segunda-feira, 23 de junho de 2014

Henrique Scraper Head, Headbanger!


Henrique Scraper Head é um cara que vive o Heavy Metal desde a década de 1980, vocalista da banda Scraper Head e um assíduo frequentador do cenário. Atualmente morando em Caxias do Sul, onde a banda renasceu, Henrique conversou conosco por e-mail e o resultado deste bate papo, você confere a seguir.

HM Breakdown: Olá Henrique, antes de começarmos quero agradecer pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Henrique Scraper Head: Hail! Eu que agradeço a oportunidade! Bom, Eu tenho 41 anos, paulistano, morei por muitos anos em Salvador atualmente moro em Caxias do Sul e ganho a vida trabalhando com cervejas especiais, sou um típico vocalista de Death Metal e já cantei nas bandas Chemical Death (Salvador-88/91), Black Death (São Paulo 92/95), Scraper Head (São Paulo 2008 até agora), gosto de Artes Marciais e música pesada.

HMB: O que te levou a ser um vocalista de Death Metal?
Henrique: Boa pergunta (risos). Em meados de 1988 em Salvador, (sou amante do Heavy Metal desde meus 10 anos e gostava de tentar cantar o que eu ouvia), um grande amigo (Marcos Russo) foi chamado para ser o vocalista do Chemical Death, porém o mesmo disse aos caras da banda que tinha um amigo que seria melhor do que ele para o posto e num belo domingo ele me leva me apresenta os caras que de imediato me jogaram as letras nas mãos e foram passando as músicas. Cara, eu não tinha a menor noção do que fazer (risos), mas aos poucos fui entendendo. Com relação ao vocal que deveria ser feito, segui a linha de bandas como Napalm Death que era a proposta da banda na época, gosto tanto que ainda estou nessa.

HMB: E depois de ser colocado nessa roubada, qual foi a sua iniciativa para melhorar o desempenho?
Henrique: Eu fui tentando fazer o melhor possível (risos), mas só começou a ficar bom mesmo quando eu comecei a participar da construção da coisa. Mas não foi muito difícil, nós tocávamos Deathgrind, e eu adorei essa roubada (risos) e logo depois que eu entrei no Chemical Death o meu amigo, o Marcos Russo se tornou o vocalista da banda The Side War, e como todos nós éramos vizinhos um foi ajudando o outro. Juntamo-nos com o Head Hunter DC e logo nasceu o Mystifier na sequência veio também a Necrolust. Ensaiávamos praticamente no mesmo lugar, sempre muito unidos. Nós carregávamos o Underground Soteropolitano nas costas, com muitos shows e festivais organizados por nós mesmos, saca? Carregando equipo nas costas, dentro de ônibus urbano e tudo mais, em suma melhorei mesmo a minha performance,  na base da garra, da gana, da vontade interminável de fazer a coisa certa e seguir com sangue no olho mesmo. E não havia muita preocupação se estava realmente correto. A parada foi superada pela garra e a vontade de fazer a coisa acontecer. Até que no começo de 89 gravamos a primeira Demo-tape com treze músicas tudo diretão, no ao vivo mesmo.


HMB: E como foi na época, a repercussão desse trabalho?
Henrique: Foi ótima, foi muito boa mesmo, até porque antes de qualquer coisa somos Headbangers e a coisa era feita de bangers para bangers. Andávamos todos juntos, nas ruas, nos bares, fazendo festas e tudo mais era muito comum chegar a minha hora de tocar em algum show e os caras terem que me arrancar de algum boteco da quebrada (risos). Mas infelizmente por motivos pessoais em 1991 tive que deixar a banda, os caras até tentaram continuar e se não me engano gravaram mais uma demo, a primeira comigo no vocal é Agony Screams (acho que o meu amigo Val da banda Rattle vai me xingar), eu não tenho mais essa demo-tape, acho que o Zulbert do Headhunter deve ter e o Cavalo do Amazarak deve ter a segunda demo, Satanic Legion, de vez em quando me deparo com alguém falando sobre como era o Chemical Death na época, isso é muito gratificante. Veja bem, algo que foi gravado sem recursos adequados e no início de 1989, é lembrado e comentado até hoje! Isso é maravilhoso! Poder ver que bandas como Head Hunter DC e Mystifier estarem ai até hoje, firmes e fortes mantendo a honra e suas origens intactas, isso é muito foda! A coisa só enfraquece ou acaba para quem é modista, embalista, poser e afins, paga-pau de sonzinho moderno que ficam pulando de galho em galho, esses só merecem o nosso desprezo.

HMB: E como você vê o cenário da música pesada no Brasil hoje?
Henrique: Muito mais fácil que antes sem dúvida. Existem inúmeras ferramentas para trabalhar seu material. Ainda assim, existe uma parcela de bunda mole por aí que só reclama. Porra mano, antes tínhamos que ralar para conseguir espaço para tocar, muitas vezes mentir para os proprietários e dizer que era um show de rock. Por que se você falasse que era show de Heavy Metal era só a porta na cara, não tinha internet, informações e troca de material de divulgação eram feitas por cartas e no boca a boca. Hoje temos tudo aí, nas mãos, ótimas bandas, diversos estúdios de ótima qualidade tanto para ensaio quanto para gravação. Quando deixei o Chemical Death em Salvador e voltei para minha cidade natal (São Paulo), fui convidado para fazer o vocal no Black Death (eram meus vizinhos). Não tínhamos porra nenhuma, mas estávamos lá ensaiando e lutando para a porra acontecer. Infelizmente a coisa se acabou, me afastei um pouco de ter banda, mas sempre estive presente na cena. Hoje o Metal no Brasil está mais forte que nunca, grandes bandas, ótimos músicos, bons produtores, estúdios bem preparados com o melhor para ensaio e gravação. O lance é acreditar no seu som, correr, ir pra cima do seu objetivo, mostrar o que você faz, e ficar sentado e só reclamando disso ou daquilo não vai fazer sua banda sair garagem. Sou muito adepto do lance faça você mesmo! Aí, não terá que reclamar da atitude de ninguém. Espaço existe, ótimas bandas também e o público meu amigo só depende de você e o que você tem para mostrar. Se for bom será recompensado, se não for... Procure melhorar! Abrir a boca e falar que o público não apoia a cena nacional é fácil, mas quando aparece um show de banda gringa, esse é o primeiro a comprar o ingresso e postar nas redes sociais. Vai se foder! Não me entenda mal! Eu gosto e vou aos shows de banda gringa, mas a minha prioridade são as bandas locais e nacionais. Um exemplo: conheço o Claustrofobia desde que eles vieram de Leme para São Paulo, acho que compareci em todos os shows que me foi possível estar (os caras do claustro não me deixam mentir). Pude ver show deles para meia dúzia de neguinho de cara feia ainda, mas os caras estavam lá, mandando ver, acreditando, ralando, batalhando seu espaço. Hoje você vai a um show dos caras é fácil ver muito mais de 500 pessoas e tocando fora do país com saldo positivo, com um suporte adequado, mas isso existe porque acreditam no que fazem. O Metal nacional e a cena existem e estão em sua melhor fase!

HMB: A cena Metal no Brasil é enorme, mas escassa de apoio dentro da sua própria casa, você enxerga alguma mudança e quais seriam as atitudes, em sua opinião, que deveríamos ter para que essa realidade mudasse?
Henrique: Concordo que o Metal no Brasil é gigante e que o apoio é mínimo. Mas veja bem, se houvesse uma união maior entre as bandas acho que teríamos um panorama diferente, vejo que existe muita disputa entre as bandas, que meu som é foda, que aquela banda é um lixo, que fulano é falso e por aí vai. São Paulo, no meu ver, é o berço do Metal nacional e não existe uma data no calendário da prefeitura para um evento específico uma vez por ano que seja. Só cobra engolindo cobra, ao passo que existem festivais consagrados e sagrados todo ano no Norte e Nordeste com data no calendário da prefeitura. Existe sim muita panelinha entre algumas bandas, vejo inúmeros shows de bandas no underground, quase toda semana, então a coisa está acontecendo e em minha opinião se houver uma união maior e todos trabalharem para o mesmo ideal seria mais fácil ser notado à importância da coisa. Da mesma forma que uma banda batalha para mostrar seu som, todas as bandas unidas devem batalhar por um apoio digno essa é a minha maneira de ver. Como cinco bandas é igual há vinte pessoas, então cinquenta bandas, deveria ser igual há duzentos malucos correndo atrás do mesmo objetivo, acho que é mais viável.

HMB: Você acredita que a integração entre as bandas, mesmo de estilos diferentes, seja saudável para cena?
Henrique: Acredito sim! Não importa o estilo de som, a união é importante para conquistar apoio digno, claro que também acho que talvez não seja tão saudável misturar Metal Melódico, Pop Rock e Death Metal em um mesmo show (risos), falo da união para conquistar apoio e podemos ter todos esses estilos num mesmo festival e ter um grande evento cada um na sua praia e todos na mesma luta para a conquista do devido apoio. Porra! Existem grandes festivais na gringa com centenas bandas dos mais variados estilos todos em uma grande união, seja publico ou banda, todos ganham com isso. Meu som preferido é Thrash e Death Metal, mais gostaria de ver uma banda boa de Stoner Rock detonando, saca?


HMB: Entendo! Você acha que um coletivo de bandas autorais, com o propósito de fazer shows com qualidade melhor, poderia fazer com que as pessoas voltassem a ter interessa maior nas bandas autorais?
Henrique: Acredito muito nisso, é como eu disse antes, se o seu som é bom e você acredita no que faz , será recompensado com certeza!
Você até pode ter uma banda cover, desde que seja igual ou melhor que a original para você fazer disso um trabalho onde toque em bares que acomodam esse tipo de banda, trabalhar como uma banda operária e paralelamente manter sua banda autoral trabalhando forte para conquistar o devido apoio, pois existem muitos músicos que escolheram viver da música e só com sua banda autoral e sem o devido apoio fica difícil sobreviver e muitos desistem. Nós no Scraper Head ganhamos a vida com trabalhos normais apenas um dos guitarristas vive da música, sendo professor de música, dois são professores (inglês e biologia), eu e o batera trabalhamos com cervejas especiais, quando começamos tínhamos a pretensão de viver da banda (um sonho da maioria), mas a vida nos aplica grandes surpresas, depois uns casam ganham seus filhos e aí a coisa entorta. Mas acredito sim, numa união de bandas trabalhando duro e apresentando seus trabalhos com sua devida qualidade, não tem porque o publico não comparecer, a massa quer curtir música boa e bem feita unindo isso à qualidade fica perfeito. Sei que é foda, mas temos que continuar lutando e trabalhando a sonoridade da banda, as dificuldades do passado foram sanadas pelo o avanço da tecnologia que temos em mãos hoje, agora temos novas e outras dificuldades e que também serão vencidas. Só depende do entendimento e da união e força de todos para que isso aconteça.

HMB: Como andam os trabalhos para a gravação do próximo CD do Scraper Head?
Henrique: Então, como estávamos parados por quase cinco anos, estamos tirando a ferrugem das juntas (risos). Na verdade fomos motivados a voltar por culpa de um amigo, o Junior Terror Cult, o cara curti muito o som da gente desde o principio, ano passado ele estava de férias e veio passear aqui em Caxias do Sul e praticamente nos obrigou a fazer um ensaio. Ele toca todas as músicas e ainda nos ensinou como toca-las (risos). Foi um ótimo ensaio e gostamos muito do resultado. No momento estamos finalizando os últimos detalhes nas músicas, formação nova e reformulando todas as músicas, mexemos na afinação, no vocal em tudo mesmo. Vamos participar de um festival com bandas antigas daqui e virá também o Leviaethan de Porto Alegre. Com relação ao CD pretendemos usar o projeto Financiarte da prefeitura de Caxias do Sul (a coisa funciona por aqui), muitos lançam seus trabalhos dessa forma. O CD conterá quatro músicas da primeira fase da banda (regravações, são músicas ótimas e que merecem um trato melhor), três da fase intermediária da formação que teve em São Paulo e três inéditas. A ideia é lançar até o fim do ano, esperamos conseguir.

HMB: Qual é o seu pensamento sobre o ensino musical nas escolas?
Henrique: Fundamental! Imagine criar uma geração com essa cultura! A criança crescer estudando música quando chegar aos seus 16 anos será um grande músico, às vezes vejo pessoas impressionadas com a qualidade musical de um jovem do velho mundo que aos seus 16 anos tocam com grandes nomes da música no mundo, porra o garoto estuda música com alta qualidade de ensino em sua escola desde bem pequeno, com 16 anos ele já estuda a coisa por 10 anos. Quantos jovens entram em um projeto de uma ONG qualquer em sua cidade e com grandes dificuldades de chegar até a escola e com instrumentos que em sua maioria foi recuperado, comprado usado com muito suor e até mesmo construído por ele mesmo e ao ver esses garotos tocarem arrancam lágrimas. Imagine esses garotos com ensino musical nas escolas desde pequeno!


HMB: Como você se relaciona com a Internet, tanto no seu trabalho como na sua vida pessoal?
Henrique: A Internet é um mal necessário (risos), faz parte da minha vida. Uso no trabalho o dia todo, como agora por exemplo. Conecta mundos diferentes em tempo real, na minha vida pessoal posso falar com meu filho ou meus amigos distantes a qualquer hora, sempre tem um maluco conectado!

HMB: Mas você concorda que esta ferramenta pode ser usada para o bem ou para o mal.
Henrique: Sim concordo plenamente! Já presencie casais separando-se por conta das redes sociais, como também sou testemunha de união matrimonial onde tudo começou pela internet. Falsas notícias que levaram a morte pessoas que nada fizeram, e por aí vai.

HMB: O que você acha da opção dos comentários anônimos, geralmente depreciando o trabalho ou a arte de alguém?
Henrique: Cara, eu pessoalmente apenas digo se gosto ou não desse ou daquele trabalho. Para mim toda forma de arte é válida, odeio esses otários que acham que podem ou tentam intelectualizar a arte. A arte é livre e está aí para qualquer um, todos nascem com a arte, esses intelectualóides de merda, é a raiz de boa parte da falta de união entre as bandas e pessoas. Merecem nossa urina em suas covas!

HMB: E sobre os crescentes shows de bandas tributo e a diminuição de shows de bandas autorais, o que você pensa disso?
Henrique: Como já disse antes, respeito toda forma de arte! Se os caras escolheram serem reconhecidos por viver a vida ou a música de outros, espero que seja igual ou melhor que o original. Eu não gosto de banda cover! Sei dar o devido valor, mas prefiro bandas autorais, já me impressionei com bandas autorais que resolveram tocar ou gravar um cover e que às vezes ficam até melhor que a versão original, mas o original não tem que ser explicado, está lá, está escrito e é assim que tem que ficar. Apenas digo: quer ter uma banda? Estude seu instrumento, pratique, faça seu caminho e acredite em você e no seu caminho, faça a sua música. Gosta de ser aplaudido tocando música dos outros? Pense em ser aplaudido tocando a sua música, te garanto que a satisfação será muito maior. Existe um grande número de bandas tributo que na sua maioria, é formada por músicos que escolheram fazer da arte um produto de comercio, sair tocando de bar em bar como banda operária e fazer salário e essas bandas tem todo o apoio de proprietário de bares que só estão nessa pelo dinheiro querem ver a casa cheia, conheço isso de perto. Quem acredita na arte como ela deve ser, e acima de tudo acredita em si, no seu som e na sua capacidade de levar sua arte adiante, carrega o bagulho nas costas com sangue, suor e às vezes lágrimas e não se importa com bandas tributo que não acrescentam em nada na cena. Apenas encaram a batalha do dia a dia para levar seu som a quem realmente gosta da coisa. Prefiro mil vezes dar dez CDs nosso para quem realmente corre junto, do que vender um para modista, embalista, porra louca, poser ou qualquer um desse tipo. Não quero fazer trezentos shows por ano tocando música dos outros, prefiro fazer trinta shows por ano tocando a minha música para quem realmente aprecia e sabe dar o devido valor!


HMB: Planos para o futuro?
Henrique: Encontrar amigos com a mesma desordem mental que eu e meus irmãos de banda, seguir forte com a atual formação do Scraper Head que nesse ano completa 21 anos, lançar um CD novo ainda esse ano, fazer alguns bons shows aqui no Sul e quem sabe em São Paulo dividindo o palco com o Yekun (risos) e continuar propagando a cultura cervejeira. Beba Menos - Beba Melhor!

HMB: Resuma Henrique Scraper Head em uma palavra ou frase.
Henrique: Eu em uma palavra... Headbanger!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Henrique: Eu que agradeço JP! É muito massa o trabalho que você realiza com o HM Breakdown, continue assim irmão, esse cara gentil e humilde! Atenção irmãos do Metal! Continuem carregando a bandeira do Heavy Meta, pois ele está mais vivo que nunca! Valorizem as bandas autorais de sua cidade e deixem a energia do Metal alimentar vossas almas. Faça muito sexo, bebam cerveja boa e se afastem das drogas! Grande Abraço a todos, nos vemos por aí. Stay Metal!

2 comentários:

  1. MUITO DE FUDER, HENRIQUE É UM NEANDERTHAL DA CENA HEAVY METAL BAIANO, UM GRANDE CARA!. ACREDITO QUE A SCRAPER HEAD TERÁ VIDA LONGA.

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  2. Grande time, vida longa para os mano !!

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