O lado bom dessas conversas que publico no Heavy Metal
Breakdown, é que eu sempre me surpreendo com as pessoas. Com Rodrigo Balan não
foi diferente, municiado de um acervo enorme de informações e ideias, de muito bom
humor e ampla visão de futuro, essa “entrevista” caminhou muito mais para um “prosa
de amigos no bar bebendo cerveja” do que uma entrevista formal e caricata. Confiram a seguir:
HM Breakdown: Olá Rodrigo, obrigado pelo seu tempo
e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas
atividades.
Rodrigo Balan: Eu que agradeço o interesse em nosso
trabalho. Meu nome é Rodrigo Balan e sou um dos donos da Metal Media, empresa
de Assessoria de Comunicação especializada em bandas de Metal e Rock.
HMB: Estamos em um mundo dito, globalizado, com toneladas de
informações minuto a minuto, o quanto você acha fundamental uma assessoria
de imprensa no trabalho de uma banda hoje em dia e qual seria a importância de se
estar constantemente on-line promovendo este trabalho junto ao público?
Rodrigo: Realmente, hoje em dia fica até estranho imaginar
uma vida sem estar conectado em um dos 5.000 dispositivos wi-fi que todos têm
em casa (risos). A assessoria de imprensa/comunicação é imprescindível para que
as bandas consigam otimizar sua informação e deixem seus fãs sempre
atualizados. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e uma notícia bombástica
ontem, já não tem impacto hoje. Uma das funções primordiais de uma assessoria
neste novo mundo on-line seria manter seu cliente relevante e interessante
dentro desta nova velocidade de informação.
HMB: E você, tendo esse contato muito próximo a inúmeras
bandas, como vê a cena da música pesada nacional?
Rodrigo: Eu vejo com bons olhos. Diferente de muitos que
vivem decretando o falecimento do Metal nacional, eu vejo com bons olhos. Sou
otimista quanto a nossa cena. Porque? Porque nós temos o mais importante:
bandas de altíssimo nível musical e técnico que não devem nada para bandas
reconhecidas mundialmente. Se nossa cena precisa melhorar? Claro, em vários
aspectos, mais shows, um circuito de shows na verdade, tentar mostrar para o
público que ainda tem preconceito com nossas bandas que vale a pena
experimentar. Eliminar quem atrapalha (desonesto, picaretas, oportunistas, etc
e tal) também é algo que precisamos com certa urgência, mas que, pelo país em
que vivemos, não será assim tão fácil, já que estamos acostumados em ver o
erro e deixar passar.
HMB: Afinal de contas, o Heavy Metal aqui no nosso país está
morrendo desde os anos 80, mas de fato nunca chegou nem perto disso. Você não
acha saudável que tenhamos detratores? Eu particularmente acho. Ajuda a
fortalecer quem de fato tem interesse, quem prestigia a cena, já que detratores
e picaretas, vão e vem de acordo com a maré?
Rodrigo: Esse papo de que o Metal está morrendo é algo que
chega a ser cômico. É sempre a mesma ladainha das mesmas pessoas que não fazem nada pelo Underground. Repare, todo mundo que trabalha sério tem seus dias
fúria, mas em momento algum eles se entregam, podem até desanimar, mas logo
erguem a cabeça e continuam nessa luta. A cena Underground não é fácil em lugar
nenhum do mundo, uma banda chegar ao reconhecimento não é tarefa fácil.
Diferentemente de você,eu não gosto dos tais detratores, não
acho que haja algum benefício em te-los. Talvez seja algo meu mesmo, bem
puritano a até inocente de ver nossa cena. Eu fico muito puto quando vejo
pessoas se aproveitando de nosso movimento de forma pejorativa, brincando com o
sonho das pessoas. Não consigo ver como um incentivo, mas sim como um câncer a ser
eliminado por completo.
Eu gosto sim de opiniões divergentes, que gerem debates, que
procurem soluções práticas para nossa cena. Felizmente, mesmo que seja pouco
ainda, já existe uma reação adversa aos detratores, picaretas, desonestos e toda
a sorte de malfeitores que infestam nossa música pesada. Minha torcida, utópica
eu sei, fica sempre para que esse mal seja eliminado pela raiz, e que toda a
máquina da Música Pesada brasileira possa girar adequadamente.
HMB: Em uma entrevista anterior, com o Christophe Correa,
ele nos mostrou que a cena em Portugal, ou seja, em plena Europa, não é
diferente da nossa. Com todos os problemas e dificuldades que enfrentamos. Você
acha que a cena do metal mundial é assim como um todo? Qual é a sua relação com
bandas de outros países?
Rodrigo: Antes de tudo, um abraço ao amigo Christophe, um
grande lutador do Underground. Como eu disse, não existe cena fácil, pra gente
aqui no Brasil que não tem contato íntimo com o Underground europeu e só
conhece as bandas famosas, acaba esquecendo que para uma que chegou ao
estrelato, outras tantas continuaram no ostracismo. Claro, que temos um
movimento muito mais organizado no Velho Continente, principalmente nos países
da Alemanha pra cima. Só de uma banda conseguir montar um circuito de shows
durante um mês inteiro (de segunda a segunda), já faz uma diferença enorme no
resultado final.
Eu acho que dificuldade tem que ter mesmo. É o que separa o
joio do trigo. O que eu não aceito - mesmo que aconteça com frequência em nosso
meio - é injustiça.
Já tive mais relação com bandas estrangeiras quando tinha
meu selo, Freemind Records (RIP), depois que me foquei totalmente na Metal
Media meu relacionamento internacional é bem mais focado nos setores
burocráticos, de mídia, etc. Recentemente abrimos a assessoria para bandas
completamente internacionais e estamos no momento trabalhando com duas bandas
argentinas, que também tem dificuldades em sua pátria natal e lutam por um
reconhecimento (merecido) mundial.
HMB: E vocês trabalham do mesmo modo com bandas
internacionais ou é preciso uma abordagem diferente?
Rodrigo: A verdade é que temos uma abordagem diferente pra
cada banda, mesmo sendo de estilos semelhantes, cada banda tem seu jeito de
trabalhar e nós vamos nos adaptando a cada modus operandi. Nem sempre uma fórmula
que funcionou com um grupo, funciona bem com outro, é sempre uma análise, algo
silencioso mesmo, que muitas vezes nem chegam as bandas, fica entre a Débora e
eu. Sempre estamos pensando em como otimizar o funcionamento de cada banda.
É meio que um ritual meu, todo dia abro o site da Metal
Media na seção de artistas e vou olhando um por um pra ver o que podemos
melhorar no serviço prestado.
Acho que com as bandas estrangeiras o maior dificultador
fica sendo a língua, não muito, porque nós arranhamos espanhol e eles arranham
português (risos). Então por enquanto tem sido tudo tranquilo.
HMB: Então cada banda do seu roster é um filho com
necessidades especiais?
Rodrigo: (risos) Exatamente! Mesmo que esse filho seja
figurativo, é mais ou menos assim que tratamos as bandas, sou bem paternalista,
sempre fui. Tenho muito orgulho de cada uma das bandas que está em nosso
roster. Nós sempre tentamos, assim como qualquer pai, tratar todas com a mesma
justiça, todas com a mesma importância. Queremos sempre dar a oportunidade de
todas crescerem, de se destacarem. O que muda mesmo é o jeito de trabalhar com
cada uma.
HMB: E os shows? Falta público, falta banda ou falta
organização? Ou, reformulando a pergunta, falta uma seriedade maior de quem
organiza esses eventos?
Rodrigo: Bom, eu acho que não sou o cara certo para falar
muito sobre shows, apesar de já ter organizado alguns, nunca me aprofundei
nesse "mundo". O que eu posso dizer com propriedade em cima de sua
pergunta é: Não faltam bandas. E não estou falando de quantidade, estou falando
de qualidade. Nossas bandas chegaram em um nível fantástico, tanto em estúdio,
quanto em cima do palco e se há alguma diferença com as gringas é questão
financeira, de não poder ter o mesmo backline, ou a mesma produção visual.
Musicalmente, não há diferença.
Acho que os outros dois itens faltam. Tanto bons produtores
com uma visão mais empreendedora, procurando lucrar, e repassar lucro para as
bandas. Tratar seus eventos não só como um ato de resistência do Underground,
mas como um ato comercial, assim público ganha com um espetáculo melhor, banda
ganha com condições melhores de trabalhar e o produtor ganha com capital para
continuar fazendo shows cada vez mais bem estruturados. Mas claro, eu não estou generalizando! Já temos em nossa cena muitos produtores que fazem um trabalho
muito sério e honesto com ótimos resultados.
Já a questão de falta de público, chega a ser filosófica,
até metafísica (risos). Aqui fica a indagação: Não podemos obrigar as pessoas a
gostarem ou acreditarem na música extrema nacional, elas devem experimentar, se
interessar por si sós. Se nossas bandas não devem nada as de outros países, o
que fazer então?
HMB: Uma grande questão essa! Eu acredito que faltam grandes
eventos, onde haja uma diversidade de bandas dividindo o mesmo espaço,
agregando gostos e novidades. No meu entender tocariam no mesmo palco, Ocultan
com Woslom, Torture Squad com Tuatha de Danann... E não ficar segmentando algo,
o que não atrai grandes públicos, mas apenas uma parcela, que prefere este ou
aquele estilo. O que você pensa disso?
Rodrigo: Eu concordo plenamente com você! Já que Headbanger
brasileiro se liga tanto no que os países de primeiro mundo fazem, deviam fazer
como os principais festivais de lá, remover o que vem antes e focar no Metal.
Não tem muito que falar sobre isso, em sua pergunta já falou tudo, essa
segmentação só enfraquece, divide e torna a cena perdida.
HMB: Seria segmentar no evento e não segmentar o evento. E
falando nisso, quais “segmentações” do HM você gosta de ouvir?
Rodrigo: (risos) Seria algo assim mesmo! Uma coisa eu sempre
deixo claro, eu sou Headbanger, eu gosto de Metal, amo Metal, todos os estilos,
alguns mais, outros menos, tento sempre focar na banda se me agrada ou não,
independente do estilo em que ela foi encaixada. Mas também estou sempre
disposto a conhecer novas músicas, mesmo fora do Rock - espaço que a maioria do angers ainda se sente confortável -, gosto muito de música folclórica dos
países e gosto muito de teatro musical.
HMB: Mesmo porque o Heavy Metal é um liquidificar em que
você pode por tudo, misturar, agregar, Mas precisa de cuidado para não ficar
chato, sem personalidade, concorda?
Rodrigo: Concordo! Tem que ser feito com a alma, com raça,
com amor... No Metal não há limites. Não há limites mesmo! Tudo
pode ser experimentado, tudo pode ser testado e sempre vai ficar bom, se não
pra você, vai acabar agradando alguém que se identifique. Sempre há alguém, em
maior ou menor quantidade.
O legal do Metal é isso, ele sempre supre suas necessidades,
tem aquele dia que você quer sentir só o metal na veia, sem nada
"extra", tem aquele dia que você quer experimentar algo diferente e
tudo está disponível para os Headbangers! Basta procurar! Tem uma banda, acho
que você conhece! Que lançou um EP em 2012 e tinha a participação de uma
cantora de Soul Music. O resultado ficou fantástico! Vai agradar a todos? Não.
Mas me agradou em cheio!
Só complementando. Acho que existe no Metal, sim, muita
música/banda sem personalidade, sem alma e que é muito idolatrada pelo público.
Aí voltamos à tal questão filosófica do por quê uma banda que não exprime algo
sincero consegue muito mais fãs que muitas bandas que amam sua música...
HMB: Conheço sim, e tenho informações de que vão repetir a
dose! Saindo um pouco da esfera HM, você acha que nosso país é uma fábrica de
música pasteurizada?
Rodrigo: Eu acho que depende do ponto de vista. Se formos para
o lado comercial da coisa, para o lado do populacho, acho que nós fabricamos o
que há de pior na música universal. Nossa música popular de hoje em dia chega a
ser patética, mesmo se comparada à música popular de outros países (incluindo
os EUA). Por favor, se alguém ler a entrevista, não confunda música popular com
o estilo Música Popular Brasileira, que hoje em dia, não é popular (risos).
A verdade é que estamos em uma escala de emburrecimento da
população que chega a ser assustadora, e isso é refletido claramente na música
que é criada para fins comerciais. Quem imaginou que existiria algo pior e mais
decadente que, É O Tchan e similares? Aí somos presenteados com uma avalanche
de MC's do "Funk" (carioca, como é descrito em Pindorama) tendo como
um de seus representantes máximos a Valesca Popozuda. É rir pra não chorar.
Gente burra, que aceita qualquer coisa, é um prato cheio
para aproveitadores e espertinhos. Coisa que temos aos montes em nosso Brasil
varonil. Então montar uma música patética, analfabeta, em cima sempre da mesma
batida e ganhar dinheiro fácil com isso, parece ser uma prática atrativa por
aqui no momento.
Mas isso se estende para o Pop Rock, ou Rock Brasileiro como
era chamado nos anos 80. Pra quem já teve Ira!, Titãs, Ultraje a Rigor, Raul
Seixas e tantos outros nomes fantásticos, ter que se contentar com bandas do
nível de Restart, Fresno e sabe-se-lá-o-que, é triste.
Agora se tirarmos os olhos da tal música comercial, temos
muita coisa boa por aqui, especialmente na música regional de cada estado,
muita coisa fantástica por aí... Eu sinceramente gostaria de conhecer mais.
HMB: Esse “emburrecimento da população” pode ser uma maneira
de manter as pessoas caladas e submissas, usando para isso a estratégia do pão
é circo?
Rodrigo: Olha, se não for isso, estamos diante do governo
mais incompetente da história escrita (risos). Mas as provas estão aí, só não
vê quem não quer, pessoas orgulhosas em serem criminosas, o valor da vida
despencando, estelionatários se dizendo representantes de deus e enganando
essas pessoas de baixo nível intelectual...
Com esta população boçal que está sendo criada nos últimos
anos, preguiçosa, se manter no poder dando esmolas tem sido bem fácil.
Eu sempre faço uma comparação do Brasil com o Oriente Médio.
Se continuarmos assim, teremos uma população de fanáticos religiosos, sem
potencial para o mercado, um governo corrupto controlado pela religião (bancada
evangélica, Feliciano e similares), uma vasta produção de petróleo e uma guerra
civil interminável. Bom, pensando aqui, nem seria para um futuro muito
distante.
HMB: Planos para o futuro?
Rodrigo: Ah sempre estamos olhando para o futuro! Do momento que você
tem um filho, não dá mais para olhar apenas o presente. Temos que ajudar a
pavimentar um caminho pra eles...
No nosso caso, além do pequeno aqui de casa, Alec, temos
mais todos os filhos da Metal Media! Então estamos sempre preocupados em
melhorar sempre o serviço, em oferecer algo a mais em troca dessa confiança
toda que as bandas depositam em nosso trabalho.
Se posso falar de um plano concreto para o futuro é esse:
sempre melhorar, absorver cada vez mais conhecimento para repassar para as
bandas, criar condições de estarmos lado a lado com as grandes potências!
HMB: Resuma Rodrigo Balan em uma frase.
Rodrigo: "Retroceder nunca, render-se jamais"
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Rodrigo: Poxa, eu que agradeço o espaço e a paciência (risos)! É
sempre muito estranho responder entrevistas, estamos acostumados a ficar
"nas sombras" para que as bandas apareçam (risos).
Sé é que eu posso deixar um conselho, vai para as bandas,
que sempre serão o centro das atenções, músicos (verdadeiros, o Ximbinha não é)
são seres de outra dimensão, sempre serão superiores aos demais humanos.
Bandas, o caminho é duro, sejam mais duras que o caminho. Eu sempre digo que
não é só talento e técnica, também tem que ter cabeça dura pra chegar lá.
Abraço a todos!
Muito boa a entrevista
ResponderExcluirObrigado pelo espaço!
ResponderExcluir:)
Excluir