quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nina Stillo, o cenário existe, e é forte...


Nina Stillo, vive e respira Heavy Metal.  Administradora da página do grupo Metal Friends no Facebook e uma das coordenadoras dos eventos do grupo, que se realizam em diversas localidades. Além de estar presente em quase todos os shows seja em São Paulo, seja no inteior. Confira agora como foi o nosso bate papo.

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Nina Stillo: Comecei ouvindo Queen aos 14 anos e foi amor a primeira “ouvida”! Depois, Led Zeppelin, Janis Joplin, Doors e senti que gostava mais das guitarras quando eram mais pesadas e assim, vieram Judas e Motorhead, que ai sim, me identifiquei 100%. Desde os 14 anos e nunca deixei de ouvir heavy metal, você faz uma pausa nos shows quando tem filhos, mas em 2006 retomei tudo e de cara com dois shows consecutivos do Slayer! Há três anos mais ou menos, estou em grupo do Facebook, o Metal Friends, e a coisa flui com tanta naturalidade, que quando eu vi, estava envolvida de uma forma que eu nunca tinha estado. Revendo amigos de bandas dos anos 80, conhecendo músicos da nova geração do metal, atuando e organizando Fests para o Metal Friends. Comecei a receber material de bandas por e-mail e inbox, ai você vê que tem muita banda boa e sem espaço para divulgar o trabalho, acho que é nisso que eu me apeguei, brigar por um espaço legal para as bandas autorais mostrarem seu trabalho!

HMB: Em 1981, o show do Queen foi importante para diversas pessoas que hoje, vivem ou trabalham pelo rock e especificamente pelo Heavy Metal brasileiro, como você vê a importância da banda para o Rock em geral?
Nina: Era o período da ditadura lembra? Tudo que cheirasse a oposição era bem-vindo! O Rock era transgressor, era contestação. E o Queen, foi influência para muita gente que hoje toca ou trabalha no meio musical! É influência para uma galera de vinte anos, porque os pais ouviam, ou porque eles mesmos descobriram a banda! Na época eu achava o som despretensioso, mas hoje vejo o quanto eram importantes, as letras e a sonoridade! Lembrando que vivíamos o pós-punk europeu! Queen era novidade, renovação, a saída das músicas violentas do punk para uma coisa mais amena que era o Rock do Fred Mercury! Portanto, diria que foram tão importantes nos anos 80, como Beatles nos anos 60!

HMB: E essa falta de espaço para bandas autorais, você consegue ver uma mudança desse comportamento em um curto espaço de tempo?
Nina: Infelizmente não! Nunca tivemos tantas bandas de fora tocando no Brasil como nos últimos três anos! Já aconteceu de ter três shows internacionais num mesmo dia! Os ingressos são caros, e ai, existe a opção em ver a banda gringa e economizar R$ 20,00 de ingresso para ver uma banda nacional. Existe também a falta de espaço, as casas em São Paulo não abrem espaço para banda de som autoral, e sim para bandas cover. Banda cover tem público certeiro. Ás vezes sobra o domingo, eu mesma, fui há vários eventos de domingo e o público é pequeno mesmo com três bandas de qualidade. Isso não acontece só aqui. Tenho um contato grande com o metal italiano e lá é a mesma coisa, muita banda e poucas casas interessadas! Saca, a grama do vizinho é sempre mais verde. Precisamos valorizar o músico brasileiro, o Metal Nacional, porque os gringos gostam, e aqui? Quando o público vai conhecer? Porque curtir post no Facebook é muito fácil, né? Vá ao show, fale com a banda, compre material, isso é apoiar e prestigiar a cena!


HMB: Em muitas vertentes da música pesada, o que sobra para as bandas autorais é exatamente o domingo, geralmente do fim da tarde para a noite. Não será ai que se encontra boa parte do problema da falta de público?
Nina: Vamos lá, o público tem idade de 20 a 50 anos. Os de 20 saem no sábado e voltam para casa domingo. Os de 50 tem família, e o domingo é dia de família, descanso e recarregar a bateria para semana. Eu vou, mas chego, em minha casa tarde e cansada, ok, valeu a pena, mas acordar às 6 da manhã na segunda-feira é complicado! O Ricardo Batalha fez alguns Super Pesos Brasil, domingo e sempre com chuva (risos),  eu fui em todos! Fez o último em dezembro de 2013, sábado a tarde, começava às 17 horas, casa cheia, público com idade de 16 a 50 anos, e todas as bandas dos anos 80! Eu acho isso sensacional! As casas recebem material das bandas, deem uma chance, as bandas dependem das casas, as casas dependem do público, e o público vai atrás de coisa boa! É apenas uma questão de oportunidade!

HMB: Resumindo, domingo é um dia morto?
Nina: Domingo é dia morto para quem quer! Vou citar bandas que eu vi em um domingo: Iced Earth , Midnight com Sodomizer, Whipstriker e Poison Beer, Genocídio, Krow abrindo p/  Obituary , Deicide e Children of Bodom. Esses os que eu fui! E na segunda-feira, acordei às 6 da manhã!

HMB: Você acredita que a música tenha formado a sua forma de encarar a vida?
Nina: Totalmente! Música é um estilo de vida e você acaba passando isso para o seu modo de se vestir e grupo de amigos. Já notei que em momentos de stress, a única coisa que faz a adrenalina voltar ao normal, é ouvir Thrash Metal, cara, eu amo isso! Eu encaro a vida assim, semana ruim todos nós temos, show no sábado, encontrar os amigos, cantar e bater cabeça, estou pronta para mais uma semana! É só saber dividir sua vida profissional, familiar e a vida metal (risos).

HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada no Brasil?
Nina: Que o cenário é este! Grande, pequeno, não importa! Somos nós que fazemos o cenário! Eu sempre digo que público de banda, é banda! Não adianta o cara ir lá tocar e sair fora se tem mais bandas! É a minha visão, mas se eu quero mudar o cenário para melhor, tenho que dar exemplo, certo? O cenário existe, e é forte, senão não teriam tantos shows internacionais e nem tantas bandas querendo espaço!


HMB: Você é administradora da página no Facebook do Metal Friends, como é ver tantas pessoas ligadas a um objetivo e sendo tão unidas?
Nina: É muito bom e dá muita satisfação! Cada um foi criando um vinculo com alguns membros do grupo. Falo por mim, eu hoje não sei o que é ver um show sem alguns deles, nos reunimos sempre antes e depois do show! Virou um vício bom! O simples fato de relembrarmos com carinho de bandas e fatos ocorridos nos anos 80, já é divertido, mas sem saudosismo, é lembrança boa mesmo!

HMB: Você também organiza os encontros do grupo, que geralmente são em casas de shows e com bandas autorais tocando ao vivo, como tem sido a resposta do público a estes eventos?
Nina: Devo confessar que este ano tá começando agora. Ano passado nos reuníamos mesmo sem show, pelo simples fato de beber e trocar idéias! Neste caso se o show começa às 19 horas, chegamos bem mais cedo para fazer o esquenta do show! Domingo passado, por exemplo, veio Metal Friends de Porto Alegre, Florianópolis e Teixeira de Freitas ( BA), mais dois membros que nem iriam entrar para o show, mas foram nos encontrar mesmo com chuva e frio ! PS: Você está convidado para o próximo esquenta do MF!

HMB: E esses encontros do Metal Friends, não seriam uma ótima oportunidade para juntar bandas autorais tradicionais com as mais novas e fazer isso uma grande festa? E também, valorizar um cenário pobre nesse sentido?
Nina: Como eu disse, não temos casas disponíveis! Quando o MF completou um ano, o Alessandro e o Henrique organizaram o I Metal Fest, para comemorarmos com bandas nacionais. E foi sensacional, todos os convites vendidos, open bar, todo mundo se conhecendo e óbvio muito Metal dos anos 80. Ano passado fizemos dois fests. Este ano ainda estamos estudando uma data para o segundo semestre. Anthares, Castellica, Desaster, Divine Uncertainty, Evildead, Fire Strike, Leather Faces, Minotauro, Nervosa, Sacrificed, Sakrah, Skinlepsy e Tormento. Já tocaram no fest, inclusive com uma edição em BH com Skinlepsy.  

HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Nina: Tudo que se refere a bandas é saudável. O que não rola é colocar bandas de estilos muito diferentes para subir no palco na mesma noite. Ha conflito de públicos!

HMB: Mas essa não é uma visão totalmente brasileira? Visto que nos festivais, salvo algumas exceções, tocam bandas de várias vertentes do Heavy Metal, sendo que eles segmentam dentro do próprio festival e não o festival em si.
Nina: Grandes festivais! Aqui falamos de três bandas e um público de 200 pessoas. Infelizmente o que aconteceria é uma dispersão de público. Não agregaria mais público para banda. Fui em dois fests, com bandas de estilos diferentes e não virou. Os fãs iam para ver a banda que queriam e depois iam embora! Em Rio Negrinho no Zoombie Ritual, que é um grande fest, ai sim, rolaram todos os estilos! Tinha público e banda p/ todos os gostos!


HMB: Aliás, o Zoombie Ritual é o que vem salvando o Headbanger. Eu acho que nosso país é grande e tem fás suficientes para encher quatro ou cinco festivais simultâneos. O que você pensa disso?
Nina: Acho que você tem toda razão! Foi minha primeira vez e tinha gente de todos os lugares do Brasil. Mais uma vez encontrei MF's de Belém, SP, SC, PR, BA e GO! Foi tudo muito tranquilo, shows, preço de ingresso justo, acesso ao local, nenhuma briga. Correu tudo super bem, e o som foi simplesmente fantástico. O Juliano Ramalho realmente fez e faz um grande fest!

HMB: Existe algum plano de tornar o Metal Friends maior do que já é, ou a ideia é ser exatamente como ele é hoje?
Nina: O grupo cresce naturalmente, basta que, gostem das várias vertentes do metal. Quanto aos shows ou eventos maiores, tudo depende de público. Não adianta fazer um Fest se não tem a reciprocidade do público. Somos seis administradores, corremos atrás de casa, equipamento, divulgação e bandas. Nenhuma banda toca sem cachê, com ou sem retorno financeiro, visto que fazemos os fests por paixão, não visando lucro, ou seja, são os próprios administradores que bancam os gastos e todo valor após o pagamento das despesas é dividido entre as bandas. Este ano temos sim a intenção de fazer um fest, mas ainda depende da agenda de shows internacionais, e no momento são muitos. Ai você tem três shows internacionais num mesmo mês e concorrer fica difícil. A pessoa tem que optar entre ver uma banda ou outra e ainda um fest com bandas nacionais e autorais. Por isso sempre divulgamos shows no MF, porque banda precisa de público e o público hoje, esta muito exigente. No interior de Sã Paulo, por exemplo, a receptividade é muito maior, é raro ver casa vazia, e ainda tem um custo/benefício muito melhor.

HMB: A iniciativa é louvável e com certeza muito bem vista pelo público e pelas bandas que participam desses eventos. Você falou sobre verificar a agenda dos shows internacionais para evitar concorrer diretamente com isso, você acha que o público brasileiro tende, sempre a conferir as bandas internacionais indiferentemente de quem esteja no palco?
Nina: Isso depende muito, estão vindo para o Brasil bandas oitentistas, que eu pelo menos nunca imaginei ver por aqui, por exemplo: Manilla Road e Coroner, para citar apenas duas. Tem público e público, a questão do status existe, é muito mais bacana falar que gastou R$ 300,00 p/ ver o show da banda X, do que dizer que gastou R$ 30,00 p/ ver três bandas desconhecidas. Por isso citei o interior de São Paulo, os fests ou shows com bandas nacionais da região e da Capital, chamam o público. Basta que a banda seja boa, e o público estará lá!

HMB: Pelo que andei ouvindo aqui pelo HMB, o cenário para o Heavy Metal está muito mais localizado e forte no interior de São Paulo e em outras cidades fora daqui. Deixando São Paulo e Rio de Janeiro, que sempre foram visto como o centro nervoso da música pesada em segundo plano. Visto que até bandas internacionais estão partindo para essas cidades, qual a sua opinião sobre isso?
Nina: Vc tem razão! Tirando a receptividade do público, voltamos à questão do custo benefício. Preços de ingressos altos em São Paulo contra preços compatíveis com nossa realidade no interior. Recentemente fui até Limeira assistir ao Picture e Grim Reaper, onde o ingresso custava R$ 50,00 numa casa de show perfeita. No dia seguinte fui assistir ao mesmo show em São Paulo com ingresso a R$ 140,00 na porta.  Se você tem carro ou está de van com amigos, é muito mais barato e prazeroso ir pra o interior. O Edson Moraes, por exemplo, já levou o Rotting Christ, as bandas citadas acima, e ainda tem muita banda boa até o final do ano, tudo isso custando à metade do preço daqui de São Paulo. 

HMB: E ainda existe a possibilidade das bandas se juntarem e irem atrás dessas casas e desse público. O que você pensa sobre essas associações entre as bandas, que vulgarmente são chamadas de “panelas”. Já que iniciativas como esta geralmente são mal vistas pelas outras bandas?
Nina: Isso sempre existiu desde os anos 80, e eu não creio que seja uma panela, é sobrevivência. Creio que seja o único modo de tocarem e não desistirem. Pessoalmente acho saudável p/ todos, bandas, casa de shows, produtoras e público. Sozinho hoje é praticamente inviável, tem que haver união de forças e se existe a afinidade e a amizade, por que não?


HMB: Eu penso como você também. Afinal nós nos unimos pela afinidade, pela força e por um bem maior, que neste caso é o Heavy Metal. Você como organizadora dos eventos, do MF, acha que os preços praticados em São Paulo são um tanto abusivos?
Nina: Abusivos? São altíssimos para nossa realidade, mesmo levando em consideração, tudo o que envolve trazer uma banda para Brasil, acho totalmente fora da nossa realidade. Infelizmente ainda tem o olhar capitalista se sobressaindo, não que não deva existir lucro, mas está exagerado a ponto de eu ter visto o show do Avenger, banda tradicional de HM inglesa, tocar para cerca de quarenta pessoas! Muitos shows + preços altos é igual à falta de público.

HMB: Planos para o futuro?
Nina: Futuro é hoje! Continuar a ser assim, quem sou, não gosto do termo apoiar o metal, prefiro dizer que vou aos shows porque é meu antidepressivo, eu simplesmente amo isso e não imagino minha vida sem metal!

HMB: Resuma Nina Stillo em uma frase.
Nina: Uma frase: O metal faz parte do meu cotidiano há trinta anos!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Nina: Esta sou eu.


Um comentário:

  1. Adorei a entrevista! É muito legal ver uma mulher ativa na cena metal. Ainda mais com tanta bagagem e tendo vivido os inesquecíveis anos 80, assim como eu vivi.Parabéns e muito sucesso Nina!!!

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