Nina Stillo, vive e respira Heavy Metal. Administradora da página do grupo Metal
Friends no Facebook e uma das coordenadoras dos eventos do grupo, que se
realizam em diversas localidades. Além de estar presente em quase todos os
shows seja em São Paulo, seja no inteior. Confira agora como foi o nosso bate
papo.
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
Nina Stillo: Comecei ouvindo Queen aos 14 anos e foi amor a
primeira “ouvida”! Depois, Led Zeppelin, Janis Joplin, Doors e senti que
gostava mais das guitarras quando eram mais pesadas e assim, vieram Judas e
Motorhead, que ai sim, me identifiquei 100%. Desde os 14 anos e nunca deixei de
ouvir heavy metal, você faz uma pausa nos shows quando tem filhos, mas em 2006
retomei tudo e de cara com dois shows consecutivos do Slayer! Há três anos mais
ou menos, estou em grupo do Facebook, o Metal Friends, e a coisa flui com tanta
naturalidade, que quando eu vi, estava envolvida de uma forma que eu nunca
tinha estado. Revendo amigos de bandas dos anos 80, conhecendo músicos da nova
geração do metal, atuando e organizando Fests para o Metal Friends. Comecei a
receber material de bandas por e-mail e inbox, ai você vê que tem muita banda
boa e sem espaço para divulgar o trabalho, acho que é nisso que eu me apeguei,
brigar por um espaço legal para as bandas autorais mostrarem seu trabalho!
HMB: Em 1981, o show do Queen foi importante para diversas
pessoas que hoje, vivem ou trabalham pelo rock e especificamente pelo Heavy
Metal brasileiro, como você vê a importância da banda para o Rock em geral?
Nina: Era o período da ditadura lembra? Tudo que cheirasse a
oposição era bem-vindo! O Rock era transgressor, era contestação. E o Queen, foi
influência para muita gente que hoje toca ou trabalha no meio musical! É
influência para uma galera de vinte anos, porque os pais ouviam, ou porque eles
mesmos descobriram a banda! Na época eu achava o som despretensioso, mas hoje vejo
o quanto eram importantes, as letras e a sonoridade! Lembrando que vivíamos o
pós-punk europeu! Queen era novidade, renovação, a saída das músicas violentas
do punk para uma coisa mais amena que era o Rock do Fred Mercury! Portanto,
diria que foram tão importantes nos anos 80, como Beatles nos anos 60!
HMB: E essa falta de espaço para bandas autorais, você
consegue ver uma mudança desse comportamento em um curto espaço de tempo?
Nina: Infelizmente não! Nunca tivemos tantas bandas de fora
tocando no Brasil como nos últimos três anos! Já aconteceu de ter três shows
internacionais num mesmo dia! Os ingressos são caros, e ai, existe a opção em
ver a banda gringa e economizar R$ 20,00 de ingresso para ver uma banda
nacional. Existe também a falta de espaço, as casas em São Paulo não abrem
espaço para banda de som autoral, e sim para bandas cover. Banda cover tem
público certeiro. Ás vezes sobra o domingo, eu mesma, fui há vários eventos de
domingo e o público é pequeno mesmo com três bandas de qualidade. Isso não
acontece só aqui. Tenho um contato grande com o metal italiano e lá é a mesma
coisa, muita banda e poucas casas interessadas! Saca, a grama do vizinho é
sempre mais verde. Precisamos valorizar o músico brasileiro, o Metal Nacional,
porque os gringos gostam, e aqui? Quando o público vai conhecer? Porque curtir post
no Facebook é muito fácil, né? Vá ao show, fale com a banda, compre material,
isso é apoiar e prestigiar a cena!
HMB: Em muitas vertentes da música pesada, o que sobra para
as bandas autorais é exatamente o domingo, geralmente do fim da tarde para a
noite. Não será ai que se encontra boa parte do problema da falta de público?
Nina: Vamos lá, o público tem idade de 20 a 50 anos. Os de
20 saem no sábado e voltam para casa domingo. Os de 50 tem família, e o domingo
é dia de família, descanso e recarregar a bateria para semana. Eu vou, mas
chego, em minha casa tarde e cansada, ok, valeu a pena, mas acordar às 6 da
manhã na segunda-feira é complicado! O Ricardo Batalha fez alguns Super Pesos
Brasil, domingo e sempre com chuva (risos), eu fui em todos! Fez o último em dezembro de 2013,
sábado a tarde, começava às 17 horas, casa cheia, público com idade de 16 a 50
anos, e todas as bandas dos anos 80! Eu acho isso sensacional! As casas recebem
material das bandas, deem uma chance, as bandas dependem das casas, as casas
dependem do público, e o público vai atrás de coisa boa! É apenas uma questão
de oportunidade!
HMB: Resumindo, domingo é um dia morto?
Nina: Domingo é dia morto para quem quer! Vou citar bandas
que eu vi em um domingo: Iced Earth , Midnight com Sodomizer, Whipstriker e
Poison Beer, Genocídio, Krow abrindo p/
Obituary , Deicide e Children of Bodom. Esses os que eu fui! E na
segunda-feira, acordei às 6 da manhã!
HMB: Você acredita que a música tenha formado a sua forma de
encarar a vida?
Nina: Totalmente! Música é um estilo de vida e você acaba
passando isso para o seu modo de se vestir e grupo de amigos. Já notei que em
momentos de stress, a única coisa que faz a adrenalina voltar ao normal, é
ouvir Thrash Metal, cara, eu amo isso! Eu encaro a vida assim, semana ruim
todos nós temos, show no sábado, encontrar os amigos, cantar e bater cabeça, estou
pronta para mais uma semana! É só saber dividir sua vida profissional, familiar
e a vida metal (risos).
HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada no
Brasil?
Nina: Que o cenário é este! Grande, pequeno, não importa!
Somos nós que fazemos o cenário! Eu sempre digo que público de banda, é banda!
Não adianta o cara ir lá tocar e sair fora se tem mais bandas! É a minha visão,
mas se eu quero mudar o cenário para melhor, tenho que dar exemplo, certo? O
cenário existe, e é forte, senão não teriam tantos shows internacionais e nem
tantas bandas querendo espaço!
HMB: Você é administradora da página no Facebook do Metal
Friends, como é ver tantas pessoas ligadas a um objetivo e sendo tão unidas?
Nina: É muito bom e dá muita satisfação! Cada um foi criando
um vinculo com alguns membros do grupo. Falo por mim, eu hoje não sei o que é
ver um show sem alguns deles, nos reunimos sempre antes e depois do show! Virou
um vício bom! O simples fato de relembrarmos com carinho de bandas e fatos
ocorridos nos anos 80, já é divertido, mas sem saudosismo, é lembrança boa
mesmo!
HMB: Você também organiza os encontros do grupo, que
geralmente são em casas de shows e com bandas autorais tocando ao vivo, como
tem sido a resposta do público a estes eventos?
Nina: Devo confessar que este ano tá começando agora. Ano
passado nos reuníamos mesmo sem show, pelo simples fato de beber e trocar
idéias! Neste caso se o show começa às 19 horas, chegamos bem mais cedo para
fazer o esquenta do show! Domingo passado, por exemplo, veio Metal Friends de
Porto Alegre, Florianópolis e Teixeira de Freitas ( BA), mais dois membros que
nem iriam entrar para o show, mas foram nos encontrar mesmo com chuva e frio !
PS: Você está convidado para o próximo esquenta do MF!
HMB: E esses encontros do Metal Friends, não seriam uma
ótima oportunidade para juntar bandas autorais tradicionais com as mais novas e
fazer isso uma grande festa? E também, valorizar um cenário pobre nesse
sentido?
Nina: Como eu disse, não temos casas disponíveis! Quando o
MF completou um ano, o Alessandro e o Henrique organizaram o I Metal Fest, para
comemorarmos com bandas nacionais. E foi sensacional, todos os convites
vendidos, open bar, todo mundo se conhecendo e óbvio muito Metal dos anos 80.
Ano passado fizemos dois fests. Este ano ainda estamos estudando uma data para
o segundo semestre. Anthares,
Castellica, Desaster, Divine Uncertainty, Evildead, Fire Strike, Leather Faces,
Minotauro, Nervosa, Sacrificed, Sakrah, Skinlepsy e Tormento. Já tocaram
no fest, inclusive com uma edição em BH com Skinlepsy.
HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo
de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Nina: Tudo que se refere a bandas é saudável. O que não rola
é colocar bandas de estilos muito diferentes para subir no palco na mesma
noite. Ha conflito de públicos!
HMB: Mas essa não é uma visão totalmente brasileira? Visto que
nos festivais, salvo algumas exceções, tocam bandas de várias vertentes do
Heavy Metal, sendo que eles segmentam dentro do próprio festival e não o
festival em si.
Nina: Grandes festivais! Aqui falamos de três bandas e um
público de 200 pessoas. Infelizmente o que aconteceria é uma dispersão de
público. Não agregaria mais público para banda. Fui em dois fests, com bandas
de estilos diferentes e não virou. Os fãs iam para ver a banda que queriam e
depois iam embora! Em Rio Negrinho no Zoombie Ritual, que é um grande fest, ai
sim, rolaram todos os estilos! Tinha público e banda p/ todos os gostos!
HMB: Aliás, o Zoombie Ritual é o que vem salvando o
Headbanger. Eu acho que nosso país é grande e tem fás suficientes para encher
quatro ou cinco festivais simultâneos. O que você pensa disso?
Nina: Acho que você tem toda razão! Foi minha primeira vez e
tinha gente de todos os lugares do Brasil. Mais uma vez encontrei MF's de
Belém, SP, SC, PR, BA e GO! Foi tudo muito tranquilo, shows, preço de ingresso
justo, acesso ao local, nenhuma briga. Correu tudo super bem, e o som foi
simplesmente fantástico. O Juliano Ramalho realmente fez e faz um grande fest!
HMB: Existe algum plano de tornar o Metal Friends maior do
que já é, ou a ideia é ser exatamente como ele é hoje?
Nina: O grupo cresce naturalmente, basta que, gostem das
várias vertentes do metal. Quanto aos shows ou eventos maiores, tudo depende de
público. Não adianta fazer um Fest se não tem a reciprocidade do público. Somos
seis administradores, corremos atrás de casa, equipamento, divulgação e bandas.
Nenhuma banda toca sem cachê, com ou sem retorno financeiro, visto que fazemos
os fests por paixão, não visando lucro, ou seja, são os próprios
administradores que bancam os gastos e todo valor após o pagamento das despesas
é dividido entre as bandas. Este ano temos sim a intenção de fazer um fest, mas
ainda depende da agenda de shows internacionais, e no momento são muitos. Ai você
tem três shows internacionais num mesmo mês e concorrer fica difícil. A pessoa
tem que optar entre ver uma banda ou outra e ainda um fest com bandas nacionais
e autorais. Por isso sempre divulgamos shows no MF, porque banda precisa de
público e o público hoje, esta muito exigente. No interior de Sã Paulo, por exemplo,
a receptividade é muito maior, é raro ver casa vazia, e ainda tem um
custo/benefício muito melhor.
HMB: A iniciativa é louvável e com certeza muito bem vista
pelo público e pelas bandas que participam desses eventos. Você falou sobre
verificar a agenda dos shows internacionais para evitar concorrer diretamente
com isso, você acha que o público brasileiro tende, sempre a conferir as bandas
internacionais indiferentemente de quem esteja no palco?
Nina: Isso depende muito, estão vindo para o Brasil bandas
oitentistas, que eu pelo menos nunca imaginei ver por aqui, por exemplo: Manilla
Road e Coroner, para citar apenas duas. Tem público e público, a questão do
status existe, é muito mais bacana falar que gastou R$ 300,00 p/ ver o show da
banda X, do que dizer que gastou R$ 30,00 p/ ver três bandas desconhecidas. Por
isso citei o interior de São Paulo, os fests ou shows com bandas nacionais da
região e da Capital, chamam o público. Basta que a banda seja boa, e o público
estará lá!
HMB: Pelo que andei ouvindo aqui pelo HMB, o cenário para o
Heavy Metal está muito mais localizado e forte no interior de São Paulo e em
outras cidades fora daqui. Deixando São Paulo e Rio de Janeiro, que sempre
foram visto como o centro nervoso da música pesada em segundo plano. Visto que
até bandas internacionais estão partindo para essas cidades, qual a sua opinião
sobre isso?
Nina: Vc tem razão! Tirando a receptividade do público,
voltamos à questão do custo benefício. Preços de ingressos altos em São Paulo
contra preços compatíveis com nossa realidade no interior. Recentemente fui até
Limeira assistir ao Picture e Grim Reaper, onde o ingresso custava R$ 50,00
numa casa de show perfeita. No dia seguinte fui assistir ao mesmo show em São Paulo
com ingresso a R$ 140,00 na porta. Se você
tem carro ou está de van com amigos, é muito mais barato e prazeroso ir pra o
interior. O Edson Moraes, por exemplo, já levou o Rotting Christ, as bandas
citadas acima, e ainda tem muita banda boa até o final do ano, tudo isso
custando à metade do preço daqui de São Paulo.
HMB: E ainda existe a possibilidade das bandas se juntarem e
irem atrás dessas casas e desse público. O que você pensa sobre essas
associações entre as bandas, que vulgarmente são chamadas de “panelas”. Já que
iniciativas como esta geralmente são mal vistas pelas outras bandas?
Nina: Isso sempre existiu desde os anos 80, e eu não creio
que seja uma panela, é sobrevivência. Creio que seja o único modo de tocarem e
não desistirem. Pessoalmente acho saudável p/ todos, bandas, casa de shows,
produtoras e público. Sozinho hoje é praticamente inviável, tem que haver união
de forças e se existe a afinidade e a amizade, por que não?
HMB: Eu penso como você também. Afinal nós nos unimos pela
afinidade, pela força e por um bem maior, que neste caso é o Heavy Metal. Você
como organizadora dos eventos, do MF, acha que os preços praticados em São
Paulo são um tanto abusivos?
Nina: Abusivos? São altíssimos para nossa realidade, mesmo
levando em consideração, tudo o que envolve trazer uma banda para Brasil, acho
totalmente fora da nossa realidade. Infelizmente ainda tem o olhar capitalista
se sobressaindo, não que não deva existir lucro, mas está exagerado a ponto de
eu ter visto o show do Avenger, banda tradicional de HM inglesa, tocar para cerca
de quarenta pessoas! Muitos shows + preços altos é igual à falta de público.
HMB: Planos para o futuro?
Nina: Futuro é hoje! Continuar a ser assim, quem sou, não
gosto do termo apoiar o metal, prefiro dizer que vou aos shows porque é meu antidepressivo,
eu simplesmente amo isso e não imagino minha vida sem metal!
HMB: Resuma Nina Stillo em uma frase.
Nina: Uma frase: O metal faz parte do meu cotidiano há trinta
anos!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Nina: Esta sou eu.
Adorei a entrevista! É muito legal ver uma mulher ativa na cena metal. Ainda mais com tanta bagagem e tendo vivido os inesquecíveis anos 80, assim como eu vivi.Parabéns e muito sucesso Nina!!!
ResponderExcluir