Clinger Carlos Teixeira, empresário, pai de família e um
cara com os olhos voltados diretos para o futuro. Mesmo com a correria do dia a
dia, achou um tempo para falar conosco e entre uma pergunta e outra, manteve o
foco na sua vida e nas suas atividades e responsabilidades. E mais, dedica seu
tempo produzindo documentários, promovendo bandas e shows na sua região e ainda
edita o Heavy Metal On Line, um programa Web Televisivo que vem crescendo e
caindo no gosto dos Headbangers do Brasil inteiro, e tudo isso para manter
acessa uma paixão que nutre desde 1991, o Heavy Metal. Confira!
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
Clinger Carlos: Olá, sou o Clinger Carlos, e conheci o heavy
metal paralelamente ao movimento underground no ano de 1991, quando ganhei um
disco do Iron Maiden (The Number of the Beast) e logo depois fui a um show de
bandas do Underground do leste de Minas, que aconteceu em minha cidade,
Caratinga, em Minas Gerais. Depois de seis meses lá estava eu organizando o que
seria o II Thrash in Caratinga, somente com bandas autorais, de metal extremo, entre
elas uma banda conhecida da época, chamada In Memorian, que executava um Black
Metal extremo.
O tempo passou e após varias promoções de eventos,
excursões, várias edições do meu antigo fanzine, Skeletons of Society, montei
meu projeto atual, dedicado ao metal nacional e principalmente as bandas do
underground, chamado Heavy Metal On Line, que se encontra em sua edição 45,
programa este focado em um formato web-televisivo, possui entrevistas com
bandas, divulgações de shows e lançamentos de CDs da cena Metal brasileira.
Várias bandas já passaram por nosso programa, dentre elas as gringas, Autopsy,
Master, Orphaned Land, Blaze Bayley, além de importantes bandas brasileiras,
como o Krisiun, Chakal, Attomica, Malefactor, Yekun, Nervosa, Ratos de Porão e
outras.
HMB: Você é movido por uma paixão muito grande, podemos
afirmar isso, por que vemos que você viaja pelo país todos e em algumas
oportunidades, chegou mesmo a ir para o exterior, com que tipo de apoio você
conta nessas empreitadas?
Clinger: Na verdade o projeto Heavy Metal On Line é todo
movido por uma grande paixão, pois faço todo o programa e me sinto bem fazendo,
não quero envolver meu projeto com vínculos extremamente comerciais, senão
perde o sentido.
Sou de uma cidade do interior, tenho uma empresa, que montei
a oito anos e planejo sempre minhas viagens, dentro das minhas possibilidades,
por morar no interior tenho um custo de vida mais baixo e também abro mão de
muitas coisas por aqui pra fazer as coberturas dos eventos que vou. Outra
coisa, são os shows internacionais, gosto de muito de ir, vou sempre que posso,
mas não para cobrir ou entrevistar as bandas, meu projeto é focado no Metal
nacional, apoiar as bandas que não tem espaço e eu não vou ficar tietando
bandas gringas nem mesmo produtores de shows que viram e falam que minha pagina
do face tem poucos views, que meu programa não é de São Paulo e por ai vai.
O apoio que tenho são das bandas, dos meus amigos que me
ajudam a divulgar e de uma equipe que tenho no programa, como meus irmãos da banda
Venereal Sickness, meu outro irmão Clinton e sua esposa, além dos meus parceiros,
Alex Chagas da Black Legion Productions, Anderson Sabazinho e Gisela Cardoso,
que sempre me apoiam e colaboram com o programa.
HMB: Morando em Caratinga, como você faz para se manter
atualizado com o que acontece nos grandes centros, ou seja, Rio de Janeiro e
São Paulo? E como é a cena da música pesada em sua região?
Clinger: Se eu te falar que fico sabendo das notícias sobre o metal
nacional através das redes sociais seria óbvio, mas nos anos 90 eu também sabia
de tudo que acontecia no metal nacional através das famosas cartas sociais de
um centavo. Inclusive tenho vários amigos hoje nas redes sociais que
correspondiam comigo na época, como o Maicon Leite, Marlon Combate, M Mictian
do Unearthly e por ai vai. Mas claro que a internet fez com que os contatos se
tornassem mais fáceis e rápidos, isto contribuiu bastante, inclusive o Heavy
Metal On Line, da forma que divulgo hoje seria inviável se não fosse o Facebook
por exemplo. Sobre o cenário aqui da minha região, Leste de
Minas, sempre foi uma região onde bandas importantes surgiram para o cenário
nacional, talvez a mais significativa delas seja o Silent Cry, mas outros nomes
se destacaram como o In Memorian, Misbeliever, Intelectual Moment, além da
banda que eu tocava no início do ano 2000, o Scarps. As coisas por aqui andaram
bem paradas, mas alguns eventos estão voltando ativa, e algumas turnês estão
passando por aqui novamente, isto me deixa muito satisfeito.
HMB: E como está a produção do seu documentário “O homem e a
Obra” e como está sendo a captação de recursos para a realização deste
trabalho?
Clinger: Captação de Recursos? (risos) Todos os meus
projetos são feitos sem recursos, na verdade nunca procurei apoio de ninguém,
nem mesmo entrei em projetos culturais, pois não tenho tempo para isto.
Logicamente que meus trabalhos muitas vezes pecam pela falta de qualidade, como
luz, áudio, etc. Mas sempre irei fazer os programas e os documentários que
estiverem em minha mente, conheço muitas pessoas que são cheias de ideias e não
colocam nada em prática, colocando sempre a culpa na falta de estrutura, comigo
não tem isto, faço do jeito que dá e coloco no ar. E não adianta falar que
poderia ter melhorado aqui ou ali, ou que nosso inglês é fraco, não dou ideia para
estas coisas, o mais importante é apoiar as bandas, está é minha visão. Estou
produzindo o documentário neste mês de abril pra colocar no ar em maio, nele
abordei um tema que me chama a atenção desde os primeiros dias que conheci o Heavy
Metal, que é a temática das músicas aliada à obrigação do artista de ser na
vida real o que ele prega em suas letras. Aproveitei as entrevistas que faço e
coloquei esta pergunta, a partir daí juntei todos os depoimentos e irei citar
casos clássicos dentro do metal mundial sobre o assunto, como é o caso de Tom
Araya do Slayer.
HMB: Mas, não seria o caso de buscar patrocínio ou apoio
cultural para fazer este trabalho chegar e mais pessoas?
Clinger: Olha meu amigo, vou ser bem sincero com você, seria
ótimo se meu documentário chegasse a mais pessoas, se o Heavy Metal On Line
tivesse 10.000 acessos mensais, mas tenho dois detalhes que posso lhe dizer:
1º - Eu cansei em minhas jornadas pelo Underground, de buscar
recursos para meus projetos e ter que ficar explicando pra quem não entende, e
no final o cara não entender nada, não apoiar e eu perder meu tempo. Projetos
culturais ligados à política não acredito nisto, temos exemplos que dão certo,
como o Roça´n Roll, por exemplo, mas os caras vivem disto, mas em sua imensa
maioria, são apenas promessas e não perco tempo com isto.
2º - Eu tenho uma empresa que fundei há dez anos, trabalho
com urbanismo e georreferenciamento. Viajo para caralho a semana toda e não
tenho tempo de buscar os recursos e para a coisa não ficar sem ir para o ar eu
mando ver do jeito que dá. Além de tudo sou um cara meio acelerado, não consigo
esperar por promessas ou por pessoas de raciocínio lento. Então é isto, tá
gravado, tá na rede.
HMB: Mas podemos perceber que o programa tem crescido cada
vez mais, isso mostra que o cenário Heavy Metal brasileiro é carente de programas
assim, que mostrem o lado underground de cada cena?
Clinger: Sim, tem crescido, muito lentamente, mas tem, este
é o tipo de programa que não bomba, pois como não tenho uma assessoria de
imprensa para usar as ferramentas certas na hora certa, a audiência varia muito
de programa para programa. Meu programa só cresce por causa dos amigos e
interessados no cenário metal, que me ajudam a divulgar, como é o caso do Alex
Chagas, da Black Legion Productions que me dá uma força na divulgação todo mês.
Mas o principal mesmo, da coisa não acontecer é devido o fato da dificuldade de
se prender uma pessoa na frente de um computador pra ver o programa todo, sinto isto, vejo que
muitos não conseguem chegar até o fim do programa, somente os que fazem parte
do metal no dia a dia mesmo é que consegue, no mais, curiosos clicam e não
conseguem ver, não é um lance popular, é underground mesmo, só pra quem gosta,
por isto não me importo em não dar muitos views, sempre irei continuar fazendo
da minha forma. Outro detalhe é que irei fazer o programa de acordo com os meus
conceitos, exemplo, não irei fazer um programa com 3 bandas de death metal,
irei sempre misturar os estilos, divulgar CDs, shows, de vertentes diferentes
dentro do metal. Sobre a carência ela sempre existiu porque vários que
iniciaram ficaram pelo caminho, porque não se pode montar um programa deste
achando que vai ganhar grana, que vai ter patrocínio e que amanhã vai estar na Globo,
tem que fazer por amor ao movimento, senão se frustra na 2ª edição, quando o programa
der apenas 200 views e acaba logo em seguida.
HMB: Conversei com Vitor Hugo Fraceschini e Chirstiano
K.O.D.A. do Arte Extrema e eles disseram o mesmo que você, que o programa
cresce, mas de forma lenta e que o retorno financeiro é zero. Será que o cenário
Heavy Metal mundial só gira em torno das pessoas que tem paixão pelo estilo e o
ideal de realizar alguma coisa?
Clinger: Sim, com certeza a paixão que move nosso meio,
lógico que não estou falando das bandas mainstream, nem das grandes produtoras
de eventos, mas tudo é percentual de mercado, o cenário Underground ainda é
muito pequeno dentro do nosso país e também, para ser sincero não desejo que
ele se popularize e vejamos bandas de Black Metal irem para o Faustão no
domingo a tarde.
Ter um programa como o meu e até mesmo o Arte Extrema é pra apoiar
mesmo, porque patrocínio, eu acho praticamente impossível conseguir. Em São
Paulo mesmo tem muitos programas antigos e muito bem produzidos que acabaram
por falta de apoio financeiro, agora, imagine eu, que moro no interior de Minas,
não tenho uma produtora, nem estúdio para gravar, aí que complica mais ainda.
Mas nem por isto vou parar de fazer, mas também não vou ficar sonhando em bater
um cara na minha porta e me oferecer grana pra fazer aquilo que mais gosto.
HMB: Por suas palavras podemos afirmar que os verdadeiros
guerreiros do cenário da música pesada mundial são heróis, desbravadores que
metem a cara e lutam por seus ideais. Que conselho você daria para quem está
começando?
Clinger: Para quem esta começando, eu sempre falo para irem com
calma, muitos novatos quando chegam dentro do movimento querem logo mostrar que
são "das antigas" ou até mesmo querem decorar a discografia de uma banda
para falar no meio do povo. Eu por exemplo, se me perguntar qual a discografia
do Hypocrisy, King Diamond, etc eu nem sei, não tenho este lance de decorar as
coisas pra sair falando por ai, sou bem sincero com relação a isto e acho que
se o cara esta iniciando agora no mundo do Metal, meu conselho seria este. O Headbanger
não é melhor nem pior que ninguém por saber a história completa do Slayer. Pelo
menos esta é minha opinião.
HMB: Com certeza. Você sente que o seu trabalho, frente ao
Heavy Metal On Line, é um captador de seguidores para o Heavy Metal nacional?
Clinger: Acho que não, captador não, acho que meu programa
serve para fortalecer e dar evidência ao metal nacional e também dar um tom
mais jornalístico aos já seguidores. O lance de captar é que acho difícil um
novato ver meu programa e se interessar pelo metal, talvez outras ferramentas
sejam mais atraentes para quem é novo, como ir a um show, ver algum ensaio de
alguma banda ou até mesmo alguma divulgação mais direta via internet, mas acho
que um moleque novo quando clicar no link do meu programa não vai conseguir ver
muitos minutos do programa porque não tem nada que prenda a atenção da nova
geração. Faço sempre o trabalho de doar alguns materiais, demos, camisas que
tenho para os novatos que vejo nos shows e na cena, eu sempre faço isto, nunca
deixo materiais parados em minha casa pra dizer que tenho milhões de CDs,
sempre faço a coisa girar e de algum modo vejo que sempre surte alguns efeitos
positivos.
HMB: Isso é perfeito! Eu também costumo doar para as pessoas
o materal que as assessorias me mandam, para fazer girar o material. Você viaja
pelo Brasil todo, Você vê muitas diferenças na reação do público nos shows? Ou
o brasileiro é “sangue no zóio” em todo lugar?
Clinger: Olha, não vejo diferença no público, quando se fala
de underground no Brasil a coisa é bem alinhada, em todos os lugares que passei
vejo uma energia única, e olha, falam muito da Argentina, mas não é mais animal
que o Brasil. Estive em vários shows lá e pude conferir, o que rola, é que eles
tem alguns hinos que são cantados em shows e outras coisas, mas não é mais, nem
menos animal que o Brasil. Lógico, estou falando de underground, agora quando
se trata de outros shows, até aqui mesmo a coisa pode ser bem fria, depende da
cena, e quando se trata de shows de bandas cover por exemplo, a coisa é bem
patética, porque envolve um público que não tem nada haver com o Metal, vai um
monte de playboy pra pegar umas minas aí é outra coisa, mas eu também nem vou
nestes lugares pra falar o que realmente rola.
HMB: Como você interage com os outros veículos de comunicação
que são direcionados ao Heavy Metal?
Clinger: Eu sou um cara bem sincero com meu trabalho, sempre
falo com todos os veículos a minha forma de divulgação, então o que você vê de
divulgação de bandas e materiais que recebo é aquilo ali, não tenho condição de
fazer nada a mais, nem resenhar e colocar no meu blog nem nada, por que não
tenho tempo pra isto. Mas o que quero deixar bem claro pra todos da imprensa Metal
do Brasil é que eu não faço parte da imprensa Heavy Metal do Brasil, eu não sou
jornalista, não trabalho com isto, não ganho dinheiro com meus projetos, nem
quero ganhar. O que quero é fazer meu programa, meus documentários, dar espaço
pra quem precisa de espaço e pronto. Eu sou um Headbanger, como qualquer outro
que apoia o Metal nacional, e só! Não adianta falar que nosso inglês é ruim ou
que a iluminação do nosso cenário é precária, para mim não importa, importa a
mensagem que o Heavy Metal On Line leva a quem interessa em assisti-lo.
HMB: Planos para o futuro?
Clinger: Meus planos são claros e bem definidos, não só no
metal, mas em todas as minhas atividades profissionais, não fico sonhando com
coisas impossíveis, inclusive acho que muitos programas de metal acabam, porque
vivem sonhando com altos patrocínios, isto eu não sonho, principalmente com um
programa calcado na cena Underground como é o caso do meu. Mas, se fosse falar
dos meus planos, eles seriam: Lançar um novo episódio do meu programa, cobrir
eventos pelo Brasil este ano, finalizar um documentário sobre a Cogumelo
Records que está em andamento, ir ao
Zombie Ritual em dezembro, lançar mais e mais edições do programa, gravar mais
um documentário, etc.etc.etc... (risos)
HMB: Resuma Clinger Carlos em uma palavra ou frase.
Clinger: Acelerado! (risos)
Cara, eu sou muito ansioso com estes meus
projetos, meus irmãos do Venereal Sickness piram comigo muitas vezes, quando eles acham que estou editando um
documentário o mesmo já está no ar, e muitas vezes passam com alguns erros que
poderiam ser resolvidos se eu tivesse mais calma. Mas eu sou assim mesmo, não
me prendo a detalhes, se gravei, já edito e mando para o ar e deixa o pau
quebrar.
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Clinger: Valeu demais pelo bate papo, sempre gostei de
responder entrevistas, desde que pertencia a banda eu sempre respondia todas.
Minha mensagem é a seguinte: no Metal nacional hoje todo mundo é Underground,
não existe mainstream, vejo pelo público
que as bandas levam aos seus shows. Na cidade de Belo Horizonte, por exemplo, Max
Cavalera, o maior nome do Metal nacional, depois de quatorze anos levou mil
pessoas a uma casa de shows na cidade. O Angra com Fábio Lione, 1.200 pessoas,
Sepultura já teve muitos shows cancelados pelo Brasil ultimamente, e também
vejo shows do underground com 300, 400, 500 pessoas, então a coisa está nivelada
por baixo, tirar a molecada de casa não é fácil para ninguém. Então, acho que
todos que fazem parte do Metal nacional e principalmente os que vivem dele, tem
que rever seus conceitos, porque, continuando assim, até as grandes bandas
terão dificuldades de sobreviver de sua música. Então trate sua banda como um
negócio e trate os fãs como seus clientes. É isso!
Ótima entrevista!!
ResponderExcluirMe lembrou da época que zineiro entrevistava zineiro!
parabéns ao Clinger pelo ótimo trabalho!
Sou fã do programa e assisto assiduamente (e sempre até o fim!!)