Michele Dupont, radialista, modelo, escritora e Metalhead!
Um mistura explosiva e nutrida de muita capacidade, bom senso e determinação.
Além de personalidade forte e intuitiva. Não se esquiva nem dos assuntos mais
delicados e mostra que sabe exatamente aonde quer chegar. Confira!
HM Breakdown: Olá Michele, obrigado pelo seu tempo
e por nos dar o privilégio dessa conversa. Faça um resumo de você e de suas
atividades.
Michele Dupont: Resumo de mim mesma, a saga sem fundamento
(risos)... Vamos lá.
Meu nome é Michele Dupont, aonde abreviei meu nome e sou
conhecida como Mi Du. Morei algum tempo fora do Brasil e quando voltei, comecei
a dar sequência a um blog com o intuito de divulgar bandas nacionais, no começo
foram apoio as bandas de Doom Metal, que infelizmente ainda não tem o apoio de
produtores e de zines, e acaba sendo um público muito seletivo. Temos blogs e
sites somente voltados ao Doom, mas é muito pouco perante a cena nacional.
Podemos perceber começando por coletâneas, temos muita pouca coisa, existe um
projeto comandado pela Ellen da Sunset que reuniu várias bandas de Doom e foi
feita uma coletânea. Também a Last Time do Rafael Sade, tecladista da Helllight
, tem dado motivação a cena Doom com eventos voltados ao estilo. Não poderia
deixar de citar também as bandas Bullet Course (Curitiba) e Souls Silence (São
Paulo), e a Volkmort de Santa Catarina. Mythological Cold Towers , na minha
opinião é uma das bandas que mais se destaca nesse meio. Se formos citar todas
as bandas de Doom que apoio e pessoalmente aprecio o som, terei que escrever um
livro.
Outra vertente que apoio e amo é o Death Metal e o Black
Metal. Gosto em especial de bandas que misturam ambos os estilos. Algumas
inclusive polêmicas como no caso do Goatpenis e Murder Rape. Mas acho que
quando abraçamos a causa do Underground, temos que primeiro ter a coragem de
assumir nosso lugar no meio de tudo isso, bem como termos atitudes que
futuramente irão refletir na cena.
E gostaria de falar de algumas em especial, que estão
fazendo um trabalho excelente e algumas, bem inovador, como o Trator BR, South
Legion, Skinlepsy, Hibria e claro o Distraught e a Rhestus Heavy Metal. Jamais
poderia deixar de falar da Profane Souls, banda que representa o Black Metal
Old School com excelência e tem se destacado inclusive em cenas que não são
necessariamente a BM. Outra banda que estou ansiosa para o novo trabalho é a
Division Hell, banda de Death Metal. Bacana também foi ver bandas como
Necrotério Death Grind e outras voltarem a ativa. Bandas que realmente fazem a
diferença com estilos próprios: Zombie Cookbook e Whipstriker. Pegando esse
gancho, tenho que falar do trabalho solo do Power from Hell do Aron Romero.
Sempre que vou para algum evento, quando as bandas sobem ao
palco, tenho o seguinte pensamento "me surpreendam". Acho que todos
os entusiastas do Underground tem esse pensamento, e é algo daquilo que
necessitamos para continuar. Me desculpem se esqueci de citar bandas, mas
precisaria de uma parte 2 nessa entrevista.
HMB: Como é o cenário da música pesada na sua cidade?
Michele: Na minha cidade, que é Curitiba, tem crescido muito
de um ano até hoje, bandas curitibanas como a Imperious Malevolence é
referência em Death Metal curitibano, assim como bandas antigas e que ainda
estão na ativa como o Amen Corner, Doomsday Ceremony, Profane Souls, Scorner,
Offal, Terrorzone, e claro a banda mais foda da cidade, a Dalborga! Mas não
podemos deixar de citar pessoas que são de extrema importância na cena como o
Beto Toleto, da 91 Rock e promotor de eventos, Hamilcar da Damar Produções que
tem feitos excelentes fests e trazido muita banda foda de fora, ambos fazendo a
cena curitibana voltar a sair do limbo e tornar-se novamente um polo do
Underground. Atualmente moro em Blumenau, tem bandas excelentes como a
Goatpenis, mas a cena aqui está mais nos grandes festivais como no Curupira,
River Rock, Zoombie, e claro agora com o Armagedon que aconteceu a pouco tempo.
HMB: E seu trabalho na Dark Radio Brasil?
Michele: Meu trabalho na Dark Radio se resume a tudo o que
amo, poder colaborar indiretamente ou diretamente com as bandas nacionais
autorais, expôr minhas ideias e meus conceitos, dar espaço a mulher dentro da
cena Underground. A princípio a ideia toda era fazer um programa mais
descontraído, porém foi efetivo que as pessoas preferem mais ouvir os sons que
rolam do que as besteiras que falávamos, também havia a questão que era eu e a
minha irmã a Sil que apresentávamos o programa, então acontecia um mix de
estilos, a Sil teve seu próprio espaço, e confesso que ela está se saindo
soberbamente bem! Que orgulho!!!
Eu só tenho a agradecer ao Daniel Agehost e ao Baron pela
oportunidade de poder aprender tanto sobre o Underground com esses dois
"Monstros de sabedoria METAL" (mereço um aumento depois dessa hein), mas
honestamente falando não recebemos nada financeiramente, é o verdadeiro
espírito de luta do Underground que nos mantém unidos. E toda família DARK
RADIO. Em especial a Rose, nossa salvadora que sempre fez com muito carinho a
edição de nossos programas.
HMB: O rádio exerce um fascínio em quem trabalha com ele,
como você vê a crescente onda de web rádios na Internet?
Michele: Meu primeiro contato com webradio aconteceu no
Japão, pois não me adaptava as rádios locais e na Internet havia vários canais
com os estilos de minha preferência. A própria 91 Rock, aderiu a essa onda
crescente. Por exemplo, eu usava no meu carro o celular acoplado ao som, então
conectava á internet e acessava o link da webradio. Acredito que futuramente as
ondas da rádio serão as rádios onlines.
HMB: E você também trabalha como modelo, como é esse
trabalho?
Michele: Pois é, é um trabalho que meio narcisista eu
confesso, mas quem não conhece minha história acaba achando que faço para
chamar atenção ou coisas do gênero. A princípio começou como uma terapia. Fui
casada por dez anos, e meu ex nunca me disse um elogio, muito pelo contrário,
sempre dizendo que eu estava velha e feia, então comecei a me cuidar e tirar
fotos. Mostrei para algumas pessoas e me disseram sobre os trabalhos de altmodel,
porque eu adoro misturar personagens as minhas fotos, algo mais teatral. Gostei
e comecei a fazer ensaios mais profissionais. Fui convidada pela Naty Vamp, uma
grande entusiasta da cena Gótica Nacional, para representar a sua loja, a
Góticas Famosas. Disso surgiu uma grande amizade e pude também mostrar meus
trabalhos atingindo mais pessoas. O outro lado é mostrar que a sensualidade faz
parte do Undergorund, assim como a subcultura gótica e o BDSM.
HMB: Então você se reinventou? Como foi para você descobrir
que as pessoas se interessavam por suas fotos e por seu trabalho como modelo?
Michele: Cresci na década de 80. Anos 90 as modelos eram
padrão "barbie" só que sem os peitos. Lembro que sofria muito em
relação ao meu corpo, e ainda sofro, pois fujo do padrão brasileiro de mulher
com corpo de violão, bunda grande e tal. Ainda tenho muito receio com minhas
fotos, no quesito pessoal mesmo, não faço para agradar ninguém, eu faço porque
gosto. Resolvi fazer o trabalho mais artístico, levado para o lado sensual,
incorporar diversos personagens. Gosto de exibir minhas tatuagens, e percebi
que as pessoas conseguem ver que o trabalho é relacionado ao artístico, hoje
tão em destaque como o das altmodels, que fogem de todos os padrões das modelos
da indústria fotográfica usual. Eu acho lindo, tenho contato com várias, em
especial algumas internacionais, que também fazem trabalhos voltados ao
Underground. Descobrir que as pessoas gostavam foi natural, não estava
esperando por isso. Mas confesso que desagradou muitas pessoas, que tinham
convívio comigo, aquele pensamento retrógrado e hipócrita que , estava
"queimando minha imagem". Bem, no início tive depressão, mas dai cai
na real e comecei a me tornar ainda mais ousada. Pretendo fazer trabalhos mais
levados ao BDSM e ainda mais obscuros.
HMB: E sendo o brasileiro machista, sexista e
predominantemente covarde, você já deve ter sido atacada anonimamente pela
Internet, como você lida com isso e como você faz para divulgar o seu trabalho?
Michele: Por incrível que pareça, fui atacada sim, mas por
mulheres. Feminazis, algumas que eu conhecia e algumas anônimas que sei que são
mulheres. Existe uma peculiaridade muito sutil, quando homens escrevem e
mulheres. Eu tinha o ASK, mas acabei deletando, porque não me agregava em nada.
E a maioria dos homens, mesmo não dando "like" nas fotos para evitar
problemas, ou o que quer que seja, mandam inbox bem elegantes, elogiando o
trabalho, em momento algum foram grosseiros.
HMB: Você não sente medo de lidar com o comportamento sexual
humano?
Michele: Não. O que é mais natural que a sexualidade? Não é
a forma que temos de perpetuar nossa espécie? O problema real seria o "mau
comportamento", como temos visto, tão banalizados em nossa cultura.
Infelizmente atingindo crianças e adolescentes que ainda não tem capacidade de
poder discernir o que é correto do errado, coisas que deveriam ser passadas por
nossos educadores e família. Tornou-se vulgar, o sexo, dentro dos bailes funks
e a TV podre brasileira. Tudo moralmente confuso. O que é moral? Para mim, é
ter maturidade de assumir o que deseja e ter capacidade de arcar com todas suas
consequências.
HMB: Você concorda que o ensino sexual nas escolas públicas,
abrangendo a sexualidade e também o respeito pela outra pessoa, seria importante
para o desenvolvimento e o crescimento sadio do individuo?
Michele: Seria! Se tivesse sido implantado na década
passada. Sem pessimismo, mas é o que a realidade tem nos mostrado.
Desenvolvimento sadio, somente voltando as origens, resgate de valores do ser
"ser humano". E o principal, a criação pelos pais, família, valores
que tem se perdido. Geração perdida, essa atual.
HBM: E como você vê a banalização da sensualidade humana? E
mais,como você lida com os assédios mais diretos?
Michele: Bem, a começar por alguns perfis na rede social. O
sensual virou algo vulgar, hoje meninas que mal estão com o corpo formado se
exibem para as câmeras e adoram, quando um homem as chama de gostosas. As
próprias mulheres permitiram isso, por isso sou contra essas manifestações
hipócritas feministas. As mulheres tem o que merecem.
Por incrível que pareça, nem inbox nem pessoalmente eu tive
assédio direto, sempre que foram mandados inbox foram de elogios bem sutis até,
acho que isso demonstra que existe respeito, principalmente na cena
Underground, o que me deixa muito feliz com o rumo que estamos tomando. É
inegável o fato que a cena está se fortalecendo, que estamos nos unindo.
HMB: O que você acha de grades eventos com o Erotica Fair?
Michele: Acho bem importante, até fui convidada, mas tempo é
realmente meu problema no momento. Não fui pessoalmente, mas o trabalho que
Xplastic tem feito é bem bacana, inclusive faço parte da rede da Xplastic. Quem
sabe em breve terei fotos lá?
HMB: Você já pensou em fazer uma exposição com suas fotos?
Michele: Exposição? Não acho que é para tanto, mas gostaria
de fazer um nu artístico em black and white, talvez ficasse bacana em uma
exposição.
HMB: Poxa, Preto e branco ficaria ótimo. Você acompanha esse
boom da literatura erótica? Qual a sua visão dessa busca por este tipo de
literatura?
Michele: Sinceramente não. Eu prefiro literatura baseada na
história e nas guerras, amo livros de suspense e ficção. Acho que é tudo
momento, assim como foi o boom de literatura vampiresca. Logo passa.
HMB: E quais são seus autores ou livros preferidos?
Michele: Meu autor favorito é o brasileiro André Vianco. Li
todos seus livros. Outro que cresci lendo foi S. King, e meu livro favorito de
todos é Saco de Ossos. Existem outros que li e gosto muito, mas são coisas
pessoais demais até para mim mesma, livros que ainda tenho muito a ler.
HMB: E musicalmente falando, você prefere quando as bandas
abortam que tipo de temas em suas letras?
Michele: Tem as bandas que eu gosto. Bem, meu lado Doom não
nega, temas ligados ao sofrimento, ocultismo e atualmente o que mais tem me
balançado foi o tema de fim dos tempos, atualidades e guerra. Ando em uma fase
em que perdi toda esperança na humanidade. Os humanos se tornaram fúteis e
desprezíveis, e a cada dia andam com os olhos vendados para o fim, assim como a
religião cega, o conformismo e a vitimização da sociedade nos tornou zumbis,
sem cérebros. Gosto de músicas que abordam tudo isso.
HMB: E a que você acha que se deve essa futilidade da
humanidade?
Michele: Antigamente isso me irritava, hoje eu entendo que
precisamos de pessoas fúteis para nos dar valor. Essa futilidade se derivou da
acomodação das novas gerações! Ninguém se importa com a roubalheira dos
políticos, tudo é de fácil acesso hoje em dia, na real o mundo do brasileiro é
pacato demais, isso torna as pessoas cada vez mais "moles". Teve essa
"mexida" com alguns movimentos no Brasil, mas foi fraco, desonesto. O
que realmente ocorreu é que, evoluímos a ponto de não precisar de mais ninguém.
Vivemos vidas rotineiras, trabalhamos, estudamos... As a nossa maneira de se
comunicar com as pessoas se tornou algo mudo. Hoje em dia ninguém te telefona,
nos mandam um inbox, uma mensagem... Nos aproveitamos disso para sermos quem
nós queremos que as pessoas nos vejam, Botamos uma foto bacana no perfil,
fazemos uns "selfies" com bebidas, contamos que fomos tomar banho,
que estivemos com tal pessoa em tal lugar, que estamos nos relacionando com tal
pessoa, que na maioria das vezes mudamos semanalmente, ou seja vivemos uma bela
mentira inventada por nós mesmos. Isso é futilidade, não temos coragem de
assumir quem realmente somos, de procurar conhecer pessoas somente na rede.
Somos personagens fúteis e altamente desprezíveis.
HMB: Mas essa fragilidade humana não é uma novidade que a
tecnologia ou o anonimato da rede nos trouxe, ele já estava ai, em menores
proporções e em nichos menores. Você acha que com a liberdade que a Internet
nos trás, as pessoas criam um mundo somente delas e se afastam, de certa forma,
do convívio social?
Michele: A verdade é que o ser humano sempre se afasta.
Ninguém quer ter responsabilidade por ninguém. Se formos analisar de forma
categórica isso se deve a evolução das espécies. No momento que o homem parou
de caçar e começou a delimitar territórios, ele já se tornou individualista.
Essa é a natureza humana atual, não precisamos mais viver em grupos pela
sobrevivência. A internet é ambígua. Ao mesmo tempo que, estamos sós, temos
milhares de pessoas conectadas a nós. Puxa, isso daria para escrever vários
livros (risos).
HMB: E existe uma Michele Dupont escritora?
Michele: Sim. Tenho até uma página que divulgo alguns contos
de terror/suspense. Chama-se Senhora dos Ossos. Tem poucos "likes", mas
muitas visualizações. Não vejo a hora de poder me dedicar mais á isso. Quando
era criança, passava horas na biblioteca da escola, acho que havia lido mais da
metade em menos de dois anos. Com dez anos o que me marcou foi ler Olga. E resolvi
mudar, queria ser uma mulher forte, lutadora. Escrevia muito, sempre em forma
de protesto. Hoje quero fazer algo mais direcionado á fantasia, ficção. Estou
trabalhando em um livro, mas esse é top secret.
HMB: Top Secret? Nem uma dica?
Michele: Aguardem...
HMB: Planos para o futuro?
Michele: Futuro... Prefiro planejar o meu presente, já está
complicado (risos), quem dirá meu futuro. Nunca espero nada dele, o aqui e o
agora é o que tem me motiva.
HMB: Resuma Michele Dupont em uma palavra ou frase.
Michele: "Se mal lidam com meu melhor, quem dirá do meu
pior."
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem
para os nossos leitores.
Michele: Sejam vocês mesmos, é dolorido, muitas portas vão
bater em suas caras, muitas pessoas vão falar de você, muitos te amaram e a
maioria te odiará, sentirá coisas que corroem sua alma, mas no final, todas
essas cicatrizes vão provar a pessoa que você se tornou. E sempre, apoie quem
você ama.
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