo se gosto ou não
desse ou daquele trabalho. Para mim toda forma de arte é válida, odeio esses
otários que acham que podem ou tentam intelectualizar a arte. A arte é livre e
está aí para qualquer um, todos nascem com a arte, esses intelectualóides de
merda, é a raiz de boa parte da falta de união entre as bandas e pessoas.
Merecem nossa urina em suas covas!
HMB: E sobre os crescentes shows de bandas tributo e a
diminuição de shows de bandas autorais, o que você pensa disso?
Henrique: Como já disse antes, respeito toda forma de arte! Se os
caras escolheram serem reconhecidos por viver a vida ou a música de outros,
espero que seja igual ou melhor que o original. Eu não gosto de banda cover!
Sei dar o devido valor, mas prefiro bandas autorais, já me impressionei com
bandas autorais que resolveram tocar ou gravar um cover e que às vezes ficam
até melhor que a versão original, mas o original não tem que ser explicado,
está lá, está escrito e é assim que tem que ficar. Apenas digo: quer ter uma
banda? Estude seu instrumento, pratique, faça seu caminho e acredite em você e
no seu caminho, faça a sua música. Gosta de ser aplaudido tocando música dos
outros? Pense em ser aplaudido tocando a sua música, te garanto que a
satisfação será muito maior. Existe um grande número de bandas tributo que na sua
maioria, é formada por músicos que escolheram fazer da arte um produto de
comercio, sair tocando de bar em bar como banda operária e fazer salário e
essas bandas tem todo o apoio de proprietário de bares que só estão nessa pelo
dinheiro querem ver a casa cheia, conheço isso de perto. Quem acredita na arte
como ela deve ser, e acima de tudo acredita em si, no seu som e na sua
capacidade de levar sua arte adiante, carrega o bagulho nas costas com sangue,
suor e às vezes lágrimas e não se importa com bandas tributo que não
acrescentam em nada na cena. Apenas encaram a batalha do dia a dia para levar
seu som a quem realmente gosta da coisa. Prefiro mil vezes dar dez CDs nosso
para quem realmente corre junto, do que vender um para modista, embalista,
porra louca, poser ou qualquer um desse tipo. Não quero fazer trezentos shows
por ano tocando música dos outros, prefiro fazer trinta shows por ano tocando a
minha música para quem realmente aprecia e sabe dar o devido valor!
HMB: Planos para o futuro?
Henrique: Encontrar amigos com a mesma desordem mental que
eu e meus irmãos de banda, seguir forte com a atual formação do Scraper Head
que nesse ano completa 21 anos, lançar um CD novo ainda esse ano, fazer alguns
bons shows aqui no Sul e quem sabe em São Paulo dividindo o palco com o Yekun
(risos) e continuar propagando a cultura cervejeira. Beba Menos - Beba Melhor!
HMB: Resuma Henrique Scraper Head em uma palavra ou frase.
Henrique: Eu em uma palavra... Headbanger!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Henrique: Eu que agradeço JP! É muito massa o trabalho que
você realiza com o HM Breakdown, continue assim irmão, esse cara gentil e
humilde! Atenção irmãos do Metal! Continuem carregando a bandeira do Heavy
Meta, pois ele está mais vivo que nunca! Valorizem as bandas autorais de sua
cidade e deixem a energia do Metal alimentar vossas almas. Faça muito sexo,
bebam cerveja boa e se afastem das drogas! Grande Abraço a todos, nos vemos por
aí. Stay Metal!
MUITO DE FUDER, HENRIQUE É UM NEANDERTHAL DA CENA HEAVY METAL BAIANO, UM GRANDE CARA!. ACREDITO QUE A SCRAPER HEAD TERÁ VIDA LONGA.
ResponderExcluirGrande time, vida longa para os mano !!
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