Count Imperium, da banda Ocultan, além de um lutador no
cenário Black Metal nacional, é afiado em suas declarações e dono de uma
qualidade invejável, a sinceridade. Ele nos concedeu essa entrevista muito
esclarecedora sobre sua banda e sua forma de ver e encarar o Underground e
mundo. Confira agora nas palavras deste verdadeiro batalhador do cenário
nacional.
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
C.Imperium: Eu que devo agradecer ao Heavy Metal Breakdown pela conversa! Antes de fundar o
Ocultan, já tive passagem por duas bandas paulista o Ossuary de 1990 a 1991,
LuciferI de 1992 a 1993. Em 1994 no início das atividades da banda eu exercia
as funções de baixista e vocalista. Com o lançamento de nosso segundo demo-tape,
o então guitarrista Cerberus deixou a banda alegando problemas particulares. Foi
então que assumi as funções de guitarrista e vocalista. Em 2001, após o
lançamento do debut álbum Bellicus Profanus, nosso baterista Lord Fausto deixou
a banda também por motivos particulares. Passou-se algum tempo e tivemos muita
dificuldade para encontrar um baterista que atendesse as nossas necessidades. E
como não tivemos alternativa, recrutamos um novo vocalista, e passei a exercer
a função de baterista. Em 2009 após a saída do vocalista Legacy resolvi assumir
as funções de baterista e vocalista. No final de 2013 conseguimos encontrar um
baterista que atendesse nossas necessidades, foi então que passei a me dedicar
apenas aos vocais.
HMB: Com
tantas mudanças de formação, como foi à luta para manter as características da
banda e não permitir que o som mudasse radicalmente?
C.imperium: É claro que quando ocorre à substituição de um determinado músico, de certa
forma acabam ocorrendo mudanças. Enfim cada músico possui sua própria
característica. Sempre que ocorreram mudanças em nossa formação procuramos
escolher uma pessoa que se encaixe-se dentro do contesto ideológico e musical
da banda.
Com o passar
dos anos nossas músicas sofreram mudanças, que a meu ver foi de suma
importância para a evolução da banda. Essas mudanças ocorreram de forma natural
conforme as nossas necessidades. Sabemos até que ponto podemos chegar, e se algum
integrante não esta mais satisfeito e quer tocar algo diferente, é melhor que o
mesmo de lugar para outra pessoa, que esteja disposta a tocar dentro de nossos
padrões musicais.
HMB: Qual é
o processo de criação da banda? E como são desenvolvidas as letras?
C.Imperium: Lady of Blood (guitarrista) é responsável pela criação das músicas. Eu sou
responsável pela parte lírica e pelos vocais. Os demais integrantes possuem a
liberdade para trabalhar na criação e evolução de seus instrumentos.
A criação de
nossas letras provém do conhecimento que possuímos através de estudos e práticas
ritualísticas.
HMB: Como
você vê o cenário da música pesada nacional?
C.Imperium: Temos grandes bandas por aqui, que não perdem em nada para as bandas
internacionais. Infelizmente a maioria dos produtores de shows e gravadoras do
Brasil tem preferencia por trabalhar com artistas internacionais para obter
maior retorno financeiro. E o público por sua vez prefere pagar R$ 300 para ver
shows de bandas de fora e não paga R$15 ou R$20 para ver as bandas nacionais.
Sempre que tem algum show com bandas nacionais, vejo que a maioria das pessoas reclamar
que gostaria de ir, mas não vão porque estão sem dinheiro. Na semana ou mês
seguinte tem show com banda internacional, lá estão todos eles! Reclamam que o
preço do ingresso esta caro e mesmo assim não deixam de marca presença. Sem
contar que na maioria das vezes pagam para assistir shows de bandas que estão
tocando ali, e não estão dando a mínima para o público presente, só estão
preocupados em encher seus bolsos de dinheiro.
HMB: Não
seria cultural do brasileiro, enaltecer produtos de outra cultura e desmerecer
a própria?
C.Imperium: Sim! Já está mais do que comprovado, que a maioria dos brasileiros pensa dessa
forma. Infelizmente o povo só tem orgulho do próprio pais, ou daqueles onze brasileiros
que nos representam durante os jogos da
copa do mundo de futebol. Nessa época praticamente param o pais, é comum ver
bandeiras do Brasil hasteadas pelas ruas e casas. Gostaria de ver o brasileiro
agir dessa forma durante o ano todo. Fora isso ninguém é valorizado por aqui! A
verdade é que a maioria do povo brasileiro além de ser acomodado, também é
covarde e omisso. As pessoas preferem parar o país e sair nas ruas para
comemorar uma vitória da seleção, do que saírem para protestar contra essa
merda de governo corrupto que a cada dia que passa, afunda cada vez mais o Brasil.
HMB: Você vê
alguma coisa de bom que a copa do mundo possa trazer para o país, durante ou
após baixarem as lonas do circo?
C.Imperium: Estamos carecas de saber que o Brasil não tem porte para realizar um evento
desse nível. Antes de começar as obras para essa porcaria o pais já estava uma
lastima. Quando começaram as construções e reformas dos estádios a coisa piorou
de vez. Quem acompanha os noticiários sabe do que estou falando.
HMB: Ainda
insistindo na política, você acha que esses planos de investimento cultural do
governo são realmente feitos para a minoria?
C.Imperium: Sim! O governo por sua vez tem que fazer uma coisa aqui outra ali para dizer que esta dando apoio cultural. A
verdade é que se o governo faz algumas coisas é com o intuito de desviar o
dinheiro publico.
HMB: Você e
Lady of Blood são casados, isso interfere na hora da composição ou se torna
muito mais fácil pela convivência diária?
C.Imperium: Esse é o tipo coisa que não se pode misturar. Quando temos que resolver
qualquer coisa relacionada às atividades da banda, procuramos deixar de lado
esse fator.
HMB: Como
você descreveria o cenário Black Metal brasileiro?
C.Imperium: Temos grandes bandas que não perder em nada para bandas gringas. Mesmo com a
falta de apoio da mídia e público, que sempre dão preferência aos artistas
internacionais, o cenário esta cada vez mais forte. Sempre que posso compareço
em shows e também procuro adquirir materiais de bandas nacionais. De certa
forma fico muito chateado com a grande quantidade de bandas que estão à procura
de selos para lançarem seus materiais. Infelizmente as portas parecem estar se
fechando a cada dia que passa para as bandas mais desconhecidas. Não tenho dúvidas
em afirmar que, o maior culpado nessa historia é o próprio publico que em sua
maioria acha que os gringos são melhores que nós brasileiros, (risos)
Infelizmente
ainda temos aqueles que passaram no tempo. Acham que o metal se resume somente
a década de 80 e 90, por esse motivo desprezam as bandas atuais.
Para
finalizar não podia deixar de citar esse bando de pau no cu, colecionadores de
mp3, que conhecer e ouvem de tudo. Mas se recusam a comprar materiais originais
de bandas que eles mesmos dizem gostar e apoiar.
HMB: Hoje
uma banda vive muito mais do seu merchandising do que do lançamento do seu
produto principal, que é a música? Como é essa realidade dentro do Ocultan?
C.Imperium: Particularmente acho muito difícil, uma banda underground aqui do Brasil, conseguir
viver somente das vendas de seu merchandising. Estamos passando por um momento
complicado dentro do Underground. A grande maioria das pessoas não faz a mínima
questão de ter materiais originais das bandas. Lembro-me bem quem há quinze
anos as coisas eram bem diferentes que nos dias atuais. O publico fazia questão
de comprar o material direto com das bandas. Lembro que as bandas vendiam em
media 25 a 30 CDs e 5 a 7 camisetas em cada um dos shows. Infelizmente hoje em
dia as coisas mudaram, além dos gastos com as gravações de seus respectivos CDs.
A maioria das bandas, principalmente aquelas que não são conhecidas acabam
tendo que pagar de seu próprio bolso todos os gastos referentes a viagens, hospedagem
e alimentação para poder tocar ao vivo. Por esse motivo acredito que é
impossível retornar esses gastos com as vendas de seus materiais.
No caso do Ocultan,
optamos por quase não tocar ao vivo para evitar que tenhamos esse tipo de
gasto. Preferirmos tocar uma ou duas vezes durante o ano em shows que o
produtores arquem com todos os gastos referentes a locomoção e estadia da
banda. Acreditamos que agindo dessa forma conseguiremos economizar um dinheiro
que jamais terá retorno.
HMB: Está é
uma reclamação que quase todas as bandas tem. Você acredita em uma mudança
dessa mentalidade em um futuro próximo?
C.Imperium: Acho muito difícil as coisas mudarem, essa nova geração já se acostumou com
essa onda de baixar mp3. A cada dia que passa vejo que os preços de CDs estão
baixando. Ao acessar os sites de algumas gravadoras encontraremos vários CDs de
bandas excelentes sendo vendidos por R$10,00 ou R$15,00. As gravadoras já
começaram a se mover abaixando seus preços na tentativa de estimular as vendas.
Agora só falta o publico se conscientizar é fazer sua parte.
HMB: Planos
para o futuro?
C. Imperium: No momento estamos focados nas composições que farão parte do nosso próximo
álbum. Que tem previsão para ser lançado no primeiro trimestre de 2015.
HMB: Resuma
C.Imperium em uma palavra ou frase.
C.Imperium: Guerreiro!
HMB:
Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos
leitores.
C.Imperium: Eu que agradeço pela conversa que tivemos! Gostaria de agradecer a todos
aqueles que verdadeiramente apoiam o Metal Extremo nacional! Hail!
Porra que dahora! Sempre admirei a luta do Marcelo e da Diana. Esses sim são fiéis ao metal e ao underground!
ResponderExcluirHail Ocultan, avançamos guerreiros contra esses posers colecionadores de MP3 malditos.
ResponderExcluir