Quem nunca ouviu falar no Distraught? Um dos nomes mais
antigos e da cena Thash Metal Gaúcha. Formada na década de 1990 e tendo na linha de frente André Meyer um dos mais carismáticos vocalistas de toda a cena, que
gentilmente nos concedeu essa entrevista e falou um pouco de tudo, da vida, da
carreira, das suas percepções e do futuro da banda. Confira a seguir.
HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo
seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você
e suas atividades.
André Meyer: Bom,
sobre mim, sobre o que sou e o que faço nesses quase 44 anos de vida.
Relacionado à música que sempre foi fonte de ensinamento e
amadurecimento por toda minha trajetória é
como um órgão vital, sem ela faltaria algo para que o resto de meu corpo
e minha mente funcionassem corretamente. Lembro-me de quando minha mãe colocou
um compacto do Elvis Presley pra rodar. Eu deveria ter uns oito anos, percebi minha
afinidade com o rock e aos poucos fui descobrindo mais e mais. Minha primeira
banda chamava se Desintegrate isso em 1989, depois em 1990 surgiu o Distraught,
então venho me dedicando todos esses anos, com trocas de formação, altos e
baixos enfim, tentando sempre crescer como pessoa e aprendendo sempre com fãs,
amigos e inimigos também, sempre de forma humilde sem precisar passar por cima
de ninguém.
Além do Distraught tenho minha própria empresa onde dedico à
outra parte de meu tempo. No Brasil ainda é para bem poucos o grande prazer de
viver somente daquilo de que mais gostamos, a música.
HMB: E como você descobriu que tinha talento para ser um
vocalista de Heavy Metal?
André: (risos) essa é bem boa, quando eu cursava a sétima
serie em minha cidade natal, em Guaiba (RS) conheci na sala de aula alguns
caras, então nós resolvemos montar uma banda (Ruphus), eu na época queria tocar
bateria, então cada um escolheu o que tocaria no grupo, o interessante é que
ninguém sabia tocar nenhum instrumento, mas queríamos ter uma banda. Passou um
tempo tive que estudar em outra cidade e perdi minha vaga de baterista, mas
meses depois voltei e me convidaram pra fazer um teste de vocal, e fui reprovado
(risos) pelos meus parceiros que hoje em dia são grandes amigos e alguns até
trabalham como roadies no Distraught. Mas foi com o Desintegrate que comecei
desenvolver minha voz.
HMB: E você tem algum cuidado com a sua voz, faz aulas,
aquecimento e todas essas coisas?
André: O cuidado
maior é quando vou gravar, para não adoecer, essas coisas, mas na verdade sou
um cara boêmio, bebo cerveja pra caralho, durmo pouco e aqui no Rio Grande do
Sul o inverno é extremo. Não costumo fazer nenhum preparo vocal antes de subir
no palco, aprendi a respirar corretamente sozinho, pra não cantar somente
usando a garganta, isso me ajudou muito. No inicio ficava sem voz então com o
tempo fui aprendendo a dominar. Sinto uma diferença e uma facilidade de cantar
em cada CD gravado, acho que meu timbre de voz está melhorando com a idade.
Nunca fiz nenhuma aula, mas quem sabe um dia. Tenho curiosidade de saber o que
eu poderia melhorar somado com minha experiência. Muitas vezes os fãs que
querem se tornar vocalistas e me perguntam se eu não dou aulas de técnica
vocal, querem saber como eu faço etc. Ajudo como posso, dou algumas dicas, mas
não tenho nada teórico, o bagulho é na macheza mesmo.
HMB: Entendo bem isso! Como você vê hoje o cenário Heavy
Metal em nosso país?
André: Bom, eu acho o
seguinte, na época que estamos vivendo, com toda essa tecnologia avançada que ajuda
em divulgar músicas, vídeos e contatos etc. Atrapalha bastante também, me
referindo ao lançamento dos álbuns das bandas, onde a venda diminuiu muito, e a
dificuldade das gravadoras em lançar
bandas novas vem aumentando. Mas realmente um grande problema nacional que
ainda ocorre aqui é a supervalorização de bandas gringas e a pouca importância
das nacionais por parte do publico na sua maioria, o que faz com que produtores de shows não invistam tanto em
promover shows com bandas do nosso pais. O publico deve mudar a forma de
pensar, temos ótimas bandas Brasileiras que merecem um espaço maior, isso já
mudaria muito a cena.
HMB: E qual seria o caminho, na sua visão, para que isso se
revertesse?
André: Como eu falei, devemos investir mais naquilo que é nosso,
que é produzido aqui e que tem qualidade
de sobra. Não podemos viver sempre as sombras do que é de fora e que custa caro pra produzir em
nosso pais. É claro que existem muitos festivais bacanas e com muitas bandas
nacionais, mas ainda tem que melhorar muito. Consciência por parte de todos é o
que tá faltando.
HMB: E se existissem incentivos culturais, não só
governamentais, mas da inciativa privada, não agregaria qualidade nesses
eventos? E porque, nunca vemos as pessoas envolvidas no cenário indo atrás
desse tipo de incentivo?
André: Claro que sim, seria outra fonte que facilitaria muito. Acho
que a resposta da sua segunda pergunta é porque as portas sempre se fecham pra
esse tipo de coisa. Tudo gira em torno da mídia, então como nosso estilo
musical não é para o "povão", não temos incentivo, mas acho que
devemos seguir tentando mudar isso também.
HMB: Pois então, não seria de, pelos menos as bandas,
buscarem esse tipo de parceria? O primeiro disco do Stress, na primeira tiragem
de mil cópias tinha um logotipo enorme da pepsi-cola, ou seja, os sinais estão
ai desde o primeiro disco de Heavy Metal lançado neste país!
André: Já tivemos algumas parcerias, incentivos, mas um
valor baixo que não cobriram todas as despesas, envolve tempo também pra correr
atrás disso tudo, como temos nossos trabalhos paralelos melhor juntar grana e
fazer nossa própria produção.
HMB: Você sente falta de um maior incentivo para que se possa
produzir arte no Brasil?
André: Sim, em todas as áreas, mas falo da música que é
onde estou envolvido.
HMB: Como anda a produção do novo álbum, que será o sucessor
do aclamado The Human Negligence is Repugnant. Já tem previsão de lançamento?
André: Estamos na metade das composições e ainda com ajustes a
fazer, pretendemos gravar ainda no final deste ano para lançar no primeiro
semestre de 2015, mas temos muito que trabalhar ainda.
HMB: A temática lírica está sendo um diferencial neste álbum?
André: Estou escrevendo, baseado em um livro que li (Holocausto
Brasileiro), que fala das injustiças e crimes cometidos com centenas de
pessoas, ditas como loucas que eram esquecidas e maltratadas durante todas suas
vidas e a maioria assassinadas com eletrochoques, e outros métodos radicais em
um Hospício na cidade de Barbacena (MG), chamado Colônia. Também sobre as
péssimas condições carcerárias brasileiras, leis falhas etc.
HMB: Fale mais sobre esse novo lançamento.
André: Estamos com 50% de nossas composições prontas,
queremos deixar tudo pronto ainda esse ano, para gravar e fazer um ou dois
vídeo clips para lançar antes do álbum.
HMB: Quais foram as mudanças mais significativas na
sonoridade do Distraught desde o split Ultimate Encore?
André: Acho que até o álbum "Behind the Veil", estávamos
procurando nossa própria sonoridade, deste álbum até nosso mais recente
"The Human Negligence is Repugnante" as coisas estão tomando um rumo
mais maduro, e sempre analisando o que devemos explorar mais na nossa música.
HMB: E quais são os caminhos que você usa para criar suas
linhas de voz?
André: Estava mesmo pensando nisso neste exato momento
(risos) porque estou fazendo isso agora.
Primeiramente preciso escutar o riff e imaginar qual a
intensão do trecho que vou por a voz, vai muito as vezes da adrenalina, outras
vezes preciso pensar mais sobre o que fazer. A parte do refrão é sempre muito
importante também, fazer algo marcante.
HMB: Por falar em refrão, hoje em dia muitas bandas não usam
refrões e muitas também fazem músicas sem solos de guitarra, o que você pensa
disso?
André: Acho que é uma questão de escolha, não digo que na
nossa música não possa acontecer isso, mas achamos que funciona muito bem,
então é esse caminho que usamos.
HMB: A banda já foi open act para o Megadeth em Porto Alegre
e agora para o Coroner aqui em São Paulo, como se dão esses convites e como
você, pessoalmente, se sente sendo open act para grandes bandas?
André: No caso do Megadeth a produção achou que nós seriamos a
banda certa pra fazer a abertura, foi gratificante pra nós. No caso agora do
Coroner, já estávamos em contato com a Fame Enterprises à algum tempo esperando
alguma boa oportunidade, queremos muito voltar para São Paulo e será em grande
estilo, tocando com duas bandas que merecem nosso respeito que são o Coroner e o
Vulcano. É sempre uma ótima oportunidade fazer esse tipo de show, a mídia
especializada comparece, muitas pessoas de São Paulo também estarão lá para
assistir pela primeira vez o Distraught e tudo isso traz bons frutos pra banda.
HMB: E quais as perspectivas para este show? E Quem sabe a
banda estando em São Paulo, Já não estenda sua estada e faça mais shows.
André: Como não tocamos em São Paulo desde 2007, estamos ansiosos
pra fazer esse show e tocar as músicas dos nossos dois mais recentes álbuns
"Unnatural, Display of Art" e "The Human Negligence is
Repugnante". Sim estamos vendo com produtores mais alguns shows pra
compensar a viagem.
HMB: Planos para o futuro?
André: Terminar as composições e gravar final deste ano ou inicio
de 2015 e lançar nosso álbum no primeiro semestre do ano que vem. E fazer o
máximo de shows até setembro deste ano.
HMB: Resuma André Meyer em uma frase ou palavra.
André: Persistência e dedicação
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
André: Primeiramente agradeço a oportunidade pela entrevista. Aos
leitores, aguardo todos em algum show do Distraught com muita energia positiva
e diversão para todos.
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