Com a publicação desta entrevista eu, JP Carvalho entro para
a história, como o único cara que entrevistou duas Baratas em menos de um ano!
Um da banda Test e outro da banda DZK!
Mas vamos lá! Manoel Barata, punk, ativista, batalhador,
radialista, produtor de shows e vocalista de uma das mais tradicionais bandas
do Punk Rock Brasileiro, o DKZ. Tivemos nossa conversa por e-mail e como
sempre, Barata foi cordial e educado, mas também firme nas suas posições.
Confiram a seguir
HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo
seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você
e suas atividades.
Manoel Barata: Bom, meu nome é Manoel mais conhecido como
Barata DZK. Comecei a trabalhar muito cedo, aos 16 de anos como metalúrgico, me
aposentei em 2010 aos 49 anos, e agora em outubro 2014 completo 53 anos de
idade.
Comecei a ouvir muito rock já aos 16 anos, aos 18 conheci o
Punk e me identifiquei, pelo visual e pelas músicas de protesto, tive contato
com uma banda da minha região (ABC), chamada Desespero em 1985, e acabei
entrado na banda em1986. A banda acabou em 1988, deixando um registro em vinil
chamado Ódio Mortal, uma coletânea com outras bandas como, Dizintiria, WC HC,
WC Kaos além, claro, do Desespero, acabei vindo para banda DZK em 1989 e não
parei mais, pois abanda esta na ativa até hoje! Comecei a fazer um Programa de
rádio pela Web em 2003, chamado Rota 77 e o mantenho até hoje. Como sou
produtor de shows, também, quando não estou tocando faço a produção do Rota77,
onde convido bandas para tocarem, sejam elas nacionais e gringas. Bom, essas são
minhas atividades.
HMB: Como produtor de eventos, como você o underground
nacional, e mais, como você vê a postura das bandas em relação ao Underground e
as outras bandas?
Barata: Como produtor, eu sei que não é nada fácil produzir
shows, só dor de cabeça, pois não temos apoio ou patrocínio de ninguém, é tudo
feito na raça mesmo, e as bandas acabam tocando nos eventos que produzo muitas
vezes pela camaradagem. Bom, hoje existem muitas bandas no cenário e costumo
dizer que é banda tocando para banda, pois quem esta no meio do público também
tem uma banda. A postura das bandas em relação Underground é boa, pois
aprenderam a não depender de gravadoras e acabam metendo a mão na massa e fazendo
sua própria produção e história, uma ajuda à outra em gravações e shows.
HMB: Em relação ao patrocínio, você busca esse tipo de
parceria?
Barata: Já buscamos sim, em algumas lojas do gênero, mas não
conseguimos. Quanto ao patrocínio de equipamentos ainda não buscamos, mas
estamos elaborando uma forma de correr atrás.
HMB: Como você vê o cenário da música pesada no Brasil?
Barata: O cenário da música pesada esta bom no Brasil, temos
ótimas bandas, muitas antigas e bandas novas surgindo á todo momento, mas são
poucas que conseguem se manter. Afinal, viver de música no Brasil não dá. Ai
começam as cobranças, porque você tem que trabalhar, tem família para criar, e muitos
acabam deixando a banda de lado. Eu mesmo tive que trabalhar muito, pois eu já estava
casado, com filhos, mas nunca parei com a banda! É o que sempre falo para quem
tem banda, para não desistirem do seu sonho, problemas todos nós temos, mas
quem sobrevive á tudo isso carrega a música no sangue, e ter uma banda é uma válvula
de escape para colocar todo o seu sentimento para fora. Eu mesmo, com meus 53
anos, me mantive a frente do DZK e me mantenho até hoje, porque está no meu
sangue! Sou feliz por estar vendo e vivenciando tudo isso, para mim, não tem
preço, vejo que valeu a pena sim e faria tudo de novo!
HMB: E como é, estar à frente de uma banda que se tornou uma
verdadeira instituição do Punk Rock nacional?
Barata: Eu me sinto uma pessoa realizada, pois estar 32 anos
com a banda ainda em atividade, sem parar, não é fácil, passamos por muitas
situações difíceis nesses anos todos, mas valeu á pena, fizemos muitos amigos,
conseguimos semear sementes para novas e futuras gerações! Somos uma banda de
Punk Rock, que se mantém fiel ao Punk Rock tradicional. Por isso somos
respeitados por todos que conhecem a banda.
Minha filha certa vez me perguntou: Pai quando é que você
vai parar com tudo isso? E eu respondi: Seu pai vai parar no dia que colocarem
uma tampa de caixão sobre mim, pois a minha vida toda me dediquei ao Punk! Passei
minha vida inteira em cima de um palco! E é assim que quero terminar. Punk
sempre! É a minha vida!
HMB: O inicio da banda nos remonta a década de 1980, e o
primeiro registro é justamente de 1982, na seminal “trilha sonora” do festival
O Começo do Fim do Mundo, quando a banda ainda se chamava Decadência Social, o que
você se lembra desse registro e o porquê da mudança do nome?
Barata: Bom, entrei na banda DZK em 1989, mas em 1982 a
banda se chamava Decadência Social quando participou do lendário festival e
registro O Começo do Fim do Mundo, segundo o Macarrão (baterista) me disse, depois
deste festival a banda acabou, sobrando apenas ele, que queria dar continuidade
na banda, mas os outros integrantes não permitiram o uso do nome, e ele mudou o
nome para Dizikuilibriu Social, que abreviado ficou conhecido como DZK, mas á
musica Decadência Social continua sendo tocada até hoje pelo DK, dando assim
continuidade a nossa historia.
HMB: A discografia da banda é extensa, contando com álbuns,
coletâneas e compactos, e até um tributo a banda. Como foi ser homenageado com
este tributo e qual a frequência dos lançamentos de vocês?
Barata: A ideia do tributo surgiu em 2006pelo Daniel da
banda 88 Não, e a cooperativa de bandas montada por ele, a Cobain ABC no bairro
Sonia Maria em Santo André, as bandas gravaram o material, mas ele ficou na
gaveta por dois anos, por falta de grana para ser lançado. Em 2008, a Dunga, empresaria
da banda e o Bispo Xinez da Corsário Discos e Garimpo Cultural da banda Excomungados,
resolveram lançar esse material. Para nós da banda, foi uma puta homenagem
ainda em vida, e o DZK foi convidado para participar, com uma música no seu próprio
tributo, e gravamos a musica Quebrem o Muro, fui punk! Nós não lançamos discos
com muita frequência, porque não temos o suporte de uma gravadora, tudo que é
feito por nós mesmos, todos nós na banda somos peões de fábrica, sem um puto no
bolso, ai fica difícil para todos contribuírem para fazer um disco, nosso último
lançamento, foi o disco “Fui Punk” e quem pagou o estúdio fui eu e a prensagem foi
dividida entre mim, nosso guitarrista e a Corsário Discos. Mas sempre tivemos
parceiros na hora de lançar, como o Fabião da lendária banda Olho Seco e dono
da antiga loja Punk Rock Discos e Decontrol, que ajudaram no para o lançamento
do disco Geração Eternamente Punk, em outros tivemos a participação e ajuda
novamente da Corsário Discos, que nos ajuda e é parceira até hoje. Eles também ajudam
outras bandas a lançarem suas músicas, e é por isso que não temos lançamentos
constantes. Estamos trabalhando agora, em um novo disco que se chamara Amanhã,
quando vai ser lançado? Não sabemos, mas queremos muito que sai em 2014 ou 2015.
HMB: E este novo álbum já está composto, você já estão em estúdio
ou algo assim?
Barata: As letras já existem, mas ainda estamos trabalhando
as músicas, pois tocamos muito e ensaiamos pouco, esse pouco que nos resta
acaba não rolando ensaio porque quando da pra um não da para outro e assim
vamos adiando os ensaios, mas já aconteceu de não tocarmos por duas semanas, e
também não ensaiamos, pois nosso baixista mora em limeira e acaba muitas vezes
sem grana pra vir ensaiar, mas estamos batalhando para fazer todas às musicas
para depois ir para estúdio.
HMB: Não chega a ser desanimador essa distancia entre os
membros da banda? Como vocês fazem para administrar isso?
Barata: A distância de certa forma sim, mas desistir jamais,
pois já tem vinte anos que ele mora longe, e continua conosco até hoje e com
todas as dificuldades.
Administrar tudo isso não é fácil, muitas brigas já rolaram
por conta disso e para piorar o nosso guitarrista que morava perto, mudou-se para
o Rio de Janeiro morando e trabalhando lá por oito anos, mas ele sempre dava um
jeito de vir para tocar, para ensaiar já ficava mais difícil, agendar um horário
certo para esses dois, que moram longe, quando dava pra um, não dava para o
outro. Mas agora em 2014 ele voltou a morar em São Paulo, e o problema para
ensaiar não mudou. Chega uma hora que é melhor você deixar quieto, para não
ficar estressado, e agora eu deixo assim, deu pra vir maravilha, não deu! Beleza
do mesmo jeito! Cada qual com seu problema.
HMB: Como organizador de shows, você nota que existe um
distanciamento do público dos shows de bandas autorais?
Barata: O que tenho notado é que existem varias bandas cover
e o público acompanha mais essas bandas. Tenho visto também, que quando
trazemos bandas gringas, o pessoal paga para ver seja o preço que for, ficando
assim visível que elas não valorizam nossas bandas, que não deixam nada a
desejar para as gringas, quando fazemos um evento com bandas nossas o pessoal
não quer pagar, fica chorando para fazer por menos e até para entrar de graça!
Ai, quando vamos aos shows de bandas gringas, você encontra essas mesmas
pessoas pagando pra ver esses show, em vários que fui, vi isso.
HMB: Você acha que é culturalmente inserido no brasileiro a
ideia de que o que vem de fora sempre será muito melhor que o produto feito
aqui?
Barata: Infelizmente sim, aqui se tem ideia que sua banda
indo pra fora, fará sucesso aqui, foi assim com Ratos de Porão e Sepultura,
quer dizer cultura importada. Gosto do que vem de fora, vou aos shows, mas
valorizo as bandas nacionais.
A fórmula mágica para mudar essa realidade, não existe, pois
cada pessoa tem um pensamento e comportamento diferente, eu conheço pessoas que
continuam a curtir um som, mas não vão aos shows por motivos de trabalho,
família e por ai vai. Quanto à atitude, isso depende de nós mesmo de estar
sempre apoiando á cena, para que isso não se apague, um exemplo disso é você, que
mantem á cena viva, dando espaço para todos mostrarem seu trabalho, e nós por
outro lado também, como banda, como produtor e com a radio, que faço sempre
apoiando as bandas nacionais.
HMB: Como é o seu trabalho na rádio?
Barata: Comecei a fazer o rota 77 em 2003, junto com um
amigo que é jornalista e também tem um programa chamado Rádio Base Urgente. Percebemos
que as rádios não rolavam e não apoiavam as bandas que queriam mostrar seu
trabalho, montamos o Rota 77 justamente para ajudar nessa divulgação, no inicio
a intenção era para rolar as musicas do DZK, e começamos a tocar bandas de amigos
e hoje rolamos tudo o que nos mandam. Gravamos o programa na casa do Marco Ribeiro,
nós dividimos a locução e eu faço a escolha das músicas no programa, tocamos
bandas antigas e novas, mas sempre que eu vou gravar tenho material pra lançar,
gravamos uma vez por semana, quando dá para todos, é claro, a edição fica por
conta do Marco Ribeiro, que depois que estiver tudo montado joga na net. Quem
quiser conhecer melhor nosso trabalho acesse: www.rota77.com
HMB: E o Rota 77, segue a linha do Punk Rock/Hardcore ou
agrega bandas de outros estilos?
Barata: O programa foi criado nessa linha do Punk Rock ao
Metal Punk, se nos mandarem material de outros estilos, iremos avaliar como
vamos apresentar á banda.
HMB: Você acha que em estilos previamente descriminados como
o Punk Hardcore ou o Heavy Metal, muitas vezes até sem fundamento algum, a
união desses geraria força suficiente para demonstrar força e angariar mais
seguidores?
Barata: Com certeza se fossemos mais unidos, Metal e Punk
Hardcore, seria bom para todos! Mas infelizmente não é isso que acontece, tenho
percebido já algum tempo, que entre nós mesmo acabam se dividindo, e muitas
vezes acabam nem se misturando, por causa de estilo, eu ate gosto quando
tocamos juntos com bandas de Metal ou Hardcore, pois é outro público que acaba
conhecendo e gostando do seu trabalho, pois, acabamos, tendo mais seguidores.
HMB: Planos para o futuro?
Barata: Terminar as novas composições para novo disco, e
manter a banda na estrada o máximo possível.
HMB: Resuma Barata em uma palavra ou frase.
Barata: Punk sempre!
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Barata: Eu que agradeço a você e ao Heavy Metal Breakdown
pela oportunidade de poder mostrar um pouco de mim e do meu trabalho. Minha
mensagem aos leitores seria: Não deixem que coloquem palavras em sua boca! Seja
sempre você mesmo... Acredite e lute sempre pelo certo hoje e agora, porque
amanhã poderá ser tarde demais... Vejam esse mundo é real... Onde o bem luta
contra o mal... E se você adivinha quem
vai vencer! Meu muito obrigado a todos, por me permitir fazer parte de suas
vidas! Punk Sempre!
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