Ele faz isso com a gente e chegou a hora de fazermos o mesmo com ele. Em um longo bate papo, JP rasga o verbo e da tapa na cara do Underground.
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigada pelo seu
tempo e por nos dar o privilegio dessa conversa. Agora nos fale sobre você e
suas atividades.
JP: Achei que eu ia me safar dessa. Bom, eu sou o JP, tenho
46 anos, curto Heavy Metal desde os 15 anos de idade, faço parte dos blogs
Acervo Clave e Anti-Heroi Recordz, com meus amigos Prika Amaral e Jony Roque
respectivamente. Também sou o carrasco do Heavy Metal Breakdown, um blog de
entrevistas com foco nas pessoas que fazem, fizeram ou trabalham pela cena da
música pesada, com foco na cena nacional, mas totalmente aberto para a cena de
outros países. Também sou diagramador em um jornal e vocalista da banda Yekun
HMB: Como surgiu a ideia desse blog foda do Heavy Metal
Breakdown?
JP: Para dizer a verdade, eu já estava meio de saco cheio de
entrevistas com bandas, afinal, elas exploram sempre as mesmas coisas,
produção, shows, características do último álbum lançado e essas coisas, além
de que, as perguntas sempre giravam em torno de algo muito específico e eu
queria fazer algo que mostrasse para as pessoas que muito além das bandas,
existe um mundo inteiro que faz com que cada cenário tenha sua expressão, e
nisso estão os produtores, promotores, jornalistas, blogueiros, fotógrafos,
técnicos de som, os fãs, eu tinha que explorar esse lado mais humano da música
pesada, explorar as paixões e aspirações das pessoas, conhecer o outro lado
disso tudo e ir além e enxergar o músico como um ser humano normal, com suas
qualidades e defeitos, e isso tem me surpreendido muito, além de que, até
agora, percebi dois pontos em comum, que são: a falta de apoio para as bandas
autorias e a paixão pelo que fazem, e essa paixão tem sido o combustível do
Heavy Metal Breakdown. A paixão por algo e fazer alguma coisa que agregasse ao
trabalho de todos. E pode ter certeza, sempre vai ter espaço no blog para quem
tem algo para dizer.
HMB: Digo-te que todos nós, amantes da musica pesada e do cenário Underground te agradecemos muito por isso. Mas conte ao seu próprio blog aqui (risos), você teve um estágio antes com o blog JP Estressado, não? Você ainda o escreve ou está só na paulera do HMB? Este blog era um desabafo íntimo do JP?
JP: O Estressado é a forma como eu vejo o mundo (risos),
então, por ai você já imagina a quantidade de coisas inúteis que eu sou capaz
de pensar em poucos minutos. Esse blog veio da minha necessidade de fazer as
pessoas rirem, porque ele é um blog de humor, onde alguns acontecimentos
cotidianos tomam proporções muito maiores do que costumamos ver, mesmo que
estejam todos lá. O blog ainda está ativo e sempre que posso, eu coloco alguma
coisa, claro, tem que haver o fato, o ridículo e a minha vontade de escrever
algo que fique engraçado, senão, perde o foco. Ele é de fatos verídicos, de
acontecimentos reais no meu dia a dia e que eu, na minha insanidade, transformo
em algo ridículo e engraçado. Claro, tem coisas lá que são fictícias, mas ai,
só compete a mim saber o que é real ou não.
HMB: Eu sou muito fã do JP Estressado e de fato me divirto
com seus textos. Você também leva esse seu lado "comediante" para a
música que você faz ou ali não é "lugar pra brincadeira"?
JP: São mundos diferentes né? Mas não é por isso que jamais
vamos fazer algo engraçado, ou escrito de forma engraçada. Se couber no
contexto do som, vai ser feito sim e sem ressalvas quanto aos outros caras da
banda (o Yekun, no caso), ate porque foi uma banda criada para se ter liberdade
artística, onde pode quase tudo, a única regra é ser pesado e com andamento
mais lento. E eu gosto demais de humor, acho que rir é a regra número um da
vida, a segunda é ser educado com as pessoas. Agora, se eu disser que nosso
ensaio não é lugar para brincadeira, estarei contando a maior mentira do mundo,
existe muito humor na banda e claro, sempre respeitando uns aos outros. E logo
mais, se tudo der certo, vamos fazer uma parceria com meu amigo Jony Roque e
sua banda, o Devil´s Punch para musicar uma letra com conteúdo humorístico que
fiz, mas ainda não temos nada.
HMB: Como você lida com comentários depreciativos nos blogs
que você tem?
JP: Facinho, facinho! Nos meus blogs não são aceitos
comentários anônimos e monitoro todos eles, até deixo rolar um comentário
"desconhecido" por muitas vezes as pessoas nem sabem que tem que
estar logado pra rolar um comentário ou a pessoa prefere que seja assim o
perfil dela. Mas se for depreciativo e desconhecido eu não publico, mas se
estiver logado na conta pessoal dela e ele fizer um comentário ruim sobre o que
quer que seja eu publico de qualquer forma. Afinal hoje, com o anonimato que a
rede permite, se alguém coloca a cara pra bater e disser algo de ruim sobre
alguém e assume o que disse nada mais digno do que este comentário ser
publicado.
HMB: Antes do Yekun, você era vocalista do Ódio Social.
Conte-nos sobre sua trajetória no mundo da musica, como começou, por onde
passou, as experiências e ensinamentos, seus ídolos e o que tudo isso te
influenciou a ser o homem que você é hoje
JP: Ferrou, vou escrever um e-book agora! (risos) Bom,
comecei a pleitear ter uma banda com uns quinze anos, sempre ficava imaginando
que diabo de instrumento eu gostaria de tocar, porém, isso foi na década de
1980 quem viveu aquela época sabe muito bem que a possibilidade de um
adolescente, pobre, tentando entrar no mercado de trabalho, comprar um
instrumento musical era praticamente nula. E resolvi que eu poderia cantar. Afinal
cantar qualquer um pode, depois de um tempo, conheci o Vlad, hoje baterista do
Yekun, e ficamos lá planejando fazer alguma coisa, algumas dessas coisas saíram
e outras nem do papel.
Então, eu fui tocar em uma banda de amigos chamada Sarkoma,
era legal, éramos todos amigos, e num determinado momento ficamos sem baterista, foi à
cara, corri e chamei o Vlad para a banda. Mas nossas obrigações pessoais e
profissionais nos fizeram encerrar as atividades. Juntos eu e o Vlad, já
começamos a planejar outra banda, nos juntamos a um dos guitarristas do Sarkoma
(Biro) e chamamos um amigo que já era um puta guitarrista na época, o Beto,
achamos o Ritchie (hoje, baixista do Gritando HC) e fizemos uma banda chamada
Mirror, na teoria essa já era o embrião do que é o Yekun hoje, mas por falta de
experiência acabamos nos tornando uma banda de Heavy Metal clássico com uma
pegada bem Thrash Metal, foi legal, chegamos a tocar no Sesc Pompéia, e tem um
registro em vídeo disso, que faz tempo que estamos querendo digitalizar. Bom, o
Mirror acabou e cada um seguiu o seu caminho.
Passei por algumas bandas que nunca deram em nada, até que
cai de paraquedas numa banda já formada e com algum reconhecimento no cenário
Hardcore de São Paulo, eu e o Eduardo Magoo (hoje, guitarrista do Faces of
Desaster) nos juntamos ao RRRAICT TUFF!!! Banda que já contava com o Danilo
Moleza na guitarra e o Marcelo Korujão (hoje no King Bird) na bateria. Foi
mágico, logo estávamos tocando ao vivo e o povo enlouquecia com a banda, afinal
no palco “a gente era os caras”.
E aprendi muito sobre cantar rápido, mas muito rápido mesmo
para os padrões da época. Até porque aquele bando de desocupados cada dia
tocava mais rápido e mais rápido e claro, eu não ia pedir para diminuírem a
velocidade e eu ia na onda deles, logo, o som ao vivo tomou proporções
gigantescas, era quase Grind, quase Death Metal e era mais incrível ainda, ver
aqueles caras tocando no palco, Korujão sempre foi um ótimo batera mas, vê-lo
em ação do RT!!! era demais! Passei muito tempo apenas ouvindo ele nos palcos,
era minha referência de tempo. Por muitas vezes eu me esquecia de cantar os
sons e ficava lá em cima do palco ouvindo os rifs (risos) até que alguém me
dava um cutucão, e eu voltava (risos). Nesse meio tempo, eu e o Magoo,
precisando colocar o nosso lado Death Metal para fora, fizemos o Inner Voices
que caminhava muito bem e paralelamente ao RRRAICT TUFF!!!
E foi nessa época que fui diagnosticado com câncer, um tumor
na cabeça chamado meningioma. Tive que ser internado e operado, apesar da minha
recuperação rápida, o médico disse que sou mutante (risos), fiquei quase cinco
anos sem nem ver uma banda tocar, confesso que nem pensava nisso, nesse meio
tempo o RRRAICT TUFF!!! acabou, e o Inner Voices foi para a geladeira.
Depois de um tempo, o Leandro do Ódio Social, entrou em
contato comigo perguntando se eu não topava fazer um som com eles, não disse
nem que sim e nem que não, armei uma parada e fui ver os caras ao vivo. Já os
conhecia do tempo do RT!!! Mas eu não tinha a mínima ideia do que eu ia
encontrar lá.
Fui ao show, pra variar a aparelhagem era um tanto tosca,
mas deu para ter uma ideia do que eu iria encarar se aceitasse o convite,
música tocada na velocidade da luz. Fui ao ensaio dos caras e acabamos
oficializando a minha entrada na banda, foi legal, porque eu sentia aquela vibe
dos tempos do RT!!! Mas com muito mais sangue nos olhos. E foi um tempo muito
bom que passei com eles, fizemos ótimos shows, outros nem tanto. Mas era legal,
prazeroso tocar com os caras.
Em seguida, armei uma com Panda Reis (Oligarquia),
rebatizamos a Heresia como Heresia 666 e saímos tocando e gravamos um EP, que
disponibilizamos para download gratuito através do site da nossa assessoria de
imprensa, a Metal Media. Nesse meio tempo eu também estava fazendo um som com
meus amigos do Melody Monster e havia voltado a tocar com o Magoo e com o Inner
Voices, junto com o Tatuzão, um amigo desde nossa adolescência e com a Prika
Amaral, hoje na Nervosa.
Mas eu estava bem cansado de tocar sons rápidos, sabe como
é. A idade chega e cobra o preço, ainda sou bem capaz de cantar músicas assim,
mas eu não quero mais, só se for uma coisa aqui e uma ali.
Decidi sair do Ódio Social e do Heresia 666 ao mesmo tempo e
me dedicar ao meu projeto, eu havia gravado coisas com as bandas de Hardcore,
feitos muitos shows, mas faltava alguma coisa. E não foi difícil descobrir que
faltava. E era fazer alguma coisa que levasse o rótulo Heavy Metal, que foi a
minha origem e sempre foi a minha grande paixão. Eu já tinha o nome, Yekun Bell´s,
a ideia de ser mais lento, mais pesado, e me reencontrei com o Vlad, após
muitos anos, e o chamei para essa empreitada, como ele não estava tocando com
ninguém e era desde o começo parte deste projeto, fechamos a parceria, por
sugestão dele, rebatizamos a banda como Yekun, chamei o Tatuzão que estava
comigo no Inner Voices (que já estava na geladeira de novo) e como a Prika
Amaral havia formado a Nervosa e estava indo muito bem, decidimos buscar uma
pessoa que estivesse na mesma sintonia que nós, somos amigos de muito tempo, já
rola aquela questão de conversar sem nem sequer abrir a boca. E achamos o Dio,
que estava fazendo um trabalho maravilhoso no Gritando HC, e o chamamos para a
parada e ele topou na hora. Foi mágico também, em pouco tempo gravamos um EP,
que também fiz questão de disponibilizar para download gratuito, novamente no
site da Metal Media, até porque essa parceria migrou para o Yekun também. Com o
tempo, sentimos falta de mais uma guitarra na banda, mas não queríamos chamar
um amigo e dizer: toca ai! Tinha que ter a sintonia, tinha que ter a química, e
foi engraçado descobrir que o cara certo, André Abreu, estava ali ao nosso lado
desde o começo da banda, como amigo e como fã. Foi fácil a integração dele na
banda e com ele agregamos mais melodia e mais loucuras na nossa insanidade
musical.
Bom, se eu for falar de influências vai outro tanto, mas eu
sou um cara que ouve praticamente tudo que cai na minha mão, nunca digo que não
gosto sem ouvir! Mas tem algumas coisas que são preciosas no meu player e
raramente alguns discos saem de lá, tem coisas como Tytan Force, Jag Panzer,
que eu até tenho o logo tatuado na perna, e nem só porque têm as letras JP
(risos), Slayer, Uriah Heep, Masterplan, Down, Pungent Stench, Slade, Boston,
Kansas, e por ai vai. Mas eu também sou um cara que migra por extremos, vou de
Nile a Avantasia sem a menor cerimônia.
HMB: Wow! Que historia! E baseado nesse belíssimo relato, como você vê a evolução da cena? Você acha que mudou muita coisa de
antes pra agora? Pra melhor ou pra pior? Baseado em sua experiência, o que você
acha que deve ser feito pra melhorar? Você "vê" uma união da galera
ou vê grupos e pessoas trabalhando para isso?
JP: Assim, a cena
melhor, é a que você faz! A que você faz o que for preciso para manter
relevante. Evoluir sempre, até porque nada fica estagnado no tempo, agora, que
vantagem nós vamos tirar dessa evolução é que são elas. Se fizermos um
comparativo com a cena dos anos 80, hoje estamos há anos luz do que era. Tudo
era muito precário, caro, inacessível até. Hoje tá tudo ai, estúdios bons,
músicos sensacionais, discos beirando a perfeição, mas... E dai? Cadê a paixão,
cadê o sangue correndo nas veias? Vejo que tudo ficou muito morno, vejo bandas
requentando fórmulas e se repetindo dia após dia, e como praticamente todo o
público Heavy metal deste país é banda, não querem saber de se divertir, ficam
lá vendo se o cara é bom, se toca tanto quanto ele! Se, possui qualidades
técnicas pra isso ou aquilo ou simplesmente ignoram. Porra! Para mim, a música
é diversão e sentimento, então peguem as suas técnicas e apostilas e enfiem no
rabo.
Quando pensei o Yekun eu queria simplesmente ser o mais
musical possível, sem solinhos bolinha de sabão, sem autoindulgência, só musica...
Tipo Ramones, Bad Religion, tipo Six Feet Under! Fazer o som bater no peito,
estremecer o chão, subir lá e tocar, com paixão, sem os artifícios do Circo de
Soleil. Claro, é válido para caralho isso, mas porra... De que adianta o cara
fazer até tricô com uma guitarra nas mãos e compôr um disco chato, enfadonho
que só malas que nem ele vão gostar? Diferente do maior referencial em guitarra
no mundo, que é o Steve Vai, que faz um show orgânico, extremamente musical e
com todos os artifícios possíveis na questão musical... Mas ele é um cara que
faz música para as pessoas com sentimento, com feeling, com tesão. Ai eu
pergunto, cadê os outros? Sei lá, questão de gosto.
Mas, ao contrário do que possa parecer, enxergo muito bem e
vejo um crescimento assustador no cenário... Hoje além de termos a Roadie Crew
que é a publicação mais importante para a música pesada da América do Sul,
temos diversos blogs, programas on line direcionados, pessoas que de uma forma
ou de outra, se envolvem e dão o que podem pela paixão que só o Heavy Metal é
capaz de despertar nas pessoas... Digo que hoje, vivemos um momento Manowar,
onde todos que estão inseridos na cena, bradam aos quatro ventos que são
Headbangers, que gostam de som pesado, seja de qual vertente for. As bandas
estão se profissionalizando, estão gravando discos com qualidade indiscutível e
também está havendo uma crescente de assessorias de imprensa pelo país, que
tira das costas dos músicos a responsabilidade de divulgar a sua arte e com
isso eles podem se concentrar nas composições e nas gravações, e claro, quem
ganha com tudo isso somos nós, o público.
Ficar ai dizendo que isso ou aquilo é melhor, que eu vejo,
eu escuto, eu assisto... Mas cadê a porra do eu participo, cadê a porra do eu
faço acontecer? De verdade, faço a minha parte e muito mais que isso, porque eu
edito meus blogs, participo de mais alguns deles, dou apoio a quem tá nessa
comigo e as pessoas que fazem acontecer também, seja editando um site,
escrevendo, filmando shows ou o que quer que seja. E eu ainda vou mais além,
porque eu sim, gasto meu dinheiro em ensaios, em gravações, e gravações
profissionais, diga-se, invisto meu tempo e meu trabalho e faço a arte gráfica
e ainda convenço meus companheiros de banda a lançar na rede, on-line, para
download gratuito, única e simplesmente pra democratizar a música e a arte, É a
minha música, e está lá, disponível para quem quiser, é assim que fazemos e
quer saber o que a levamos de volta? Ditos escrevedores da cena dizendo que não
vão resenhar o CD porque eles só o fazem com o produto em mãos, ou seja, se não
tiver o CD físico eles nem gastam de ouvir, outros que simplesmente baixam seu
CD e jamais ouvem ou são incapazes de dizer para você se seu trampo é bom ou se
ele achou tudo uma merda! Claro, não estou generalizando, existem muitos caras
que valorizam o trabalho, valorizam o fato de você democratizar seu trabalho.
Pra mim é isso que vale! Porque ser apenas Headbanger on-line não vinga, não
gira e acima de tudo, não sustenta o cenário de forma alguma. Meu coração pulsa
de verdade e não tem fibra ótica nele.
HMB: Por falar nisso, porque o Yekun praticamente não toca
ao vivo?
JP: Bom, essa é ótima, o Yekun nunca deveria fazer shows, em
minha opinião, é bem decepcionante você mover céus e terras pra organizar um
evento e no fim não ir ninguém, tanto bandas como quem organiza ficam com a sensação
de fracasso e se culpam por isso. Dá minha parte já deu, como eu disse
anteriormente, toco desde os meus quinze anos de idade, estou com 46, não faz
mais sentido ficar me culpando pela falta de interesse das pessoas. E como diz
meu amigo Aldo, da banda Trevas: Se for divertido, tudo bem, mas se for pra se
desgastar, tem que ser muito bem remunerado ou não vale a pena. E shows
pequenos, sem infraestrutura adequada em nosso país é isso, perda de tempo,
pelo menos em São Paulo, capital.
HMB: Mas vocês tocaram, pela primeira vez, aliás, na
abertura do Projeto Subterrâneo, né? E iriam tocar novamente se o Zapata (casa
que abriu as portas pro Subterrâneo, abraçando a causa fortemente) não estivesse
de mudança. Porque no Projeto Subterrâneo vocês tocaram e tocam? Afinal
correria esse tal risco que você não quer correr.
JP: Primeiro quero deixar claro, que sim, o Yekun toca ao
vivo, não depende da minha vontade só, a banda conta com mais quatro pessoas na
formação e que gostam e querem tocar ao vivo. Preferimos tocar pouco e com
qualidade, tem que ser divertido, e não ter estresse, então quando houve o seu
convite para participarmos do Projeto, eu logo contatei os caras e decidimos
fazer o primeiro show do Yekun ali. O Projeto Subterrâneo meio que juntou todas
essas coisas, uma casa bacana, com som legal e bandas excelentes, e como já
estava previsto, correu tudo bem, dentro da normalidade de um “tudo bem” no
underground. Todos tocaram, o público se divertiu e claro, foi uma festa. Este
segundo não aconteceu devido à mudança da casa para outro imóvel, preferimos,
nós, o Oligarquia e o Trevas, esperar as coisas se acertarem e ver como ia ser
dali em diante. Risco não tinha nenhum, era praticamente um fest do cenário
Hardcore, e com exceção do Yekun, as duas outras bandas, Sistema Sangria e
Homeless são desse cenário, e nesse tipo de evento as pessoas comparecem e
participam da coisa toda. Apesar de ser música extrema e pesada do mesmo
jeito, existe um diferencial muito grande no comportamento das pessoas em
relação às bandas. Não sei explicar, tem que estar lá e ver cada um por si
mesmo.
HMB: Como você vê essa prática dos produtores de shows de
cobrarem das bandas para tocar? Você pagaria para tocar em algum evento?
JP: Eu? (gargalhadas). Pagar pra tocar? Nem fodendo! Nem
para abrir para a minha banda preferida de todos os tempos ou tocar em um
festival com todas as minhas bandas preferidas de todos os tempos... Cara, eu
já pago TV a cabo, se for para pagar, continuo pagando a TV e fico em casa
vendo o Animal Planet... Os animais de lá são muito mais legais que esse ai que
você citou!
HMB: Sobre os shows internacionais, qual sua opinião sobre?
JP: São válidos, apesar das dificuldades financeiras, somos
uma nação que respira música extrema, música pesada, hoje somos rota
obrigatória nas grandes, médias e pequenas turnês de todas as bandas! Claro,
existem excessos, como a vinda de bandas pela enésima vez ou um único ato em
São Paulo por um preço absurdo. Mas ai são coisas da politicagem e dos
negócios, compete a nós tentar entender a seriedade de quem está promovendo o
show. Afinal há 20, 25,30 anos, essa era uma questão totalmente fora das nossas
realidades, a vinda do Venom com o Exciter para alguns shows pelo Brasil foi
uma benção dos céus para todo Headbanger existente no Brasil. Apesar de tudo
foi um dos marcos e um dos inícios de uma era de grandes apresentações no país.
E nem falei da importância do Rock in Rio, que ajudou demais a mostrar ao mundo
que no Brasil também tem Heavy Metal.
HMB: Você acha que as bandas brasileiras tem a mesma
oportunidade de tocar lá fora, assim como as bandas de fora tem pra tocar aqui?
JP: Com certeza que tem! Veja ai Claustrofobia, Krisiun,
Andralls e tantas outras, são bandas recorrentes em turnês internacionais e com
ótimos resultados em todas elas. O brasileiro é casca grossa, mete as caras e
faz acontecer e nem reclama das turnês caga-sangue, porque por aqui as
dificuldades não mudam tanto das de lá de fora. O que muda é o prestígio, a
aceitação e acima de tudo o respeito que o público tem pelo trabalho da banda. E
nem vou entrar no mérito dos equipamentos. Mas estamos ai, batalhando para ver
se muda um pouco essa realidade, para ver se as pessoas começam a entender que
as bandas, os blogueiros, os jornalistas, os fotógrafos fazem o que fazem para
eles, para mostrar que o brasileiro tem orgulho e faz a diferença seja com os
caras lá fora, seja com os caras aqui de dentro.
HMB: Você acredita ter algum tipo de preconceito com e
dentro do underground?
JP: Preconceito com o Underground sempre tem. Até hoje se
você vir um Raw Punk andando na rua e olhar em volta, vai ver que tem também
12.687 pessoas apontando o dedo para ele e muito mais da metade julgando o cara
por ele ser diferente da multidão. As pessoas do cenário Underground são se
aplicam aos produtos de massa produzidos aqui, geralmente são pessoas que
buscam sua identidade, sua sonoridade, sua arte e suas verdades, e elas não
estão ai fáceis e por isso tem formas de se comportar, formas de se vestir e
assim vai, se diferenciam porque não tem interesse no que é regularmente
enfiado goela abaixo nas pessoas. Dentro do Underground tem a separação, fulano
não se mistura com cicrano, que não gosta de beltrano e que no fundo se
comportam como os religiosos de hoje, são tudo farinha do mesmo saco e uns se
acham melhores que os outros. Se isso é preconceito? Eu não sei! Mas, que é
ridículo, isso é.
HMB: Se você tivesse uma oportunidade de mudar ou melhorar a
cena underground, o que você faria?
JP: Se eu pudesse mudava esse conceito de que foi produzido
aqui não presta, de que não tem valor comercial. Deveríamos ensinar o valor das
coisas para as pessoas desde a infância, porque crescemos achando que se você
produz algum tipo de arte, você é vagabundo, você é um coitado, uma pessoa de
menor qualidade. Veja o exemplo das bandas do Underground. O cara, paga um
ingresso de R$10,00 para beber dentro de um ambiente, claro, pagou porque tem
banda e claro que ele não foi lá ver porra de banda nenhuma, foi beber. No fim
do show ele aborda qualquer um da banda e fala: Pown! Foda sua banda... Me dá
um CD! Dar um CD o caralho! São meses compondo algo, gastando os tubos para
gravar e produzir um material descente, por se não for decente, voltar para a
realidade do não presta, e vem um Zé qualquer e diz que quer um CD de graça?
Porra, um CD na mão da banda custa R$10, R$20, o caboclo gasta 10 para entrar,
100 com cachaça, 200 com drogas e não quer comprar um CD da banda. Vão se
foder! Outra coisa que eu mudava é essa realidade podre de chamar bandas para
tocar num lugar lá na casa do caralho e não dar nenhum tipo de apoio! Ai,
quando você esta lá para tocar de graça e chega ao lugar do “show”, olha para o
palco e o que tem lá? Nada, absolutamente nada, um amplizinho xexelento, uma
batera enferrujada, cheirando a merda, um microfone de Karaokê e a banda sob
lá, e faz o que? Fode com o trampo dela mesma, porque não tem o mínimo de
qualidade, E depois, produtor e público saem por ai dizendo que a é banda ruim!
Cara! Tem que se valorizar, eu, dentro da minha realidade, chego num pico
desses, de boa vontade e não tem nem o mínimo de nada para se fazer um som
legal. De boa, eu dou as costas e saio andando, como já fiz várias vezes.
HMB: E sobre a mulher no underground, acredito que a cena se
abriu para a mulherada ao longo desses anos não? Você acha que tem preconceito
contra nós dentro da cena? Conte-nos sobre sua opinião da mulherada na cena.
JP: Caramba Vanessa, só pergunta dificil (risos). Delicada a questão. Mas é delicada, porque as pessoas
insistem em não ver o que está bem ai, na cara de todo mundo. As mulheres já
são as donas da coisa toda (risos), enquanto alguns haters ficavam discutindo a
importância da morte da bezerra, elas tomaram conta e hoje são, parte
fundamental disso tudo. Apesar de parte do cenário da música pesada ser
machista, é também covarde para assumir isso. Tenho uns exemplos ótimos para
ilustrar isso ai. Você, Vanessa, corre atrás, fez acontecer o Projeto
Subterrâneo, poxa, veja ai quantas bandas já passaram pelo projeto, além de que
você atua na cena, vai aos shows e tudo mais. Minha amiga Nina Stillo,
administradora do Metal Friends, organiza os fests da comunidade, geralmente
com bandas autorais tocando. E é arroz de festa (ela vai me matar por isso,
kkkkkkkkkkkk), em todos os shows ela está lá, presente, conferindo,
interagindo, fazendo parte da cena e ajudando a cena a se fortalecer... Por
último, e com essa sou suspeito para falar, Dona Prika Amaral, guitarrista da
banda Nervosa. Toquei com ela, somos amigos, fazemos o Acervo Clave juntos, e
posso te dizer, tem fibra, tem caráter, tem força de vontade. Tudo que ela está
conquistando não é nem um terço do que ela merece, porque ela batalha, tem
visão de futuro e sabe aonde quer chegar. E já aviso aos haters de plantão, se
você entrar no caminho dela para atrapalhar, cuidado! Ela vai passar por cima
de você e te arrastar no vácuo. Olha, são apenas três exemplos, mas confere em
sua volta, nos shows ou, seja lá onde for às meninas vivem muito mais o
Underground do que muito dito macho por ai. E eu particularmente prefiro!
HMB: Resuma JP em uma palavra ou frase.
JP: Não devemos aclamar vitória sobre o cão maldito, pois a
cadela que o pariu está novamente no cio. Bem assim!
HMB: Muito obrigada pelo seu tempo para o seu próprio blog
(tive que zuar, risos), deixe aqui uma mensagem para seus leitores.
JP: Provando do próprio veneno eu diria! Eu que agradeço,
foi divertido, e prometo que nas próximas entrevistas vou tentar ser mais
humano com os entrevistados (risos)... Meu recado é: não deixem essa porra
enfraquecer, façam acontecer e valorizem o que vocês têm. Do contrário, podem
já ir se acostumando ao tecno-brega.
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