domingo, 11 de maio de 2014

Rodrigo Balan, ...que toda a máquina da Música Pesada brasileira possa girar adequadamente.


O lado bom dessas conversas que publico no Heavy Metal Breakdown, é que eu sempre me surpreendo com as pessoas. Com Rodrigo Balan não foi diferente, municiado de um acervo enorme de informações e ideias, de muito bom humor e ampla visão de futuro, essa “entrevista” caminhou muito mais para um “prosa de amigos no bar bebendo cerveja” do que uma entrevista formal e caricata. Confiram a seguir:

HM Breakdown: Olá Rodrigo, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Rodrigo Balan: Eu que agradeço o interesse em nosso trabalho. Meu nome é Rodrigo Balan e sou um dos donos da Metal Media, empresa de Assessoria de Comunicação especializada em bandas de Metal e Rock.

HMB: Estamos em um mundo dito, globalizado, com toneladas de informações minuto a minuto, o quanto você acha fundamental uma assessoria de imprensa no trabalho de uma banda hoje em dia e qual seria a importância de se estar constantemente on-line promovendo este trabalho junto ao público? 
Rodrigo: Realmente, hoje em dia fica até estranho imaginar uma vida sem estar conectado em um dos 5.000 dispositivos wi-fi que todos têm em casa (risos). A assessoria de imprensa/comunicação é imprescindível para que as bandas consigam otimizar sua informação e deixem seus fãs sempre atualizados. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e uma notícia bombástica ontem, já não tem impacto hoje. Uma das funções primordiais de uma assessoria neste novo mundo on-line seria manter seu cliente relevante e interessante dentro desta nova velocidade de informação.

HMB: E você, tendo esse contato muito próximo a inúmeras bandas, como vê a cena da música pesada nacional?
Rodrigo: Eu vejo com bons olhos. Diferente de muitos que vivem decretando o falecimento do Metal nacional, eu vejo com bons olhos. Sou otimista quanto a nossa cena. Porque? Porque nós temos o mais importante: bandas de altíssimo nível musical e técnico que não devem nada para bandas reconhecidas mundialmente. Se nossa cena precisa melhorar? Claro, em vários aspectos, mais shows, um circuito de shows na verdade, tentar mostrar para o público que ainda tem preconceito com nossas bandas que vale a pena experimentar. Eliminar quem atrapalha (desonesto, picaretas, oportunistas, etc e tal) também é algo que precisamos com certa urgência, mas que, pelo país em que vivemos, não será assim tão fácil, já que estamos acostumados em ver o erro e deixar passar.

HMB: Afinal de contas, o Heavy Metal aqui no nosso país está morrendo desde os anos 80, mas de fato nunca chegou nem perto disso. Você não acha saudável que tenhamos detratores? Eu particularmente acho. Ajuda a fortalecer quem de fato tem interesse, quem prestigia a cena, já que detratores e picaretas, vão e vem de acordo com a maré?
Rodrigo: Esse papo de que o Metal está morrendo é algo que chega a ser cômico. É sempre a mesma ladainha das mesmas pessoas que não fazem nada pelo Underground. Repare, todo mundo que trabalha sério tem seus dias fúria, mas em momento algum eles se entregam, podem até desanimar, mas logo erguem a cabeça e continuam nessa luta. A cena Underground não é fácil em lugar nenhum do mundo, uma banda chegar ao reconhecimento não é tarefa fácil.
Diferentemente de você,eu não gosto dos tais detratores, não acho que haja algum benefício em te-los. Talvez seja algo meu mesmo, bem puritano a até inocente de ver nossa cena. Eu fico muito puto quando vejo pessoas se aproveitando de nosso movimento de forma pejorativa, brincando com o sonho das pessoas. Não consigo ver como um incentivo, mas sim como um câncer a ser eliminado por completo.
Eu gosto sim de opiniões divergentes, que gerem debates, que procurem soluções práticas para nossa cena. Felizmente, mesmo que seja pouco ainda, já existe uma reação adversa aos detratores, picaretas, desonestos e toda a sorte de malfeitores que infestam nossa música pesada. Minha torcida, utópica eu sei, fica sempre para que esse mal seja eliminado pela raiz, e que toda a máquina da Música Pesada brasileira possa girar adequadamente.


HMB: Em uma entrevista anterior, com o Christophe Correa, ele nos mostrou que a cena em Portugal, ou seja, em plena Europa, não é diferente da nossa. Com todos os problemas e dificuldades que enfrentamos. Você acha que a cena do metal mundial é assim como um todo? Qual é a sua relação com bandas de outros países?
Rodrigo: Antes de tudo, um abraço ao amigo Christophe, um grande lutador do Underground. Como eu disse, não existe cena fácil, pra gente aqui no Brasil que não tem contato íntimo com o Underground europeu e só conhece as bandas famosas, acaba esquecendo que para uma que chegou ao estrelato, outras tantas continuaram no ostracismo. Claro, que temos um movimento muito mais organizado no Velho Continente, principalmente nos países da Alemanha pra cima. Só de uma banda conseguir montar um circuito de shows durante um mês inteiro (de segunda a segunda), já faz uma diferença enorme no resultado final.
Eu acho que dificuldade tem que ter mesmo. É o que separa o joio do trigo. O que eu não aceito - mesmo que aconteça com frequência em nosso meio - é injustiça.
Já tive mais relação com bandas estrangeiras quando tinha meu selo, Freemind Records (RIP), depois que me foquei totalmente na Metal Media meu relacionamento internacional é bem mais focado nos setores burocráticos, de mídia, etc. Recentemente abrimos a assessoria para bandas completamente internacionais e estamos no momento trabalhando com duas bandas argentinas, que também tem dificuldades em sua pátria natal e lutam por um reconhecimento (merecido) mundial.

HMB: E vocês trabalham do mesmo modo com bandas internacionais ou é preciso uma abordagem diferente?
Rodrigo: A verdade é que temos uma abordagem diferente pra cada banda, mesmo sendo de estilos semelhantes, cada banda tem seu jeito de trabalhar e nós vamos nos adaptando a cada modus operandi. Nem sempre uma fórmula que funcionou com um grupo, funciona bem com outro, é sempre uma análise, algo silencioso mesmo, que muitas vezes nem chegam as bandas, fica entre a Débora e eu. Sempre estamos pensando em como otimizar o funcionamento de cada banda.
É meio que um ritual meu, todo dia abro o site da Metal Media na seção de artistas e vou olhando um por um pra ver o que podemos melhorar no serviço prestado.
Acho que com as bandas estrangeiras o maior dificultador fica sendo a língua, não muito, porque nós arranhamos espanhol e eles arranham português (risos). Então por enquanto tem sido tudo tranquilo.

HMB: Então cada banda do seu roster é um filho com necessidades especiais?
Rodrigo: (risos) Exatamente! Mesmo que esse filho seja figurativo, é mais ou menos assim que tratamos as bandas, sou bem paternalista, sempre fui. Tenho muito orgulho de cada uma das bandas que está em nosso roster. Nós sempre tentamos, assim como qualquer pai, tratar todas com a mesma justiça, todas com a mesma importância. Queremos sempre dar a oportunidade de todas crescerem, de se destacarem. O que muda mesmo é o jeito de trabalhar com cada uma.

HMB: E os shows? Falta público, falta banda ou falta organização? Ou, reformulando a pergunta, falta uma seriedade maior de quem organiza esses eventos?
Rodrigo: Bom, eu acho que não sou o cara certo para falar muito sobre shows, apesar de já ter organizado alguns, nunca me aprofundei nesse "mundo". O que eu posso dizer com propriedade em cima de sua pergunta é: Não faltam bandas. E não estou falando de quantidade, estou falando de qualidade. Nossas bandas chegaram em um nível fantástico, tanto em estúdio, quanto em cima do palco e se há alguma diferença com as gringas é questão financeira, de não poder ter o mesmo backline, ou a mesma produção visual. Musicalmente, não há diferença.
Acho que os outros dois itens faltam. Tanto bons produtores com uma visão mais empreendedora, procurando lucrar, e repassar lucro para as bandas. Tratar seus eventos não só como um ato de resistência do Underground, mas como um ato comercial, assim público ganha com um espetáculo melhor, banda ganha com condições melhores de trabalhar e o produtor ganha com capital para continuar fazendo shows cada vez mais bem estruturados. Mas claro, eu não estou generalizando! Já temos em nossa cena muitos produtores que fazem um trabalho muito sério e honesto com ótimos resultados.
Já a questão de falta de público, chega a ser filosófica, até metafísica (risos). Aqui fica a indagação: Não podemos obrigar as pessoas a gostarem ou acreditarem na música extrema nacional, elas devem experimentar, se interessar por si sós. Se nossas bandas não devem nada as de outros países, o que fazer então?

HMB: Uma grande questão essa! Eu acredito que faltam grandes eventos, onde haja uma diversidade de bandas dividindo o mesmo espaço, agregando gostos e novidades. No meu entender tocariam no mesmo palco, Ocultan com Woslom, Torture Squad com Tuatha de Danann... E não ficar segmentando algo, o que não atrai grandes públicos, mas apenas uma parcela, que prefere este ou aquele estilo. O que você pensa disso?
Rodrigo: Eu concordo plenamente com você! Já que Headbanger brasileiro se liga tanto no que os países de primeiro mundo fazem, deviam fazer como os principais festivais de lá, remover o que vem antes e focar no Metal. Não tem muito que falar sobre isso, em sua pergunta já falou tudo, essa segmentação só enfraquece, divide e torna a cena perdida.

HMB: Seria segmentar no evento e não segmentar o evento. E falando nisso, quais “segmentações” do HM você gosta de ouvir?
Rodrigo: (risos) Seria algo assim mesmo! Uma coisa eu sempre deixo claro, eu sou Headbanger, eu gosto de Metal, amo Metal, todos os estilos, alguns mais, outros menos, tento sempre focar na banda se me agrada ou não, independente do estilo em que ela foi encaixada. Mas também estou sempre disposto a conhecer novas músicas, mesmo fora do Rock - espaço que a maioria do angers ainda se sente confortável -, gosto muito de música folclórica dos países e gosto muito de teatro musical.

HMB: Mesmo porque o Heavy Metal é um liquidificar em que você pode por tudo, misturar, agregar, Mas precisa de cuidado para não ficar chato, sem personalidade, concorda?
Rodrigo: Concordo! Tem que ser feito com a alma, com raça, com amor... No Metal não há limites. Não há limites mesmo! Tudo pode ser experimentado, tudo pode ser testado e sempre vai ficar bom, se não pra você, vai acabar agradando alguém que se identifique. Sempre há alguém, em maior ou menor quantidade.
O legal do Metal é isso, ele sempre supre suas necessidades, tem aquele dia que você quer sentir só o metal na veia, sem nada "extra", tem aquele dia que você quer experimentar algo diferente e tudo está disponível para os Headbangers! Basta procurar! Tem uma banda, acho que você conhece! Que lançou um EP em 2012 e tinha a participação de uma cantora de Soul Music. O resultado ficou fantástico! Vai agradar a todos? Não. Mas me agradou em cheio!
Só complementando. Acho que existe no Metal, sim, muita música/banda sem personalidade, sem alma e que é muito idolatrada pelo público. Aí voltamos à tal questão filosófica do por quê uma banda que não exprime algo sincero consegue muito mais fãs que muitas bandas que amam sua música...

HMB: Conheço sim, e tenho informações de que vão repetir a dose! Saindo um pouco da esfera HM, você acha que nosso país é uma fábrica de música pasteurizada?
Rodrigo: Eu acho que depende do ponto de vista. Se formos para o lado comercial da coisa, para o lado do populacho, acho que nós fabricamos o que há de pior na música universal. Nossa música popular de hoje em dia chega a ser patética, mesmo se comparada à música popular de outros países (incluindo os EUA). Por favor, se alguém ler a entrevista, não confunda música popular com o estilo Música Popular Brasileira, que hoje em dia, não é popular (risos).
A verdade é que estamos em uma escala de emburrecimento da população que chega a ser assustadora, e isso é refletido claramente na música que é criada para fins comerciais. Quem imaginou que existiria algo pior e mais decadente que, É O Tchan e similares? Aí somos presenteados com uma avalanche de MC's do "Funk" (carioca, como é descrito em Pindorama) tendo como um de seus representantes máximos a Valesca Popozuda. É rir pra não chorar.
Gente burra, que aceita qualquer coisa, é um prato cheio para aproveitadores e espertinhos. Coisa que temos aos montes em nosso Brasil varonil. Então montar uma música patética, analfabeta, em cima sempre da mesma batida e ganhar dinheiro fácil com isso, parece ser uma prática atrativa por aqui no momento.
Mas isso se estende para o Pop Rock, ou Rock Brasileiro como era chamado nos anos 80. Pra quem já teve Ira!, Titãs, Ultraje a Rigor, Raul Seixas e tantos outros nomes fantásticos, ter que se contentar com bandas do nível de Restart, Fresno e sabe-se-lá-o-que, é triste.
Agora se tirarmos os olhos da tal música comercial, temos muita coisa boa por aqui, especialmente na música regional de cada estado, muita coisa fantástica por aí... Eu sinceramente gostaria de conhecer mais.

HMB: Esse “emburrecimento da população” pode ser uma maneira de manter as pessoas caladas e submissas, usando para isso a estratégia do pão é circo?
Rodrigo: Olha, se não for isso, estamos diante do governo mais incompetente da história escrita (risos). Mas as provas estão aí, só não vê quem não quer, pessoas orgulhosas em serem criminosas, o valor da vida despencando, estelionatários se dizendo representantes de deus e enganando essas pessoas de baixo nível intelectual...
Com esta população boçal que está sendo criada nos últimos anos, preguiçosa, se manter no poder dando esmolas tem sido bem fácil.
Eu sempre faço uma comparação do Brasil com o Oriente Médio. Se continuarmos assim, teremos uma população de fanáticos religiosos, sem potencial para o mercado, um governo corrupto controlado pela religião (bancada evangélica, Feliciano e similares), uma vasta produção de petróleo e uma guerra civil interminável. Bom, pensando aqui, nem seria para um futuro muito distante.


HMB: Planos para o futuro?
Rodrigo: Ah sempre estamos olhando para o futuro! Do momento que você tem um filho, não dá mais para olhar apenas o presente. Temos que ajudar a pavimentar um caminho pra eles...
No nosso caso, além do pequeno aqui de casa, Alec, temos mais todos os filhos da Metal Media! Então estamos sempre preocupados em melhorar sempre o serviço, em oferecer algo a mais em troca dessa confiança toda que as bandas depositam em nosso trabalho.
Se posso falar de um plano concreto para o futuro é esse: sempre melhorar, absorver cada vez mais conhecimento para repassar para as bandas, criar condições de estarmos lado a lado com as grandes potências!

HMB: Resuma Rodrigo Balan em uma frase.
Rodrigo: "Retroceder nunca, render-se jamais"

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Rodrigo: Poxa, eu que agradeço o espaço e a paciência (risos)! É sempre muito estranho responder entrevistas, estamos acostumados a ficar "nas sombras" para que as bandas apareçam (risos).
Sé é que eu posso deixar um conselho, vai para as bandas, que sempre serão o centro das atenções, músicos (verdadeiros, o Ximbinha não é) são seres de outra dimensão, sempre serão superiores aos demais humanos. Bandas, o caminho é duro, sejam mais duras que o caminho. Eu sempre digo que não é só talento e técnica, também tem que ter cabeça dura pra chegar lá.

Abraço a todos!

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