Na década de 1980, André Góis foi a voz do Vodu, gravou o
disco de estreia da banda e depois seguiu seu caminho. Agora está de volta ao
Heavy Metal, assumiu o posto de frontman do Face of Desaster com quem gravou um
EP, que será lançado ainda em 2014. Nesse bate-papo André fez um apanhado de toda
sua vida e carreira. Longe e novamente, dentro do Heavy Metal, confiram:
HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu
tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e
suas atividades.
André Gois: Bem, eu era vocalista do Vodu, gravei o primeiro
disco, The Final Conflict de 1986, tocamos muito pelo Brasil inteiro e abrimos
para o Exciter e Venom em Brasília, 1986. Depois da minha saída montei algumas
bandas, cantei na noite e gravei um CD com uma banda chamada Átomo Permanente
em 1994, mesmo ano em que comecei a trabalhar no rádio como locutor, profissão
que exerço há vinte anos a serem completados em julho. Em 2002 cantei no 365,
tradicional banda Punk paulistana, e gravei uma versão de "São Paulo"
junto com o Nasi do Ira! para a coletânea Sim São Paulo, em homenagem aos 450
anos da cidade, em 2004. Em 2011 atendi ao chamado do meu brother Marco
Fallador para assumir o vocal do Desaster para alguns shows e a gravação do EP,
o primeiro registro da banda que começou em 84 tendo como base do seu som o
Death Metal e que hoje em dia soa mais Thrash e se chama Face of Desaster.
Acabamos de finalizar o disco que tem sete músicas gravadas e produzidas no
estúdio 44 pelo Beto Toledo. Esperamos lançar em breve. Gravei também uma
participação no CD do Minotauro, outra grande banda dos 80's, que voltou para
registrar o seu trabalho, que sai este ano também e agora acabei de gravar a
minha participação no Projeto Triple V, do Sergio Facci, batera do Vodu que
está regravando músicas de três bandas em que tocou: Vodu, Viper e Volcana.
Gravei Living for the Night do segundo disco do Viper em que o Serginho toca
bateria e vamos gravar duas músicas do Vodu ainda a serem escolhidas por ele.
HMB: Como você compara o cenário Heavy Metal de hoje ao dos
anos 80?
André: Bom, falando de Brasil, né? Mesmo sem estar muito
ativo na cena Metal nos últimos anos a gente percebe diferenças enormes, não dá
nem pra comparar na verdade. Há o lado bom e o lado ruim, como antigamente,
como sempre. Hoje a tecnologia e a informação são abundantes, a qualidade
técnica está ao alcance de todos, bons instrumentos e estúdios de gravação e
ensaio, bons professores, etc; tudo isso era muito escasso no passado. Por
outro lado isso faz com que você tenha que buscar um nível mais alto, se você
não for bom, não aparece e não se destaca. Falando na minha praia que é o
canto, hoje a qualidade dos nossos vocalistas é muito superior à que tínhamos
na nossa época, incomparável. Isso é reflexo de toda a evolução e tecnologia,
do acesso à informação. Agora falando da cena em si, é muito diferente e muito
diluída. Não vejo a mesma união, a mesma energia que existia naquela época, mas
isso é absolutamente normal, o mundo não é mais o mesmo, naquela época tudo era
novo, o Metal no Brasil estava nascendo e se desenvolvendo, natural que fosse
muito mais excitante que hoje. A diferença mesmo é que hoje parece que são
poucos aqueles que se interessam pelo Metal Nacional, ou são em menor número. O
grande público Metal no Brasil parece que está olhando só pra fora.
HMB: Mas em nosso país as bandas não devem nada a ninguém, e
isso no mundo todo. Não seria apenas a cultura xenofilista a qual nos
habituamos?
André: Provavelmente. Não é novidade pra ninguém que o Metal
Nacional tem muita qualidade, as nossas bandas são tão boas quanto às de fora,
etc. Estão aí Krisiun, Hibria, Korzus, Angra, Sepultura etc... Excursionando
regularmente cada um no seu espaço, no seu estilo, mas se apresentando em alto
nível, E isso sem falar nas bandas mais
do underground que também excursionam lá fora e mandam muito bem, são muito
respeitadas mesmo sem ter a mesma divulgação e destaque quanto as mais
conhecidas. Se for Metal do Brasil, é bom. Entende? Falta eles entenderem
também...
HMB: Então, não seria por falta de comprometimento que o
cenário brasileiro não emplaca de verdade por aqui? Talvez um cuidado maior na
realização dos eventos, ou uma quantidade maior e mais variada de eventos
maiores?
André: Com certeza, mais espaço e mais respeito. Tem muita
gente bacana e bem intencionada na produção de shows, mas tá cheio de picaretas
por aí querendo só se dar bem em cima das bandas.
HMB: Fale como é o seu trabalha no rádio e como você foi
trabalhar nessa área?
André: Este ano completo vinte anos no ar. Aconteceu meio
sem planejamento, meio sem querer. Eu estudava muita música nessa época, em três
escolas diferentes e uma delas era o curso da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil)
para tirar a carteira profissional, que eu desisti logo depois... Uma amiga na
turma tinha começado a trabalhar com locução e me disse que eu deveria tentar porque
eu tinha uma voz legal e ficou insistindo para eu fazer a inscrição no SENAC e
eu acabei na última hora me inscrevendo no teste para o curso e passei. Costumo
dizer que esse era o meu caminho e eu já estava meio atrasado (riso), porque
foi tudo muito rápido. Fiz o curso em seis meses, fui aprovado e no mesmo mês
já tinha entrado no ar em São Paulo, na 97FM que na época era 97Rock e nunca
mais saí do ar. Quando a 97 virou dance fui para a 89 a Rádio Rock, fiquei uns
bons dez anos por lá, depois passei pela Brasil 2000 e estou na Eldorado FM já
a dez anos, atualmente das 15 às 19 horas. Eu adoro o que eu faço, trabalho com
a minha voz e com a música. Tocar e falar sobre música, fazer entrevistas,
notícias, boletins, ancorar repórteres, tudo ao vivo. É muita coisa pra pensar
e diminuir ao máximo a margem de erro, porque errar todo mundo erra né? Mas
como tudo é ao vivo, a gente desenvolve um jogo de cintura pra poder contornar
essas coisinhas do dia a dia...
HMB: 98% das pessoas que trabalham com rádio desenvolvem
essa paixão! Que conselho você daria para quem quer seguir este caminho?
André: Sem dúvida o trabalho no Rádio é apaixonante. Acho
que hoje em dia o mais importante para se trabalhar no Rádio é a capacidade de
comunicação e a versatilidade. Muito mais do que uma bela voz, uma boa
articulação é necessária. Você pode até não ter uma bela voz, mais precisa ser
bem compreendido. O profissional deve estar bem informado sobre os assuntos
gerais e de preferência ter uma mente aberta no que se refere à música. Você
tem a chance de pelo menos 50% ou até mais de não trabalhar com um estilo
musical que te agrade, são os ossos do ofício (risos). Mas o meu gosto musical
se ampliou e refinou muito mais depois que comecei a minha trajetória no Rádio.
Você obrigatoriamente conhece muita coisa nova e aprender é sempre bom. Se você
realmente quer seguir esse caminho, o curso superior é o de Radio e TV e também
os locais onde o curso profissionalizante de Radialista é ministrado (SENAC,
Radio Oficina) você precisa ter o registro na DRT para trabalhar
profissionalmente. Boa Sorte!
HMB: E com este leque aberto de novas influências e
informações, o que podemos esperar em relação ao vocal do EP do Desaster ou
Face of Desaster?
André: Face of Desaster (risos). Cara eu fiquei sem cantar
Heavy Metal muito tempo...
Às vezes quando eu cantava na noite ou em alguma festa,
alguma brincadeira, até rolava alguma coisa mais pesada, mas fiquei sem cantar
em uma banda fixa por muito tempo. Quando voltei pra valer com o F.O.D. há três
anos eu meio que redescobri a minha voz cantando Metal. Tive que reeducar o meu
canto pra poder render de novo num estilo tão vigoroso. E vinte anos mais velho,
né? (risos) Eu tenho influências muito variadas, mas acho que essa ampliação do
meu gosto musical que veio com o rádio (e aqui faço um parêntese pra dizer que
a minha primeira vaga em uma rádio, que foi a 97Rock, em 1994 eu consegui
obviamente por ter passado no teste, mas porque meu chefe na época, o Éverson
Cândido, já era naquela época vocalista da U2Cover e quando eu disse que
cantava numa banda ele me contratou na hora). Acho que mesmo cantando Metal eu
consigo sentir as minhas influências de Blues e Soul Music que eu adoro, caras
como Sam Cooke, Otis Redding, Al Green, Marvin Gaye que ficam lado a lado com
os meus grandes heróis do vocal: Ronnie James Dio, Freddie Mercury, Ian Gillan,
etc...
Fiquei bem satisfeito com o resultado do vocal no EP, acho
que consegui equilibrar o melódico, o agressivo, os drives... Tive tempo hábil
para gravar cada música, para poder aquecer bem e gravar com calma, refazer o
que fosse preciso, sem pressa, sem estresse.
HMB: Quais foram as maiores dificuldades e desafios que você
encontrou, afinal, como vocês mesmo disse, ficou muito tempo sem cantar dessa
forma?
André: Acho que o maior desafio é estar em forma. Depois dos
40, cantar Thrash Metal não é tarefa muito fácil. Percebi que eu preciso estar
bem fisicamente também pra conseguir alcançar bem as notas, ter fôlego. Alongar
a musculatura das costas, pescoço e abdome antes de cantar pra não ter cãibras,
o que acaba com qualquer interpretação, aquecer principalmente a voz pra não
detonar as cordas vocais, não ter nenhum problema por causa disso e tomar
muita, muita água, antes, durante e depois de cantar.
HMB: Depois dos 40, não podemos mais contar com nossa carga
genética (risos)! Há algum tempo ouvi falar sobre uma reunião do Vodu, mas não
soube mais informações sobre isso. Você vai fazer, ou faz parte dessa volta?
André: Acho que é natural do ser humano quando atinge um
determinado ponto da vida, que façamos um balanço, que busquemos resgatar
elementos do passado que ainda nos traz coisas positivas que possa acrescentar
neste novo momento, aquele brilho, aquela faísca que pode ter ficado
adormecida. Então há uns sete anos eu senti essa necessidade e comecei a
procurar os caras. Não tinha facebook ainda, então foi um pouco mais difícil,
mas não tanto. Nos reunimos, decidimos fazer uns ensaios e um show. Gravamos
uma versão atualizada da Final Conflict, mas infelizmente por problemas de
horários e agenda eu acabei não fazendo o show, o show mudou de data várias
vezes até o ponto que eu não pude mais mudar minha escala e eles decidiram
chamar outra pessoa pra fazer. E que eu saiba não há planos para mais nada a
não ser o V Project do Sergio Facci que tá regravando sons do Vodu, Viper e
Volkana, as três bandas que ele tocou e gravou. Ele me convidou pra gravar a
Living for The Night do Viper e mais dois sons do Vodu que ainda não decidimos
quais serão. O Zé Luís (Xinho) guitarrista que gravou o primeiro disco, também
está no time.
HMB: E como foi para você voltar a ter este contato musical
com Sérgio Facci depois de tantos anos?
André: O Serginho é um músico muito talentoso, grande
baterista, toca piano, compõe. Nunca parou de tocar, se já era muito bom
naquela época imagine agora? O mesmo digo sobre o Xinho, que já era um puta
guitarrista naquela época, não parou de tocar, pelo contrário, hoje o cara é um
monstro...
Tocar com bons músicos enriquece, acrescenta muito à
performance e à estrada. A bateria é meio que o instrumento mais importante em
uma banda, o batera é tipo o maestro, se ele acelerar todo mundo tem que ir
junto e vice versa. Tocar com um grande baterista significa estar tranquilo lá
na frente porque você sabe que o ritmo está seguro lá atrás...
HMB: Resuma André Gois em uma palavra ou frase.
André: Difícil essa hein?
Ainda estou me conhecendo, mas digo que sou um comunicador
que canta, um cantor que faz locução, um locutor que compõe, um compositor que
tem a Música por religião, que precisa subir ao palco pra exorcizar seus
demônios. Sou um cara simples...
HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este
belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
André: Eu é que agradeço pela oportunidade de falar um pouco
sobre o meu trabalho.
Seja verdadeiro em tudo, 100%. Render-se, jamais! Nada paga
o preço de se deitar em paz e dormir o sono dos justos.
"The
World is full of kings and queens who blind your eyes and steal your dreams,
it's Heaven and Hell..."
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