terça-feira, 6 de maio de 2014

Reverendo André Bode, It´s Only Rock´n Roll...


Entrevistar não é das tarefas mais fáceis. Ainda mais quando você tentar exercer seu oficio pelo facebook, na hora do almoço e com um rocker, que trabalha em uma lanchonete. Bom, mesmo sendo sumariamente interrompidos pelos famintos clientes, por diversas vezes, a conversa fluiu.
André é um cara despojado, brincalhão e que tem verdadeira paixão por sua banda, o Gasoline Special, que há pouco nos brindou com o lançamento de um CD recheado de muita atitude e muito Rock´n Roll! Entre um x-bacon e outro, confira tudo que O Reverendo André Bode nos disse.

HM Breakdown: Olá André, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Reverendo André Bode: Meu nome é André, mas alguns me chamam de Bode, eu sou de Jundiaí, sou formado em design gráfico, mas trabalho fritando hambúrgueres, minha grande paixão é tocar Rock and Roll, minha banda oficial atualmente é a Gasoline Special.

HMB: Fale-nos sobre suas experiências em bandas até chegar ao Gasoline Special.
André: Minha primeira banda foi criada em 2000 em São Paulo, se chamava Terceiro Mundo, eu entrei como guitarrista e acabei como vocalista, foi uma experiência incrível porque queria ter uma banda fazia muito tempo, depois parti cantando e tocando guitarra no Shotgun Blast em Jundiaí que durou um bom tempo, minhas composições foram sempre mantendo essa fórmula de Rock and Roll misturado com Punk, Metal e HC. Ao mesmo tempo tocava guitarra em uma banda em São Paulo chamada Super Funny Death que foi de onde surgiu a música Gasoline Special que hoje batiza minha banda. Também cantei pouco tempo em uma banda de Death Metal chamada Carnicero de Jundiaí, e fui vocalista do Melody Monster de São Paulo por um ano. Mas como eu morava em Jundiaí estava complicado viajar todo final de semana para ensaiar, acabei saindo da banda, nessa época o Gasoline Special ainda era um projeto com intenção de toca algumas músicas do Super Funny Death, e acabou virando minha banda principal desde então.

HMB: Você pode descrever o Gasoline Special para quem não conhece o som da banda?
André: O Gasoline Special é uma banda de Rock and Roll Garagem com muita influência de Punk Rock, Proto Punk, Grunge, Stoner Rock, Blues, Doom e o que mais der na telha.
Sou um apaixonado por guitarras distorcidas, e você sempre vai encontrar isso em nossas músicas, até as partes limpas são meio sujas (risos).
Nosso baterista, o Junior Scalav, gosta de descer o braço, algumas vezes eu canto, outras eu só grito mesmo, a maioria das nossas músicas são rápidas porque a gente gosta muito de Motorhead.


HMB: Como você vê o cenário musical brasileiro?
André: Isso é complicado, pois esse cenário é composto por vários patamares, e em cada um deles funciona diferente. Acho que a regra que vale para todos é que não é fácil para ninguém. Gravamos e lançamos nosso primeiro álbum agora, portanto estamos bem no começo de uma nova fase, mas tem muito pra ralar pra sair do lugar, já deu pra perceber que vai ser complicado só pela quantidade de grana que isto está custando, pagar a gravação, mandar fazer discos, fazer camisetas, videoclipe. Fora o trampo de divulgar, entrar em contato com produtores, arranjar shows. Fazer isso tudo de maneira independente e paralela aos nossos trabalhos, que nos sustentam e torcer pra ter grana para pagar o aluguel, é foda pra caralho. Mas quem é do rock sabe como é. Somos loucos e gostamos muito dessa transa.

HMB: Exatamente! Você acredita que não existe rock sem muito trabalho duro?
André: Não existe nada relevante ou duradouro sem trabalho duro. Tudo que faz ou fez diferença teve alguém se fodendo muito por traz (risos). Acho que isso não é característica apenas do Rock, mas de quase toda a classe artística no Brasil. Meu pai fala direto que eu devia largar de tocar Rock and Roll e tocar sertanejo, ele fala que quem toca sertanejo fica milionário. Como se, só de colocar um chapéu e uma calça apertada cantando um monte de mentira sobre amor no microfone na companhia de uma viola ou sanfona fosse o suficiente pra alguém entrar pela janela dizendo: “pega um milhão ai, amanhã te dou mais um".
Conheci artistas de hip-hop, sertanejo e pop rock , e todos dizem que o quanto é difícil. E olha que estes caras geralmente tocam música de tendência, o que teoricamente tornariam as coisas mais fáceis, só que não é bem assim, principalmente pelo fato de quem faz música autoral comercial geralmente está mirando no mainstream quando a gente está falando em "fazer a coisa virar/obter reconhecimento", o sertanejo, o funk, o pop rock está pensando em ser famoso, fazer sucesso na TV e tal, nós que tocamos estilos alternativos de som já queremos outro tipo de reconhecimento.
E outras formas de arte também se fodem, um amigo meu, ilustrador, sai em capa de revista especializada na Espanha e faz trampo pra China, mas no Brasil ele pena pra achar clientes que paguem o quanto vale o trabalho dele. E não é exatamente de grana que estamos está atrás... A gente faz Rock porque ama, mas é muito legal pensar em um dia viver disso ou pelo menos receber convites para tocar bem longe de casa por um valor decente.

HMB: Sabemos que quase não temos estruturas, boa parte dos produtores, só veem o lucro fácil, o público geralmente não prestigia!  Então, não acha que o povo brasileiro sofre de falta de artes em geral?
André: Olha, tem muito rolê sem estrutura sim, a gente já tocou em todo tipo de lugar, de palco profissional até chão de boteco e lava-rápidos, mas, quando tem uma galera que veste a camisa a coisa é incrível, independente se você tem retorno, palco, iluminação ou não, isso eu já senti na pele, tocamos uma vez num barzinho bem humilde, boteco de pinga, durante o dia, tivemos que desligar a televisão pra não correr risco de dividir o público com o jogo do Corinthians, mas na hora que começou o show... Aquilo foi incrível, a moçada colou na frente do começo ao fim, agitaram prá diabo, os malucos subiam no balcão do bar e mergulhavam na turma, cantavam os refrões e tal. Não tem jeito o público consegue transformar qualquer evento em uma puta festa, portanto se a coisa está mal no Rock and Roll e em qualquer outra vertente ou cenário artístico, muita da responsabilidade é de quem não prestigia e que não quer apoiar, não quer gastar com arte e tem medo do novo, de conhecer novas bandas e quem se dedica ao som e que tenta trazer o melhor para eles.
Mas vou dizer uma coisa, atualmente aqui na região tem melhorado, têm pessoas investindo, produtores arrumando shows legais, as casas apresentam palcos bem completos com técnicos de som, iluminação, e principalmente, repassando parte da bilheteria, cachês e na pior das hipóteses uma consumação honesta para as bandas. Alguns organizam eventos maiores e colocam bandas da região para abrir sem cobrar valor algum, eu vejo como uma ótima maneira de divulgação e uma maneira de apoiar quem faz um trabalho sério. No final das contas, tanto bandas quanto casas que não se preocupam em fazer um bom trabalho acabam por afundar juntas. Porque se hoje em dia já é difícil juntar uma galera para curtir uma banda, mais difícil ainda é querer que participem de um role merda vendo uma banda ruim...

HMB: Gostei muito da sua visão! É ótimo saber que existem cenas onde o rock dá seus passos, que tem pessoas que se preocupam em fazer um trabalho de qualidade. Como é a sua relação com outras bandas, existe um intercambio para shows fora da sua região?
André: Sempre tentamos fazer contatos e intercâmbios, recentemente estivemos muito centrados no processo de gravação e por isso não estávamos com muitos shows, mas estamos ansiosos para voltar para a estrada e tocar cada vez mais longe de casa. Já tocamos em Sorocaba, Salto, Itu e gostaríamos de continuar expandindo essas experiências. Temos contatos com ótimas bandas da capital como o Fat Divers e o Hellhound Syndicate que juntos atuamos no selo Sudamerica Stoner Coalition e já tocamos muito com os amigos do Projeto Trator.


HMB: Como é a sua relação com a Internet e com as redes sociais?
André: A internet é uma ferramenta necessária nos dias de hoje, às vezes me atrapalho um pouco com ela. Acho que estou ficando velho, pois as novidades chegam muito rápidas (risos). Quando falamos em Internet automaticamente falamos de Facebook, e do mesmo jeito que tem muita bosta tem muita coisa útil, conseguimos ótimos contatos tanto pra tocar quanto pra impressão de material por indicação de amigos no facebook. É uma ferramenta ótima para trabalhar desde que  bem utilizada. Exagerar nas postagens, por exemplo, podem deixar as pessoas com o saco cheio, tem que tomar cuidado. Mas é um jeito legal de entrar em contato com interessados no seu trabalho, como blogs, sites sobre música, galera que gostou da música  e quer mais informações sobre a banda e shows.

HMB: Como você vê as pessoas que usam do anonimato da Internet para desmerecer o trabalho de alguém? Já passou por esse tipo de situação?
André: Sempre tem filho da puta (risos). Acho que depende do que a pessoa fala você tem que tentar identificar o que é uma crítica e o que é cretinice. Algumas pessoas já fizeram críticas que serviram para gente melhorar, às vezes anônimas. Quando vemos que é algo idiota e sem sentido mando a merda ou ignoro. Quando vemos que é algo mentiroso a gente manda a merda ou compra a briga com quem quiser brigar.

HMB: Então você concorda que se as pessoas usassem de toda essa energia para o bem, e não para depreciar, o cenário musical poderia ser diferente?
André: Acho que poderia sim. Eu não sei quanto, mas as coisas melhorariam sim.

HMB: O que pensa sobre os incentivos da inciativa privada para cultura?
André: Sou a favor de qualquer incentivo a cultura. Quanto mais, melhor!

HMB: Você busca por esses incentivos, ou não acha que o brasileiro está preparado para investir em artes em geral?
André: Nunca tentávamos, pois, não tínhamos um material em mãos que pudéssemos estar divulgando. Agora podemos estudar essa ideia, o máximo que nos aproximamos disto foi com parcerias com as marcas de camisetas Siamese e a Gui Mesquita Fotografia. Acho que tem gente querendo investir em arte, porque tem bandas de Jundiaí que são endorsers de diversas marcas, não entendo muito deste assunto. Conheço grupos musicais que conseguem apoio para suas apresentações com a iniciativa privada, mas eles não tocam Rock and Roll.

HMB: Qual o caminho agora que vocês tem um ótimo material em mãos?
André: Além do nosso site, onde todos podem baixar nosso CD com encarte e tudo, queremos levar isso para outros meios como o YouTube, o Soundcloud e o Facebook, também os discos físicos, que já temos, vamos finalizar um vídeo clipe que já estamos em busca de mais shows para apresentar nossa música e claro, buscando parcerias, galera que queira crescer junto, tanto produtores quanto a galera para dar apoio.

HMB: O Gasoline Especial pratica um Rock´n Roll visceral, em quais fontes vocês bebem para chegar num resultado tão energético?
André: A gente sempre bebeu muita cerveja (risos)! Mas grandes influências estão entre clássicos e bandas mais novas. Motorhead, Hellacopters, Ramones, Nashville Pussy, Stooges, Fu Manchu, Kyuss, Black Sabbath, Led Zeppelin, Nirvana, Foo Fighters e também bandas improváveis como Type O Negative e Electric Wizard. Acho que tudo quanto é tipo de Rock and Roll, tem refrão que é influenciado por um estilo de som, mas o verso e o riff princípal vem de outro. Acho que isso torna a coisa interessante, tentar colocar um pouco de tudo que a gente gosta na música que está fazendo.


HMB: Planos para o futuro?
André: Tentar levar o Gasoline para novos horizontes, continuar trabalhando pra melhorar cada vez mais. Em breve gravar com meu projeto paralelo chamado the Vimana´s Eternal Trip, que sou apenas eu e o Paulo Fornazza da Dobberman Records, um selo novo que esta chegando. Estamos compondo, mas já temos planos para lançar um EP em breve.

HMB: Resuma Reverendo André Bode em uma palavra ou frase.
André: Resumir minha pessoa em uma palavra. Foda heim? Só consigo pensar em coisas ruins (risos).

HMB: Diga coisas ruins (risos) !
André: Paranóico (risos).

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
André: A mensagem é para que não desistam do Rock and Roll, continuem apoiando essa música que vem da alma, seja tocando, escutando ou participando do cenário. Não se preocupem com quem joga contra. Sigam seus instintos e coração. Valeu o papo! Muito Obrigado JP Carvalho e HMB!

www.gasolinespecial.com

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